Conto Erótico - Romeu: Um conto de fadas quase perfeito - Capítulos 32, 33 e 34
ROMEU:
UM CONTO DE FADAS QUASE PERFEITO
Autora: MARI SILLVA
CAPÍTULO 32
ROMEU
- O que pensa que está fazendo, Juliene? - Eu cheguei no exato momento, para impedir que ela fizesse uma loucura se jogando de um precipício enorme, um segundo a mais e eu não conseguiria puxá-la para trás, fazendo com que nós dois caíssemos sobre a terra maciça.
Depois que ela saiu desnorteada do evento, eu parti feito um louco atrás dela, Juliene me deve uma explicação sobre os absurdos que ouvi da boca da sua tia. A louca até tentou me segurar para encher mais minha cabeça contra a sobrinha, mas o que ouvi foi mais que suficiente para me fazer chegar a uma conclusão.
- Solte-me, Romeu! Eu quero morrer, não pode me impedir de acabar com minha própria vida. Pelo menos uma vez quero ter o controle sobre mim,não pode me tirar isso. - Juliene se debatia dentro dos meus braços, socando meu peito totalmente fora de controle.
- Você não pode me deixar, amor. Não vou aguentar perder mais uma pessoa que amo, não importa o que aconteceu no passado ou o que os outros digam a seu respeito, você é meu futuro agora. - Ela parou de lutar contra meu amor e começou a chorar compulsivamente cobrindo o rosto com as mãos, enfim, eu estava vendo Juliene de verdade.
A sensível, que teve o coração destruído pela vida. Sua armadura de durona era só uma fachada, na verdade, era apenas um disfarce para esconder uma menininha assustada que só queria ser amada. Cuidada. E eu estava
disposto a fazer isso pelo resto da minha vida, curar cada uma das suas feridas, assim como ela fez comigo.
- Por favor, Romeu, só quero fazer meu sofrimento acabar.
- Eu farei ele acabar, te dando todo amor do mundo. -Praticamente
jurei, e viveria para cumprir meu juramento.
- Como pode dizer isso? Pelo amor de Deus, Romeu! Eu sou uma
assassina, matei quatro pessoas inocentes, inclusive sua esposa grávida do seu filho - gritou furiosa comigo socando meu peito, por eu não estar nervoso com ela pelo que descobri.
Em resposta, eu a abracei mais forte ainda a impedindo de se afastar de mim um centímetro que fosse, éramos um só agora.
- O acidente pode até ter sido por sua causa, mas não por sua culpa.
Existe uma diferença enorme entre as duas coisas. P.rr@, Juliene! Você é a pessoa mais bondosa que conheço, às vezes até me irrita. Como pode acreditar que eu te culparia por essa fatalidade que destruiu nossas vidas? -perguntei magoado, pensei que nosso amor fosse mais forte que isso. - Nem
em mil anos daria mais valor para uma louca igual à sua tia do que para a mulher que amo, só um tolo faria isso. E eu não sou tolo. Muito menos desisto fácil do que quero, então desista de me afastar de você. - Fui taxativo. Nada iria me separar dela, nem agora nem nunca.
Durante o caminho até aqui o padrinho de Juliene me ligou e contou toda sua história, seu passado é pior do que pensei. Cresceu sendo escravizada pela tia, e ainda tinha que lidar com o fato de ter perdido a mãe tão cedo. E
depois aconteceu aquele acidente terrível, destruindo a sua vida, fazendo-a se sentir culpada pela morte da prima. Eu não conseguia entender a coincidência que foi nossos caminhos se cruzarem, só podia ser coisa de Deus mesmo.
- Você não sabe o que está dizendo, amor - retrucou chorosa.
- Eu sei exatamente. Não há nada que eu queira mais do que você em
cada minuto da minha vida. Não importa o que aconteça, desde que
estejamos juntos, vamos conseguir superar. - Ao invés de minhas palavras a acalmarem, ela começou a chorar ainda mais. Não sabia mais o que fazer ou dizer para abrandar sua dor, parecia nunca ter fim, era torturante não
conseguir fazer nada para terminar com seu sofrimento.
- Mas eu sou culpada, Romeu, não devia ter corrido para o meio da rua
sem olhar para o sinal. - Meu coração doía em vê-la sofrendo tanto por carregar nos ombros toda culpa que não lhe pertencia, Juliene Sullivan era doce demais para fazer qualquer tipo de mal a alguém.
- Eu me lembro exatamente daquele dia, Juliene. Do maldito acidente. O sinal havia acabado de fechar quando a caminhonete apareceu do nada, vindo da outra via, e acertou o nosso carro com tudo, se tem algum culpado nessa
história foi o motorista que ultrapassou o sinal vermelho correndo muito depressa e não conseguiu parar quando te viu atravessando a faixa correndo.
- Afaguei seus cabelos, enquanto assistia a bela vista do sol nascendo, era uma bela cena para ver.
Agradeci a Deus mentalmente por ter tocado meu coração para que eu soubesse que Juliene havia vindo para esse lugar, cada passo meu foi guiado por Ele até ali.
- Você se enganou, Romeu, estava verde. Tenho certeza! Não adianta, eu sou uma assassina. - Ela era mais teimosa que uma porta, ficaria se punindo até o último segundo de sua vida.
- Eu não me importo se estava vermelho ou verde, baixinha. Apenas que estamos juntos agora, o que foi já foi, não se apegue tanto ao passado se punindo no presente e todo seu futuro. Não acha que nós dois já sofremos muito? Merecemos uma chance de, pelo menos, tentarmos ser felizes, eu
amava minha esposa e meu filho que nem cheguei a conhecer, mas eles se foram há muitos anos, não posso me prender a isso para sempre. O mesmo serve para você e a sua prima, não pode ficar se culpando por isso. Já passou
da hora de deixá-la ir, de uma vez por todas. - Eu amei muito minha esposa,mas infelizmente o destino não quis que ficássemos juntos. Isso me machucava muito ainda, mas com o tempo percebi que não importava o que eu fizesse, ela e o nosso filho nunca iriam voltar.
- Por que está sendo tão bom comigo, Romeu? A minha vida toda as pessoas gritavam comigo, ofendiam e humilhavam, na maioria das vezes,sem motivo nenhum. Eu amava minha prima, mas ela, às vezes, era muito má comigo.
- Respirou pesadamente, depois entrelaçou os dedos aos meus,
acalmando meu estado de espírito só com esse simples gesto. - No dia do acidente mesmo me disse coisas horríveis, por isso eu saí correndo para o meio da rua sem rumo. - Estremeceu dentro dos meus braços, lembrar daquilo era muito doloroso.
Logo ela, que presava tanto pela vida do próximo, acreditar que causou a morte de alguém devia ser devastador.
- Só estou retribuindo o tratamento que você sempre me deu desde que nos conhecemos, quem planta amor não tem como colher outra coisa. -Senti sua respiração suavizando.
Ótimo.
- Você é bobo, Romeu. Muito bobo. Devia ter aproveitado a oportunidade para se livrar de mim, não mereço o seu amor nem o de
ninguém.
- Não só tem o meu amor, como dos seus padrinhos e do nosso pequeno Romeuzinho, não pensou em como todos nós dois sofreríamos com a sua morte? Fugir nunca é uma opção, Juliene, não para pessoas fortes como você.
É a pessoa mais valente que conheço. - Inclinei para depositar um beijo em seus lábios, eles estavam tão frios que me deixou extremamente preocupado.
- Eu não estou me sentindo muito bem, Romeu - disse quase em um
sussurro, me virei para olhar em seu rosto e estava totalmente ser cor, mais pálida do que de costume.
- O que você tem, Juliene? - Ela não me respondeu mais, estava
totalmente inconsciente, desesperado, a coloquei no carro e corri para o hospital mais próximo. Ela era tão delicada, tive medo que não aguentasse o impacto que essa triste verdade tinha lhe causado.
Cheguei ao pronto-socorro desesperado com Juliene desfalecida em meus braços, os sinais vitais fracos e a respiração lenta. Era a segunda vez naquele
mesmo dia que passava pelo medo de perder a mulher que amo para a morte,não sei se teria força para passar por aquilo novamente.
- Socorro! Eu preciso de ajuda, minha namorada está desacordada -disse desesperado caindo de joelhos com ela em meus braços, nesse momento vários enfermeiros vieram correndo até nós.
- Não se preocupe, senhor, nós vamos cuidar da sua namorada
- disse uma mulher com um sorriso simpático que me passou um pouco de conforto.
- Por favor, não deixe que ela morra - respondi enquanto observava
Juliene sendo colocada em uma maca e levada às pressas hospital adentro,só deixando claro que o seu estado era mais grave do que pensei,ela passou por muitos momentos tensos,mas é uma garota forte,sei que vai superar isso.
Nem sei como consegui me arrastar até uma das cadeiras da sala de espera, tirei meu celular do bolso e liguei para o doutor Leonardo pedindo que viesse imediatamente para o hospital acompanhar o estado de Juliene.
Depois entrei em contato com seus padrinhos para deixá-los a par da
situação, fiz o mesmo com a minha família.
Pouco tempo depois, todos haviam chegado. Inclusive meu pai, com cara de poucos amigos, com certeza veio esfregar na minha cara que estava certo o tempo todo sobre Juliene não servir para estar ao meu lado. Não sabendo ele
que o que descobri não mudou nada o que sinto pela minha baixinha, apenas me deu mais vontade de cuidar dela com carinho e amor para compensar o
inferno que foi sua vida até hoje.
- Preciso falar com você em particular, Romeu, agora! - disse meu pai,melhor dizendo, mandou.
- Se for para falar mal da minha namorada, pode ir embora, pai. Eu a
conheço o suficiente para saber que não faria mal nem a uma formiga, não por querer. Ainda não sei ao certo o que aconteceu naquele maldito acidente,mas tudo não passou de uma fatalidade. - Fui firme, mas ele continuou insistindo que precisava falar comigo em particular.Doutor Leonardo nos conduziu até uma sala privada, assim que entrei,estufei o peito ficando em modo de defesa, preparado para rebater qualquer
argumento que ele pudesse dizer para me separar de Juliene.
- Diga logo o que tem para dizer, pai, minha namorada precisa de mim.
- Fui frio.
- Ela precisa, sim, Romeu, mais do que imagina. - Seu Moacir enfiou
as mãos no bolso com uma expressão ilegível, respirou angustiadamente antes de revelar mais sobre o que sabia. - Juliene é inocente de todas as acusações absurdas que a tia dela fez. Como você não estava em condições
de cuidar da burocracia no dia do acidente, ficou tudo por minha conta.
Enquanto estava no hospital operando sua perna, eu conversava com os policiais atrás do culpado pela tragédia. Os peritos relataram que um rapaz,que participava de um racha com os amigos em uma caminhonete, veio correndo com tudo, pensando que daria tempo de passar antes do sinal fechar,mas não deu. Então, do nada, apareceu uma adolescente passando correndo pela faixa de pedestres, ele até tentou frear, mas quando a viu, era tarde demais para impedir uma tragédia. Até conseguiu desviar da moça, mas pegou o carro de vocês com tudo na outra via. Nunca imaginei que Juliene
poderia estar presente naquele dia. O destino de vocês dois se cruzou há muitos anos e vocês nem faziam ideia disso - explicou ele, me deixando perplexo.
- Então esse rapaz foi o culpado pelo acidente, não Juliene. Por que
então a tia dela insiste em colocar toda a culpa na sobrinha? Se os peritos explicaram o que houve para o senhor, com certeza explicaram para eles também. Isso não faz sentido.
- Não faço ideia, Romeu, mas tenho provas da documentação da polícia
que a menina é inocente - afirmou seguro.
- Mas ela insiste que o sinal estava verde, pai.
- Talvez para ela estivesse mesmo, filho, já ouviu falar em daltonismo?
Muita gente tem e não sabe, um amigo meu mesmo só foi descobrir aos quarenta anos, depois de ser multado por atravessar o sinal vermelho pensando que ainda estava verde. - Eu me lembrava do meu pai comentar sobre esse ocorrido com o senhor José, mas não sabia que era por conta dessa
patologia.
- Então pode ser que Juliene tenha esse mesmo problema e por falta de conhecimento no assunto, pensa que viu o que não existe, por isso, afirma,com certeza, que viu que o sinal estava verde.
- Provavelmente foi isso que aconteceu, Romeu. - O doutor Leonardo entrou na sala, ele poderia me ajudar a descobrir a verdade através de exames nos olhos de Juliene. - Imagine um mundo com cores pouco definidas, às vezes embaçadas, com nuances distorcidas e sem diferenciação entre os tons.
Parece bem estranho, não é mesmo? Mas é assim que vive 5% da população mundial. Conhecido como daltonismo, o distúrbio se caracteriza por uma irregularidade na percepção visual das cores e causa dificuldade para distinguir determinadas tonalidades, como o azul, verde e vermelho. Uma
condição que pode atrapalhar muito a rotina diária de uma pessoa -esclareceu nos mínimos detalhes, parando ao meu lado acertando os óculos de grau, agora, sim, tudo fazia sentido.
- Juliene precisa saber disso o mais rápido possível, mas do jeito que é teimosa, vou precisar juntar o máximo de provas possíveis. Por favor, pai,traga toda papelada sobre o acidente. - Não contei a ninguém sobre a tentativa de suicídio de Juliene, apenas disse que a encontrei sentada em uma
praça e tomada pela emoção, acabou desmaiando enquanto conversávamos.
Não queria expor Juliene mais do que já havia sido.
- Claro, meu filho, ajudarei no que puder.
- Mas por quê, pai? Pensei que não gostasse de Juliene.
- Quem tem que gostar dela não sou eu, meu filho, mas, sim, você. E dá para ver de longe que está caidinho por essa menina. Você fica tão feliz ao lado dela, isso é o que importa para mim, porque te amo mais que a minha própria vida, assim como sua mãe e irmãos. Por isso, vocês têm a minha bênção, Juliene agora faz parte da família e vamos protegê-la com todas as
armas que temos. - Suas palavras me tocaram profundamente, eu o amava muito e ter sua bênção para o nosso amor significava muito para mim.
- Eu te amo, pai, muito mesmo, obrigado pelo apoio. - O abracei bem forte, apesar do seu jeito duro, sempre foi meu herói.
- Eu também te amo, Romeu. Prometo que vamos descobrir a verdade sobre a família de Juliene, se a tia dela invadiu o evento hoje disposta a acabar com a sua felicidade, vamos mostrar a ela o que acontece quando alguém mexe com um dos Alcântara Dinis. - Eu adorava quando ele falava assim, sabia que estava disposto a ir até o fim para manter nossa família segura, a qual Juliene agora fazia parte.
“Quando existe amor de verdade em uma família, tragédias não a separam, unem”
CAPÍTULO 33
JULIENE
Acordei sentindo um carinho gostoso no meu cabelo, era tão bom que dava vontade de permanecer com os olhos fechados, mesmo já estando acordada. Acho que é Deus, depois de me ver sofrendo tanto, veio me receber pessoalmente no céu. Eu ainda estava meio confusa devido aos últimos acontecimentos após minha chegada ao penhasco, devo ter me jogado e morrido. É mais fácil do que parece, nem senti dor. Foi tão rápido que nem me lembro da queda, porque tive uma alucinação linda com Romeu, onde ele não me odiava. Até disse que me amava e que me perdoava por tudo que fiz.
Pena que não era realidade, uma hora dessas devia estar feliz com a minha morte.
- Como você se sente hoje, baixinha? - Abri os olhos imediatamente ao ouvir a voz do Romeu, ele tinha os olhos inchados como se tivesse chorado.
A aparência cansada, acho que havia passado muito tempo acordado.
- Por favor, pode ir embora? Não quero te ver nunca mais. Não sou digna da sua presença. - Virei o rosto para o lado, não queria vê-lo indo embora,mas era preciso.
- Amor… - Ele disse quase em súplica.
- Estou implorando, eu quero ficar sozinha. - Na verdade, não queria
isso, mas, sim, que me abraçasse e não soltasse nunca mais.
- Eu não vou a lugar nenhum, meu anjo. Precisa de mim, agora mais do que nunca. Vou cuidar de você, vai ficar tudo bem. - Ele deu a volta pela cama e agachou do lado onde meu rosto estava virado, em vez de uma expressão zangada, Romeu sorria lindamente para mim, passando toda confiança do mundo.
Ao invés de curar a ferida do meu coração com essa sua atitude, ela se abriu ainda mais, pensei em quanto tempo por minha culpa meu amor ficou sem dar esse sorriso lindo, porque estava triste demais pela perda da esposa e do filho.
- Se você não for, eu vou, Romeu.
- Em um ato de desespero, sentei-me na cama e comecei a arrancar os fios anexados ao meu corpo, mas ele logo me envolveu em um abraço de urso, me imobilizando facilmente.
Quando me tocou foi como ácido queimando minha carne, lento e dolorosamente. Só a possibilidade de o magoar novamente me deixava apavorada, por isso tinha que manter o máximo de distância possível do Romeu. Não entendia por que esse homem não me deixou morrer, pior, por que está sendo tão carinhoso comigo? Outro, no seu lugar, teria me matado com as próprias mãos, afinal, tirei dele tudo o que mais amava.
- Se você quer que eu vá embora, baixinha, eu vou. Mas não vou voltar,não precisará colocar os olhos em mim nunca mais. - Sua voz era firme, eu comecei a chorar apoiando minha cabeça em seu peito, minhas lágrimas molhavam sua camisa. Não tem coisa mais triste do que saber que nunca mais verá a pessoa que se ama.
- Mas não pode me afastar do meu filho,tenho meus direitos. Teremos que entrar em um acordo em relação a ele,porque não vou admitir que cresça longe de mim, quero ensiná-lo a falar,andar e tudo mais. - Agradeci por eu estar sentada em uma cama ou teria
ido ao chão durinha, do que aquele homem estava falando? Acho que havia ficado louco de vez, só pode!
- Mas de que filho você está falando, Romeu?
- Do milagre que Deus mandou para nós através de 0,1111 % de chances. Descobri através do exame de sangue que fez assim que chegou ao hospital, passei as últimas horas chorando de alegria. O doutor Leonardo me deu a notícia hoje de manhã, o único resultado diferente foi positivo para
gravidez, esse foi o motivo do desmaio, sua pressão baixou demais. - Perdi a voz para dizer qualquer coisa que fosse, como assim grávida? Meu Deus,ele só pode estar brincando comigo. Era aquele momento que você não sabia se ria de alegria ou chorava com medo de ser uma pegadinha, acabei fazendo os dois ao mesmo tempo.
Havia uma vida crescendo dentro de mim, isso era surreal!
- Eu vou mesmo ter um bebê, Romeu? - Eu estava tão emocionada,agora mais do que nunca tinha um motivo para viver.
E se não fosse pelo Romeu, eu teria matado nosso filho também.
- Nós vamos ter, sim, e criaremos nosso milagre juntos! -Inclinou para
beijar minha barriga, depois se aproximou da minha boca como se fosse me beijar. Contudo, o impedi cobrindo seus lábios com os meus dedos.
- Eu jamais te afastaria do nosso filho. Mas não temos mais condições de continuarmos juntos como um casal, não depois do que descobri hoje.
Mesmo te amando mais do que minha própria vida, desculpa, mas não consigo esquecer tudo o que houve no nosso passado.
- Juliene, eu… - Tentou falar, mas o impedi novamente.
- Não adianta, Romeu, já tomei minha decisão. Quando nosso filho
nascer, eu vou entregá-lo a você e vou sumir no mundo, antes que destrua a vida dele também, como fiz com a do seu pai. - Pronto! Comecei a chorar de novo, simplesmente não conseguia evitar, eram muitas emoções diferentes vagando dentro de mim.
- Precisamos conversar sobre o dia do acidente, você disse o que queria,agora é a sua vez de ouvir tudo, o que preciso é de cinco minutos. - Assenti,nada mais justo.
Mas para conversar comigo, ele não precisava deitar ao meu lado na cama,envolvendo meu corpo em seus braços, inevitavelmente minha cabeça descansou sobre seu coração. Sendo sincera, eu amei que tenha feito. Sempre
amei ouvir as batidas do seu coração, sentir seu cheiro gostoso. Romeu não usava mais as roupas de ontem à noite, estava de jeans e suéter vinho cheirando a limpo, parecia ter acabado de sair do banho.
- Nós não íamos conversar, Romeu? - perguntei depois de termos passado uns dez minutos em silêncio. Acho que queria ficar abraçado comigo em silêncio, apenas aproveitando o nosso momento íntimo, apenas eu, ele e o
nosso filho.
Como podemos amar tanto um ser tão pequeno que acabamos de descobrir sobre a sua existência?
- Por acaso você tem a mania de confundir cores primárias, Juliene? -indaguei.
- Como você adivinhou? Desde pequena que confundo os tons mais fortes, meu tio quis me levar ao oftalmologista uma vez por causa disso. Mas minha tia disse que não precisava gastar dinheiro comigo por uma bobagem dessas, porque eles já gastavam demais comigo tendo que criar uma bastarda.
- Ele resmungou alguma coisa baixinho, acho que foi um palavrão.
Depois me contou toda a verdade sobre o dia do acidente, me deixando em total estado de choque, o sinal estava mesmo vermelho quando passei correndo na faixa de pedestres. Ou seja, eu não fui culpada pelo acidente.
Romeu acha que devido ao problema - que acredita - que eu tenha nos olhos, daltonismo, na hora do nervosismo acabei confundindo as cores e carreguei essa culpa por muitos anos. Mas por que meus tios sabiam de toda
verdade e nunca me contaram, sabendo de todo meu remorso? Minha tia até entendo fazer essa crueldade comigo, mas, meu tio não entendo. Não era uma pessoa boa, mas também não era má, não ao ponto de compactuar com algo
tão horrendo.
- Sinto muito por todos esses anos que passou se culpando por algo que não foi sua culpa, mas não se preocupe. Eu buscarei por justiça
- prometeu.
- Eu não consigo entender, Romeu. Por que fizeram essa maldade
comigo? Guardando essa mentira por tanto tempo.
- Acredito que seu tio nunca revelou nada por dinheiro, Juliene. A esposa deve ter ameaçado denunciá-lo por extorsão, porque tudo que eles têm é seu!
Em uma breve investigação sobre sua família hoje, Pedro conseguiu
descobrir que seus tios se apossaram da herança que sua mãe deixou para você, ela e sua tia eram filhas de pais diferentes. Seu avô era um grande empresário e o da Margô, pedreiro. - Minha respiração aumentou o ritmo,
eu sou a dona de todo o dinheiro deles? Lembrei de quantas vezes passei fome, porque minha tia me proibia de mexer na geladeira.
- Quando sua mãe morreu ao te dar à luz, e seu avô um ano depois, seus tios conseguiram direito para controlar sua herança, como eram seus tutores legais foi fácil dar o golpe. Viveram uma vida de luxo por todos esses anos às suas custas, por isso a mantiveram perto deles por tanto tempo
-concluiu, me deixando extremamente arrasada. Além da minha dignidade, roubaram minha infância e juventude, me escravizando sem poder usufruir do meu próprio dinheiro.
Tiraram-me tudo!
- Eu não posso acreditar que meus tios possam ter feito tanta crueldade comigo, tudo por causa de dinheiro, é algo vergonhoso demais. Recuso-me a acreditar que possa existir gente tão má nesse mundo.
- Sabia que se negaria a acreditar em uma maldade desse tamanho, por isso, trouxe provas. - Ele me entregou vários relatórios que comprovavam tudo o que havia dito, minha vontade era vomitar em cima daquilo tudo.
Isso não ia ficar assim, eles teriam que devolver cada centavo que me
roubaram. Mas antes, precisava esclarecer uma última dúvida muito importante.
- Os meus padrinhos tinham conhecimento sobre minha herança?
- Não! Eles nunca souberam o quanto o pai da sua mãe era rico, tentaram várias vezes pegar sua guarda por amor, mas seus tios jamais abririam mão da “mina de ouro deles”. - Senti um alívio enorme depois disso, eu amava
muito meus padrinhos.
- Mas como conseguiram controlar meu dinheiro depois que fiz dezoito
anos?
- Tudo indica que falsificaram a documentação, dando total poder a eles,se denunciá-los, podem ir presos por roubo. - Senti um aperto no peito,queria que fossem punidos pelo que fizeram, mas não colocar minha tia doente atrás das grades, isso não se faz com uma pessoa no seu estado.
- Sinceramente? Não quero pensar nisso agora, apenas no meu bebê e no pai dele. - Meu amor sorriu lindamente. Enfim, a esperança voltou a brotar em meu coração partido pela vida.
- Casa comigo? - Romeu se ajoelhou do lado da cama, tirando uma caixinha aveludada preta de dentro do bolso da frente do seu jeans, sentei-me colocando as mãos sobre a boca encantada.
Depois de tanto sofrimento, não dava para acreditar que aquele sonho estava acontecendo de verdade.
- É claro que eu aceito, meu amor, somos uma família agora. - Sorri
radiante, o coração leve, assim como meu estado de espírito.
E, pela primeira vez, senti que seria feliz de verdade, e o responsável por isso estava bem à minha frente. Era bom demais saber que havia um pedacinho dele crescendo dentro do meu ventre a cada segundo, o nosso pequeno milagre.
Depois de fazermos vários planos para o futuro e infinitas juras de amor,rimos sobre várias coisas, as mais lindas e românticas possíveis. Eu me sentia
leve, feliz. Acabei adormecendo nos braços do meu noivo, quando acordei mais tarde, o quarto estava repleto de flores, balões de gás colados no teto e ursinhos. Como se estivesse comemorando o nosso noivado, sua grande
felicidade era notória. Romeu sabia como demonstrar seu amor por uma mulher, fazê-la se sentir amada de todas as formas possíveis.
“Quando é da vontade de Deus, de um jeito ou de outro simplesmente acontece”
CAPÍTULO 34
JULIENE
Eu estava vivendo um verdadeiro conto de fadas, Romeu era um príncipe comigo. Mimando-me de todas as formas possíveis, não arredou o pé do hospital nem um minuto. Sei como é um homem ocupado, mesmo assim, fez questão de cuidar de mim pessoalmente, dispensando minha madrinha Ester,que se ofereceu amorosamente para ser minha acompanhante.Disse o seguinte:
“Minha prioridade a partir de agora se resume a cuidar da minha mulher e filho.”
Achei muito fofo da parte dele, minha barriga nem começou a crescer ainda e ele estava se mostrando um pai e tanto.O melhor que uma criança poderia ter. No outro dia, de manhã bem cedo, doutor Leonardo veio me fazer uma visita e assinou minha alta, graças a Deus minha pressão normalizou. A pedido de Romeu, ele trouxe um amigo oftalmologista para examinar meus olhos e rapidamente foi comprovado que tenho daltonismo.
Assim que saímos do hospital e entramos no carro, pedi imediatamente ao meu noivo para me levar até a casa dos meus tios para uma conversa franca.
Ele, a princípio, não achou uma boa ideia, tinha medo que eu passasse mal novamente.
- Vamos deixar para acertar as contas com seus tios outro dia, baixinha.
Acabou de ter alta, deve fazer repouso para recuperar as forças.
- Seus olhos saíram da estrada e pousaram sobre mim acompanhados de um sorriso de
canto, sexy e galanteador.
- Eu estou ótima, Romeu. Além do mais, eu terei você,meu super herói,ao meu lado para me defender. - Pelo retrovisor, observei suas sobrancelhas se unirem, acredito que pensando no que eu disse.
- Tudo bem, Juliene, mas se eles tentarem te ofender, seja de qualquer forma, não respondo por mim. - Elevou o tom de voz, nervoso, acredito que imaginando a cena.
- Obrigada, amor, por cuidar de mim. - A expressão azeda em seu rosto abrandou rapidamente.
- Obrigado por existir, baixinha.
- Sem tirar a atenção da estrada dessa vez, ele pegou minha mão e levou até seus lábios e depositou um beijo.
Senti algo ruim quando meu noivo estacionou em frente à mansão dos meus tios, melhor dizendo, minha mansão luxuosa. Aquele lugar me trazia lembranças horríveis de humilhações, opressão da parte da minha tia,colocando minha autoestima no chão, me obrigando a ser sua escrava pessoal, vivendo debaixo dos seus pés. Tentei não pensar mais nisso, tomei uma boa lufada de ar e saí do carro caminhando de mãos dadas com meu noivo até a entrada.
Minha tia atendeu a porta assim que toquei a campainha, fez uma cara de nojo ao colocar os olhos em mim.
- Mal tomou um pé na bunda do empresário ricaço é veio pedir arrego na minha casa, Juliene?
- Alfinetou, mas não me atingiu nem um pouco.
Seu veneno não tinha nenhum efeito sobre mim, não mais.
- A senhora quer dizer minha casa, não é mesmo, titia? - Ela arregalou
os olhos, percebendo que sua farsa tinha sido descoberta. Como meus avós eram falecidos quando eu nasci, e a minha mãe era sua única irmã, logo viu a oportunidade perfeita de roubar tudo o que era dela após a sua morte.-A propósito, na última vez não tive tempo de lhe apresentar: esse é o meu noivo, Romeu Alcântara. - Romeu deu um passo para o lado ficando visível
para ela, que chegou a começar a suar frio, sentindo-se acuada.
Isso mesmo, sua bruxa. Seu plano de nos separar não deu certo!
- Não tenho nenhum prazer em conhecê-la, senhora, e já vou logo
avisando que você e o seu marido têm vinte e quatro horas para devolver cada centavo que roubaram da minha noiva ou preparem-se para serem esmagados por mim como um inseto. Porque eu vou passar por cima de vocês como um trator, várias vezes. - Romeu fez aquela cara de mau que sempre me excitava, mas quem não conhecia, morria de medo.
- Nós vamos te devolver tudo, Juliene, eu já não aguento mais essa situação. - Meu tio apareceu com os olhos cheios de lágrimas, o
arrependimento era visível em seus olhos. - Quando sua prima morreu, eu decidi revelar toda a verdade e lhe entregar tudo o que é seu, mas sua tia ameaçou contar sobre a mulher grávida que também morreu no acidente. Eu e o seu padrinho Chicão conversamos muito, não queríamos te causar mais essa dor, já se sentia culpada pela morte de duas pessoas, imagina quatro,uma delas ainda na barriga da mãe. - Suas palavras pareciam sinceras,realmente cansado de viver aquela mentira. Apossando-se de algo que não
lhe pertencia por anos.
Meu tio nunca me culpou pela morte da filha, mas também nunca tentou me defender das maldades que a esposa fazia comigo durante os anos que vivi naquela casa, me culpando por tudo de ruim que acontecia. Não era uma pessoa má, porém, manipulável com facilidade. Tenho certeza que Margô fazia dele uma marionete e o obrigou a ajudá-la a roubar minha herança.
- Por que escondeu de mim que eu não ultrapassei o sinal verde aquele dia? Sou daltônica, não consigo distinguir cores primárias. Foi o rapaz da caminhonete que veio correndo demais, achando que conseguiria passar antes do sinal fechar, mas quando viu que não dava, já era tarde demais para frear e causou aquela tragédia. Está tudo no relatório da polícia, não adianta mentirem mais para mim.
- Meu tio empalideceu, será que ele também não sabia da verdade em relação ao acidente?Ficou andando em círculo pela sala,alisando a careca com as duas mãos, depois sentou no sofá tirando os óculos
de grau.
Ele era o tipo de homem que não perdia a pose fácil, mas naquele
momento estava completamente transtornado.
- Impossível, Juliene! Sua tia que mexeu com a papelada do acidente
naquela época, eu estava com a cabeça tão ruim com a morte de Veronica que assinei sem ler a documentação da polícia. Mas não consigo acreditar de forma alguma que Margô fosse mentir em relação a algo tão sério. Por dinheiro, tudo bem, mas pensei que, pelo menos, quando o assunto envolvesse nossa filha, fosse algo sagrado para ela. - Sua cabeça sacudia de
um lado para o outro várias vezes, incrédulo. Uma lágrima deslizou pela sua face, de puro desgosto.
- Pois eu fiz e não me arrependo, seu paspalho. Na época, a única
alternativa que encontrei para fazer meu querido marido desistir da ideia louca de devolver a herança da nossa sobrinha era usando chantagem emocional. Estava resolvendo bancar o bom samaritano, lembra? Sempre foi
um fraco com esse papo de consciência pesada. - Ela revirou os olhos com total descaso, a cínica. Sem nenhum remorso do que fez.
-Meticulosamente, fiz todos acreditarem que Juliene era responsável pela morte da nossa filha, então, a dívida estava paga, não tínhamos que devolver nada, o dinheiro seria prêmio de consolação pelo sofrimento que nos causou.
- Quando vi, minha mão tinha ido na cara dela, eu a odiava mais do que qualquer coisa no mundo. Eu cresci em meio a uma rede de mentiras,sofrendo por uma coisa que eu não tinha culpa de nada.
Romeu nem se moveu para me impedir, só ficou observando de longe de braços cruzados, orgulhoso da minha coragem de enfrentar meu passado.
Sabia que eu tinha que resolver aquilo sozinha de uma vez ou nunca teria paz para viver nosso amor.
- Sua desgraçada! O que eu te fiz para me odiar tanto, hein, Margô?
-Eu juro por Deus que se ela não estivesse careca, faria questão de arrancar cada fio de seu cabelo, só de raiva. Ficava batendo o pé no chão debochadamente, fora o sorrisinho cínico.
- Você é filha da pessoa que mais odeio no mundo, a vagabunda da sua mãezinha sempre teve tudo e eu nada! O pai dela era rico, e o meu, um pobre coitado, nossa mãe gostava mais dela do que de mim. Era a mais bonita.
Mesmo sendo cinco anos mais nova do que eu, os rapazes se interessavam por ela e nem olhavam para mim. Então me vinguei dela destruindo a vida da
única pessoa que minha irmã amava de verdade, você, minha sobrinha querida, aquela idiota romântica sempre te amou desde o momento que descobriu que estava grávida. - Fiquei chocada! A que ponto uma pessoa é capaz de chegar por pura inveja.
Essa mulher destruiu minha vida por puro recalque, porque minha mãe era linda e aposto que tinha um bom coração. Mas ainda bem que Deus é justo,tarda, mas não falha.
- E o castigo,pelo visto, está vindo a cavalo,não é mesmo,titia querida?
Quando morrer, dê um “oi” ao diabo por mim, pois é para o inferno que
pessoas más como a senhora vão. O quinto dos infernos! Nem mesmo doente e falida abaixa a crista, o coração continua duro igual pedra
- disse com meu melhor tom frio, havia aprendido com ela a ser impetuosa. - Nunca mais quero te ver na minha vida, quanto a essa mansão, pode sair dela agora
mesmo. Todo meu dinheiro será doado para quem realmente precisa, não para bancar suas futilidades de perua mal-amada.
- Peguei na mão do Romeu e saí arrastando ele para fora de casa, aquele lugar tinha um ar pesado. Sujo.Meus planos eram transformá-la em um orfanato no futuro, reformaria pintando com cores alegres e muitos brinquedos por toda parte.
- Tudo bem, amor? - Romeu alisou meu rosto, seu olhar preocupado me fez sorrir, agora que estava grávida me tratava como se eu fosse uma boneca de porcelana.
- Nunca estive tão bem, meu amor. Enfim estou livre do passado que tanto me assombrava, agora minha vida se resume apenas a você e a nossa filha.
- Filha? - Franziu o cenho me olhando como se eu fosse louca.
- Sim, Maria Alice. - Dei de ombros.
Entramos no carro.
- Ai, meu Deus! Já escolheu até o nome para o bebê, coitadinho. Para
com isso, amor, senão vai traumatizar o Thor, meu filho é macho. - Soltou uma gargalhada calorosa, colocando o carro em movimento.
- Thor? - Agora fui eu que o encarei de cenho franzido.
- Esse é o nome do meu garotão que está a caminho, amor. - Ele deu
aquele sorriso que só aparecia quando falava do nosso filho, que me encantava muito.
- Vai ser menina, amor, tenho certeza! - afirmei.
- Menino. - Ele rebateu.
- Seja o que for amor, a única certeza que tenho é que será muito amado por nós. Seremos uma família feliz e muito unida. - Eu estava amando tudo aquilo.
Amar e ser amada, fazer planos para o futuro.
O nosso futuro. Juntos.
“Não existe nada mais bonito e puro do que saber que carrega em seu ventre um pedacinho do primeiro e grande amor da sua vida.”
Amanhã tem os capítulos finais.
Ai q lindos e q tia malvada em
ResponderExcluirQue lindo esse amor pena que está acabando vou sentir saudades
ResponderExcluirTudo aconteceu como eu pensei, a Juliene grávida e o Romeu impedindo o suicídio de Juliene
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