Conto Erótico - Tudo por ele - Capítulos 21, 22 e 23
Tudo Por Ele
Capítulo 21
O carro seguia pelas ruas da Zona Sul do Rio, naquela noite fresca e
linda de lua cheia. Eu estava quieta, muito nervosa. Ao meu lado,
lindo usando calça preta, blazer preto e camisa azul-escuro sem
gravata, Diogo dirigia. Era sábado e seguíamos para conhecer
minha mãe.
Diogo havia me dito que Catharina Boaventura e seu marido dariam
uma reunião naquela noite e ele havia conseguido um convite de última hora com acompanhante. Eu poderia ir ou esperar domingo e procurá-la, mas preferi ir à reunião com ele. Eu iria vê-la, observá-la primeiro antes de falar quem eu era.
Tudo foi rápido. Eu estava ansiosa e tensa demais, sem conseguir
pensar ou me concentrar em mais nada. Não comia, bebia, nem dormia
direito. Na noite anterior, Diogo apenas me deixou em seus braços, entre beijos e carinhos, apoiando-me.
Pela primeira vez desde que começamos a transar, não fizemos sex*.
No sábado, ele tinha me enfiado no carro, e, quando vi, estava em uma loja exclusiva. Por mais que eu reclamasse, Diogo comprou roupas e sapatos de presente para mim, tudo lindo e luxuoso, como nunca tive na vida. E, na hora de sairmos, deu-me um conjunto de colar e brinco de ouro com pedras, que disse combinar com meus olhos e cabelos claros e com o vestido longo num tom mel.
Agora seguíamos para lá. Eu me sentia diferente, outra pessoa. As roupas e acessórios lindos, a maquiagem e o cabelo preso me transformaram numa mulher elegante, mas por dentro eu era como uma criança: trêmula,assustada, ansiosa. Se Diogo não estivesse comigo, não sei como eu faria.
Nunca esqueceria seu apoio e seu carinho.
Tive muita vontade de ligar para Rebeca, contar tudo. Todavia, ela não
queria falar comigo. Assim, procurei forças em mim mesma para seguir em frente e contei com Diogo ao meu lado, que resolveu praticamente todos os detalhes para mim e me tratou o tempo todo com ternura.
Quando chegamos ao lindo prédio em frente ao mar, depois de
estacionar e sair, seguimos para o elevador que levaria à cobertura. Ele
segurou minha mão, olhou-me atentamente e disse, sereno:
— Está preparada para tudo? Ela pode não ser o que você espera,
Júlia.
— Sim, estou... Por que diz isso? O que acha dela?
— Eu a vi uma ou duas vezes apenas. Agora, que sei que é sua mãe,posso ver as semelhanças físicas entre vocês.
— Mas?
Eu o sentia um pouco incomodado. Diogo pensou, na certa analisando
se devia ou não dizer alguma coisa. Fiquei em expectativa.
— Ela é um tanto fria. — Seu olhar era cauteloso.
Eu senti que havia mais. Insisti:
— Antipática? É isso? Arrogante?
— Pode ser apenas impressão. Como eu disse, não a conheço direito.
— Tá bom.
Lembrei-me do que dona Leopoldina havia dito dela, chamando-a de
metida. Senti um medo esquisito por dentro, um tremor que tentei disfarçar,mas não tirei nenhuma conclusão precipitada.
Fomos bem recebidos por uma governanta, que nos indicou um enorme salão onde estava ocorrendo a recepção. Entrei com o coração disparado, sentindo-me gelada. Meus olhos buscaram a mulher que me gerou,procurando alguma que pudesse ser ela.
Um casal ali perto reconheceu Diogo e paramos quando fomos
cumprimentados. Enquanto trocavam amabilidades, continuei minha busca ansiosa, sem sucesso. Voltamos a andar e ele disse perto do meu ouvido:
— Nesse círculo social, bem restrito, a maior parte das pessoas se
conhecem. Vamos andar normalmente e, então, quando for possível, eu a apresento a ela.
— Ela está por aqui?
— Não vi ainda. Acalme-se. Está tremendo. — Apertou um pouco
minha mão, deu-me um olhar seguro.
— Vou tentar.
Diogo me apresentou algumas pessoas. Um garçom nos serviu vinho.
Tomei um gole, buscando relaxar um pouco. Contudo, não me cansava de
procurá-la. Foi então que a vi. E soube imediatamente que era ela.
A mulher entrou no salão de braços dados com um homem mais baixo
e bem mais velho que ela. Meu coração falhou uma batida e então galopou loucamente. A imagem que eu tinha dela, chorando e me abraçando,desfocada, de repente ficou muito clara, seus traços nítidos.
Os olhos amendoados e castanho-claros como os meus, o mesmo
formato do rosto e das sobrancelhas, os cabelos mais claros, com luzes feitas em um salão e curtos, mas, mesmo assim, com a mesma textura que os meus.
Fitei-a imobilizada, cheia de tantos sentimentos que minha vontade era
de chorar abertamente ali. Emoções intensas me bombardearam, desde uma alegria fenomenal a uma raiva absurda. Ela me abandonara, deixara-me lá sozinha naquele orfanato e estava ali, linda e rica. Há quanto tempo? Por que não fora me buscar? Teria tentado me encontrar? Eram inúmeras questões. E,ao mesmo tempo, eu simplesmente agradecia por minha busca ter chegado ao fim.
Analisei-a enquanto cumprimentava as pessoas. Era mais alta que eu,
muito bonita e bem tratada. Não parecia ter mais que trinta anos, mas eu sabia que devia ter, no mínimo, uns quarenta. Seus cabelos tinham um corte Chanel moderno, afastados do rosto, a pele quase translúcida, a maquiagem
impecável. Usava joias, um chiquérrimo vestido verde escuro e toda sua aparência gritava riqueza, finura, charme. Era difícil imaginá-la como filha de uma costureira morando naquele prédio simples em Realengo. Era difícil imaginá-la como minha mãe.
— Júlia... — Diogo envolveu o braço em minha cintura.
— Eu a vi.
— Tudo bem? — indagou. Estava atento, preocupado.
— Sim. — Respirei fundo e voltei meus olhos para ele.
— Quer ir até lá agora?
— Não. Eles vão vir até aqui. Assim tenho tempo de me preparar
melhor.
Diogo acariciou meu rosto e beijou de leve minha testa. Fitou-me bem
dentro dos olhos e disse baixinho:
— Estou aqui. Fale comigo se precisar de alguma coisa.
— Eu sei. Acho que nunca vou conseguir te agradecer por tudo isso.
— Não seja boba.
— Diogo, que prazer tê-lo aqui!
O homem baixo e calvo, elegante, por volta dos sessenta anos, apertou
agradavelmente a mão dele. Ao seu lado, minha mãe parou alta e esguia, seu olhar frio, seu sorriso comedido e educado nos lábios.
Fiquei olhando-a a apenas um palmo de mim. Eu estava paralisada,
completamente gelada. Catharina me olhou quase sem interesse, de braço dado com o marido.
— É bom vê-lo, Oscar — Diogo retribuiu o cumprimento, sorrindo
também. — Como vai, Catharina?
— Diogo. — Ela moveu de leve a cabeça.
— Gostaria que conhecessem minha namorada, Júlia Sales.
Eles me fitaram. Eu mal podia respirar. Só conseguia olhar para ela.
Sem nenhuma reação ou reconhecimento, simplesmente acenou com a cabeça.
A decepção me engolfou como um golpe. Tinha esperado que algo a
ligasse a mim, que visse meus olhos e soubesse quem eu era, que se abalasse com alguma semelhança. A falta de interesse foi difícil de suportar, e levei meu tempo para me recuperar.
Seu marido foi mais caloroso, segurou minha mão e beijou meu rosto.
— Que bela moça! Diogo, como sempre, com muito bom gosto. —
Sorriu para mim. Depois se voltou para ele. — Tenho que visitá-lo na
empresa, meu amigo. Preciso de alguns softwares novos.
Enquanto eles se falavam, senti uma estranha calma. Fixei os olhos em
Catharina e puxei assunto, minha voz saindo mais baixa do que esperava:
— Parabéns, a senhora possui um belo apartamento.
— Obrigada. — Sua voz era fina, educada.
— É bem grande, para seus filhos correrem bastante por aí. — Forcei
um sorriso.
— Não tenho filhos.
Senti um baque na boca do estômago. Ela tinha se esquecido
totalmente de mim? Pelo menos sabia que eu não tinha irmãos. No entanto,lancei um olhar para Oscar, vi que Diogo o distraía, e, então, olhei
firmemente para Catharina. Ela parecia a ponto de inventar uma desculpa e escapar, mas não sei de onde tirei coragem. Talvez da mágoa que me corroía por dentro. Dei um passo para mais perto dela e disse baixo:
— A senhora tem certeza de que não tem um filho? Ou melhor, uma
filha?
Seus olhos fixaram-se em mim e ela empalideceu. Naquele momento,
eu tinha toda a sua atenção. Fui em frente:
— Tenho vinte e três anos. Fui criada em um orfanato no interior de
São Paulo.
Catharina parecia uma estátua. Então, soltou o ar dos pulmões. Seus
olhos me percorreram rapidamente, na certa notando nossa semelhança. Em seguida, fitou o marido, pela primeira vez demonstrando algum sentimento.
Algo semelhante a medo.
— Podemos conversar? — insisti.
— Acho que não temos o que dizer. — Não me olhou, recuperando a
frieza.
Meu coração bateu forte, martelando as costelas.
O ódio me envolveu. Tentei me controlar, mas não recuei. Era aquela a reação dela ao dar de frente com a única filha? Fingir que eu não existia?
— Eu tenho sim muito a dizer, senhora Boaventura.
Naquele momento, Oscar pareceu escutar minha última frase, fitando-
nos um tanto curioso. Diogo, segurando minha mão, apertou-a de leve.
— Sobre o que estão conversando? — ergueu as sobrancelhas.
Tive que admirar o autocontrole de Catharina. Sorriu de leve e
explicou ao marido:
— Sobre moda, meu querido. O que mais seria? Vocês nos dariam
licença para falar desse assunto que os homens julgam tão chatos?
— Toda, meu amor.
Ele sorriu, como se achasse sua futilidade uma graça.
Diogo mantinha-se em silêncio, observando-nos, obviamente preocupado comigo. Acenei levemente para ele com a cabeça quando
Catharina falou:
— Venha comigo, Júlia. Precisa ver os vestidos que chegaram para
mim de Paris.
— Claro.
Eu a segui para fora do salão. Fomos por um longo corredor, muito
elegante. Entramos em uma suíte imensa, lindamente decorada em dourado e vinho. Catharina fechou a porta e nos fitamos, frente a frente.
Eu tentava a todo custo controlar minhas emoções, mas estava difícil.
Tudo era confuso e perturbador, diferente do que imaginei.
— Por que está aqui? — sua pergunta foi direta, impaciente. Seu olhar
não demonstrava nenhum calor.
Engoli qualquer sentimento que poderia me golpear naquele momento.
Tentei me concentrar e ser fria como ela.
— Ainda me pergunta isso?
— Você não devia ter me encontrado.
— Eu me empenhei bastante para isso. Descobri algumas coisas no
caminho, sobre minha vó e meu pai, ambos falecidos. Faltava encontrar você.
— Minha vida agora é outra. O passado deve ficar enterrado.
— Você me deve ao menos algumas respostas. Por quê? Isso eu me
perguntei durante anos e preciso saber. Por que me deixou naquele orfanato?
A última frase saiu mais trêmula do que gostaria, mas não deixei que
notasse como estava abalada.
Capítulo 22
Catharina parecia lívida. Era óbvio que não queria falar comigo.
Entretanto, caminhou até um canto com dois pequenos sofás e me indicou um, sentando em outro. Esperou que eu me acomodasse, cruzou as pernas e me olhou por um momento, pesando as palavras que diria.
Busquei nela alguma emoção ou culpa. Tentei imaginar o que estava pensando, mas sua expressão era indefinível. Eu, por outro lado, sentia tudo ferver dentro de mim. Estava terrivelmente nervosa, como se estremecesse em meu interior. Meu pensamento era constante, como um grito na mente:
“Ela é minha mãe! Ela é minha mãe!”. Contudo, fiquei quieta, procurando
respirar e agir normalmente.
— Vou ser bem honesta com você. Se veio aqui para me chantagear,
está perdendo seu tempo. Escondi esse segredo do meu marido por mais de dezoito anos, mas prefiro contar a ele do que dar qualquer coisa a você. —Sua voz era baixa e cortante.
Fiquei surpresa.
— Não quero chantageá-la ou o seu dinheiro. Quero saber a verdade.
Talvez não saiba, mas me lembro de você me deixando naquele orfanato e sempre me perguntei o porquê. Acho que me deve ao menos isso.
— Do que vai adiantar saber?
— Você não me perguntaria isso se sua mãe a tivesse abandonado, ao
invés de se matar em uma máquina de costura para criá-la — falei com raiva contida.
Catharina e eu medimos força pelo olhar. Por fim, ela capitulou.
— Pois bem. Quer que eu seja sincera?
— É para isso que estou aqui.
— Quando minha mãe morreu, fiquei sozinha com você. Foi um erro desde o início. Quando engravidei daquele desgraçado por quem me apaixonei aos dezoito anos, eu queria fazer um aborto, mas minha mãe não deixou. Eu sabia que uma gravidez arruinaria minha vida, mas ela me convenceu a ter você, criaria para mim.
Apertou a boca, como se engolisse algo amargo. Foi bem franca, sem se importar com o que as palavras duras faziam comigo:
— Não gostei de nada referente a você. De ter que te carregar por nove meses, de ficar com estrias e passar mal. Nem ter que trocar fraldas ou acordar para amamentar. Nunca foi uma criança fácil. Sempre chorando, doente, querendo atenção o tempo todo. E o bandido do seu pai não estava nem aí. Quando o mataram, não fez nenhuma falta.
Eu permanecia imóvel, chocada, tentando não me arrasar. Meus olhos fixos nos dela. Catharina continuou, como se descrevesse algo corriqueiro como se desfazer de um sapato:
— Minha mãe era quem cuidava de você. Eu sabia que precisava trabalhar, estudar, ser alguém na vida. Não tinha tempo a perder. Quando ela morreu, fiquei sem chão. Meu salário era baixo. Não podia me sustentar,pagar aluguel e ainda me preocupar com você, que significava mais gasto e trabalho. Ela me enganou! Me fez levar adiante a gravidez e depois escapou!
Morreu, me deixando sem saber o que fazer!
Raiva brilhou em seu olhar. Respirou fundo, alisou a saia,recuperando-se. E continuou:
— Naquela época, meu patrão estava dando em cima de mim e
começamos a sair. Ele tinha perdido a esposa e os dois filhos em um acidente de avião. E dei a ele todo meu apoio e amor. Foi então que percebi que com você comigo, eu nunca teria uma chance com ele.
Não entendi, por isso, precisei perguntar:
— Mas ele não era rico? Não poderia ajudar a me sustentar?
— Oscar nem sabia de você. E ficou tão arrasado ao perder os dois
filhos, que me fez jurar nunca ter um filho. Ele queria distância de crianças,não podia nem passar perto delas sem se desesperar. Como eu ia dizer que tinha uma filha? Perder a chance da minha vida? Nunca! Pesquisei bastante.
Também não ia deixar você em qualquer lugar. Descobri aquele orfanato católico no interior de São Paulo, onde as crianças recebiam carinho e instrução. Inventei uma tia doente por lá e ele me deu dinheiro para viajar. E assim, foi feito. Voltei sem você. Oscar nunca nem sequer desconfiou de nada.
Minhas mãos estavam geladas, assim como meu coração. Tentei me
agarrar a um fio de esperança:
— Mas você... você estava chorando ao me deixar.
— Não estava.
— Eu me lembro disso.
— Deve ter lembranças embaralhadas. Chorei quando minha mãe morreu, muitas vezes você começava a chorar e eu chorava junto de desespero, pois não sabia o que fazer com você. No entanto, naquele dia nao chorei. Se quer mesmo saber, senti alívio. Na verdade, nunca foi minha.
Nunca a escolhi. Você veio por um acidente. E, se eu não tivesse sido tão boba e ouvido minha mãe, nem estaria aqui.
Suas palavras duras eram como punhais cravando-se em meu peito.
Lágrimas arderam em meus olhos, mas as controlei. Aquela mulher fria e sem sentimentos não as merecia. Entretanto, continuei, pois precisava saber de tudo.
— Alguma vez se arrependeu?
— Não.
— Pensou em mim?
— Muito pouco. Só no início.
— Sentiu culpa?
— Culpa? — ergueu uma das sobrancelhas. — Não a larguei em qualquer lugar. Tive o cuidado de buscar um em que não sofresse violência e tivesse estudo. E acertei, pelo visto. Parece uma moça educada. E namora Diogo Fortes.
Era impressionante sua falta de sentimentos, sua frieza emocional. Não facilitei as coisas para ela nem saí dali de fininho, como parecia querer que eu fizesse. Fui bem direta, abrupta:
— Sabe quantas vezes me senti sozinha? Como desejei uma família?
Como sua imagem chorando sempre me alentou e deu esperanças, pois tinha certeza de que tinha me deixado por algum motivo muito sério?
O ódio e a dor me corroíam por dentro.
— Sim, não apanhei, tive estudo, mas era um lugar frio, triste. Nunca
tive nada meu. E agora você diz que ainda fez o melhor para mim?
— O que queria? Que perdesse Oscar por você, que nunca foi mais do que um estorvo? Tenho uma vida feliz e realizada. Ele me ama e paparica. Eu não seria nada com você ao meu lado. Lamento, mas não queria que eu fosse sincera? Acredite em mim, foi melhor assim para todo mundo.
Eu não aguentava mais aquilo. Levantei tremendo, sentindo-me nada,um lixo. Eu tinha passado a vida acreditando em um sonho, uma ilusão que minha mente criou. Aquela mulher era o pior ser humano com quem já cruzei na vida. Por fim, consegui dizer:
— Você tem razão, foi melhor assim. Desculpe o tempo que a fiz perder.
Catharina se levantou, olhando-me atentamente.
— Pensa em contar ao meu marido? Para se vingar ou destruir minha vida?
— Não. A partir desse momento, nada mais referente a você me interessa. Faça proveito de sua bela vida, senhora Boaventura. Passar bem. —Movi friamente minha cabeça e caminhei até a porta. Antes que eu saísse, ela me chamou:
— Júlia...
Apertei a maçaneta com força. Virei devagar e encontrei seu olhar.
— Seu nome... Fui eu que escolhi. Desculpe tudo que fiz e falei,porém tinha minha vida para viver.
— Não peça desculpas por algo do qual não se arrepende. Só agradeço uma coisa ao ter sido criada naquele orfanato: não sou parecida com você, a não ser externamente. Só de pensar que poderia ter aprendido a ser tão fria e vazia assim, sinto asco. E não se preocupe. Vou sair e nunca mais ouvirá falar de mim, como sempre quis.
Então, eu me virei e saí. Andei como um robô de volta ao salão. Diogo me esperava ali perto, atento tão logo me viu. Encontrou-me no meio do caminho, seus olhos azuis preocupados.
— Júlia.
— Vamos sair daqui. Por favor — pedi baixinho.
— Claro. Venha.
Ele envolveu seu braço em meu ombro, o que me deu forças de seguir adiante, aparentemente controlada. Não perguntou nada, apenas me apoiou até chegarmos ao carro. Ajudou-me com o cinto e sentou ao meu lado.
Enquanto o carro se afastava dali, olhei pela janela sem nada ver, muito
quieta, meu pensamento fixo nas palavras daquela mulher, na sua frieza monumental, na ausência de sentimentos e de culpa.
— Quer conversar? — Diogo foi suave.
Consegui me virar no banco, como se isso exigisse muito. Fitei-o. Ele dividia sua atenção entra mim e a estrada. As palavras saíram praticamente sozinhas:
— Você me avisou da frieza dela, mas só vendo para crer. Em nenhum momento se mostrou arrependida por ter me deixado naquele orfanato. Aliás,disse que me fez um favor. Pesquisou até encontrar um lugar onde eu teria menos chances de ser maltratada.
— E disse por que fez isso?
— Ia se casar com Oscar Boaventura, mas ele nem podia ouvir falar em crianças. Estava traumatizado por ter perdido os dois filhos. Era eu ou ele na cabeça dela. E não hesitou ao escolher. Isso é tudo.
— Não é tudo, Júlia. — A voz dele estava carregada de raiva. — Ela é uma puta! Se vendeu por dinheiro. Uma mulher que tem a coragem de largar um filho não pode ser coisa boa. Contudo, quem saiu perdendo foi ela.
— Não, não saiu, porque nunca me quis nem me amou. Fui um acidente. Apenas isso.
— Júlia...
— Não precisa tentar me confortar, Diogo. Não há o que dizer. Sou filha de um ladrão e de uma mulher sem sentimentos. O que isso me torna?
— Melhor que eles. Você é única. Não tente se diminuir por pessoas
que não merecem você, meu bem.
— Não estou fazendo isso. — Um cansaço muito grande me envolveu.
Recostei a cabeça no banco. — Podemos falar em outra hora? Preciso descansar um pouco.
— Claro.
Tirou uma mão do volante e acariciou meu rosto com carinho. Só depois voltou a dirigir e fechei os olhos.
Entretanto, não consegui paz. Fui bombardeada por imagens da minha
vida, a solidão, a esperança de reencontrar minha mãe. Quando famílias iam ao orfanato, eu sempre esperava que ela estivesse no meio, para me buscar.
Quantas vezes fui dormir chorando e rezando para que, na próxima visita, ela viesse! Nem queria ser adotada, com medo de que ela nunca mais me encontrasse. Uma vida inteira vivendo em função de uma fraude. Enquanto isso ela viajava, comprava roupas e joias e sequer pensava em mim.
Agora, ao menos eu sabia de toda a verdade. Não precisava mais
economizar cada centavo e pagar investigadores para encontrá-la. Eu tinha minha vida para seguir, uma faculdade para terminar, meus próprios sonhos para viver. Sabendo quem eu era, como fora a minha história, como eu chegara até ali.
Contudo, nada disso diminuía a dor que me corroía naquele momento.
De saber que não era amada por ninguém, não tinha família, nada. Se eu morresse naquele dia, quem realmente sentiria minha falta? Até Rebeca, que era minha amiga, que eu amava, não estava mais comigo. Com quem eu podia contar?
Abri os olhos e fitei Diogo, concentrado em dirigir. Observei seu belo perfil másculo, seu maxilar anguloso, o formato do nariz fino. Era forte, grande, lindo.
Um homem completo, que mudou minha vida. Meu primeiro amor, que cada vez mais tomava conta do meu ser. Um amigo, que me acompanhou naquele processo, que se interessou em estar ao meu lado, porém também nao me amava. Gostava de mim, eu sabia disso. Tinha desejo por meu corpo, mas
era só. Era temporário. E, agora que eu não tinha mais motivos para ficar no Rio, teria que perdê-lo também. Teria que ser novamente só eu.
A dor foi ainda mais intensa. Fechei os olhos, arrasada, sentindo-me
tão mal que só queria me encostar em um canto e apagar, esquecer tudo. O mundo parecia horrível, sem graça, vazio. A solidão me envolveu como um manto, deixando-me morta, sem esperanças. E foi assim que segui até chegarmos à sua casa.
Capítulo 23
Diogo saiu do carro. Quando desci, ele segurou meu rosto com
ambas as mãos e me fitou nos olhos. Disse, com voz intensa:
— Não gosto de ver você assim, menina. O que posso fazer?
— Nada.
— Vem, vou cuidar de você.
— Acho melhor ir para a casa dos fundos. Hoje não sou boa companhia.
— Nem pensar! Vai ficar comigo. — Abraçou-me forte, beijando
minha cabeça, minha testa, minhas pálpebras fechadas. — Vem descansar.
Seguimos para dentro abraçados. No quarto, deixei que me despisse,
sem forças para nada. Deitou-me na cama, despiu-se e deitou ao meu lado.
Cobriu-nos com o edredom branco e macio e me abraçou, beijando minha
face e meus lábios com doçura, sua mão deslizando em meu braço e no
cabelo, soltando o prendedor, alisando-os.
— Você é tão jovem ainda para passar por tudo isso, Júlia. Queria
poder fazer algo para tirar sua dor, para confortar você.
— Já está fazendo isso.
Ele pôs a mão em meu rosto, fitou meus olhos. Nunca o tinha visto tão
sério, tão ligado a mim. Sua voz foi carinhosa e firme:
— Veja pelo lado positivo, minha linda. Nunca dependeu daquela
mulher para nada. É decidida, carinhosa, tem bom caráter, cursa uma das melhores faculdades do país. Deve tudo a si mesma. E não vai ser diferente daqui para a frente. Vai seguir e ser feliz. Vai construir sua própria vida.
— Obrigada por tudo — eu o abracei. — Não tinha obrigação de estar
ao meu lado, mas ficou mesmo assim.
— Não agradeça, sua boba. Estamos juntos e não apenas para transar.
E tenho fé em você. Tudo vai dar certo. O tempo é o melhor remédio.
— Preciso ir embora — falei baixo, contra sua pele quente.
— Ir embora?
— Daqui. Tão logo você arrume alguém para pôr em meu lugar. Vim
para o Rio atrás de respostas do meu passado e já as tenho. — Até falar parecia me cansar. Para piorar, meu peito ardia. Vinha uma grande vontade de chorar.
— É isso que você quer? — sua voz era baixa. Ainda acariciava meu
cabelo, espalhando-o em seu peito.
— É o melhor.
— Eu não acho. Deixou seu emprego lá e trancou a faculdade por seis
meses. O que fará em São Paulo nesse tempo?
— Vou procurar trabalho e reestruturar minha vida.
Diogo afastou-se um pouco e segurou meu queixo, fazendo-me fitar seus olhos azuis. Fitava-me de maneira séria e penetrante:
— Ou pode ficar aqui pelo tempo que combinamos e juntar dinheiro.
Quando voltar para lá, retoma sua faculdade e pode procurar outro emprego com calma.
— Você quer que eu vá? Sei que o que temos é temporário. Acho que
talvez fosse melhor eu seguir logo meu caminho, não quero ficar aqui como um...
— Um o quê?
— Um peso morto.
— Sua boba. — Ele sorriu de leve e beijou meus lábios. — Não quero que você vá, menina. Está fazendo maravilhas por meus cachorros. E por mim, nem se fala! A não ser que seja isso o que realmente quer.
— Nem consigo pensar direito.
— Então, não pense. Durma um pouco. E amanhã, falaremos com
calma sobre isso. — Abraçou-me de novo.
Eu me aconcheguei nele, sentindo-me protegida, mais aliviada ao
saber que ainda não tinha acabado, que eu não precisava desistir dele
correndo.
Ficamos ali nos braços um do outro, naquele quarto na penumbra, em
silêncio. Eu o sentia acordado, também não conseguia dormir. Apesar do cansaço emocional, não conseguia esquecer minha conversa com Catharina e a dor, a decepção que suas palavras causaram. Estava agoniada, cada vez mais.
Movi-me e o apertei, sentindo sua carne quente e dura. O desejo veio
violento. Pensar que nosso caso poderia terminar logo e que tinha tempo contado fez o desespero me bombardear de repente.
Deslizei minha mão por seu peito musculoso, desci pela barriga
tanquinho, encontrei seu p*u totalmente ereto. Sorri intimamente, pois Diogo se controlava ao máximo, mas era a segunda noite que não transava comigo e não conseguia se manter flácido comigo nua em seus braços. Toquei-o, sentindo a pele aveludada sobre o aço comprido e grosso, masturbando-o
suavemente.
— Júlia...
— Eu quero — murmurei. — Preciso disso.
E afastei o edredom. Fui para cima dele, montando-o, beijando-o na
boca com paixão. Diogo retribuiu na hora, sugando a minha língua,
apertando-me contra ele. Ansiosa, rocei-me em seu p*u já excitada,
precisando dele. Nós nos acariciamos e beijamos com paixão. Então afastei os lábios e fitei seus olhos escurecidos, pedindo baixinho:
— Faça amor comigo!
— É o que mais quero.
Estiquei-me até a gaveta da cabeceira e peguei o preservativo.
Escorreguei para baixo. Antes de pôr nele, beijei a cabeça do seu membro e o enfiei na boca, saboreando-o com vontade, sugando-o fundo. Diogo agarrou meu cabelo e gemeu. Eu o devorei com sofreguidão e desejo, até deixá-lo a ponto de explodir. Só então pus a camisinha em seu pau, segurei-o e o montei, deslizando minha buceta sobre ele até engoli-lo apertado, até bem
dentro de mim. Sentada, fitei-o com adoração e movi os quadris para frente e para trás.
Diogo fitou meus olhos, cheio de desejo, seus traços ainda mais firmes e másculos naquele momento. Fechou as mãos em meus seios e os acariciou
enquanto eu o cavalgava cada vez mais rápido, necessitando-o com uma fome que me consumia. Deixou que eu ditasse o ritmo, que eu tomasse dele o que queria, como se soubesse do que eu precisava. E assim fiz, alucinada, sentindo seu p*u entrar em mim com firmeza, tocando-me em todo lado,
fazendo-me ondular de pura lascívia, mas também de muito amor.
Seu olhar não deixava o meu. Seu toque parecia diferente, mais terno,
mais íntimo. Havia algo incrivelmente forte nos envolvendo, tomando-nos ali.
Gemi baixinho. Sua mão direita subiu para meu rosto e, só quando enxugou minha lágrima, percebi que chorava. Perdi o controle de vez.
Comecei a soluçar e chorar, as lágrimas descendo grossas e quentes por minhas faces. Não conseguia parar, assim como não parava de cavalgar sobre
ele, tomando-o todo, sentindo que só ali eu era feliz e completa. Chorei
porque, como tudo na minha vida, nós dois também era passageiro. A tristeza parecia extravasar do meu interior para fora, por tudo, por ele, por minha mãe, por mim.
— Júlia... — com carinho, Diogo inverteu as posições e me deitou na
cama, sem sair do meu interior. Parou todo lá dentro, bem no fundo,
acariciando meu cabelo, beijando minhas lágrimas e todo meu rosto. — Nao chore, menina...
— Eu... não consigo... parar... faça amor comigo. Faça com que eu
esqueça tudo. Por favor...
— Pense só em mim. Só em mim.
— Sim.
Olhamo-nos nos olhos e ele me beijou na boca com tanta emoção que estremeci, quente e entregue, depositando ali todo meu amor, tudo o que eu queria. Abracei-o, envolvi minhas pernas em sua cintura e Diogo me comeu,enquanto me abria toda para recebê-lo, acompanhando suas estocadas,gemendo em sua boca.
Foi delicioso. Nossos corpos suados dançavam juntos sobre os lençóis, cada vez mais unidos, enquanto o beijo continuava, denso e quente,
voluptuoso. E foi assim que gozamos, juntos, um único ser, meu orgasmo se perdendo e se encontrando com o dele. Foi intenso, longo, lindo. E, mesmo quando acabou, continuamos a nos beijar.
Diogo deitou-se e me trouxe para seus braços. Quando nossos corpos
relaxaram e o suor começou a secar, ele murmurou:
— Quer conversar?
— Sabe o que era pior naquele orfanato, fora o desejo de encontrar
minha mãe? — eu me vi perguntando, como se tivesse saído de dentro de mim de repente.
— O quê?
— A solidão. Quando chegava à noite e eu me deitava para dormir,
não havia ninguém para me cobrir ou dizer palavras de carinho. E nada era meu. Tudo era de todos e de ninguém. Não podia nem pegar um dos ursinhos ou bonecas para dormir, pois outra criança poderia querer e dava briga. Uma vez, um casal foi lá nos visitar e me deu um macaco de pelúcia que adorei.
Quando ia dormir com ele, uma das crianças o quis. E a encarregada me disse que ali nada era meu. Tomou o macaco e o guardou no armário com os outros brinquedos. Chorei a noite toda. — Calei-me de repente, sentindo meu rosto pegar fogo. Murmurei rapidamente. — Desculpe. Não sei por que disse isso.
— Você pode dizer tudo. Sempre achei que a vida em um orfanato
deve ser horrível, mas nunca tinha pensado por esse lado. Deve ter sido muito difícil.
— Hoje estou muito mal, Diogo. Por ter descoberto como minha mãe é
e que nunca me amou e me deu porque quis. Acho que me lembrei do passado, desse fato no orfanato, porque, apesar de tudo, não me sinto mais daquele jeito. Hoje, quando mais precisei, tive você ao meu lado. — Ergui a cabeça e fitei seus olhos. — Se estivesse sozinha, acho que novamente seria tomada por toda aquela solidão horrível. Quero que saiba que nunca vou esquecer isso. Nunca. Nada que eu disser vai demonstrar o quanto você foi
importante para mim hoje.
— Fico feliz com isso. Eu quis e quero estar com você, menina. —
Acariciou meu rosto com ternura, seus olhos brilhando.
— Obrigada. — Beijei suavemente seus lábios e me acomodei em seus
braços, com mais amor do que poderia suportar.
Percebi que seria difícil demais quando chegasse o dia em que eu
tivesse que ir embora e deixá-lo.
Continua amanhã
Que. mãe cruel
ResponderExcluirQ do dela nossa q mulher essa mãe dela em
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