Conto Erótico - Um casamento por vingança - Capítulos 21 e 22

 

Capítulo 21


OTTO

Quando Maitê disse que seus pais queriam tratar de um assunto sério,percebi que era sobre a merda do meu passado. Sofri até o fim do plantão em

Brejo Negro. Enviei mensagens, liguei dezenas de vezes, sem que fosseatendido.O desespero bateu. Até nos casarmos, mesmo ciente de meus

sentimentos por ela, achava que iríamos romper assim que ela soubesse de minhas armações. Mas bastou essa possibilidade de perdê-la se tornar cada vez mais real para que eu pirasse.Não foi fácil carregar um ódio modorrento dentro de mim por anos afio e, nessa altura do campeonato, reconsiderar tudo, porque estou amando

loucamente a filha do homem que contribuiu para o fim de minha primeira família.Desde o casamento, enfrentei conflitos interiores e fiz escolhas. Não

deixei de odiar João Guerra, nem me arrependo de nada que fiz, mas eu quero Maria Teresa para mim. E continuarei lutando por ela. Embora essa não seja uma batalha das mais fáceis.Para isso, precisei me apressar. Nunca fiz o trajeto entre Brejo Negro e Mundo Verde tão rapidamente, mesmo com a chuva que caía. À medida que me aproximava da casa de seus pais, mais a pressão no peito memachucava.Parei na porta e a chuva não deu trégua. Temi enfrentar os seus olhos doces, marcados pela decepção que lhe causei. Sofro por não ter sido forte o suficiente e aberto o jogo antes. Tenho certeza de que ela vai querer me

abandonar e eu não suporto essa ideia.Acionei o portão nervosamente, achei que ninguém estivesse

escutando, pressionei o portão, batendo o punho de forma veemente. Dona Vera Lúcia veio abrir. Mal a cumprimentei e meus olhos se prenderam em

Maitê, que, abatida, estava na varanda da casa.

Avancei sobre ela, disse que a amava, que nada entre nós foi mentira.Ela me chamou de monstro e o pai dela surgiu com um revólver, apontando para mim. O demônio não cedeu e me gritava como se estivesse tendo um surto. Enfrentei-o. Mas o jeito dele era de quem estava apontando para um

felino ameaçador e poderia apertar o gatilho a qualquer instante.Então Maitê toma a minha frente e enfrenta João Guerra.— Baixe isso, pai! — Ela tenta me proteger.Chocada, dona Vera Lúcia implora para o marido parar.— Deixe, Maitê, quem é conivente com crimes também aperta gatilhos — provoco.— Cala a boca! — Maitê me rebate.— Seu miserável, canalha. Não bastou desenterrar esse passado nojento, ainda teve que destruir a minha filha! Merece é estar debaixo demeio palmo de terra, como sua mulher, aquela sonsa! — ele brada ainda coma arma em punho.Travo a mandíbula.— Eu não destruí e nem vou prejudicar Maria Teresa! Ela é minha mulher — contesto, num tom carregado de fúria. — Vamos pra casa, Maitê,preciso conversar contigo... — eu a chamo e ponho a mão no seu ombro. Ela Logo se afasta, evitando o meu contato.A tensão parece tão forte que tenho a impressão de que explodiria se acendessem um fósforo.— Eu vou com Otto — ela decide e um alívio momentâneo desafoga meus sentidos.— Fique, minha filha, por favor... — pede a mãe.— Esse desgraçado mentiu pra você, te fez de otária e você vai pra casa com ele? — João Guerra fita a filha em desagrado e, finalmente, abaixa a pistola.— Isso será bom para a sua reputação, meu pai. Por ora, não teremos novos escândalos — ela diz, sem conseguir esconder o amargor em sua voz.— Ele pode fazer perversidades, minha filha — o demônio continua.— Não me confunda com a sua índole criminosa! — esbravejo com olhos desafiadores sobre o demônio. — Te espero no carro, Maitê — aviso esaio.Seus dias estão contados! — Ainda escuto a ameaça de João Guerra enquanto chego ao portão.Uns dois minutos depois, Maitê entra no carro sem dar uma palavra,sem fitar a minha cara e quase sem se mover. Constrangido, dirijo pela

avenida principal de Mundo Verde, atravessando a cidade rumo ao condomínio em que moramos. Neste instante, a chuva dá uma trégua.Pigarreio.

— Amanhã dou um jeito de mandar alguém ir buscar seu carro —tento puxar assunto.Maitê olha para o lado de fora da picape e nada responde. Eu me acovardo diante dela. Não consigo tocar no assunto sobre o meu passado, a minha vida com Milena, ou a minha filha Luísa, nem sobre o ódio que nutri por tanto tempo. É difícil para mim. Ainda assim, certa sensação de vitória me ronda, afinal estou levando-a para a nossa casa.Após percorremos 15 quilômetros, estaciono na porta e Maitê desce da picape. Ela pega a chave na bolsa e abre a porta da frente, deixando-aescancarada. Fecho o carro, ligeiro, e apresso o passo para entrar em casa atrás dela.— Maitê... — eu a chamo.Hesitante, ela para diante do corredor, que dá acesso aos quartos e banheiro , e se vira para mim.

— Vim porque preciso pensar no que vou fazer. Se vou retornar para a casa de meus pais, preciso apanhar as minhas coisas. Eu não quero te

escutar, Otto, porque o que sai de sua boca está marcado pela mentira.Fecho a porta da sala e me aproximo devagar.Não sobre nós! — falo de um jeito contundente.— Você me machucou demais. — A voz dela sai embargada.Rapidamente, enlaço-a em meus braços. E ela chora, com o rosto enterrado no meu peito. Acaricio os seus cabelos úmidos. Beijo a sua cabeça.Sinto-me inseguro, mas esse contato traz certo conforto ao meu coração.— Eu te amo tanto, tanto, Maitê. Me perdoa. Eu te imploro —murmuro em seu ouvido. Em seguida, busco os seus lábios.Contudo, Maitê se esquiva abruptamente e me empurra. Forço o abraço, mas ela esmurra o meu peito e grita.— Seu desgraçado, me solte, me solte! Eu te odeio, Mário Otto Rangel, eu te odeio pelo que fez na minha vida... — ela profere com os olhos vidrados de lágrimas e com uma ira nebulosa no olhar, que eu desconhecia.Afrouxo os braços.— Maitê, assumo que me aproximei, que te convidei pra sair a

primeira vez por ser filha de João Guerra. Eu... eu... te beijei a primeira vez porque queria... queria te seduzir, mas... mas à medida que avançamos, acabei me encantando por você — confesso, tenso.

Minhas carnes tremem. Uma verdade é mais difícil de ser contada do que meia dúzia de mentiras.

Maitê se afasta de mim.— Mentiras, uma atrás da outra. Beijos, declarações, sexo e mais mentiras... Quantos “eu te amo” disse e não eram verdade? Você é uma fraude, Otto! — ela explode e eu apenas baixo o olhar e a escuto. — Como Um ser humano tem coragem de se aproximar de uma mulher com

dificuldade para se locomover para usá-la?Maitê leva a mão às têmporas e seu pranto parte o meu coração.— Eu fui um calhorda! — berro. — Já disse. Mas me apaixonei por você.— Mentira — ela esbraveja. — Diz isso porque está arquitetando

alguma maldade. Você é doente!Ela soluça e se senta no sofá da sala, muito abalada.— Me ouça, Maitê, perdi a família que eu sonhava. Carreguei o

corpinho de minha filha nos meus braços... Não faz ideia de como isso dói...— Maitê diminui o seu choro e presta atenção em mim com as mãos

inquietas sobre os joelhos. — Meu sonho sempre foi ter uma família grande,uma casa cheia, porque eu perdi isso na infância, quando minha mãe morreu e minha família se desmanchou. Então veio Milena, nós nunca nos casamos,tínhamos uma união estável... — Maitê funga com um semblante glacial em minha direção, mas, ao menos, está me escutando. — Milena foi colega de faculdade. Já tínhamos um bom tempo juntos, quando ela engravidou. Assim que concluí a residência médica, fui para Conquista, onde ela já trabalhava, e

arranjei um contrato no hospital de lá. Então nós estávamos começando a família que tanto desejei, até que veio a tragédia...— Do fundo do meu coração, sinto muito por suas perdas, Otto, mas

o que eu tenho a ver com isso? Por que você me puniu por algo que foi um acidente , foi uma circunstância da vida?— Poderia não ter acontecido se seu pai não tivesse chamado Milena

até Brejo Negro para atender um homem baleado, que ele queria proteger —respondo rispidamente e meu tom sai mais duro do que deveria.Aproximo-me de Maitê, que balança as pernas nervosamente.— Meu pai não tem culpa daquele carro ter derrapado e capotado na estrada sobre pedras! — ela berra.— Caralho, Maitê! Defende o seu pai? Mas entendo que não me compreenda ... O que eu sei hoje é que esse meu ódio não tem nada a ver com você! — exaspero-me.— Não? Depois que me seduziu, me fodeu e estraçalhou meu

coração? É isso que tem a dizer? Que não te entendo e que seu ódio não me atinge?Levo a mão aos cabelos nervosamente. Vou até ela, ponho as mãos em seus braços, inclino-me e tento abraçá-la.— Maitê, amo você demais, vamos superar isso, por favor... —imploro enquanto ela se desvencilha de mim e se levanta do sofá, escapando do meu abraço. Ela me fita com o semblante carregado de raiva.— Você não é um homem forte, Otto. Alguém que é movido pelo

ódio e pela vingança é uma pessoa fraca e de alma pequena — ela me acusa com desprezo.Recebo essas palavras como socos no estômago. Travo o maxilar.Fecho os olhos, respiro fundo e me ergo.

— Eu me apaixonei por você e eu não vou te perder, porque te amo— declaro-me, como um cachorrinho que faz tudo para ganhar um afago de sua dona e é sumariamente ignorado.— Me ama o cacete, Otto! Quantas vezes disse que me amava e não

passava de uma de suas mentiras? — Maitê exalta-se e põe o dedo em riste em minha direção. — Não quero mais escutar isso, não quero. — A voz dela embarga , emocionada. — Você é um homem desprezível, que não consegue superar um acidente que aconteceu há oito anos! Estacionou no tempo e o seu coração está no passado — ela brada.Maitê volta a chorar, corre para o quarto e bate a porta. Sigo atrás dela. Viro a maçaneta, mas ela a trancou.— Amor, abre a porta, por favor... — peço. — Maitê, não me deixa aqui.— Eu quero ficar em paz, vá dormir no outro quarto! — ela berra.— Ah, Maitê, vou dormir aí. Imagina se vou te deixar sozinha!!Esmurro a porta.— Não quero te ver nunca mais! Saia daqui!— Não vou te deixar sozinha, não vou, está muito nervosa.— Você é um monstro repugnante, asqueroso, eu te odeio, porque você fez isso comigo!Maitê está em prantos. Eu me sinto um grande fodido. Por que deixei chegar a esse ponto? Sou louco por essa mulher.Forço a porta com o ombro.— Abre a porra dessa porta agora! — exijo, mas ela não diz mais

nada, nem consigo escutar o seu choro. — Maitê, se afaste da porta, porque vou arrombar.Tomado de preocupação e raiva devido à sua teimosia, eu me afasto da porta e a chuto violentamente. Meu corpo avança, ao som do estrondo e da madeira rachando, então, equilibro-me.Ela grita e me fita, assustada. Em seguida, Maitê se encolhe na cama,

como se tivesse medo de que eu fosse fazer algum mal a ela.— Sinto muito por isso. — Aponto para a porta. — Mas não vou dormir longe de você. E nem pense em ir para o outro quarto, porque,igualmente, vou arrombar a outra porta também.Ela soluça.Sei que fui violento, mas não posso deixá-la dormir sozinha após tudo que ela descobriu ao meu respeito. Temo que pense em fazer alguma besteira.— Amanhã mando alguém vir consertar, não se preocupe.Vou até o quarto ao lado, tiro o colchão da cama de solteiro, levo-opara o nosso quarto e o jogo no chão.— Sei que precisa de espaço... É muito para digerir. Vou dormir aqui

no chão. Não ia ficar bem se ficasse em outro quarto e você sozinha aqui.Maitê mais parece uma estátua. Vou até ela, inclino-me e, com o dorso do indicador, acaricio o seu braço.— Está com medo de mim? — Os olhos assustados e seu semblante

de dor machucam a minha alma. — Acha que vou fazer o quê? Maitê, estou muito preocupado contigo. Vou dar todo o tempo que você precisa para digerir o que descobriu hoje, vou dar um crédito enorme para que me xingue,me ofenda e me acuse. Vou entender, Potrinha. Quero que se sinta à vontade para me perguntar o que quiser. — Procuro os olhos dela e os encaro. — Mas Vou logo adiantando, não alimente a ideia de que vamos nos divorciar porque isso não vai acontecer. — Percebo que ela inspira com mais força. — Temos Tudo para superarmos isso. Eu te amo, sei que você também me ama... Tome seu tempo, meu amor — concluo com calma, embora o que mais queira seja tentar diminuir o seu sofrer com ela em meus braços.

Para resistir à vontade de abraçá-la outra vez, sigo para o banheiro do quarto , sem fechar a porta. Tiro minha roupa com calma e parece que toneladas de aço foram arremessadas contra mim. O peso e a culpa me consomem . Se eu pudesse voltar atrás, protegeria Maitê dessa dor. Mas negligenciei meus sentimentos e as pessoas ao meu redor. Eu fui escroto e me arrependo  pelo sofrimento que estou lhe causando.Talvez Maitê tenha razão e tenha ficado tempo demais preso ao passado. Tomo uma ducha e meus pensamentos não param. Um misto de remorso, decepção comigo mesmo e dor comprime o meu coração.A vida de João Guerra se complicou.As acusações reais se reproduziram como coelhos e se misturam a boatos e fake News. 

Não temos mais controle sobre a informações que plantamos na imprensa. Os moradores da região do Vale passaram a ter opiniões , emiti-las nas redes, sendo a maioria contra o desgraçado. Enfim, a reputação de deputado honesto e do bem está ruindo.Sonhava com esse dia. Achava que seria presenteado com uma grande sensação de paz, satisfação e dever cumprido, contudo, não foi bem isso que aconteceu. Além de muito desprezo e um pouco de satisfação, não tenho orgulho pela derrocada desse homem.Também imaginava que poderia dormir em paz, que os pesadelos diminuiriam. Sim, isso aconteceu. Tenho tido noites de sono tranquilas, mas foi estar ao lado de Maria Teresa que me trouxe essa paz.E agora estou nessa situação. Prestes a perder a mulher que amo. O Que mais me perturba é não saber se ela será capaz de me perdoar plenamente e voltar a ser como antes. A única certeza que carrego no peito é a de que vou

lutar por ela.Após o banho, retorno para o quarto e Maitê continua praticamente na mesma posição. Ao apanhar o travesseiro na cama, não resisto, deito-me ao seu lado e passo meu braço pelo seu corpo. Ela reage.— Tire esse seu braço de cima de mim! — ele ralha, entre dentes, rejeitando-me.Ela se levanta e corre para o banheiro, fechando a porta. E eu sinto uma frustração do tamanho do mundo. Expiro de forma barulhenta. Apanho o travesseiro na cama e um lençol no armário e me ajeito no colchão no chão.Vai ser difícil dobrar Maria Teresa. Mas não impossível.

Capítulo 22


MAITÊ

Quando abro meus olhos, me deparo com os de Otto me observando,impassíveis. Um medo corre pela minha coluna e todo o peso de suas mentiras retornam, na forma de dor a comprimir o meu coração e mente.— Bom dia, Maitê! Dormiu pouco... Como se sente? — ele pergunta e se senta na borda da cama, já pronto para o trabalho.

Temo que Otto seja obsessivo. Uma onda de enjoo me atormenta.Nada respondo. Levanto-me como um raio, com uma mão em forma de concha sobre os lábios e corro para o banheiro, fechando a porta atrás demim.Não tenho nada no estômago. Só a bílis que passa queimando pela minha garganta.— Está vomitando? — Ele bate na porta.Quando as ondas de enjoo passam, fecho os olhos e me escoro no azulejo. Esse traidor deve estar com o ouvido colado na porta. Aciono a descarga. A cabeça lateja um pouco. Trêmula, vou até a pia, lavo o rosto, aboca e faço a minha higiene.Não consigo parar de pensar em quem é Otto, no que ele armou para se vingar do meu pai. Mas também me incomoda saber as suas motivações.Eu não aguentei escutá-lo falar de sua filhinha morta em seus braços.Levo a mão à testa.Preciso ser forte, caso contrário, vou enlouquecer. Acaricio o meu

ventre. Como o destino foi capaz de preparar essa armadilha?Saio do banheiro, sem coragem de encará-lo.— O que sente? — ele insiste e apenas lhe devolvo um olhar de desdém ao passar por ele. — Maitê, por favor, facilite... Vamos negociar um termo mínimo. Eu também estou sofrendo pra caralho. Errei, não deveria ter chegado a esse ponto. Me perdoa...Não sinto sinceridade em nenhuma de suas palavras. Suspiro,procurando forças onde elas não existem mais. Volto-me para ele.— Olhe bem para o meu rosto, Otto. — Procuro imprimir um tom cortante e aponto para a minha cara. — Viu essa carinha aqui? Nunca mais verá esse rosto derramar uma única lágrima por você. E tem mais, poupe a sua saliva, não importa o que diga, para mim, você só mente. — Desloco-me para outro extremo do quarto. — Te vejo assim agora e constato que te falta tanta  coisa, Otto, sobretudo caráter — desdenho, num tom ardil, ainda sentindo fraqueza.— Porra, Maria Teresa! Já disse que tem crédito para me ofender,mas lhe garanto, tenho muito caráter. Quem não tem é o seu pai! — ele assegura de modo firme e dedo em riste.— Fique com o seu passado, com a sua viuvez, com as lembranças de sua falecida e me esqueça. Um homem, que alimenta tanto ódio por oito anos e faz o que você tem feito, só pode amar enlouquecidamente um cadáver! —berro. Otto respira de modo barulhento e não consegue disfarçar a ira na sua face, embora permaneça em silêncio. — Não espere muito de mim, além do

desprezo que sinto por você.— Puta que pariu, Maria Teresa, é você que eu amo. E tem mais, pelo

que me recordo, até ontem de manhã, nós fizemos amor em cima dessa cama— ele aponta em direção ao móvel —, você gemeu pra caralho com meu pau e ainda disse que me amava. — Ele para e gesticula como se estivesse contando. — Uma, duas, não, três vezes.— Urgh, nojento!!!— Não, é o nosso amor. — Otto me fita de forma tão intensa que quase me convenço de sua sinceridade. — Aliás, não só ontem, mas todos os dias desde nos casamos, nós fodemos como animais, nós fizemos amor como um casal apaixonado. E esse amor está aqui. — Ele bate no peito. — E é seu,Maria Teresa, seu, somente seu...Meus olhos marejam, mas controlo a emoção. Não mostrarei lágrimas

para ele.— Se é do jeito que diz, deveria ter sido homem e assumido seu passado para mim, desde o início. Mas não, você ficou comigo e prejudicou o meu pai. O que significa que sua vingança, o seu ódio e seu rancor são as únicas coisas que batem no seu coração. — Minhas palavras cessam por

alguns segundos, porque a amargura comprime a garganta. — Não, Otto,você nunca me amou — concluo, com vontade de desabar.Ele avança em minha direção, mas escapulo.— Fique longe de mim — exijo.Dando dois passos para atrás, Otto respira, aborrecido, com a testa crispada.— Desculpe. Vou passar a dormir no outro quarto, por alguns dias,para que tenha espaço. Mas o que posso afirmar é que está errada,completamente enganada no que pensa. — Ele acaricia a barba e seu olhar se perde por alguns segundos. — Sugiro que descanse hoje. Tenho que ir para o hospital agora e vou tentar vir almoçar em casa. — Ele observa o celular e abre os braços. — Infelizmente, tenho um procedimento agora. Te amo e queria muito te dar um beijo.Viro-lhe as costas, empertigada.Posso sentir o seu olhar queimar meus ombros e nuca. Em seguida,ele sai do quarto, passa na cozinha e conversa algo com Lurdinha, a senhora que ele havia contratado para ajudar nas tarefas da casa. Eu me jogo na cama

sem forças para nada e me permito chorar. Minutos depois, escuto o motor de sua picape ranger e depois o som desaparecer.Como odeio esse homem, mas também, como o amo...Preciso pensar urgentemente no que fazer. Não posso ficar à mercê De Otto e nem ir para casa de meus pais escutar as lamentações de João Guerra,carregadas de indiretas sobre o quanto fui teimosa, tola e colaborei para a suaderrocada.E, nisso tudo, o pior é essa gravidez. Não sei o que faço. Não queria ser mãe agora, ainda mais nessas circunstâncias. Uma gestação inesperada de

um homem como Otto é uma tragédia. Sei que o bebê não tem culpa, além de ser fruto de um amor, ou melhor, do meu amor por Otto.Mas me afogar em lágrimas não vai resolver. Permaneço alguns

minutos nessa letargia, então limpo meu rosto, levanto-me e vou até o armário. Olho a porra da mala na prateleira mais alta. Nem nas pontas dos

pés, consigo puxá-la. Às vezes, odeio ser baixinha.

Apanho uma cadeira na sala, subo e, finalmente, alcanço-a. O mundo parece girar.— Dona Maitê? Por Jesus Cristin! — Lurdinha diz com um sotaque

que se acentua no final das frases, ao entrar estabanada no quarto. Assusto-me e quase perco o equilíbrio. Ela corre e me apara.— Ai, Lurdinha, você quer me matar de susto! — Desço da cadeira

com o coração para explodir, com o apoio dela.

— O que aconteceu com essa porta? — ela pergunta, com ar curioso.Lurdinha é uma mulher roliça, solteira e com dois filhos crescidos, que usa

grandes óculos de grau no rosto e mantém os cabelos enrolados em uns tipos de coques, que mudam a depender do dia.— Seu patrão quem fez isso — respondo, abro a mala e começo apegar umas peças de roupas no armário.— Brigaram, foi?— Muito.— Mas doutor Otto é tão apaixonado, dona Maitê. — Ela me cerca enquanto arrumo as roupas. — A senhora vai pra onde?— Lurdinha, Lurdinha de minha vida, preciso de um tempo...— A senhora vai deixar doutor Otto? Faz isso com o coitadinho, não,dona Maitê... Ele é louquinho pela senhora. Quando o conheci, era todo enfezado e triste, mas logo que começou a namorar a senhora, começou a mudar. — Lurdinha toca o meu braço. — Olhe, homem é cabeça dura. Tanto Que eu falava pra ele assim, o senhor está apaixonado por essa moça, na época nem sabia que era a senhora; e ele dizia, tô não, Lurdinha, meu coração né mais terra de gente não. Mesmo sem admitir, ele começou a sorrir, a brincar mais comigo e foi tudo depois da senhora.Crispo a testa e arrasto o olho de um lado a outro. Claro que ele não me amava, Lurdinha, ele ama uma defunta sonsa. E, se parecia feliz, era

porque ele estava prestes de executar seus planos maquiavélicos, tive vontade de responder.— Hum, sei não — realmente respondo. — O que sei é que você vai correr para contar a ele, não é? Que saí com uma mala?— Eu... eu não sou enxerida, dona Maitê.— Ah, tá. Acredito, Lurdinha — respondo com um ar desconfiado,comprimindo os lábios.— Vem tomar café, então, que clareia a ideia. — Quando ela fala, me dou conta que meu estômago está vazio. Quem sabe, comendo, melhore o mal-estar. — Vou fazer uns ovinhos mexidos quentinhos pra senhora.— Está bem, obrigada. Faz o seguinte, vai adiantando lá que já vou.Preciso só fazer uma ligação aqui...— Sim, senhora, dona Maitê.Quando Lurdinha desaparece em direção à cozinha, ligo Para Carlinha.— Amiga, vem aqui em casa me buscar — peço.— Que voz é essa, Maitê?— Voz de quem sobreviveu ao fim do mundo, o teste deu positivo.Otto ficou chateado com a sua gravidez?Um nó volta a apertar minha garganta.— Não, amiga, ele não sabe...Então resumo para Carlinha o que aconteceu.Assim que encerro a ligação, concluo a mala rapidamente. Já trêmula de fraqueza, vou para a cozinha tomar café.— Demorou, hein, dona Maitê — observa Lurdinha. — A senhora quer uma fatia de cuscuz de milho com um leitinho por cima?— Quero sim.Reviro os olhos e me jogo na cadeira com o estômago colado no

abdômen. Ponho café e leite na xícara e Lurdinha me serve uma grande porção de ovos mexidos. Coloco uma fatia generosa de queijo em cima e

como vorazmente.Em seguida, sirvo-me do cuscuz.— Doutor Otto nem tocou no café hoje direito, coitado, e vai passar amanhã toda em pé, operando... Tem pena não, dona Maitê?— Lurdinha, você puxa muito o saco dele, hein... Não tenho pena mesmo. Foi ele quem escolheu o trabalho e todas as outras merdas.— Ah, nem vou considerar a sua resposta, a senhora tá chateada.Volta mesmo que dia, dona Maitê? — Lurdinha continua futricando a minha vida. Mas não tenho coragem de ser grosseira, pois ela só quer ajudar e agradar  a Otto, desconhecendo as reais circunstâncias.— Não sei se volto — respondo antes de dar uma garfada no cuscuz edo derradeiro gole no café, então miro a cara de reprovação de Lurdinha. Poucos minutos depois, a campainha toca e ela vai atender. Deve Ser Carlinha. Então, diante da mesa e do cheiro da comida, meu estômago começa a revirar. Tenho quase certeza de que é emocional, porque não estava assim antes.Carlinha chega e me abraça.— Ah, Maitezinha, como está? Me sinto tão culpada... eu te incentivei tanto a esse relacionamento. — O perfume de Carlinha embrulha ainda mais o meu estômago.— Ai, amiga, preciso que me ajude.— Não me conformo, como ele pôde ser tão fingido esse tempo todo?— comenta Carlinha. Com um gesto, aponto para Lurdinha e minha amiga logo entende. — Ai, Lurdinha, adoro cuscuz! — Carlinha se serve e começa a comer.Instantes depois, não consigo controlar a náusea. Então tento chegar ao banheiro, mas acabo vomitando na copa.— Jesus Cristin, dona Maitê... — Lurdinha e Carlinha avançam para me ajudar.

— A senhora não tá de bucho, não?Retomo o fôlego.— Não, Lurdinha, é emocional — responde Carlinha. — Vamos para o quarto, amiga.— Desculpe, Lurdinha, por toda essa bagunça aqui — digo.— Vai se deitar, dona Maitê, que cuido disso aqui.Ao chegar ao quarto, vou logo ao banheiro, lavo o rosto e escovo os dentes. Depois, só consigo pensar na cama e me deito. Ana Carla se senta ao meu lado.— Otto precisa saber que está grávida — comenta Carlinha. — Ele Perdeu uma filha com a médica, imagina quando souber que você está

tentando deixá-lo fora desse seu processo.— Eu sei, eu sei, mas não consigo pensar nisso agora. Preciso sair daqui, Carlinha, e nem quero ir para a casa de meus pais, onde as conversas giram em torno dos danos que Otto causou à nossa família e eu só me sinto culpada.— Não sinta isso, amiga. Pelo que entendi, o que ele conseguiu fazer não tem relação contigo. Mesmo sem esse casamento, ele iria detonar o seu pai de todo jeito.— Sim, amiga, mas sabe como é meu pai.— Estou besta como ele ficou tanto tempo maquinando isso tudo.

Mas uma coisa me intriga, Maitê, ele não precisava casar contigo. Do jeito que estavam, só com o namoro, ele já poderia manipular você, te fazer sofrer,te humilhar. Só que ele não fez nada disso. — Carlinha inspira. — Já pensou que ele pode estar falando a verdade? E que ele te ama?— E eu amo Otto demais, Carlinha, estou sem chão. Não faz ideia.Mas o que ele fez? Como vou confiar nele novamente? — constato e lágrimas mas descem pelo meu rosto.— Ah, amiga. Ele merece mesmo um castigo bem duro.— Não é castigo, amiga, é o fim... — Enterro o rosto no travesseiro e choro.— Chora, Maitezinha, põe pra fora a sua dor...— Sabe o que mais me dói nisso tudo? Saber que eu me entreguei a ele tão cheia de ingenuidade e paixão e ele moveu céus e terras por uma mulher morta, que era uma bisca quando viva. Nunca poderei concorrer com

uma defunta...— Ih, no fundo, ele nem deve saber que ela era assim e você deveria contar... Mas não foi só pela médica que Otto armou tudo isso, né, porque essa Milena estava grávida e o bebê morreu...— A verdade não é essa, Carlinha, não faz ideia do que meu pai fez na noite do acidente.

Carlinha crispa a testa, curiosa.— O que ele fez todo mundo da região do Vale está sabendo. Teve

mais coisas?— Sim, amiga, uma coisa terrível, que vou ter que resolver, pelo visto. Não posso te contar agora... Carlinha, preciso sair daqui, por favor, me leva  na casa de meus pais pra eu apanhar o meu carro. Acho que vou Para Várzea do Ouro, ficar com Téo e tia Ana, mas não quero que ninguém saiba, muito menos Otto. Levo o notebook e faço os nossos projetos de lá. —Fungo, apanho um lenço de papel na cabeceira e assoo meu nariz. — Preciso De um tempo para pensar, para decidir o que fazer. Vou ser mãe, mas nem tenho uma casa, nada. Não quero ficar debaixo das asas de meus pais, nem das de Otto.— Isso se ajeita com o tempo... Mas, Maitezinha, precisa ir ao médico antes, fazer exames...— Vou resolver tudo isso.

— Eu vou te ajudar. Vamos tentar uma consulta hoje e depois te deixo em algum lugar seguro para que possa repousar por esses dias e realmente decidir alguma coisa. Como está, não tem condição de tomar decisões.

Continua amanhã 

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