Conto Erótico - Um casamento por vingança - Capítulos 17 e 18
Capítulo 17
OTTO
A casa dos pais de Maitê está cheia de convidados: políticos,fazendeiros, empresários, um séquito de puxa-sacos do demônio e de amigos dela. Enfim, são os representantes da elite da região do Vale dos Segredos,quase todos herdeiros de coronéis e famílias abastadas, que chegaram a essas terras duzentos anos atrás.Observo a animação das pessoas. Não queria aceitar essa recepção,mas ela pediu muito. Vera Lúcia também me procurou e foi bem sincera ao expor os seus sentimentos. A minha sogra se desculpou pelo que houve na
primeira vez em que vim aqui e externou a sua preocupação em relação à filha. Naquele dia, senti-me péssimo.Já dei um pouco de atenção a Roberto e Lilian, conversei com alguns colegas de trabalho. Checo o celular mais uma vez, discretamente. O Notícias do Vale, o blog mais acessado na região, ainda não atualizou as informações e Marion me enviou mensagem dizendo que vai se atrasar. Sim, hoje teremos
um showzinho surpresa aqui.Observo Maitê, com seu corpo pequeno dentro do vestido de noiva,
conversando com um grupo de amigos, numa das mesas dispostas ao redor da piscina. Sinto-a um pouco distante, como se estivesse aborrecida comigo.Quase não interagimos no retorno para Mundo Verde e isso me deixou um pouco incomodado.Maitê me fita, então movimento o dedo indicador, chamo-a e pisco.Ela se despede do grupo e vem em minha direção. Sem que saiba, a potrinha me faz babar pelas curvas acentuadas de seu corpo e desperta alguém dentro de minhas calças.Quando ela chega, seguro suas mãos e a mantenho perto de mim.— Disse que havia trazido mudas de roupas, vamos nos trocar. Está quente aqui. Além disso, estou doido para te ter nesse vestido de noiva... —digo, cheio de más intenções, e acaricio o seu rosto.Nós nos livramos de algumas peças no carro, Maitê retirou o véu e me
liberei do paletó, gravata e colete, mas ainda estamos com as roupas do casamento.— Vamos então. — Ela puxa a minha mão, após varrer os olhos de um lado a outro, como em desagrado.
— Ei, espere. — Prendo-a entre meus braços. — Está estranha. O que houve?— Depois conversamos.— Não, prefiro agora — digo, um pouco mais incisivo. Ela suspira, convencida.— Vi hoje os prints de mensagens quentes, trocadas entre você e a
assistente social, uma tal de Magali... Coisas do tipo, “não esqueça doutorzão,valho por três mulheres”, ou “quero te chupar todinho”, entre outras nojeiras.Soube também sobre uma tal de Soraya...— O quê? — Meu peito aperta. A filha da puta da Mag me apunhalou pelas costas. — Mas eu... eu... eu... — gaguejo tentando dizer algo, mas
Maitê me interrompe.— É o seguinte, Otto, vi a data das mensagens e elas foram trocadas antes de firmarmos o nosso namoro, mas nós já estávamos saindo. De todo modo, te relembro o que já disse, não sou do tipo que perdoa traições. Saiba que, do mesmo jeito que me casei rápido, descaso sem maiores preocupações— ela me ameaça.Fico apreensivo e tenso. O desgraçado avançou em suas investigações sobre a minha vida e tentou jogar sujo com Maitê, no dia do nosso casamento, por isso, na igreja, ele me acusou de ter amantes. Filho da puta!— Desde a nossa primeira viagem ao sítio, desde que fiz amor com você pela primeira vez, foi só você... — afirmo, seguro os seus braços e a fito com muita sinceridade. — Tive um rolo com Magali, sim, antes de você, mas nunca a namorei. Sou um sujeito sério, Maitê, acredite. Quando percebi que o que acontecia entre nós era pra valer, eu me afastei do mundo de aventuras.— Só espero não ter surpresas, Otto — ela pondera, como se farejasse as minhas armações. — Como disse no altar, preciso que seja leal. — Maitê me fita com um semblante inquisidor. — Espero que suas idas ao cabaré, em Cercadinho, atrás de Soraya, tenham acabado.O peso da pressão parece me afundar. Não quero que ela desconfie de mim.— Tudo isso foi antes de você. Eu só trabalho e vivo para nós dois,sabe disso. — É verdade. Nos últimos meses, vivi para ela e para planejar oque acontecerá hoje. — Agora me diga, quem foi que tentou te convencer ame deixar no altar plantado? Porque isso de te expor essas mensagens é mau-caratismo, coisa de quem quer arrebentar com a nossa relação.— Ninguém.— Não minta, Maitê, quer minha lealdade e precisa me dar a sua também. Por favor, conte — exijo, já aborrecido. — Deve ter sido o seu pai
— concluo.Ela passa a mão na mecha de cabelo que se desprende do penteado.— Davi me mostrou. Enfim, embora tenha ficado possessa, não me diz respeito, não é? É o seu passado.Abraço-a.— Esse filho da puta quer arruinar a nossa relação. — Comprimo-a e beijo os lábios dela suavemente. — Acredite em mim, eu só quero você.Finalmente, ela corresponde ao meu afago e me abraça, o que me deixa um pouco menos tenso. Contudo meu alerta se amplia. Se Magali mostrou conversas nossas, imagino que tenha revelado a minha busca pelos prontuários de Jonatan, Zé Eduardo e Milena. Não imaginava que ela
chegasse tão longe. Quando Mag soube que iria me casar, ela mudou completamente comigo.— Está bem. — Ela acaricia o meu peitoral. — Vamos entrar
rapidinho, mas só iremos trocar de roupa, caso contrário as pessoas vão ficar deduzindo coisas. — Maitê sorri maliciosamente.Uhum! Pode ter certeza — minto.Vamos em direção ao interior da casa. Atravessamos a ampla cozinha,passamos por um longo corredor, com acesso para diversos quartos. Maitê empurra a porta de um deles, um cômodo amplo, com duas camas de solteiro,banheiro e um janelão para um jardim.— Esse é o meu quarto.— Era, era o seu quarto — emendo. Fecho a janela e, quase como um felino, enlaço-a.— Imagino que esteja incomodado com tanta gente. Mas são pessoas que não poderia deixar de convidar — ela justifica o almoço de casamento,que mais parece um evento eleitoral, e passa mão em meu pescoço.
— Entendo, Mai — respondo, disfarçadamente, porém estou interessado em outro assunto e dou um beijinho nos seus lábios.— Mai? Outro apelido.
— Mai, meu amor...O que mais quero é me distanciar de todo o lixo que trago comigo e
me entregar a Maitê. Mergulho nos seus lábios e me refestelo. Ansioso, exijo a sua língua e a comprimo contra minha ereção, que já palpita, generosa.Apalpo o vestido, com urgência, mas não quero tirá-lo ainda.Enfio a mão por baixo de tantas saias e tecidos impossíveis de contar e procuro a sua intimidade. Afasto a calcinha e a acaricio. Logo posso sentir a sua umidade.— Quero te ter de noiva — sussurro e a puxo ainda mais para mim.Ela geme baixinho, por causa de minhas carícias.
Quando a sua umidade se intensifica, rapidamente abro minha calça.Sento-me na cama e a trago para cima de mim. Maitê fica de joelhos e tenta manter o vestido suspenso.Para que a anatomia apertada dela se adapte ao meu pau, penetro-alentamente, deliciando-me com cada centímetro. A visão é linda, Maitê,como uma rainha, dentro do vestido, ostentando o semblante do mais puro prazer.— Hum, Maitê, é muito gostosa. Vou foder você todos os dias, meu amor — começo a delirar.— E vou ser sua todos os dias, Otto. Que delícia! — Maitê rebola
sobre mim e me leva à loucura.Eu a envolvo em meus braços e a beijo ardorosamente. Ansioso,
mudo de posição e fico sobre ela e a montanha de tecidos. Acelero os movimentos e logo tenho meu orgasmo. Meu pau vibra dentro dela, num gozo gostoso e seguro, pois Maitê começou a tomar anticoncepcionais.Então ela desce de cima de mim, examinando o vestido.— O vestido! É alugado e está todo amassado.Gargalho.— Está tudo bem, amor, mas não acabamos — aviso. — Deixe esse
vestido pra lá.— Mas o que vão pensar as pessoas lá fora? Temos a vida inteira para namorar. — Ela dilata os olhos delineados pela maquiagem, o que a torna ainda mais encantadora.— Quero que se explodam, Maria Teresa. Agora é minha mulher —
digo e nem sei de onde vem tanta possessividade. Livro-me da camisa e da calça. Maitê vira de costas para mim, apontando para os minúsculos botões do vestido. — Vamos namorar todos os dias.Vou até ela e desabotoo uma fileira de botõezinhos perolados, assim que concluo a tarefa, beijo as suas costas. Minhas mãos despudoradas já
invadem as aberturas e tentam alcançar os seios. Ela se afasta um pouco de mim, gira no seu eixo e me observa com a sua carinha safada.Aos poucos, Maria Teresa vai deixando o vestido de noiva lamber a sua pele, ao retirá-lo vagarosamente. Quase nem pisco, admirando a cena. Em pouco tempo, está ela, diante de mim, apenas de lingerie branca e sandálias de salto no mesmo tom.Sou invadido por uma grande leveza.— Otto, preciso de um banho.Envolvo-a nos meus braços.— Eu sei, minha esposa linda. A mais bela e encantadora de todas, a que me fez voltar a sorrir.Só não poderia ser filha daquele cão maligno.— Nem tanto! — ela protesta.Eu a beijo profundamente. Aqui, em seus braços, queria esquecer minhas tormentas e mentiras. Estou muito ligado a Maria Teresa. O meu sonho ideal era nunca a ter envolvido nisso e a ter guardado para mim, num lugar especial, para tomá-la assim que a tormenta passasse.Deito-a numa das camas de solteiro, puxo a sua calcinha e passo aponta da minha língua no centro de seu prazer. Quero que ela goze muito comigo. É nesse momento que me sinto menos calhorda, porque sei que estou fazendo algo verdadeiro com ela.Libero os seios do sutiã sem alça e travo seus mamilos nas pontas de meus dedos. Enterro meu rosto ali, esfrego meu nariz e a barba com toda vontade de meu corpo por sexo. Adoro estar entre as pernas dela, seja com meu pau, seja com minha boca.Ela geme baixo, sussurra o meu nome até gozar. Percebo a carne dela trêmula. Em seguida, beijo as laterais de sua coxa e virilha.— Gostou? — pergunto.Meu pau já bate continência à cena, totalmente rijo.— Muito! — ela suspira, profundamente. — Amor, nossos convidados nos esperam.— Hum... Está bem.— Temos a noite inteira. — Maitê me dá um beijo suave nos lábios e
se levanta. Recolhe sua lingerie e põe o vestido sobre uma cadeira. Sento-mena cama e a admiro. — Vem tomar um banho rápido comigo — ela convida.— Se eu entrar nesse chuveiro contigo, Potrinha, não sairemos tãocedo.Vou até ela e a abraço. Sinto o seu corpo pequeno roçar a minha pele e o seu cheiro embriaga as minhas narinas. Beijo os seus lábios e toco a sua traseira deliciosa. Os músculos do meu corpo reagem. Pressiono o seu quadril contra o meu pau.— Está vendo? — Maitê sorri. — Vai ter que me aguentar —comento, enquanto ela me observa e se afasta.— Com todo amor do mundo — ela diz e entra no banheiro.
Inspiro, profundamente. Dou meia-volta, apanho minha calça no chão, pego o celular, sento-me na outra cama e abro o site de notícias. Está lá,
estampado o título: “Deputado João Guerra Cruz acoberta crimes por oito anos”. Meu coração bate acelerado.— Uau! Finalmente — sussurro para mim.“O deputado João Guerra escondeu uma tragédia macabra por oito anos. Fontes apontam um elo entre o assassinato de José Eduardo Silva, o Dudu da Noitada, e as mortes de Jonatan Figueiredo, correligionário do deputado, e da médica obstetra Milena Borges, que trabalhava para ele, na extinta clínica da mulher. Essas mortes abalaram a região do Vale dos Segredos à época. A médica era muito querida e estava grávida quando...”Tremo.Toda a merda vem à tona. A tortura, a dor. Meu sangue pulsa forte,percorre as veias de forma explosiva, joga-me nas chamas das recordações e dos meus perturbadores pesadelos; quando noites me devoravam e céus se fecharam numa tristeza das mais sentidas, meu corpo era flagelo e lágrimas,ódio e desalento.Passo a mão nos cabelos e barba, impaciente. Quero mirar o rosto do desgraçado, do cão dos infernos, do demônio que destruiu meus sonhos e planos, que roubou a vida dos que amava.Quero vê-lo derrotado, destroçado. Quero que nunca se eleja nem a líder de rua. Preciso ver a reputação de João Guerra ser arruinada,transformada em pó, em nada, e que as pessoas tenham ojeriza e repulsa do ser asqueroso que ele realmente é.Levanto-me, tenso.Preciso me controlar, preciso me controlar, repito no cérebro, como um mantra.Ando de um lado a outro do quarto. Louco de vontade de descobrir se ele já viu a notícia, como também aguardar o que ainda está por vir. Observo o aplicativo e abro uma mensagem de Marion: “Daqui a pouco estou chegando”Maitê sai do banheiro enrolada na toalha.Fito-a e múltiplos sentimentos me rondam. Maitê vem até mim e me toca. Meio que paraliso ao mirar a sua mão sobre o meu braço. Esse toque, a temperatura de sua pele, o sangue dela, o mesmo do demônio. Envolvo-a em
meus braços e um amargor comprime a garganta. Não quero me afastar dela,eu a amo de verdade.
— Vá, meu amor, tomar o seu banho. Já levo a sua roupa para o banheiro. — Ao longe, escuto-a dizer de forma doce. Meus sentidos estão na pulsação de meu coração, no sangue quente que corre em minhas veias.Respiro fundo.Beijo os seus lábios suavemente e sigo para o banheiro.Entro no chuveiro, fecho os olhos ainda me sentindo tenso. Deixo a água fria escorrer pela minha pele, pingos fortes resvalam sobre os músculos e, ao menos, abrandam a minha ansiedade. Não quero que Maitê perceba as minhas perturbações. Não desejo fazê-la sofrer. Sei que ela nada tem a ver com a dívida do pai junto a mim.Maitê entra no banheiro quando estou terminando a ducha.— Separei essa calça e camisa polo novas. Mas, caso não goste,
trouxe mais peças para que possa escolher — ela diz e pendura os itens.— Obrigado — respondo, introspectivo.— Vou terminar de me arrumar — ela avisa e sai.Enxugo-me rapidamente, visto uma cueca boxer branca novinha e a roupa escolhida por Maitê, uma calça azul-marinho e uma camisa polo azul clara. Observo-me no espelho e me sinto bem com a roupa, ponho o cinto que ela trouxe. Alinho os cabelos molhados com os dedos.Sigo para o quarto e me sento para calçar os sapatos, só então miro Maitê com mais atenção, enfiada num vestido no mesmo tom de azul daminha camisa, que delineia o seu corpo. Está linda e chamativa.
— Essa roupa não está excessivamente apertada?
Ela dilata o olhar e franze o cenho.— Nunca se importou com minhas roupas — Ela ergue a mão da aliança. — Escolhemos estar juntos. E esse vestido não tem nada de mais,nem curto ele é. — Ela aponta para o comprimento um pouco acima dos joelhos.— Não sou ciumento, Maitê. Vamos — digo, ao me levantar.— Um segundo!Contenho-me para não demonstrar impaciência. Então prendo o olharem sua traseira, que empina mais ainda quando ela inclina para terminar de pentear os cabelos. Meus olhos percorrem a sua geografia, ainda assim não consigo me dispersar do que vai acontecer lá fora.Quando dou por mim, Maitê já segura a minha mão, com o rosto levemente maquiado e um sorriso bonito emoldurando-o. Seguimos a passos largos em direção à festa.— Você parecia apressado — ela comenta.— Estou com fome, na verdade — digo, disfarçando.Assim que alcançamos a área externa, ao redor da piscina, avisto um pequeno aglomerado de pessoas e escuto vozes altas.— O que é isso? — indaga Maitê, um pouco assustada.Conduzo-a nessa direção. Logo as pessoas abrem espaço para que passemos. E lá está Marion, empunhando um dedo na cara de João Guerra e,um pouco atrás dele, Vera Lúcia, Maria Alice e dona Ana Guerra, mãe de Téo. Uma das funcionárias da família retira Maria Fernanda do local.Teodoro se põe ao lado do tio, tentando acalmá-lo.— Vou ter que desenhar? — Marion grita. — É o responsável pela morte de Milena Borges, minha irmã. Você a chamou naquela noite chuvosa e não foi para fazer um parto.— A senhora se controle e se ponha pra fora da minha casa! — o deputado se exalta.— Foi para ela operar o seu apadrinhado, Jonatan, escondido da polícia, porque ele tinha acabado de assassinar um homem, o Dudu da Noitada. Tudo lá em Brejo Negro. A sua política nojenta tirou quatro vidas
naquela noite. E isso não vai ficar impune — continua Marion, já envolta por pessoas, os bajuladores do deputado, que seguram os seus braços, tentando conduzi-la para a saída.— Prove, prove. Saia daqui, sua desmiolada. — O deputado leva as mãos à cabeça. — A doutora Milena veio fazer um parto. E eu não tenho nada a ver com todas essas fatalidades envolvendo o acidente dessa médica,ou as mortes de Jonatan e Zé Eduardo. E isso aconteceu há oito anos.Marion range os dentes, enfurecida.— Tenho o áudio de Linda, a enfermeira que cuidou de Jonatan
baleado, enquanto aguardava a chegada de Milena, na clínica da mulher, que o senhor mantinha. Ela conta tudo, sobre suas falcatruas naquela noite. Não quis deixar o rapaz ir para o hospital, esperou Milena e, assim, Jonatan morreu. Todos morreram. Está tudo na imprensa. Tirem essa maluca de minha casa. Nem sei quem é! — berra João Guerra.
Marion está sendo arrastada.— Mentiroso, cínico. Me conhece, sim. Fui sua amante e você me fez
abortar um filho seu para que sua mulher não soubesse.— Mentira, mentira! Vou te processar, sua louca — ele grita.Meu sangue corre rápido nas veias outra vez. Gelo. Marion põe pra fora tudo que eu tinha vontade de jogar na cara desse desgraçado, mas desconhecia esse detalhe do aborto. Então ele foi pior do que imaginava.
Maitê continua paralisada ao meu lado.As pessoas vão se dissipando em pequenos grupos e lançam olhares sobre a família Guerra Cruz. Maitê se aproxima da mãe, que demonstra um grande abalo.Junto-me a Maria Teresa. Logo se aproxima João Guerra. Maitê solta a minha mão e abraça a mãe, que foi humilhada por Marion. Maria Alice
abraça o pai. Acaricio o ombro de Maitê.Esperei tanto pelo dia em que começaria a me vingar, achando que seria o mais feliz da minha vida desde a tragédia, no entanto não é bem assim. Estou dividido, contente e aliviado, mas culpado por ter machucado Maitê e estragado nossa festa...Afinal não posso fechar uma porta triste do meu passado e abrir a do presente, cheia de medos e culpa. Nem tenho direito de transformar os sonhos dela em pesadelos, como estou fazendo nessa recepção.
— Mulher maluca, não me lembro dela — Téo comenta quando os abraços de consolo vão se desfazendo.Uma maluca, uma desajustada e mentirosa. Política tem disso —Maitê alega.Então acompanho com o olhar um dos assessores de João Guerra aproximar-se dele e mostrar algo no celular. Suponho que é a matéria no Notícias do Vale. O cão diabólico balança a cabeça, cochicha algo inaudível no ouvido do assessor e vai ficando cada vez mais vermelho. Dou mais algumas passadas e me aproximo do verme.— Preciso descobrir quem está vazando isso, quem mandou essa louca acabar com a festa de casamento de minha filha, expor a minha família a essa humilhação desnecessária — João Guerra ladra. — Deve ser algum filho da puta dos Rosa Bezerra. — Ele aponta para a namorada de Téo, Júlia Rosa Bezerra, que está mais afastada e não escutou sobre essa acusação. —Nenhum Guerra Cruz pode se envolver com um Rosa Bezerra, já dizia o velho Sifrônio, mas a geração atual é teimosa. Está sendo cabeça-dura, Téo.A rixa quase secular entre famílias está levando a culpa. Só não esperava que sobrasse para Téo e Júlia.
Capítulo 18
MAITÊ (Uma semana depois)
A primeira coisa que Otto fez quando me pediu em casamento foi comprar uma casa no condomínio novo e mais afastado do centro de Mundo Verde, cercado de vegetação e com infraestrutura e segurança. A casa confortável, com três quartos, jardins e grandes janelões. Tenho a impressão
de que moro dentro da floresta e estou amando a experiência.— Sabia que ia gostar, Maitê, além disso, não precisaremos fazer nada nela. Agora é só comprar os móveis e nos mudar — ele me disse.Compramos os móveis simples e em cores neutras. Meu gosto é modesto e Otto revelou admirar esse meu jeito. Mesmo tendo sido criada
numa família de recursos, nunca me senti bem ao fazer qualquer gasto
exagerado.Não pensem que sou mão de vaca, não é isso. Aprecio o conforto,
mas defendo o consumo responsável. Ostentar entre amigos e em redes
sociais são atitudes que nunca me seduziram.
Bem, neste exato momento, estou de dona de casa. Cheguei mais cedo
do trabalho, acabei de molhar as mudas de rosas e flores que nós plantamos
no jardim e agora estou começando a preparar o jantar. Vou fazer um frango
acompanhado de salada e arroz branco.
Nós não viajamos em lua de mel, porque Otto ainda não pode tirar
férias e eu estou começando no escritório. Então combinamos de fazer uma
viagem daqui a uns seis meses. Nossa noite de núpcias foi um pouco
esquisita. Passamos duas noites num hotel da região, com piscina, acesso ao
rio e à cachoeira, mas não nos animamos muito.
Eu me abalei bastante com o escândalo de Marion no nosso
casamento e, de algum modo, Otto pareceu afetado com o acontecimento,
pois ficou mais introspectivo que o de costume. Nem os prints odiosos que vi
dele e da assistente social me afetaram tanto como a presença daquela
mulher.
Recordo-me de que nos amamos de uma forma calma, assim que
chegamos.
— Mai, quero te amar do jeito que você merece, para o resto de sua
vida. Saiba que sou muito real quando estou contigo.
— Eu sei, amor.
— Eu te amo, Potrinha.
Fizemos amor quase em silêncio e nos beijamos sem parar. Ele foi
muito mais carinhoso e se manteve distante de sua ansiedade por sexo
picante.Depois, Otto abriu um champanhe e fomos tomar banho na banheira.
Ele fez questão de acender as velas dispostas nas laterais. Nós nos abraçamos
sob a água quentinha e ficamos em silêncio por alguns minutos.
— Foi estranho o escândalo daquela mulher. — Era a segunda vez
que ele tocava nesse assunto. Na primeira, durante a viagem, havia alegado
que não queria conversar.
A verdade é que os segredos da minha família são ultrassecretos.
Mesmo o amando profundamente, nunca exporia os meus pais para quem
quer que fosse. Guardar segredos faz parte da essência da minha família.
— Sim, mas ela mente. Marion não fala a verdade — respondi.
— Como pode ter certeza? — ele questionou, enquanto o afagava no
peito.
— Meu pai realmente teve um envolvimento com ela, mas ele não
assumiu ali, naquele momento do escândalo, por respeito à minha mãe. Eles
quase se separaram à época. Foi uma aventura para ele, mas Marion começou
a perseguir a minha mãe. Ela é uma megera e queria que meu pai se
separasse, então começou a infernizar, enviava e-mails, passava trotes. Até
que minha mãe recebeu uma foto de uma viagem que ele fez escondido com
Marion e ela decidiu ir morar em Salvador com Maria Alice e eu fiquei em
Mundo Verde. Ela disse que preferia deixá-lo livre.
— Nossa!
— Logo depois veio Maria Fernanda...
— Eles estavam em crise naquela época?
— Sim, meu pai já machucou minha mãe por duas vezes por causa de
amantes. Então, por tudo que vi minha mãe passar com a Marion e depois
perdoar meu pai, eu te digo que nunca repetiria o que ela fez. Não vai acontecer, sou um homem sério — Otto garantiu e beijou
a minha cabeça.
— Meus pais começaram a namorar adolescentes, sabe, eles nunca
terminaram, só viveram duas profundas crises. Então, no caso da Marion,
minha mãe o deixou livre para se separar dela e assumir a megera, mas, então
ele se desesperou atrás dela, de minha mãe, quero dizer...
— Sua mãe é uma mulher bonita, mas não posso dizer o mesmo de
seu pai.
— Meu pai sempre disse que o envolvimento com Marion foi uma
aventura e, quando descobriu que essa mulher estava tentando destruir o
casamento, tomou pavor dela e se afastou. Então ela veio com a história de
que estava grávida. Ele disse que assumiria as responsabilidades, mas a
megera desapareceu logo depois do acidente envolvendo a médica, irmã dela.
— E o que está saindo na imprensa sobre o acidente envolvendo a
obstetra e os crimes? — Ele continuava curioso.
— Ah, Milena, a médica, era adorada pelas mulheres que ela atendia,
mas não era nenhuma santa.
— Como? — Otto pareceu não gostar de minha colocação. — A
Milena sempre foi muito dedicada...
— Você a conheceu? — perguntei, encabulada.
— Não, ouvi falar dela em Brejo Negro, mas como ela não era santa,
explica?
— Não quero falar disso, só sei que ambas as irmãs, Milena e Marion,
gostavam de manipular pessoas.
Otto se afastou de mim e me fitou, sério.Explica... Hum, é... ela era minha colega de profissão...
— Não tenho provas, era o que as pessoas diziam — escapuli daquela
conversa. A verdade é que há provas, meus pais guardam diversas cópias de
e-mails dela, mas essa é uma das questões proibidas. — Não quero falar
sobre isso, é mórbido. Por favor, não faça mais perguntas, até falei demais.
Otto se recostou na banheira, pensativo. Quando terminamos o banho,
fomos dormir abraçados, depois das tantas emoções distintas em nosso
casamento.
Passei a semana profundamente preocupada com a situação de meu
pai. O escândalo na imprensa de toda região do Vale dos Segredos e as
mídias sociais o têm massacrado desde o dia do casamento. Não há trégua.
Um áudio de uma enfermeira foi divulgado e, nos próximos dias, essa
mulher vai dar entrevista numa emissora de rádio da região. A reputação de
meu pai está sendo destroçada. Foi uma vida para construir a sua imagem e
bastou um escândalo para destruí-la.
Estou muito sentida por isso. Desde que me entendo por gente, meu
pai sempre esteve envolvido na política. Deixou de lado as terras herdadas,
entregues na mão de meu tipo José e de Téo, para se dedicar à política. No
fundo, não tenho ilusão de que meu pai seja um santo, mas não é um
deputado ruim.
Nunca o vi em atividades suspeitas, nem o nome envolvido em
escândalos de corrupção. Em suas decisões, sempre está do lado do
trabalhador, apoiando os projetos que podem melhorar a vida dos mais
vulneráveis.
Nem pense que digo isso por ele ser meu pai. João Guerra está no fim
do seu quarto mandato consecutivo no parlamento brasileiro e, pela primeira vez, corre o risco de não se reeleger e de ser destruído da esfera pública.
Sei que ele comete erros e que, sim, protegeu o Jonatan, que fez uma
merda. Mas isso foi um ato de amor. Ele nunca imaginaria que a médica, que
trabalhava para ele, fosse sofrer aquele trágico acidente, ainda por cima,
grávida.
Não sei como meu pai agirá caso seja alijado da política.
Escuto o barulho da picape de Otto estacionando. Olho o jantar que
preparei. O frango está bem branquelo e vou enfiá-lo no forno de novo. A
salada está bonita e, ao menos, consegui deixar o arroz soltinho. Sou um
desastre na cozinha, mas tenho me esforçado.
Escuto os passos dele, que entra direto no quarto e vai tomar o seu
banho. Minutos depois, ele aparece na cozinha e sorri pra mim.
— Essa é a melhor cena do dia, você cozinhando para nós...
Ele vem até mim e me dá um beijinho, enquanto preparo um suco de
laranja no espremedor. Então ele desiste de se afastar, abocanha meus lábios
e me abraça apertado, fico com os braços ao seu redor desajeitadamente para
não o sujar, em seguida vem mais beijinhos.
— Maitê.
— Hum?
— O que acha de irmos embora de Mundo Verde? Posso arranjar
boas colocações em várias outras cidades do país. O Rio tem cidades
aconchegantes e nos Estados do Sul do país também. Mas, se quiser,
podemos ir para algum local da Amazônia, do Pantanal...
A colocação dele me choca e me deixa hesitante.
— Mas por quê, Otto? Aqui está a minha família. Ainda mais agora,que meu pai atravessa um problema tão sério. Tudo isso tem nos devastado.
Não posso ir. Tem a Nanda, a Carlinha e nosso escritório. — Estreito o olhar
só de pensar na dor dessa mudança. — Mas por que está com essa ideia
agora, amor? Comprou essa casa, também investiu no sítio...
Ele expira de forma barulhenta. Coça a barba e passa a mão nos
cabelos.
— Mai, acho que, se sumirmos de todo esse caos, estaremos mais
seguros e nossa relação também.
— Estou meio mal com essa ideia.
— Está tudo bem. — Ele encosta a sua testa na minha. — Se não
quer, não vamos. Quero que nunca esqueça que te amo muito, de verdade.
— E tem amor de mentira? — Sorrio.
— Nunca entre nós dois, Maitê. — Ele apalpa minhas nádegas. —
Trouxe um presente pra você. Venha, lave as mãos e depois te ajudo aqui.
— Presente?
— Acho que é mais pra mim que pra você... Outra coisa, vou falar
com Lurdinha, que cuidava da minha casa antiga e das minhas roupas, para
ela vir trabalhar aqui — ele diz, enquanto lavo as mãos.
— Ah, não precisa. Teve muitas despesas. Por favor, deixe que eu
tente fazer.
— Não me sinto confortável que faça mais tarefas domésticas que eu,
Maitê. Por favor, a casa é grande, ela vai limpar e cuidar de nossas roupas,
além disso, gosto muito dela e está desempregada. Enfim, vamos gastar nosso
tempo em nossas plantas, quem sabe, um cachorro... — ele argumenta, toma
a minha mão e a leva aos lábios, beijando a aliança.Vamos andando.
— Por falar em cachorro, a Nanda vem dormir conosco amanhã e ela
pediu para trazer a Zoraide, a cadelinha. Algum problema pra você?
— Claro que não, amor. Vou adorar interagir mais com a sua irmã e a
Zoraide também. Acho que vamos nos divertir muito.
Chegamos ao quarto e, em cima da cama, está uma caixinha,
embalada de presente. Otto encosta na soleira da porta com uma cara safada.
Logo percebo que tem algo de conotação erótica dentro dela.
Comprimo os lábios, com um sorrisinho atravessado. Apanho a
caixinha, sento-me na cama e a abro. Dentro, há um plug anal sobre um
conjunto de lingerie de renda preta. Fico assim, um pouco surpresa. Otto se
aproxima e se acomoda atrás de mim. Enlaçando-me, coloca o queixo no meu
ombro.
— Não é para hoje, ou amanhã. É para quando você estiver
confortável e preparada para isso... — Ele acaricia o meu braço. — Então,
poderíamos assistir a alguns tutoriais juntos, o que acha? — Ele faz cócegas
em mim e rimos. — É que sou fissurado nisso aqui... — Ele acaricia o meu
bumbum.
— Está bem, vou me preparar para esse dia.
— Mas a lingerie usa quando quiser, né... Aliás, adorei comprar essas
peças para você. Acho que vamos realizar todas as fantasias mais adiante, o
que acha?
— Ah, é ótimo. Na verdade, vou adorar! — confesso, empolgada. —
Então, amor, estou roncando de fome, vamos jantar?
— Eu também. — Nós nos levantamos e ele me enlaça. Otto é muito
grudado em mim. — Já te disse que trouxe o sol para mim, Maitê? Ih, não... — digo após fazer uma cara pensativa.
— Sim, é meu sol. Eu vivia num calabouço escuro, quente e
medonho. Até que, naquele despenhadeiro, lá na beira do rio, você lançou
seus primeiros raios sobre mim. Para quem vive no escuro, a luz é difícil,
inicialmente, amedronta e causa outros sentimentos... Enfim, o que quero que
saiba é que ainda estou um pouco no escuro, mas, à medida que avança nossa
relação, você vai, a cada dia, clareando mais e mais a minha vida... Enfim,
amor, obrigado por existir. — A voz dele embarga.
— Ah, Otto... — Enterro o rosto no seu peito, emocionada.
— Vamos, amor. — Ele se levanta e me estende a mão.
Jantamos animados. Lavamos a louça juntos e retornamos para o
quarto. Apanho a lingerie nova, levo para o banheiro e Otto fica todo
sorridente, porque sabe que vou me preparar para ele.
A lingerie é linda. Um top de renda preta cheio de transparências e
uma calcinha igualmente sexy, do tipo boneca, cheia de minúsculos lacinhos
nas bordas, embora não esconda nada. Penteio-me, ponho perfume, um
batom vermelho e calço uma sandália de salto, que deixo já reservada, porque
ele adora.
Saio do banheiro, me esgueirando pela porta.
— Que linda é a minha mulher! — Ele me admira e seus olhos
brilham. — Quero você milhões de vezes e não vou permitir que escape. —
Só de cueca, ele vem até mim e me enlaça. — É a melhor coisa que
aconteceu na minha vida, amor, não merecia tanto.
— Claro que merecia, meu touro!
Eu o afasto e giro no meu eixo devagar, só para me exibir para ele,
que me observa com um sorriso nos lábios.Olha como me deixa... — Otto toma minha mão e me faz sentir a
ereção que se avoluma em sua cueca.
Minha cabeça está cheia de más intenções.
— Senta, amor — peço e o empurro suavemente na cama.
Começo a balançar de um lado a outro e a me acariciar sensualmente.
Otto fixa os olhos estatelados em mim. Puxo a barra do top, como se fosse
tirá-lo, mas não o faço. Desço os dedos por entre as alças, os seios ficam
prestes a escapar, mas os contenho.
— É um showzinho?
— Tentando... — Levo o dedo indicador aos lábios, pedindo silêncio.
Um pouco tensa, concentro-me para não parecer ridícula. Passo os
dedos nas laterais da calcinha e vou caminhando em direção ao meu centro.
Otto expira ruidosamente, morde o lábio inferior e quase não pisca
seus olhos comilões. Viro de novo em meu eixo, cuidadosa, e apoio a minha
perna na lateral da cama, o que deixa o meu sexo quase diante dele e muito
exposto.
Escorrego as mãos sobre as minhas coxas, alcanço os lacinhos da
calcinha e a puxo, como se fosse mostrar tudo, mas logo solto o tecido. Passo
o dedo na parte interna da peça, revelo parte da minha intimidade e depois
torno a deixá-la sob a transparência da renda.
Otto começa a acariciar a minha perna com olhos sedentos. Respiro
fundo e faço o que planejava, tocar-me em sua frente. Tensa, com medo de
parecer vulgar, estico outra vez a lateral da calcinha com uma mão e
escorrego dois dedos para lá, com a outra mão.
Ele acompanha meus movimentos, quase boquiaberto. Assim enlouqueço completamente — Otto sussurra. — Não vai
brincar sozinha, Potrinha.
Vorazmente, ele me agarra e me puxa, posicionando-me sobre o seu
corpo. Quando dou por mim, os lábios macios e a sua língua morna já me
devoram entre as pernas, arrastando meus dedos e intimidade para dentro de
sua boca gulosa.
Então, relaxo e me entrego a esse prazer. Rebolo sobre o seu rosto
tomada pela ânsia do prazer e, quanto mais me solto, mais Otto parece gostar
e se deliciar.
E nossa vidinha a dois se torna costumeiramente quente.
Continua amanhã
Continua amanhã
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