Conto Erótico - Química Perfeita - Capítulos 15 e 16
Química perfeita Cap. 15 e 16
Capítulo 15
Rafaello
Marcho puto até o carro, bufando, fervendo, odiando a mim mesmo por ter feito papel de trouxa. Eu sei muito bem por que vim até a cidade, e não tem nada a ver com dúvidas sobre DNA, afinal, eu poderia as ter tirado a qualquer momento, não tinha tanta pressa.
Eu vim atrás dela!, sento-me no banco do motorista com a constatação que me deixa surpreso e receoso ao mesmo tempo. Eu nunca corri atrás de mulher e não vou começar agora e, principalmente, não com ela!
Respiro fundo, arrependido pela atitude estranha que tive ao vê-la conversar com Arthur em clima descontraído. Ela serviu um copo de suco para ele, com um sorriso, depois os dois conversaram, isolados de todos, debaixo de umas árvores.
Pude notar que ela estava vendo Tomás de onde estava, mas que não parava de conversar com o advogado – que, por sinal, nem deveria estar falando com ela enquanto não resolvêssemos essa pendenga da prova de paternidade – e não parecia nem um pouco tensa, nervosa ou desconfortável, como fica quando trocamos meia dúzia de palavras. Essa madrugada ela não estava nada disso com você!, minha consciência acusa. As lembranças da noite me fazem gemer de vontade, e soco o volante do carro.
— Porra, caralho, parece que nunca viu mulher na vida! Se concentra, Raffaello!
Sol Palmeira pode ser astuta, pode muito bem estar usando de joguinhos comigo e o advogado. Eu não sei se a história que ele disse, de que ela aceitou fazer o exame, é verdade ou se ela o engambelou. Idiota! Arthur estava praticamente babando em cima dela, eu via perfeitamente em sua postura, em seu jeito de olhá-la, parecia um cãozinho em busca de um afago.
Talvez eu deva deixar Amália como advogada principal dos meus assuntos. Arthur não me parece mais ser a pessoa indicada para, caso seja necessário, brigar com Sol.
Amália...
Lembro-me da insinuação de Arthur e me pergunto se ela contou algo sobre nossa noite de sexo para o irmão. Não gostei nem um pouco de ter minha vida privada sendo usada contra mim com ironia, ainda mais na frente de Sol.
Não que a opinião dela me importe, claro que não é isso. Contudo, ela pode muito bem tentar me prejudicar com algo e... começo a rir, achando a desculpa mais ridícula do que Arthur arrastando a bunda atrás da ruiva carioca.
Eu não gostei de ele ter insinuado que eu gostaria de ver Amália, muito menos gostei da falta de reação de Sol ao que ele disse. Nada! Parecia que ela não tinha notado a malícia com que Arthur disse isso e, mesmo que eu não espere que ela sinta ciúmes – ciúmes! –, deveria ter, pelo menos, alguma curiosidade sobre o motivo pelo qual o advogado falou daquela forma, afinal, esteve em uma situação bem íntima comigo no corredor da... — Você amava meu irmão?
— Muito!
A lembrança dessa pergunta simples me faz parar o pensamento, e sinto um frio na barriga. Será que, na noite passada, o modo como o corpo dela se encaixou no meu, o jeito como se entregou às carícias, os gemidos baixos, eram para Peppe? Será que ela estava vendo em mim o homem que amava e por isso aqueles simples toques foram absurdamente foda?
Reservado!
Fecho os olhos e tento não pensar nisso. Não me importa! O que aconteceu entre mim e ela não voltará a acontecer, ainda mais sob essas circunstâncias. Eu nunca quis o lugar do meu irmão em nada, nunca me senti em competição com ele. Embora a forma como fomos criados tivesse proporcionado isso, nunca senti ciúmes ou quis ter o que ele tinha, não vou começar agora.
Ligo o carro e abandono a cidade, voltando para a vinícola, ainda arrependido por minha atitude impensada de ter ido até lá. Nunca fui impulsivo, ninguém pode me acusar disso, muito menos pensei com a cabeça do pau ao invés de usar a certa. No entanto, aquela mulher me tira do centro e consegue me fazer ter reações imprevisíveis.
Sol Palmeira não é uma mulher com quem eu possa me envolver sexualmente. Ela é praticamente – e supostamente – minha cunhada, a mãe do meu sobrinho. Além de tudo, há algo nela que me desconcerta como nenhuma outra o fez, que mexe com meu jeito reservado – e até esnobe – de encarar as relações. Eu nunca corri atrás de mulher nenhuma, e não é agora, aos 35 anos, que vou começar a fazê-lo.
Estaciono o carro no pátio de pedra em frente à casa, ligo para meus empregadores para deixá-los a par de minha situação e caminho até o escritório de Gleyson a fim de ajudá-lo com o que estava fazendo. Ainda vou ter que ficar um tempo por aqui até essa situação toda da herança ser resolvida. O pessoal da Lisblanc não recebeu bem essa notícia, mas meu nome, a carreira que eu criei e o trabalho que fiz até agora fizeram com que concordassem em esperar mais tempo pela minha volta.
A cada dia aqui no Brasil, arrisco mais a minha carreira. Sempre tem gente nova ascendendo, tomando espaço, e quem não se estabilizou no mercado corre grandes chances de se frustrar. Sempre tive o lema de que a maior dificuldade, em qualquer carreira, não é alcançar o topo, o sucesso, mas permanecer nele. No momento, eu sou o enólogo da moda, o queridinho, o playboy de gosto apurado e ideias modernas, mas isso tudo pode ser passado caso eu fique enterrado aqui.
Bato à porta do escritório do gerente de campo da Don Ferrero, e Gleyson me recebe parecendo aliviado por me ver.
— Já estava ligando para você.
Percebo o nervosismo em sua voz.
— O que houve?
— Minha mãe sofreu uma queda e precisou ser internada, vai passar por cirurgia, e Glauco, meu irmão mais novo, embarcou ontem para um intercâmbio fora do país.
— Você precisa estar lá com ela? — Ele assente. — Pode ir, eu posso receber o pessoal que está à procura de trabalho na vindima e...
— Não é só isso. — Gleyson parece nervoso. — Sou eu quem assumiu o processo também. — Arregalo os olhos. — Com a morte de seu avô e a situação indefinida da vinícola, eu não pensei em contratar o pessoal da produção.
Levanto a mão pedindo para que ele me dê um tempo, afinal, essa é uma notícia que me pegou desprevenido. Não temos equipe? Já não temos pessoal para a vindima, apenas os trabalhadores de campo – meia dúzia de homens – que ficam com Gleyson inspecionando os vinhedos, cuidando da adubação e irrigação. Agora ele me diz que não temos uma equipe de produção na adega?
Puta que pariu!
— Não temos gerente de cave? — Gleyson nega. — Enólogo? — Outro sinal negativo com a cabeça. — Você deve estar de sacanagem comigo! E a vindima passada, como vocês fizeram?
— Seu avô dispensou todo mundo e condenou o vinho. — Sento-me estupefato. — Foi vendido em tonéis para uma fábrica de bebidas que faz cooler, sangrias e...
Meu coração se aperta ao ouvir isso.
— Tão ruim estava a qualidade?
Gleyson parece sem graça.
— Tivemos alguns problemas de julgamento e...
Rio, imaginando o que aconteceu.
— Don Genaro interferiu no trabalho do enólogo e azedou toda a produção. — Gleyson não responde. — Típico dele, sempre quis fazer isso, e, pelo que eu me lembre, papai era quem não deixava.
— Ele alegava que os pais dele sempre produziram vinho sem nenhum estudo, só pela tradição trazida de seus antepassados.
Ponho a mão na cabeça, sem saber o que dizer, e o pior, sem saber como agir.
— Como está a qualidade da uva?
Gleyson sorri pela primeira vez desde que cheguei ao seu escritório.
— Estava boa na vindima anterior, mas nessa tenho certeza de que estará perfeita.
Olho-o surpreso.
— Por quê? Olha essa bagunça toda! — Aponto para os campos lá embaixo. — Você nem tem equipe para cuidar dessa quantidade de vinhas.
Ele cruza os braços, e seu sorriso parece ainda mais satisfeito.
— Fizemos um planejamento de cultivo para esse ano de modo a reduzir recursos naturais e de pessoal. A organização, bem como os produtos que usamos e, claro, a ajuda do clima com chuvas e temperatura ideais formam um cenário promissor para a próxima colheita.
— Fizemos? — Olho em volta. — Você e mais quem, Gleyson? Meu avô já demonstrou que, além de teimoso, deveria estar senil e...
— Sol Palmeira ajudou. — Ele ri quando vê minha expressão de espanto. — Ela é formada em agronomia também, sabia? Trabalha com ervas e produtos naturais e não tem muita experiência com viticultura, mas sabe tratar o solo como ninguém. — Gleyson pega uma pasta e me entrega. Demoramos semanas fazendo isso tudo, sabendo das dificuldades financeiras da vinícola e que Don Genaro não estava em condições de ajudar. Ela estudou, consultou professores, falou com outros viticultores, e traçamos esse planejamento aí.
Passo folha por folha, admirado, vendo o potencial das escolhas e decisões que eles fizeram. As vinhas são antigas, o que, por si, já diminui muito a produtividade, mas percebo que eles não focaram na quantidade de uva que iriam obter, mas sim na qualidade de cada casta, de cada indivíduo, de acordo com suas características.
Em minhas mãos vejo um trabalho de engenharia completo voltado para a viticultura, e uma energia potente se espalha pelo meu corpo. Admiração! Não só pelo trabalho do Gleyson, levando este lugar praticamente nas costas, mas pelo trabalho dela, pelo esforço para entender a arte da família cujo sobrenome seu filho carrega.
— Conseguiu executar esse projeto? — Gleyson assente. — O que falta agora é uma equipe para a adega? — Quando seu avô faleceu e soube que você viria, achei que poderia contar com sua experiência nisso.
Bufo.
— Gleyson, eu não voltei para me envolver com a Don Ferrero, só para vendê-la e voltar para a Europa, onde é meu lugar.
Ele dá de ombros.
— Como a vinícola está agora, principalmente com os registros da última vindima, ela não está valendo muito. — Ele se senta ao meu lado. — Eu sei que o dinheiro disso aqui para você é irrelevante e que não se importa com a história deste lugar, não o vê como um lar. A Don Ferrero é umas das mais antigas aqui, do Vale dos Vinhedos, e, sinceramente, vendê-la no estado em que se encontra é um atentado a toda a história desta região.
Sou obrigado a concordar com Gleyson. O planejamento feito e executado por ele durante todo esse ano pode render bons frutos e, consequentemente, bons vinhos e apagar os erros cometidos por Don Genaro ao longo dos anos. A Don Ferrero só precisa de alguém que consiga extrair o máximo de sabor de cada uva.
Respiro fundo e balanço a cabeça.
— Vou assumir isso. — Gleyson apoia a mão no meu ombro. — Preciso de um bom gerente de cave que já possa indicar uma equipe para trabalhar conosco na adega. Vou ter que confiar nele, porque eu não tenho acompanhado nada aqui no Brasil sobre a produção e...
— Não se preocupe, vou ajudá-lo a achar. — Ele pega uma mochila. Vou resolver o assunto da internação e cirurgia de minha mãe o mais rápido que puder, mas preciso de alguém para ficar com ela no hospital.
— Idalina. — Ele concorda. — É sua tia, irmã dela, é perfeito.
— Sim, ela está nervosa desde que contei o que havia acontecido, mas você a conhece, parece que tem o umbigo enterrado aqui na Don Ferrero. — Vou conversar com ela e deixar claro que, se quiser ir, não haverá problema para mim.
— Ela tem medo de que você contrate outra pessoa. — Gleyson ri. — Sol vem insistindo para que ela aceite ajuda na faxina, mas ela nega constantemente, e o pior, se ofende.
Levanto-me.
— Vou resolver isso, não se preocupe. — Entrego a pasta para ele. Vamos dar um fim digno à Don Ferrero. Vai ser trabalhoso, mas acredito que iremos conseguir.
— Eu tenho certeza.
Ele me estende a mão, e eu a aperto, selando nossa parceria, torcendo para que eu não me arrependa disso. Não voltei para erguer esta casa, apenas para me livrar dela, mas sinto que preciso salvar um pouco de sua dignidade, pelo meu irmão, principalmente. Corro um grande risco, eu sei, porque este lugar é cheio de lembranças de uma época da minha vida em que eu era feliz.
Não me tornei enólogo à toa, foi graças a este lugar, aos vinhos que, mesmo criança, degustava com meu irmão; aos conhecimentos que adquiri na cave, observando todo o processo; ao meu pai, que era um ótimo negociador e entendia tudo que o mercado parecia querer.
Devo parte do que sou a este lugar, por isso não posso deixá-lo morrer indigente, preciso ajudá-lo a recobrar seu nome e prestígio. Só espero que não seja um erro e que custe tudo o que conquistei com anos de trabalho e estudos na Europa.
Penso no trabalho que Gleyson e Sol fizeram juntos e no cultivo orgânico que ela começou aqui. Aquela mulher me surpreende a cada nova faceta descoberta, ainda que eu não entenda sua motivação ou mesmo confie nela.
Sol Palmeira é como um puzzle, e a cada peça colocada no lugar certo, mais um pouco da imagem completa se mostra. Resta saber se o resultado será belo ou feio.
Capítulo 16
Sol
Tomás parece pesar como chumbo em meus braços enquanto o carrego em meu colo dormindo. O garotinho brincou tanto que, assim que se sentou em sua cadeirinha, adormeceu pesado. Tentei acordá-lo para que chegasse à casa e tomasse um banho, mas a tarefa se mostrou impossível.
Ele está suado e um pouco melado, mas dorme tão tranquilo que sinto meu coração doer só de pensar em o acordar.
Entro pela cozinha e estranho o local todo escuro. Por causa do peso do chumbinho que carrego, nem tento acender as luzes, apenas descalço os sapatos e sigo para o andar de cima, onde ficam os quartos.
O silêncio e a escuridão da casa me deixam aflita, porque isso é algo totalmente incomum para Idalina. A governanta da Don Ferrero sempre deixa um abajur ligado pelas áreas de circulação da casa, e, principalmente, na cozinha, o fogão a lenha sempre permanece aceso, e o cheiro de café recémpassado está constantemente no ar.
Por sorte eu já conheço bem o caminho até o primeiro andar e todos os obstáculos que encontrarei nele. Não acendo a luz do quarto de Tomás, apenas o deito na cama, descalço seus tênis e o cubro com sua manta. Também me sinto tão moída quanto o meu pequeno, por isso, assim que entro no meu quarto, vou direto para o banheiro. No banho, enquanto a água morna relaxa meus músculos, penso no dia maravilhoso que Sara e as outras mães proporcionaram às crianças.
A diversão durou o dia inteiro, parando apenas com intervalos para lanches e atividades. Eu trabalhei ajudando na organização o tempo todo, mas confesso que minha cabeça não estava concentrada no evento.
A descoberta de que existe um testamento que concede a Tomás a maior parte dos bens de Don Genaro me desconcertou, principalmente porque ele nunca disse nada sobre esse assunto. Tento entender o motivo pelo qual o avô de Peppe faria isso com o outro neto, deixando-o com uma parcela mínima, e isso não se encaixa na imagem que eu tenho do homem idoso.
Ele sempre falou do neto enólogo, e eu achava que ele tinha orgulho do que o irmão caçula de Peppe conquistou. Pensava que Don Genaro gostaria que Raffaello voltasse para o Brasil a fim de ajudá-lo na vinícola, principalmente depois dos fiascos dos últimos anos.
Ao que parece, julguei tudo errado.
Raffaello é o herdeiro ideal para tocar a atividade. É da área, tem conhecimento e nome para levantar a vinícola, então, fazia todo o sentido que ele iria assumir, mesmo que de longe, a empresa familiar.
Eu deveria ter imaginado que algo não estava certo quando Don Genaro me fez prometer que Tomás cresceria na propriedade! Ele deveria saber que Raffaello voltaria com intenção de vender a vinícola, por isso me encurralou desse jeito e, talvez, por isso tenha deixado a maior parte dela para Tomás.
Quando Raffaello chegou, eu pensei que queria vender porque não se importava com este lugar, por ter passado anos distante e que visava apenas o dinheiro da venda. Talvez tenha me enganado nisso também.
É provável que ele não se sinta no direito de ficar aqui porque tem a consciência de que o avô não queria que permanecesse. Peppe era o favorito, o primeiro neto, o herdeiro. Eu não via nenhum problema de o irmão mais velho ter sido tratado assim, pois imaginava que Raffaello era quem não queria se envolver com os assuntos da vinícola por ter uma carreira de sucesso na Europa.
Percebo que não! Ele foi descartado, esquecido e agora está assumindo algo que julga não lhe pertencer. A voz magoada naquele dia no parreiral orgânico me diz muita coisa agora. O fato de o avô ter regalado mais do que a lei dispunha a meu filho foi como um lembrete de que ele continua não sendo bem-vindo.
Tomás é o novo Gran Reserva de Don Genaro!
Encosto a cabeça no boxe e sinto lágrimas quentes rolarem pela minha face. Eu não tinha ideia daquilo em que estava me metendo, ninguém tinha, nem dos danos que tudo iria causar. Toda ação gera reação, meus pais sempre disseram isso, e eu ignorei; o amor era tanto que eu ignorei.
— Eu gostaria de ter dito não e de, agora, não estar causando tanta dor, a mim mesma e a outras pessoas — falo baixinho, como se ele pudesse me ouvir. — Eu sei que a intenção foi boa, mas nós não deveríamos nunca ter feito isso!
Demoro mais alguns minutos debaixo d’água, tentando que ela limpe meus pensamentos e minha alma, e só então, depois de colocar um vestido leve, vou à procura de respostas para o silêncio e a escuridão da casa.
— Ida? — Bato à porta de seu quarto, mas não responde.
Nunca entro no quarto dela sem que me convide, mas a preocupação me faz abrir a porta, com medo de que algo possa ter lhe acontecido. Respiro aliviada ao ver o cômodo vazio, mas continuo intrigada.
Desço, acendendo as luzes e a chamando, porém, não tenho resposta. Encho uma chaleira de água e a ponho no fogo a fim de fazer café e esperar que ela apareça. Confiro as horas; ainda é cedo, embora já tenha escurecido.
Pego meu celular e respondo algumas mensagens. Mando recado para Luna contando um pouco do que aconteceu, pedindo a ela para me ligar quando puder. Sinto falta de conversar com minha irmã, mas, por causa da transformação da nossa loja em uma franquia, ela está sobrecarregada, e trocamos poucas palavras por dia.
Rio ao ver uma foto do papai e da mamãe meditando com monges.
“Estou com saudades de vocês. Divirtam-se!”
Mando a mensagem, mas não espero resposta, pois geralmente eles demoram a ver. Encontro Babi online e fico trocando mensagens com minha amiga, que mora na Espanha, rindo de suas histórias loucas.
A água do café ferve, e eu a derramo no coador enquanto ouço uma playlist no aplicativo de música, cantarolando baixinho uma música antiga, sentindo o cheiro maravilhoso se espalhar pela cozinha, transmitindo a mesma sensação de aconchego que sempre senti neste cômodo.
Eu gosto muito de Moonchild, e uma das minhas músicas preferidas é Cure, então começo a cantar, esperando o café esfriar. Danço devagarinho. Adoro a melodia, o clima da música, a mensagem dela.
5 I can show you that love is the cure for heartaches...
Dou uma voltinha, quadris soltos, estalos os polegares com os dedos médios, olhos fechados, aproveitando o momento de relaxamento e descontração. Sorrio, balanço a cabeça e os ombros, a tensão deixando meu corpo, o cansaço indo embora devagar, o cheiro do café e de carvalho no ar... abro os olhos.
— Não pare por minha causa — Raffaello fala achando graça. — O cheiro do café me atraiu.
Relaxo do susto inicial e rio.
— Por que você sempre tem que me surpreender na cozinha? — pergunto, e ele dá de ombros. — Cheguei há pouco e não tinha ninguém em casa. Você sabe alguma coisa sobre Idalina?
Raffaello se aproxima, xícara na mão, e se serve de um pouco de café.
— Ela vai passar um tempo fora, com a irmã. — Ele me encara. — A mãe do Gleyson sofreu um acidente e quebrou o fêmur, Ida vai ficar com ela.
Arregalo os olhos.
— Mas ela está bem? — Ele assente. — Por um momento, quando cheguei e não a vi, achei que tivesse lhe acontecido algo. Idalina nunca se afasta da casa!
— Eu sei, acredite, não foi fácil convencê-la de que tudo por aqui iria ficar bem. Ela estava preocupada com a irmã, mas, ao mesmo tempo, estava temerosa em não estar aqui para cuidar da casa.
Acredito nele, eu mesma já tentei fazê-la tirar férias ou mesmo ter ajuda, mas nunca aceitou.
— Como você a convenceu?
Ele ergue as sobrancelhas e sorri malicioso. Minha pele se arrepia em reação, meu ventre se contrai.
— Poderia dizer que tenho talento especial em convencer uma mulher, mas a verdade é que prometi a ela que nós dois cuidaríamos juntos da casa e de Tomás.
Arregalo os olhos.
— Nós dois? — Ele faz que sim com a cabeça. — Eu dou conta de...
Raffaello se aproxima, e eu me engasgo.
— Sol, Gleyson me contou a situação da vinícola e o que houve com a produção de vinhos. — Respiro fundo, sentindo-me um tanto culpada por não ter podido fazer nada na ocasião. — Ele me mostrou também o plano que vocês traçaram para aproveitar ao máximo os frutos da próxima vindima. Retenho o fôlego para saber o que ele vai dizer sobre isso. — Vocês foram muito inteligentes e fizeram um belo planejamento, mas, infelizmente, ter boas frutas, mas não ter gente para trabalhar o vinho é um problema.
Concordo com ele, aliviada por ele ter gostado do trabalho que eu e Gleyson fizemos desde a colheita retrasada, quando a coisa começou a sair do controle, e a produção, a não ser aproveitada para bons vinhos.
Todavia, é a mais pura verdade ele dizer que um bom cultivo não é o suficiente para se ter uma boa bebida. A vinícola está sem pessoal de produção há algum tempo, e os últimos profissionais não tiveram o pulso firme necessário para lidar com as ideias – nem sempre sábias – do dono da vinícola.
— É necessário contratar pessoas.
— Sim, eu me dispus a montar a equipe da adega.
A notícia é surpreendente, porque ele chegou aqui disposto a se livrar da vinícola e voltar para a Europa, parecia não querer nada com a propriedade e agora está querendo ajudar. Fico feliz e tensa ao mesmo tempo, porque, se Raffaello ficar, pode ser um problema de muitas maneiras para mim, mas certamente é uma solução para reerguermos a Don Ferrero.
— Obrigada! — agradeço sinceramente.
— Não precisa disso, este lugar também é meu, embora em pequena escala.
Baixo os olhos, e meu coração dói.
— Eu não sabia disso — confesso sem encará-lo. — Não sabia que ele tinha feito um testamento.
Raffaello não responde, mas sinto seu olhar sobre mim. Olho-o e vejo ceticismo em seu rosto.
— Ele deixou 75% disso tudo para seu filho e você não sabia?
Nego.
— Não, fiquei sabendo hoje, pelo Arthur. — Raffaello bufa e passa a mão sobre o cabelo. — Eu não teria concordado caso fosse consultada, acredite. Não sei se tem como eu abrir mão disso, porque sou só a representante legal, mas, se puder, eu o farei.
Ele parece surpreso.
— Por que você faria isso? — Ele ri e cruza os braços, irônico.
Olho dentro dos seus olhos.
— Porque não é justo com você. — O sorriso arrogante morre. — Don Genaro era bisavó de Tomás, mas era seu avô também. Não acho certo o que ele fez favorecendo apenas um lado.
A mandíbula de Raffaello se contrai, ele parece incomodado e, então, diz:
— Eu não me importo, era a vontade dele que Peppe assumisse tudo isso, nunca estive incluído em seus planos.
É, parece que ele tem razão sobre isso, mas, ainda assim, não acho justo.
— Peppe não está mais aqui para assumir nada — sou direta e vejo a dor em seus olhos. — Você está, e, sinceramente, é o mais capacitado para reerguer este lugar, que é tão cheio de potencial.
Raffaello ri e nega.
— Não quero isso. Minha intenção é melhorar a imagem da vinícola para que possamos vendê-la bem. — Ele põe a caneca na bancada e me encara. Não sou e não quero ser substituto de meu irmão em nada.
As palavras, cheias de mais sentidos do que somente a propriedade, batem forte em mim, e eu concordo com ele.
— Ninguém quer que você seja, Raffaello — digo baixinho, sem olhar para ele, constrangida porque não estou falando apenas da vinícola. — Peppe sempre vai estar presente neste lugar e em nossas lembranças, mas ele já não está mais conosco. — Raffaello ergue minha cabeça, apoiando meu queixo com sua mão. — Cabe a nós dois agora o trabalho de tentar manter este lugar para o filho dele e... — engulo em seco — para os seus. — Arthur está interessado em você — ele muda o assunto, e eu franzo a testa, sem entender. — Por que não reconstruiu sua vida, Sol? Você é jovem, linda, por que ainda está sozinha?
Sorrio, pois a pergunta é simples.
— Minha prioridade é meu filho. — Ele se aproxima mais, e meu corpo todo parece vibrar. — E ninguém me interessou antes e...
— Agora está? — ele me interrompe.
— O quê?
Ele sorri.
— Você disse que ninguém te interessou antes. Agora está interessada em alguém?
Meu coração dispara assustadoramente, porque, sim, eu estou, mas como dizer isso a ele? Como arcar com todas as consequências desse envolvimento sem que isso me faça sofrer mais tarde as consequências do que fiz até agora? É loucura, Sol!, minha consciência me aconselha, mas algo dentro de mim ignora qualquer pensamento racional.
— Eu não sou ele, Sol — Raffaello continua. — Eu nunca quis o que era dele, nunca o invejei por nada, mas agora, sem direito nenhum, eu quero. Ele acaricia meu rosto, e eu fecho os olhos. — Não queria querer, mas isso não muda nada.
— Eu sei... — balbucio. — Eu também não queria, mas quero.
Escuto-o gemer, algo entre prazer e dor, e o calor dos seus braços me envolve toda. Sinto a pressão do seu abraço, o tremor de seus músculos, as batidas fortes de seu coração.
Seu cheiro me inebria, transporta-me para um lugar sensual e confortável, acende meu desejo de um jeito absurdo. A barba de Raffaello arranha meu rosto quando ele se aproxima mais. Nossos narizes se encostam, sinto a respiração dele em mim, junto à minha, e antecipo o prazer de ter seus lábios sobre os meus.
O beijo vem macio, saboroso, devagar. Lábios que vão conhecendo os meus, descobrindo meu sabor, irradiando através da minha boca, várias promessas de êxtase. Entrego-me, meus lábios se abrem, recebendo os dele, a textura macia, a saliva carregada de café, a língua morna que roça na minha. Eu deliro, aperto-me a ele, busco-o como se não pudesse me sustentar sem seu apoio. Meu corpo inteiro pulsa de tesão por ele.
Suas mãos apertam meu rosto enquanto aprofunda o beijo, devorando-me esfomeado, respirando forte, gemendo como se meu sabor fosse uma iguaria rara. Raffaello me pega pela cintura e me carrega até a mesa de madeira maciça, no centro da cozinha, e me senta sobre ela, encaixando-se entre minhas pernas. Sua boca se afasta da minha apenas para beijar todo o meu pescoço, causando-me arrepios da cabeça aos pés, fazendo-me gemer alto e segurar seus cabelos com força.
Há muito não me sinto assim, nunca tive essas sensações que ele me causa. Quero gritar, quero arrancar suas roupas e tocá-lo por inteiro, quero que ele me preencha até o máximo que pode e me faça sua até estarmos exaustos. Meu desejo é urgente, embora ele não pareça ter pressa.
Suas mãos apertam minhas coxas, o vestido já embolado na minha cintura e sua boca avançando pelo meu colo. Reclino-me e apoio as mãos no tampo da mesa. Abro os olhos e encontro os dele me fitando intensamente.
— É um caminho sem volta, Sol — avisa, mas suas mãos me impedem de processar o significado. — Se você quiser fazer isso agora, não teremos tempo para lidar com arrependimentos, nem recriminações.
— Eu quero — respondo gemendo, contorcendo-me em cima da mesa, desesperada para sentir seu toque.
— Isso é loucura, você sabe. — Concordo, mas gemo. — Foda-se, então!
Em seguida sua boca habilidosa se fecha sobre meu mamilo por cima do tecido do vestido e sua mão toca meu sexo por cima da calcinha. Raffaello geme e chupa com mais força, esfregando a mão em mim mais rápido.
Sei que estou molhada, posso sentir minha boceta vibrando, o cheiro do meu desejo no ar e a facilidade com que os dedos dele deslizam sobre o tecido fino da calcinha.
— Isso! — exclamo quando ele afasta a peça íntima, sua pele contra a minha, seu dedo brincando na minha entrada encharcada, colhendo minha lubrificação, banhando-se no meu tesão descaradamente, fazendo-me rir de pura satisfação.
As alças do vestido são baixadas, e meus seios ficam completamente desnudos à sua frente. Novamente o encaro, e o que vejo em seus olhos faz com que eu me sinta a mulher mais desejável que já andou na Terra. Admiração, desejo, loucura, tudo junto em um olhar embevecido pelo que vê.
Toco meu seio direito, acariciando-o.
— Porra... — Raffaello parece sem palavras. — Porra!
Contrariando minhas expectativas, ele se abaixa e, por um momento, não entendo o que pretende. Mas só por um momento mesmo! Antes que eu possa perguntar o que ele fará, sinto-o lamber minhas panturrilhas, deixando um rastro molhado enquanto sobe para minha coxa.
Abro a boca em busca de mais ar, jogo a cabeça para trás, meus dedos ainda brincam com meu mamilo, mas toda minha atenção está concentrada na sua boca e no que ela faz.
É possível enlouquecer de tesão? Porque, se for, podem garantir minha vaga em algum manicômio.
Continua amanhã
Adorooo q delícia
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