Conto Erótico - Química Perfeita - Capítulos 11 e 12
Química perfeita
Capítulos 11 e 12
Capítulo 11
Sol
Eu tive que prender o fôlego quando vi Raffaello andando a cavalo. O porte, a forma como conduzia a montaria, o jeito másculo ressaltado pela roupa descontraída. Tentei evitar, mas não consegui não perceber o quanto ele era sexy.
Quando tive curiosidade sobre ele e queria saber mais do que Peppe havia me contado, acabei por entrar em sites de fofocas da Itália e da França. Encontrei muitas fotos dele, principalmente acompanhado por belas mulheres, sempre com uma taça de vinho ou champanhe na mão.
Achei-o muito atraente, mas desconfiava que isso se devia ao fato de ele estar sempre bem-vestido, com um terno elegante ou smoking.
Não, eu estava enganada!, pensei ao vê-lo usando uma camisa de tecido leve, com as mangas enroladas nos antebraços e calça jeans. Raffaello é o tipo de homem que não precisa se enfeitar para ficar atraente, muito menos másculo.
Nu, ele deve ser incrível!
Tirei rápido esse pensamento da cabeça, afinal, era Raffaello Ferrero ali, não qualquer um, mas o irmão mais novo de Peppe. Concentrei-me em ignorá-lo e continuei meu trabalho de inspecionar o crescimento das vinhas. Contudo, parecia que ele não queria me dar trégua.
Tomei um susto quando parou o cavalo perto de mim e desmontou. Senti o coração na boca, coisa que vinha acontecendo sempre que ele se aproximava e que eu sempre julgava ser nervosismo.
Talvez não seja só isso!, minha consciência pareceu gritar, e eu a mandei calar a boca, pois já tínhamos problemas demais para lidarmos juntas.
— Que mania de chegar sorrateiramente! — reclamei quando ele me cumprimentou.
Ele ficou me olhando por um tempo e parecia estar me avaliando. É, eu sei que ele não me acha grandes coisas, isso ficou óbvio quando não acreditou que Peppe teve um relacionamento comigo, mas parecia que ele estava aprovando o que via naquele momento, enquanto eu tentava enxergálo direito contra o sol.
— Você deveria estar com um chapéu.
A observação me fez rir e tive que explicar que não gostava de chapéu, mas que me esquecera de levar minhas viseiras. Provavelmente ele estava avaliando minhas sardas, por isso falou do chapéu.
Elas nunca me incomodaram, acho até que tenho poucas para uma ruiva, tanto que, se me maquio, todas somem. O fato de ele não gostar e ainda ressaltar que eu deveria me proteger para não as ter mais só me faz pensar que ele é muito fútil para se preocupar com isso.
Bom, pelas mulheres nas revistas, ele gosta da perfeição, e eu estou longe de ser perfeita!, pensei, mas percebi a loucura que era meu pensamento. Que importância tinha o que ele pensava da minha aparência?
Raffaello desceu do cavalo e o amarrou antes de continuar a conversa comigo. — Então você é a responsável por esse feito moderno dentro da Don Ferrero!
Eu, que, durante meus confusos pensamentos sobre ele, olhei para o chão, surpreendi-me com o que ele disse e o olhei.
Conversamos sobre a cultura orgânica que implementamos na vinícola. Ele se mostrou surpreso, mas percebi um certo amargor em sua voz quando falou do avô e usou termos sobre vinhos para falar do meu filho.
— Por que gran reserva? — questionei, sem entender.
— Nada de mais, esquece. Peppe te contou que os parreirais eram a parte que ele mais gostava aqui na vinícola?
Tentei trazer à memória todas as conversas que tive com Peppe sobre a Don Ferrero, mas não me lembrei especificamente do lugar que ele dizia ser seu favorito. Pensei no vinhedo e concluí que, sim, devia ser esse seu lugar favorito, afinal, quem não amaria essa ordem e organização dos parreirais? Certamente ele, tão metódico, deveria gostar disso.
— Ele não falava muito daqui — respondi sinceramente. — Não com todos esses detalhes, mas, talvez tenha comentado em algum momento, sim.
— Ele ia montar o restaurante perto dos vinhedos...
A imagem do croqui do restaurante me veio à cabeça, e me esforcei para que meus olhos não se enchessem de lágrimas. Tantos sonhos, tantos planos, e tudo ruiu tão rápido! De repente tudo mudou, ficou urgente, e o planejamento perfeito de Peppe se viu destruído. O restaurante já não importava mais, nem a Don Ferrero, e outros sonhos tomaram forma e lugar dos antigos. O amor mudou nossas vidas, fizemos sacrifícios para mantê-lo, mas, de novo, os planos foram desfeitos.
O projeto do restaurante está no meu apartamento, emoldurado, em lugar de destaque, junto a tantos outros sonhos não concretizados.
— Ah, sim. — Sorri triste. — Ele falava disso e de como ele iria ficar no seu local preferido da propriedade. Tinha feito um esboço do local e comentava sempre conosco que a Don Ferrero iria renascer depois que ele abrisse, não só o restaurante, como também a vinícola para o turismo.
Raffaello de repente se afastou sem falar nada, montou novamente e foi embora. Fiquei parada, sem entender, seguindo-o com o olhar indo a galope na direção da casa.
Disse alguma coisa errada?, questionei-me, mas não sabia o que poderia ter sido. Meu corpo todo tremia, minhas mãos começaram a suar, e pensei em Tomás na casa com Idalina. O que será que eu fiz?
Volto ao presente conforme recupero o fôlego depois de ter vindo correndo até a casa, passando por todos os parreirais em disparada, desesperada, sem entender o que estava se passando na cabeça de Raffaello. Alguma coisa errada aconteceu enquanto conversávamos, ou, então, o homem só é maluco mesmo.
Tiro os calçados o mais rápido que posso, não vejo Idalina na cozinha, mas escuto vozes. Vou para a sala de estar com o coração na mão, e o que escuto me faz gelar da cabeça aos pés:
— E não se bate em um coleguinha, é o que ele acabou de me ensinar.
Bater?
Encontro Raffaello agachado e Tomás deitado no chão junto aos bonecos que eu liberei para que brincasse, de tanto que seus olhos brilhavam ao vêlos. Pedi para que tomasse cuidado, pois eram muito importantes, e ele me prometeu, inclusive me mostrou que a faixa do cabelo do Rambo estava solta e ressecada, e eu, emocionada demais por saber que o tempo estava agindo nas peças porque eu as tirara das caixas, chorei.
— Quem queria bater em quem? — pergunto sobressaltada.
Raffaello me olha e fica de pé.
— Eu preciso fazer umas ligações — dispara, vira as costas e sai. Olho para Idalina.
— O que estava acontecendo aqui?
Ela sorri.
— Eles estavam brincando. — Arregalo os olhos, sem poder acreditar. E gargalhavam tanto que tive que parar de fazer a geleia de morango e vim aqui saber o que era tão engraçado.
— Brincavam? — repito ainda surpresa.
— Mamãe, eles são amigos! — Tomás puxa minha calça, e eu o olho.
— Quem?
— Eles! — Mostra os dois bonecos no chão. — Tio Raffa disse!
Eu não entendo nada de Rambo, só vimos os filmes depois de adultos, porque papai não concordava com a violência neles. Meus irmãos adoravam tudo do Stallone, mas eu nunca me empolguei.
— Ele disse? — Tomás assentiu. — Viu só como tio Raffa é legal?
— É, sim! — Correu de volta para os bonecos, e eu suspirei.
Idalina pega minha mão e a aperta.
— Ele não vai conseguir ficar indiferente ao Tomás por muito tempo mais. Eu conheço aquele guri, sempre foi metido a durão, mas tem um coração enorme!
Concordo com ela. Tomás é um amor de menino, e não há quem conviva com meu filho que não se encante com sua doçura, sua alegria e espontaneidade. Raffaello vai amar meu filho, eu não tenho dúvidas! O problema é que essa certeza acalma e deixa aflito o meu coração ao mesmo tempo. Depois do evento da sala de estar, eu não vi mais Raffaello. É fácil não nos encontrarmos aqui, numa propriedade enorme do tamanho da Don Ferrero, então imaginei que, da mesma forma que ele fez noite passada, essa noite não dormirá em casa.
Sara Casillo me ligou, convidando a mim e a Tomás para um piquenique com seu filho, Felipe, que é quase da mesma idade do meu. Eu gosto muito de Sara, nós nos conhecemos por acaso, enquanto eu ainda estava grávida e nos tornamos amigas desde então. Ela logo engravidou, e foi muito bom poder dividir com ela conversas sobre bebês e a ansiedade pela chegada.
Mesmo quando eu estava no Rio, nós mantivemos contato. Ela é muito sozinha aqui na cidade, não é daqui e veio para cá depois que se casou com André Casillo, contador da vinícola. A família Casillo e ela não se dão muito bem, quer dizer, os sogros e a irmã de André nunca a aceitaram bem, por ela ser de família simples, sem estudos. O mais velho, que é advogado, nunca a tratou mal, mas também não tem muito contato com ela. Arthur Casillo é um homem simpático, pelo pouco que conheci dele, mas reservado.
Eu sempre achei que quem está perdendo é a família que a rejeita, porque, além de Sara ser uma cozinheira fantástica e administrar seu próprio negócio na cidade, é uma mulher amável, cheia de empatia e muito inteligente, mesmo sem um diploma universitário.
Aceitei o convite para o piquenique e fiquei de ir encontrá-la bem cedo na cidade para auxiliá-la com todas as coisas que quer montar no parque próximo ao restaurante. Pelo que eu entendi, não será só um “encontrinho” entre os dois amigos, mas sim uma festinha para todas as crianças que frequentam o local.
À noite, dei o jantar ao Tomás, depois o ajudei na escovação dos seus dentes e o coloquei na cama. Idalina fez questão de dar o banho nele mais cedo, por isso já estava cheiroso e de pijama. Como todos os dias, ele escolheu um gibi para que eu lesse, dessa vez foi do Cascão, e, antes de chegarmos ao final da primeira historinha, meu pequeno já dormia. Fiquei um tempo olhando-o dormir, admirando seu rosto, percebendo todos os detalhes que amo tanto.
Por isso, só agora, quase meia hora depois de ele ter caído no sono, é que saio do quarto dele.
— Dormiu? — Idalina questiona assim que me encontra no corredor.
— Sim, bem rápido hoje. Brincou muito!
Sim, meu pequeno se divertiu! Depois da brincadeira com os bonecos na sala, fomos ajudar Ida na horta, e ele brincou um bom tempo ao ar livre. Fizemos pique-pega, pique-esconde e um pequeno forte de gravetos, onde ele brincava de ser um índio em guerra. Estava tão sujo quando foi para o chuveiro que o banho demorou mais que o usual, dando-me tempo de esquentar a comida e esfriá-la.
— Ele está ficando cada vez mais parecido com o Peppe — comenta, e eu concordo. — Boa noite, minha filha!
— Boa noite, Ida!
Entro no meu quarto e vou direto para o banho. Não consigo dormir sem tomar uma ducha, mesmo que já tenha tomado banho antes do jantar. Gosto de estar com minha pele limpa quando passo meus cremes, deixando-a macia e cheirosa.
Meu ritual noturno sempre demora, gosto de ter esse tempo comigo. Coloco um pijama leve, calço meus chinelos e desço para a cozinha. Vocês podem achar doido, mas eu curto tomar café com leite antes de dormir, e Ida sempre deixa um fresquinho pronto, na garrafa, sabendo do meu hábito.
Esquento o leite enquanto leio a sinopse do livro que pretendo ler. É cedo ainda, os hábitos aqui são muito diferentes dos meus. Nunca precisei de muitas horas de sono, sou notívaga, adoro o silêncio e a sensação da noite. Quando estava no Rio, geralmente fazia meus produtos de madrugada e me sentia meio feiticeira por isso. Trabalhava com as ervas nas noites de lua cheia, sentindo o cheiro da maresia invadir meu apartamento, a música leve ao fundo e a calma que sempre tive para criar texturas e cheiros perfeitos.
Meu ex-namorado dizia que meus produtos vendiam tanto porque eram enfeitiçados, e eu gostava dessa brincadeira, afinal, além de produtos naturais, vendíamos muitas coisas exotéricas ligadas à saúde do corpo e da mente, como pedras energizantes, baguá de Feng Shui para harmonização de ambientes e incensos.
Preparo o meu café com leite ouvindo o som das cigarras lá fora, uma gritaria sem fim prenunciando renovação. Em breve entraremos no verão, e o trabalho será acelerado nos vinhedos, para que os frutos estejam perfeitos para a época da vindima.
Eu gosto de ficar aqui, embora ainda não me sinta em casa. Não vou mentir que criar Tomás neste lugar me agrada mais do que vê-lo crescer em uma cidade grande e violenta como o Rio. Contudo, gostaria de não ter tantos sentimentos conflitantes sobre todas as decisões que tomei.
A Don Ferrero se tornou a herança do meu filho, e, muito embora eu esteja disposta a abrir mão de tudo isso, não posso negar a Tomás o direito de estar perto de suas raízes, de decidir, mais tarde, o que quer fazer.
Não sou eu quem importa aqui, é ele!
Mexo a bebida distraidamente, lendo as primeiras páginas do livro, quando sinto algo diferente no ar. Tudo parece vibrar, fica mais denso, mais quente, e os pelos da minha nuca se eriçam, os bicos dos meus seios se entumecem, e meu coração dispara.
Paro de mexer a colher na bebida e deixo o livro se fechar em cima da bancada. Tento controlar a respiração e acalmar meu coração. Não sinto medo, é apenas a noção de que há mais alguém aqui e que essa pessoa está quieta me observando atentamente há algum tempo.
Eu sinto... excitação, uma sensação de que algo intenso está por vir.
Olho para trás apenas para confirmar o que meu corpo já sabe: Raffaello também está na cozinha.
Capítulo 12
Sol
Eu não fazia ideia de que Raffaello estava em casa, pois não o vi desde que o encontrei na sala com Tomás. Deduzi que ele iria passar outra noite fora ou que estivesse dormindo na propriedade, mas não na casa principal. A vinícola conta com vários alojamentos, embora há muito nenhum esteja ocupado.
Viro-me devagar, sem o atrapalho dessa manhã, o copo com a bebida quente na bancada e minha expressão demonstrando uma serenidade que eu estou longe de sentir.
Nossos olhares se encontram, e o clima fica ainda mais elétrico à nossa volta, tanto que me sinto corar da cabeça aos pés. Não sou uma donzela que fica vermelha à toa, mas aqui, neste momento, não há como não reagir ao que sinto, às sensações que ele me desperta apenas estando no mesmo ambiente.
É totalmente ridículo e inaceitável que eu me sinta assim, isso nunca aconteceu. Nunca me envolvi com ninguém apenas por sua aparência, sempre precisei conhecer um pouco mais, admirar o caráter acima de tudo. Claro que isso não foi receita para relacionamentos de sucesso, quebrei muito minha cara com homens que no começo se mostravam príncipes, mas que, na verdade, eram verdadeiros sapos.
Lembro-me de que estou de pijama e tento relaxar dizendo a mim mesma que é um conjunto discreto, nada curto ou decotado, apesar do tecido fino e fresco. Dou uma olhada para baixo, sem mexer a cabeça, apenas abaixando os olhos na direção do meu colo para conferir se o tecido não é transparente, mas meus mamilos pontudos, marcando a frente do pijama, dispensam qualquer transparência.
Merda!
Tento processar algo para dizer e quebrar esse clima, mas ele o faz por mim, salvando-me do vexame que seria minhas gaguejadas.
— Boa noite.
Respiro fundo antes de o cumprimentar de volta:
— Boa noite. — Aponto para minha caneca na bancada. — Vim tomar café com leite. Quer um pouco?
Ele não responde imediatamente, parece processar a informação.
— Não, mas se tiver só café...
— Tem, sim — interrompo-o e aponto para a garrafa térmica. — Ida passou agorinha pouco.
Acompanho-o enquanto vai até o armário de louças e pega uma caneca como a minha. Espremo-me contra a bancada como se tivesse medo de sua aproximação, quando, na verdade, tenho medo da reação do meu corpo, e ele pega a garrafa e vai se servir do outro lado da cozinha.
— Seu filho já está dormindo?
Solto o ar que estava retendo e me viro de costas para ele, pegando minha caneca de café com leite e o livro para responder e já buscar uma saída estratégica da cozinha.
— Já, ele dorme cedo e hoje estava cansado, brincou muito. — Eu sei, eu vi... — Ele se interrompe: — Puta que pariu!
O xingamento baixinho faz com que eu me vire para ele de novo. Raffaello está com a cabeça abaixada, balançando-a, e tem uma expressão de dor no rosto.
— Você se queimou? — questiono preocupada e me aproximo para oferecer ajuda. — Quer um pouco de água ou...
Raffaello me segura pelo braço.
— Você amava meu irmão? — a pergunta disparada a esmo me surpreende. — Amava?
Só tenho uma resposta para essa pergunta e não a escondo dele:
— Muito!
Raffaello bufa ao ouvi-la.
— E ele? Amava você?
Sorrio, e meus olhos se enchem d’água.
— Eu acho que sim.
Ele franze a testa.
— Acha? — Assinto. — Se ele te amasse, você não teria dúvidas, Sol. Peppe nunca foi de esconder o que sentia de ninguém, principalmente da pessoa com quem ele estava envolvido. Eu já o vi apaixonado algumas vezes, e, em todas elas, ele não deixou dúvidas.
Meu coração se aperta.
— Eu não posso falar dos sentimentos dele, Raffaello, apenas dos meus. — Sua mão se move lentamente, os dedos me acariciando, fazendo com que minha pele se arrepie inteira com o contato. — Éramos amigos, confidentes, e eu o achava incrível...
— Ele fazia sua pele arrepiar desse jeito também? — sua voz soa rouca, a respiração pesada. — Você reagia a ele como reage a mim?
Tenho dificuldades de coordenar os pensamentos enquanto os dedos dele passeiam sobre meu braço. Nunca tive uma química dessa com ninguém. Nunca ninguém me tocou dessa forma, aquecendo minha pele, agitando meu coração e deixando o meio das minhas pernas úmido.
— Acho que é melhor eu subir para o meu quarto — digo em tentativa de aplacar essa loucura toda. — Ao que parece, você bebeu e...
— Eu não estou bêbado, Sol. — Ri. — Queria estar e usar essa desculpa, mas estou sóbrio. Algumas garrafas de vinho não me derrubam, sou resistente, então não tenho desculpa para essa canalhice toda. — Raffaello olha para sua mão, agora em meu punho. — Eu não tenho direito de tocar você. Primeiro, porque não tive liberdade para isso, e, claro, por Peppe. Ele retira a mão. — Principalmente por Peppe.
Concordo com ele. Mesmo que eu tenha desejado o toque, sentido o clima intenso que se instala entre nós quando estamos juntos, nunca dei liberdade para que ele agisse assim comigo.
E ainda tem Peppe.
— O que está acontecendo? — faço a pergunta, mesmo já sabendo a resposta, apenas para ver se ele é capaz de admitir que se sente atraído por mim como eu por ele.
Raffaello balança a cabeça e se afasta.
— Peço desculpas mais uma vez. Você tem razão, deve ter sido a bebida.
Ele está agitado, de algum modo sei que está mentindo, mas de que adianta falar a verdade? É melhor deixar como está. Saber que eu mexo com ele não transforma as coisas. Não vim aqui para ter um envolvimento com o tio do meu filho, não preciso de mais essa complicação.
— Boa noite, Raffaello.
Saio da cozinha sem olhar para trás, mas ainda posso ouvi-lo xingar. Nada disso deveria estar acontecendo! Meus olhos queimam com as lágrimas acumuladas, mas que evito que caiam. — Mamãe!
Sento-me na cama assustada, o coração disparado, os sentidos alertas. Aguço meus ouvidos para saber se estava sonhando ou se realmente Tomás acordou.
— Mamãe!
O chamado choroso não deixa dúvidas, e eu saio correndo para o quarto ao lado, onde meu filho dorme. No corredor escuro trombo com um corpo forte e alto e, pelo perfume, não preciso nem gritar, pois já sei quem é.
— Acordei com ele chorando — Raffaello explica. — Acha que está doente?
Entro no quarto, e meu pequeno se agarra a mim, chorando.
— Bicho feio!
Respiro aliviada, tocando seu corpo para perceber a temperatura, que, aparentemente, está normal. Pesadelo!, penso aliviada.
— Está tudo bem, meu amor, foi só um sonho ruim. — Beijo seus cabelos. — Mamãe está aqui, não se preocupe.
Ele se afasta de mim, olhos vermelhos de chorar e estende a mão para cima. Raffaello, que está parado em pé atrás de mim, pega-a e se senta na cama.
— Tudo bem, garotão, está tudo bem. — Olha-me sem jeito e, através da parca luz do abajur, vejo o pedido de socorro brilhar em seus olhos. — Sua mamãe está aqui e...
— Você é meu amigo — Tomás fala, e eu sorrio, o coração pesado, a emoção transbordando. — Eu sou. — Ele bagunça os cabelos de Tomás. — E amigos, além de não baterem um no outro, defendem. — Ele aponta para o corredor. — Estou dormindo ali, do outro lado do corredor, não precisa ter medo de nada.
— Eu não tenho. — O pequeno se empertiga todo. — Sou corajoso, né, mamãe?
Sorrio.
— É muito corajoso! — Beijo sua testa. — Mas precisa dormir para renovar a coragem.
Eu o deito na cama, e Raffaello se afasta. Fico uns minutos acarinhando Tomás, cantando baixinho para que ele durma, e somente quando tenho certeza de que está em sono profundo é que me levanto da cama para voltar ao meu quarto.
— Não é melhor você dormir aqui com ele? — Raffaello me pergunta preocupado.
Olho-o, iluminado pela fraca luz do abajur, parado no batente da porta, vestido só com um short fino estilo samba-canção e o peito desnudo. Tento não focar nos músculos do peitoral e da barriga, nas coxas firmes e bem definidas e no... o que foi mesmo que ele perguntou?
— Tomás está bem, foi só um pesadelo, acontece.
Ele assente, e eu passo por ele. Seu cheiro parece me perseguir, lembrarme de que sou mulher, que tenho desejos e que há muito tempo não sinto o toque de um homem.
Um arrepio perpassa minha coluna quando ele segura meus ombros por trás. O calor que seu corpo irradia me deixa quente, sacode algo dentro de mim como se um vento forte soprasse tudo. Fecho os olhos e solto um suspiro longo, o cheiro dele a me invadir, a levar meus pensamentos para outra realidade.
Relaxo, sinto a sua mão direita deslizando do meu ombro até minha nuca, afastando meus cabelos como uma leve brisa morna de verão em um leve balanço que desencadeia um espasmo nas paredes internas da minha boceta. Em seguida, sinto a aspereza da barba no meu pescoço enquanto sua mão retorna ainda mais firme ao meu ombro. Estremeço, os pelos do corpo se eriçam, sinto os mamilos duros contra o tecido fino do pijama, minhas coxas se contraem, um delicioso calor se espalha sobre mim e, ao mesmo tempo, me faz arrepiar.
— Seu cheiro... — Raffaello sussurra, quase gemendo. Sinto-o se aproximar, as mãos me apertam mais, porém não se mexem. — Seu perfume é sexy pra caralho!
Ele aspira profundamente em minha nuca, seu corpo cola no meu, e o sinto tremendo tanto quanto eu. Sua pele está levemente úmida, um suor frio a cobre, porém parece ferver.
Tento permanecer lúcida, dizer a mim mesma que isso é loucura, que o desejar é maluquice e que o deixar me tocar da forma com que está fazendo agora é um caminho sem volta, mas o corpo dele no meu subverte qualquer lógica.
Inclino-me para trás e gemo baixinho. Minha bunda encosta em suas coxas, seu pênis duro pulsa contra minha lombar. Rebolar contra ele é algo sobre o que eu não tenho mais controle, meu corpo simplesmente obedece aos estímulos dessa química louca que temos. Nossas peles falam, nossos corpos parecem se entender, é uma sensação maravilhosa de algo que se encaixa. Não estou fazendo referência a nada além do carnal, é sexo, é tesão e desejo. Ele e eu somos compatíveis sexualmente, e nossos corpos perceberam isso antes mesmo de se encostarem. Ao menos é assim que tento me iludir com o que me resta de racionalidade.
A mão dele, do meu ombro esquerdo, vai para minha nuca, e seus dedos invadem meus cabelos, os fios sendo entremeados nos vãos, enroscados, puxados, até que minha cabeça vai para trás, deixando o caminho livre para sua boca atacar minha orelha.
Ouço sua respiração no meu ouvido, forte, desesperada. A excitação dele é palpável, o tesão vibra entre nós. Estremeço e gemo quando sua língua, quente, macia e molhada, contorna minha orelha até chegar ao lóbulo, que ele suga com a cadência que eu penso que usaria se estivesse sugando meu clitóris.
Minhas pernas se fecham mais, meu sexo pulsa, e sinto a calcinha completamente encharcada. Meu abdômen se contrai quando ele aperta meu seio direito com força e, quando alivia o aperto, roça meu mamilo com o polegar, circulando-o, movendo-o para baixo e para cima, enquanto os outros dedos acariciam e apertam.
— Eu não consigo me conter com você. — Respira fundo. — Deveria, isso tudo é muito errado, mas eu não consigo.
Sua confissão traz um toque de lucidez em meio à nevoa da paixão que nubla minha mente.
— Raffaello...
— Você me atrai como uma chama, me hipnotiza, me tira do eixo... Eu não confio em você, não acredito em tudo o que diz, mas não consigo resistir.
Abro a boca para pedir que ele me solte, mas, antes que consiga articular qualquer palavra, ele me vira e me arrasta até a parede. Respiramos juntos, nossos corpos tremem, aquecem e se alimentam um do outro. O seu tesão aumenta o meu, e parece acontecer a mesma coisa com o dele.
Encaro-o, meus olhos fixos nos seus, escuros como a noite, a pele morena ressaltada pela minha, em um contraste lindo. Raffaello ergue minhas mãos acima da cabeça e as segura contra a parede. Gemo quando ele se esfrega contra meu corpo, de baixo para cima, fazendo seu pau resvalar em meu sexo com força. Ele não usa nada por baixo do short de algodão, sei disso pelo balanço de seu membro a cada vez que se espreme entre minhas coxas e depois sai. A necessidade em mim acelera a ponto de eu já ir ao encontro do seu movimento e me erguer o quanto posso para não perder o contato.
Acabo perdendo o equilíbrio, e ele me segura firme antes que eu caia, mas não impede que eu encoste no vaso em cima do aparador ao nosso lado. O barulho do objeto se partindo parece ser de uma bomba estourando, ecoando pelo silêncio da noite.
De certa forma, isso faz não só com que despertemos do transe sexual no qual estávamos, como nos dá a dimensão da loucura que vivemos nesses minutos.
A porta do quarto de Tomás está aberta, a do dele e a do meu também, sem contar que Ida está no final do corredor, no quarto dos fundos.
Acabo de me dar conta disso quando a porta do quarto dela faz barulho. Raffaello arregala os olhos, olha para seu pênis esticando a frente do short de maneira indiscutível e se apressa para entrar em seu próprio quarto.
— Quem está aí? — Ida pergunta.
— Sou eu, Ida. — Abaixo-me para pegar os pedaços da porcelana partida e para me acalmar e deixar passar o tesão interrompido. — Tomás acordou, eu vim vê-lo, mas não liguei a luz do corredor e acabei derrubando o vaso.
— Ah, se machucou? — Ela parece preocupada, e minha consciência pesa.
— Não, está tudo bem. — Levanto-me com os cacos na mão. — Já recolhi a maior parte, mas...
Ida liga a luz do corredor, e eu preciso fechar os olhos com força diante da claridade.
— O que houve com você?
Gelo diante da pergunta, imaginando o motivo pelo qual sua voz soa tão preocupada. Viro-me para o espelho acima do aparador do corredor onde estava o vaso e arregalo os olhos ao ver meu pescoço, orelha e colo completamente vermelhos. Os cabelos parecem um ninho de ratos, e meu rosto, uma pimenta malagueta bem madura.
Puta merda!
Não sei o que responder a ela, mas, por sorte, é Ida quem me salva.
— Alguma coisa deve ter lhe causado alergia! — conclui. — Sua pele é muito sensível, pode ter sido algo lá do vinhedo.
Respiro fundo, aliviada e culpada.
— Provavelmente! — Ela termina de catar os cacos no chão e pega os que estão em minhas mãos. — Eu vou tomar um banho e passar uma pomada.
— Faça isso! Amanhã você acorda novinha em folha.
Sorrio, mas por dentro quero me estapear. Como eu pude me deixar envolver assim com Raffaello? Como é possível que ele consiga tirar meu juízo dessa forma? O homem nem gosta de mim, ele mesmo disse!
Arranco o pijama bufando de raiva e ligo o chuveiro, porém, assim que removo a calcinha e vejo quão úmida ele me deixou, não tenho outro pensamento a não ser trazer alívio à fome que despertou em meu corpo.
Gozo no banho pensando nele, em seus toques, e reprimo a vontade de atravessar o corredor e o mandar fazer o serviço completo.
Porra, ele nem me beijou!
Continua amanhã
Uau l
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