Conto Erótico - Innocence - Capitulos 23, 24, 25 e 26


Innocence

Capítulo 23
Dante
Angélica demora cerca de dois minutos para me responder. Já estou pronto para gritar, quando ela finalmente solta um som.Senhor Dante, desculpe ter ligado, mas foram ordens suas falar diretamente com o senhor,antes de tomar qualquer outra atitude quando o assunto fosse a Innocence. O que aconteceu?Fale logo!interrompo-a, deixando-a sem completar o restante da frase. Ela começa a gaguejar. Angélica, onde está Innocence? esbravejo, nervoso. Ela... ela está trancada no quarto. Já tentei de tudo para ela abrir a porta, mas...Estou a caminho.Desligo o celular. Assim que me viro em direção à porta do quarto, encontro dois olhos castanhos me encarando, estáticos.O que faz aqui?pergunto com a voz brusca.Você conhece as regras. Está tentando me testar, syka? Passo por ela apressado, não tenho tempo para castigos agora.Quem é Innocence? Por acaso o Senhor está pensando em me substituir? Ela é tão especial assim que está em sua casa... por quê? Por que, Senhor? Sou a sua submissa mais...Cale-se, syka insolente! Dou dois passos em sua direção, seguro-a pelos braços e exclamo, furioso:Você não tem direito algum de fazer perguntas esbravejo, friamente, fitando-a com raiva no olhar.Não comece com cobranças ou revogo o seu contrato. É isso que quer? Ela baixa os cílios, e logo lágrimas começam a cair. Seu corpo trêmulo e a respiração pesada me dizem que minha estupidez funcionou. Perdoe-me...perdoe-me,Senhorbalbucia, temorosa. Não! falo cruelmente. Não, eu não a perdoo, e só não a castigo agora porque preciso ir, mas no nosso próximo encontro você não perde por esperar.Solto-a, empurrando seu corpo brutalmente.Por favor, Senhor, não vá... Não me deixe, eu... eu faço o que o Senhor quiser... Joana se joga no chão e agarra minhas pernas, impedindo-me de andar. Bravo com a cena, eu a chuto, jogando-a para trás, e ela cai de costas, sustentando o corpo pelos antebraços, fitando-me com desespero no olhar. O temor dela é meu alimento, minha energia. Em dois passos, estou segurando-a pelo rabo de cavalo e puxando-o com força, fazendo-a se levantar. Ela não para de chorar. Cego de raiva, ergo seu corpo e o seu rosto fica bem próximo ao meu. — Syka desobediente dos infernos, estou a um passo de rasgar o seu contrato.Ela engole o choro, limpa as lágrimas com o dorso da mão, e eu afrouxo o aperto do seu cabelo, deixando-a ficar de pé. O que há com você, hein? No contrato está claro, eu mesmo fui muito claro com você. Entre nós... entre nós é só DOM e SUB — esbravejo ferozmente. Você me dá o que eu preciso e eu lhe dou o que precisa. Nosso único compromisso é o que está escrito no contrato, não romantize a nossa relação, syka. Não vou me apaixonar por você, nem por ninguém, não sou homem de romance, tampouco de piedade. Não se iluda, se não estiver satisfeita é só revogar o contrato. Tanto eu quanto você podemos fazer isso a hora que quisermos, sabe disso. Solto-a e fito-a de cima a baixo com desdém. Depois viro-me, pego minha chave e sigo em direção à porta.Eu sou a única...ela interrompe meus passos com suas palavras trêmulas. Paro, mas mantenho a mão na porta.A única que nunca disse a palavra de segurança, aceito tudo o que vem do senhor. Será que a sua nova sub vai lhe dar o que eu dou, Senhor? Ela tem coragem. Isso é admirável, mas perigoso para ela. Um mês sem vir aqui. A partir de hoje, você será somente minha assistente e a Francine irá em seu lugar aos eventos deste mês. Se disser mais alguma palavra, seu contrato será cancelado.Abro a porta e, antes de sair, completo: Você não tem permissão para dormir aqui hoje, vá para casa.Fecho a porta atrás de mim e sigo para o elevador. Só escuto o seu choro de lamento e um grito abafado. Conheci a Joana em um evento de investidores em Santa Catarina. Fiquei fascinado com sua beleza estonteante e sexy. Assim que pus os olhos nela, eu soube que ela não era nada do que aparentava. Quando olhamos para a Joana vemos uma mulher decidida, forte, fria e temperamental. Descobri, através de alguns comentários masculinos, que a Joana era uma mulher difícil de se conquistar. Era voluntariosa demais e não gostava de homens conquistadores, gostava de conquistar, gostava de ir à caça. Quase caio na gargalhada ao escutar tal comentário, pois, olhando-a com os meus olhos experientes, eu soube na hora que ela era uma mulher que gostava de ser dominada. Ela só não tinha encontrado o homem certo para fazer isso... até então. Deixá-la atraída por mim foi mais fácil do que pensei. Algumas mulheres me temem e leva algum tempo para lhes conquistar a confiança, mas sempre consigo o que quero, principalmente em se tratando de levar uma mulher para a cama. A mulher certa, claro, já que nem todas servem para um homem com gostos tão peculiares quanto os meus. Joana já havia me colocado na sua lista de conquistas. Ela gostava de homens difíceis, e eu sou conhecido como tal. Então foi muito fácil deixá-la ansiosa, desesperada e vulnerável. Sabendo que Marlon Sobral tinha interesse em fechar contrato com uma das minhas empresas de telecomunicações, preparei o terreno e o convidei para conhecer nossa logística. Ele estava tão interessado que nem se importou com os valores, fechamos negócio e, para comemorar, ele me ofereceu um jantar em sua residência. Não precisei representar, não gosto mesmo de mulheres oferecidas, e quando a Joana percebeu que não estava interessado nela, partiu para o ataque. Suas insinuações foram tão diretas que eu precisei intervir, pois corria o risco de que eu perdesse o interesse em dominá-la. Fui embora da sua casa com um simples aperto de mão e deixei a bela Joana com um olhar de desapontamento. Dois dias depois, mandei uma passagem de ida e volta de primeira classe para sua residência, com a seguinte mensagem: “É pegar ou largar. Seja pontual, se atrasar um minuto não perca nem seu tempo em me procurar. Volte para o aeroporto e me esqueça.” No horário certo ela estava me esperando na suíte de luxo que eu havia reservado. E como eu já sabia do que ela precisava sexualmente, não escondi o meu lado dominante e a deixei durante dois dias algemada à cama, nua e amordaçada. Claro que ninguém entrou na suíte durante esse tempo, só eu a visitava, fodia, humilhava, alimentava e banhava. Depois dos dois dias, a libertei. Durante o seu tempo de cativa, ela bradou, e quando estava sem a mordaça, ameaçou me denunciar à polícia por cárcere privado e estupro. Gargalhei das suas palavras e bati com meu membro em seu rosto, obrigando-a a devorá-lo. Quando a libertei, fui muito claro. Ela poderia me denunciar se quisesse, ir embora para sempre, ou trabalhar como minha assistente e ser uma das minhas submissas. Já sabendo qual seria a sua escolha, eu estava com o contrato em mãos. Ela o assinou. O contrato seria renovado a cada seis meses, e a partir daquela data ela seria minha propriedade. Como proprietário do seu corpo eu tinha a responsabilidade de cuidar dela. No entanto, Joana sabia quais eram os seus direitos e obrigações enquanto minha submissa. Estamos juntos há quatro anos e durante este tempo ela nunca me desafiou. De todas as minhas submissas, ela era a única que nunca disse a palavra de segurança, a única que aceitava tudo o que eu fazia, sem questionar. Até hoje eu nunca encontrei um motivo sequer para querer revogar o contrato, e se ela estiver mesmo apaixonada por mim, não terei outra saída a não ser destituí-la da função de submissa. Chego em casa, as luzes estão acesas. Isso não é um bom sinal, pois já é quase uma hora da manhã. Entro e nem procuro a Angélica, sigo direto para o quarto da Innocence. Encontro Angélica encostada na porta, batendo levemente nela e chamando pela Innocence. — Desde que horas ela está aí? — Angélica se afasta assim que me vê, dando-me lugar. — Innocence, abra a porta. — Bato levemente com o punho na madeira. — Desde que o senhor saiu. — Angélica me encara, preocupada. — Eu pensei que ela estava dormindo, mas já passou muito tempo e ela nem jantou. — Merda! — praguejo, com raiva. — Innocence, abra a porra da porta ou eu a abrirei e será pior. — Esmurro a porta com violência. — Senhor, assim vai assustá-la! — Angélica me encara com censura. — Angélica, pode ir. Não preciso mais dos seus serviços — falo com rispidez. Ela continua me encarando. — Chispa daqui, pode ir dormir. — Fico de frente para ela e a encaro ameaçadoramente. — Desculpe-me, senhor, eu só quero ajudar. — Ela baixa os cílios, provavelmente sentindo o meu olhar frio e perigoso. — Já ajudou. Agora eu estou aqui, pode ir dormir. — Ignoro-a, virando-me para a porta. — Innocence, abra a porta, é uma ordem. — Continuo batendo forte. Angélica vira-se e sai, cabisbaixa. Não me importo, ela é paga para cumprir minhas ordens e ponto final. Angélica me conhece o bastante para saber o quanto posso ser impiedoso com aqueles que não me obedecem. No entanto, apesar de ser um filho da puta, ela sabe que jamais a machucaria, tampouco seria ingrato. Eu a conheço desde o dia em que coloquei os pés no Brasil, por algum tempo fiquei hospedado em sua pensão no interior de São Paulo. Eu precisava me esconder, precisava de paz para pensar no que faria. Ela nunca fez perguntas, nem quando viu as intermináveis tatuagens que cobriam minhas cicatrizes. Quando eu finalmente soube o que deveria fazer, os passos que deviria seguir, ela largou tudo para me acompanhar. Angélica não tinha família, o único parente que tinha – seu marido abusivo – eu matei. Arranquei suas bolas e o fiz comê-las antes de cortar suas duas mãos. O traste batia nela e a estuprava quase todas as noites. Assim que descobri, o matei. Comprei uma excelente casa em um dos melhores lugares de Salvador e coloquei em seu nome. Ela tem seu próprio automóvel e um salário de dar inveja a qualquer pessoa. Angélica tem uma boa vida, mas isso não quer dizer que possa se meter na minha. Tenho regras, e ela as conhece... Ela me conhece. — Não vai abrir a porta, Innocence? Ok, então não tenho escolha. Pego meu chaveiro e procuro a chave mestra. Abro a porta, e o que vejo não me deixa nada satisfeito. Innocence está encolhida na cama em posição fetal, não se mexe. Instintivamente corro em sua direção, e sem pensar direito a pego nos braços, trazendo seu corpo de encontro ao peito. — Innocence... Innocence — sussurro com os lábios colados em seu ouvido, minha mão alisando seus longos cabelos negros. — Innocence, acorde. Ela arde. Gotas de suor brilham em sua pequena testa, escorrendo por suas têmporas. Sua respiração está tão fraca que eu mal posso senti-la. Suas roupas estão molhadas, grudadas em sua pele fria. Ela está lânguida, pálida... Parece morta. — ангел4— Beijo sua testa fria. — ангел — repito a palavra russa que significa anjo. Não sei por que a chamei assim, devo estar enlouquecendo. Como eu disse antes, não sou um homem dócil, tampouco amoroso. Mas era sempre bom repetir, talvez assim a realidade voltasse a tanger em minhas veias. Monstros não têm sentimentos, porém demônios atraem anjos. Foi o que minha mãe disse um dia. Sim, ela estava se referindo a mim, quando eu matei a filha da nossa governanta com apenas uma mão em seu pescoço, só precisando pressionar os meus dedos em volta dele. Ver seus lindos olhos castanhos perderem o brilho da vida foi revigorante, indescritível. Ela pediu para morrer assim que cruzou o meu caminho e sorriu para mim. Anjos pensam que podem tudo, eles acham que têm o poder de transformar algo ruim em bom. Talvez até possam fazer isso, mas nem todos podem ser salvos, e eu sou um deles. A linda e doce Shaya achava que podia me salvar e se entregou a mim, aceitou todas as minhas condições, e eu a transformei em uma escrava obediente. Sempre que tinha oportunidade dizia me amar e acreditava que um dia o seu amor me transformaria em um ser humano amável, e assim, então eu a amaria. Pobre infeliz, nunca me atraí por mulheres doces, eu as repelia. Gostava de mulheres brutas, indomadas, aquelas que diziam não e, no final, se entregavam à dor. No entanto, Shaya não lutava, só me dava o que eu queria, prazer... É, ela até suportou as torturas por muito tempo, até o dia que o anjo resolveu voltar a voar. Quanta inocência, ela realmente pensou que poderia ir embora. Antigamente minhas escravas não partiam, só a morte — ou eu — as libertava. Então o anjo desolado resolveu fugir e eu a capturei, trouxe-a arrastada e acorrentada. Ela pediu clemência, seus pais pediram clemência, e eu lhe dei sua tão sonhada liberdade. Eu a matei na frente dos pais e das suas duas companheiras de calabouço. Em meu reino eu era a lei, os únicos que podiam ir contra mim eram os meus pais. Mas eles me criaram para ser um assassino cruel, sem coração, sem piedade e sem clemência, e episódios como esse só os enchiam de orgulho. Eles só não sabiam que eu, apesar de gostar de ter o poder de vida e morte, não queria esse destino. Não queria ser um assassino, não queria ser o rei de porra nenhuma, na verdade. Eu só queria ser livre, fazer o que bem entendesse, viver com as minhas próprias regras e ser um rei de um único súdito, eu. E enquanto a minha liberdade não vinha, eu torturava e matava todos os que ousassem me desafiar, fossem eles culpados ou inocentes. Eu tinha que mostrar ao meu pai que nasci para substituí-lo, e ele precisava saber que eu era pior — ou melhor— do que ele. E até pouco tempo atrás estava vivendo confortavelmente com o meu monstro interior, ele estava adormecido. Quando tenho a necessidade de ser cruel, luto com o Mudjong ou extravaso no sexo. Mas a porra do destino resolveu me desafiar outra vez, trouxe-me outro anjo. Certamente o destino quer me foder, ele esperou meu inferno esfriar, esperou eu me tornar um pouco humano. Estou muito ferrado, pela primeira vez em minha vida não faço ideia do que fazer nem de como agir diante do inesperado. Innocence será a minha cura ou a minha total destruição.É, Ангел(anjo), estou fodido mesmo... sussurro enquanto meus dedos acariciam suavemente o seu lindo rosto. Innocence embola o corpo e a sua mão pega a minha, levando-a para perto do seu peito e encaixando-a entre os seios. O inferno dentro de mim começa a borbulhar labaredas. Meu pau, que não pensa, pulsa na frente da minha calça. Apenas com esse toque ínfimo em seus seios, sinto a excitação correr através do meu corpo, deixando-me completamente à beira de um mar de chamas. Que porra está acontecendo com você, Dante? Onde está o seu controle? Não consigo entender por que com ela o meu domínio não funciona. Sempre controlei meus instintos, mas desde que conheci Innocence ando um pouco disperso. Preciso urgentemente reequilibrar os meus chacras, ou não responderei pelos meus atos. Tento afastar a mão da sua com cuidado, mas não sou cuidadoso o suficiente. O movimento que fiz, apesar de leve, faz com que ela desperte, e quando seus olhos azuis se levantam para os meus, o brilho que vem através deles me hipnotiza. Por um segundo, nenhum de nós fala nada e a atmosfera congela. Ela pisca os olhos rapidamente e finalmente sorri, trazendo-me de volta da hipnose. Meu olhar cinzento e frio se fixa em seu rosto lindo. Dan... Dante murmura, fitando-me com os olhinhos apertados de sono. Meus lábios se esticam um pouco com um leve sorriso. Tento disfarçar minha excitação por finalmente vê-la bem e sorrindo. Oi...Por instinto, minha mão corre para os seus cabelos longos e pretos e os meus dedos os escovam suavemente.Por que trancou a porta? Não faça mais isso, entendeu? Mudo o tom da minha voz abruptamente, percebo isso assim que ela estreita os olhos, assustada. Limpo a garganta e corrijo meu tom.Innocence, você assustou a Angélica e a mim também. Ela sorri e, em seguida, senta-se, encostando-se na cabeceira da cama. Um pequeno suspiro me escapa quando sua mão espalma minha coxa. No entanto, controlo-me imediatamente e a frieza da minha mão cobre a sua. Afastando sua mão da coxa, seguro-a firme com os dedos e detenho meu olhar cinzento em seu rosto.Vo-você gritou comigo. Eu não entendo... Ela baixa os cílios por alguns segundos, e quando seu olhar encontra o meu outra vez está nublado pelas lágrimas.Por que eu não posso tocar em você? Por que eu não posso entrar em seu quarto? Uma lágrima desce preguiçosamente em sua bochecha, morrendo entre os seus lábios rosados. Isso me quebra, pela primeira vez na vida ver uma mulher chorar não me dá prazer.Por que, Dante? Fito-a seriamente e pensamentos atordoados invadem minha mente neste momento tão perturbador.Porque eu sou um idiota respondo, fixando meu olhar em seu rosto, avaliando cada centímetro dele e estudando sua linguagem facial. Boquiaberta, pensativa com o que eu acabara de dizer, ela pisca os olhos rapidamente.Como assim, idiota? Você não disse nenhuma palavra feia. Quase gargalho com a expressão de espanto do seu rosto. Às vezes, nem precisamos abrir a boca para sermos idiotas, simplesmente fazemos coisas idiotas, entende? Não, não entendo. É tudo tão confuso... tão... tão...Fica pensativa, buscando a palavra certa.Complicado! Innocence volta a olhar para mim e assente com a cabeça.Innocence, se tudo o que está vivendo agora é novo para você, para mim não é diferente. Não estou acostumado a pessoas me tocando, não sem a minha permissão, tampouco com invasores em meu quarto. A única pessoa que tem permissão de entrar lá é a Angélica. Não está sendo fácil me acostumar com você. Sua boca se abre de espanto enquanto seus olhos se arregalam com minhas palavras.Então estou tornando a sua vida difícil? É isso? Eu sinto muito, sinto mesmo...As lágrimas voltam a molhar seu lindo rosto. Eu sou o puto de um demônio mesmo. Não tenho ilusões sobre a escuridão da minha alma, sei que a minha vida, desde o meu nascimento, é um abismo negro, mas vendo-a assim, tão fragilizada, sei que não posso trazê-la para o meu mundo cruel,frio e escuro.Ei aproximo-me e rapidamente a puxo para meu peito, apertando seu corpo de encontro ao meu, tentando deter seus soluços.Não, minha vida nunca foi fácil. Acredite, Innocence, não sou uma boa pessoa. Nunca fui, já fiz coisas terríveis na vida, coisas... Não, Dante!Levanta-se rapidamente, fitando-me com um olhar desesperado, e circula meu rosto com as mãos.Você é bom, eu sei que é. Você é lindo... Choque corre através de mim ao ouvir meu nome sendo dito por sua boca tão suavemente, e como se não fosse o bastante, sinto seus delicados dedos escorregarem na pele áspera do meu rosto, por cima da barba aparada. Seus olhos varrem o meu rosto com atenção, e é a porra da aproximação mais perturbadora de toda a minha vida. Seu toque inocente arde a minha pele, acende labaredas dentro de mim, faz minha alma negra gritar e o meu monstro interior revoltar-se. Então, estupidamente, eu afasto suas mãos do rosto, segurando-as entre as minhas e fitando seu rosto com dureza fria.Não se engane com a beleza de rosto e corpo, a beleza é perigosa para quem tem e para quem a vê. O belo pode ser perfeitamente feio e cruel, e é isso que eu sou... um monstro cruel. Não! grita, desesperada, interrompendo-me. Suas mãos soltam-se das minhas e outra vez sinto a maciez do seu toque em meu rosto. Ela me prende, puxando-me para mais perto.Não, não, você não é um monstro. Você é bom, você me protege. Seu coração bate forte quando estou perto de você e seus olhos me olham com carinho. Eu sei que você nunca me machucaria... eu sei. E o monstro em mim é domado quando sua boca encontra a minha. Ela me beija ternamente, sua língua faz cócegas em meus lábios, seduzindo-me com sua inexperiência, com sua inocência, com sua ternura. Deixo-me ser beijado, ser seduzido. Gosto da sensação. Pela primeira vez na vida, eu sou dominado.

Capítulo 24
Dante
É uma sensação nova, libertadora, no entanto, não sou uma pessoa normal, não nasci para a submissão. Sou um dominador cruel, gosto de provocar medo nas minhas vítimas, dos seus olhares assustados. Não, não posso permitir tal afronta, não posso deixá-la se aproximar tanto. Será a sua destruição, pois quando eu puser as mãos sujas em seu corpo, nem eu poderei salvá-la de mim mesmo. Afasto-a bruscamente, seguro suas mãos com firmeza enquanto meu olhar duro expressa minha fúria violenta. — Não, não, Innocence. Quantas vezes eu já lhe disse que não podemos nos beijar assim? Por que você é tão teimosa? — digo, quase gritando. — Não grita, não grita... — ela puxa as mãos e as leva às orelhas, pressionando-as com os olhos fechados, encolhendo-se, assustada. — Diabo! — esbravejo todo o meu desespero. — Porra, Innocence, você consegue me desequilibrar, mas que merda do caralho! — Nervoso, passo os dedos entre os fios dos meus cabelos enquanto meus olhos avaliam a moça encolhida diante da minha frieza. — O que é porra? — Ela finalmente relaxa, seus olhos azuis encaram meu rosto. — Quando vai me explicar o que é porra? — Não tente fugir do assunto — digo, relaxando os ombros tensos. Ela tem o dom de me deixar completamente fora do controle. — Não me beije na boca, nunca mais. Beijos assim são para casais que compartilham intimidade, entendeu? Nós não somos íntimos. — E por que não podemos ser? — Ela quer me desafiar, pois faz a pergunta olhando-me com altivez. — O que é preciso para sermos íntimos? — Chega! Chega, Innocence. Chega de perguntas. — Toco em sua testa com o dorso da mão. — Você já está bem. Está com fome? — Desvio os olhos do rosto dela. — Dante... — sussurra meu nome. Eu sei que ela está me olhando daquele jeito suplicante. — Está com fome? — pergunto outra vez, fitando-a, encarando aquele olhar sedutor e inocente. Innocence mantém seu olhar no meu. É, Dante, está praticamente impossível viver ao lado desse anjo sem poder tocá-lo. Meu ímpeto nesse momento é dar alguns passos adiante e segurá-la nos braços, sucumbindo aos meus desejos ambíguos e libertinos. Rasgar suas roupas, jogá-la no chão e fodê-la com força até ver o seu sangue virgem manchar o tapete do quarto e o meu pau ficar completamente marcado por ele. Sim, eu quero fodê-la como um animal, quero marcá-la com os dentes, quero fazer coisas com ela que nunca fiz com nenhuma outra mulher. — Não — diz, irritada, tangendo meus pensamentos perniciosos para longe. Por enquanto, ela estava a salvo. — No momento, eu só preciso de respostas — completa com a voz triste. — Tudo a seu tempo, Innocence, tenha paciência. Você descobrirá o mundo em menos tempo do que imagina. — Enfio as mãos nos bolsos da calça e a fito demoradamente. — Depois da nossa conversa de hoje, começo a entender que você tem receio de me tocar por achar que me machucará. Essa sua ideia de que é um homem mau está afastando-o de mim... — Eu não acho — interrompo-a —, eu sou. Sou mau e perigoso. Um dia você descobrirá isso e me agradecerá por mantê-la distante. — Ela tenta vir até mim. — Parada, nem mais um passo. — Mantenho o olhar frio em seu rosto. — Olhe nos meus olhos, Innocence. Agora — exijo com a voz dura. Ela obedece — Nada de beijos na boca e nada de desobediência. Agora vá dormir. — Dou-lhe as costas e sigo para a porta. Abro-a e saio sem olhar para trás. Assim que a fecho escuto um suspiro profundo, quase um lamento. Espero que ela tenha entendido o recado. Depois de deixar o quarto de Innocence, vou para meu quarto, tranco a porta e tento conciliar meus pensamentos. Vou até a varanda, abro a porta de vidro e deixo a brisa fria refrescar o meu rosto. Ainda sinto a maciez dos seus lábios sobre os meus, ainda sinto o toque dos seus dedos em meu rosto, o gosto da sua língua e o sabor da sua saliva. Estou travando uma luta solitária comigo mesmo. Por mais que eu tente negar, eu a quero. Quero possuí-la, entretanto, pela primeira vez eu quero uma mulher para dar prazer. E este simples pensamento me deixa de pau duro. Você está louco, Dante, ela jamais será sua. Quando seu monstro interior vir à tona, ele a destruirá. Fará o mesmo que fez com a Shaya, roubará sua inocência e tirará sua vida. Minha voz interior fala mais alto, acho que deveria escutá-la. Volto para o quarto, dispo-me e sigo para o banho. Deixo a água gelada cair em minha nuca, tento aliviar a minha ereção com os dedos, massageando com força. Pensando em Innocence, deixo a imaginação correr. Vejo-a de joelhos, alisando meu pau, beijando-o enquanto sorri para mim. – Chupe-o, digo em voz alta, mantendo os olhos fechados. Ela obedece, e sem desviar os olhos dos meus, suga-o completamente. – Porra, isso é bom. Engula-o todo, Innocence – deliro outra vez. Ela obedece e me leva até o fundo da garganta, minhas mãos seguram seus cabelos e forçam o vai e vem da sua boca em torno do meu pau. – Boa menina. Morda-o, chupe-o – alucinado com meu delírio, meu orgasmo vem em jatos quentes e espessos, sujando todo o box. — Caralho! Estou fodido, muito fodido. — Soco com força a parede com o punho. A pancada foi tão forte que os nós dos meus dedos ficaram em um tom avermelhado. Solto um grunhido de raiva. — Caralho! Dante, você precisa se concentrar, precisa manter distância dessa moça. Ela nunca será sua, você nunca a terá... Você é um monstro, e monstros não são amados. Certa vez, escutei tio Jakov me descrever. Ele estava falando com Olovisks, um dos nossos soldados. Eu nunca vou esquecer a palavra que ele usou. Monstro. Na época, eu não me considerava um, pois achava normal o que fazia. Nasci em meio a assassinos, torturadores, estupradores. Era o filho do pior homem da máfia, aprendi cedo a profissão, então para mim tudo aquilo era normal. Contudo, em pouco tempo admiti que ele esteve certo o tempo todo. O pequeno príncipe... Era um monstro. Savar orgulhava-se de mim e por diversas vezes me forçava a ser pior do que um monstro. Ele necessitava mostrar aos seus seguidores que o seu substituto era um milhão de vezes pior do que ele, e eu sou. Meu pai fez coisas más. E porque não faria? Afinal, ele era a porra da máfia, o senhor do submundo russo. Eu iria substituí-lo, e este cargo tão honrado e desejado tinha que ser conquistado com muito sangue nas mãos. Mas o tempo e as aventuras que comecei a viver conhecendo o mundo, conhecendo outras maneiras de ganhar dinheiro sem precisar sujar as mãos de sangue nem arriscar a minha vida, e o mais importante, sem me preocupar com a porra da minha retaguarda, fizeram-me mudar de ideia. Não, não, eu não queria ser rei do reino de ninguém, eu mesmo criaria o meu reinado. Eles que se fodessem. A minha liberdade era mais importante do que a família. Família de merda, meus pais não se importavam com ninguém, só com eles mesmos. Minha mãe era uma assassina cruel, sem coração, sem decência. Casou-se com meu pai pelo poder, um casamento ambicioso para ambos. Savar se uniu a ela pela beleza, ousadia e crueldade que possuía. E pela necessidade de um herdeiro. Antes de mim, vieram três meninas. As três foram sufocadas por ela assim que nasceram. Eles não queriam princesas, queriam um príncipe. Eu. O substituto do grande Savar. Fodam-se os Ziugánov. Eles pensavam que teriam minha lealdade, mas se enganaram completamente. Em um “lar” onde só se pregava ódio, crueldade, e o dinheiro era o alicerce de tudo, não havia como existir lealdade, amizade... amor. Amor, o que é o amor? Nem sei se este sentimento existe mesmo. Nunca amei, nunca fui amado e os poucos que me falaram sobre este sentimento, tempos depois disseram que se arrependeram por amar, ou acabaram trocando os seres amado por outros. Então, ao meu ver, amor era algo tão mesquinho quanto o ódio. Mas, se o amor existir mesmo, suponho ser algo infinito, uma força incontestável, sem dimensão, sem razão. Transcendente, algo que eu nunca iria conhecer ou sentir. Bem, foda-se o amor, também. Mesmo porque, eu nunca serei amado. Ainda que eu tenha abandonado aquela vida, o passado nunca morre, ele me acompanhará para sempre. Posso ser um empresário de sucesso hoje, com um rosto novo, nome novo, mas minha alma é a mesma. A alma de um assassino. Cruel. Detestável. Cometi crimes violentos, tudo em nome da família, tudo para mostrar poder, e eu era apenas um adolescente... Fico imaginando se eu não tivesse feito o que fiz, se tivesse aceitado o meu destino, com certeza o mundo estaria perdido. Meu nome seria perpetuado pelo universo e a dinastia dos Ziugánov seria invencível. Olho-me no espelho, esfrego a toalha nos cabelos com força, como se este gesto pudesse varrer todas as minhas lembranças. E enquanto faço isso, posso escutar as vozes das minhas vítimas gritando, suplicando por clemência... Balanço a cabeça ligeiramente. Sigo para o closet – merda! – eu sou um estúpido. Visto-me com algo confortável, apenas a calça do pijama de seda. Eu tenho que esquecer. Eu só tenho que esquecer essa porra toda. Deito-me, viro-me de um lado ao outro. Os minutos passam... vinte... quarenta... O sono não vem, e os meus pensamentos me atormentam. Preciso de paz, preciso de calma e só posso encontrá-los em um lugar. Levanto-me e sigo a minha necessidade. Abro a porta do quarto lentamente e, antes que a claridade da luz do corredor entre por completo, fecho-a imediatamente. Respiro fundo, sento-me na poltrona próxima à cama, estico as pernas na chaise e deixo as mãos cruzadas sobre o peito. Lá está a paz que eu tanto quero, deitada, encolhida, com as mãos por baixo do rosto. Ela dorme tranquilamente, quase não se nota sua respiração... Linda, terna, inocente. Minha protegida, a razão que eu tenho para lutar contra meu monstro interior. Minha linda e pura Innocence. — Dante... Penso estar sonhando, pois escuto uma voz meiga me chamando ao longe. — Dante... Não, não é um sonho. Então eu pisco os olhos rapidamente, abrindo-os, e encaro um par de olhos azuis, sonolentos e curiosos. Devo ter cochilado, ou... Olho para a janela e a claridade já envia pequenos raios luminosos através das cortinas pesadas. Não, eu não cochilei, dormi profundamente. — Oi... — Ergo um pouco o corpo, empurro a chaise para o lado e deixo meus pés sobre o carpete. — Bom dia! — Ela me flagrou vigiando seu sono, e isso é desconcertante. — Vo-você dormiu aí? — Ela aponta para a poltrona. Senta-se na cama e seus olhos observadores me avaliam. — Fiquei preocupado, temoroso que sua febre voltasse. — Não sei por que menti. Aliás, eu sei, sim, não queria que ela percebesse o quanto olhar para ela me acalmava. — Nossa! Você deve estar todo dolorido, essa poltrona é pequena demais para o seu tamanho. Por que não se deitou ao meu lado? A cama é grande, tem espaço suficiente para dois. — Não quis acordá-la. Além do mais, a poltrona não é tão pequena assim. É muito confortável, tanto que adormeci. Sou um idiota, estou me perdendo nas palavras, já nem sei mais o que falar. Levanto-me, preciso fazer algo urgentemente antes que ela comece com as intermináveis perguntas. — Bem, estou com fome, você não está? — Estendo uma mão e ensaio um sorriso de canto de boca. — Levante-se, e enquanto você toma um banho e se troca, vou até a cozinha. O que quer comer? Ela aceita minha mão estendida. Eu a puxo levemente, ajudando-a a se levantar. Assim que as cobertas deslizam pelo seu corpo, percebo que não foi uma boa ideia convidá-la para sair da cama. A pequena camisola de seda marca seu corpo curvilíneo, as coxas roliças, os joelhos redondos... porra! Ela tem lindos joelhos. Já os imagino vermelhos quando ralarem no tapete, enquanto sua boca carnuda devora o meu pau. Merda! — Eu quero ovos, bacon, queijo, pão, café com leite e bolo. — Estou duro, minha ereção pulsante, e ela nem percebe minha excitação. E fica pior quando ela puxa a pequena camisola por cima da cabeça, ficando completamente nua e me mostrando sua bunda redonda e branca. — Innocence! — solto uma exclamação atordoada. Ela se vira, fitando-me assustada. — O que eu fiz? — Seus inocentes olhos encontram com o meu olhar hipnotizado ao ver seu corpo nu tão próximo. Rapidamente, pego o lençol que está sobre a cama e em passos largos cubro-a, girando-a em direção à porta do banheiro. — Já lhe disse que você não pode ficar nua na frente de outras pessoas... — Empurro-a para o banheiro e tranco a porta. — Estou a esperando na cozinha, não se demore. — Saio antes que as perguntas venham. Antes de chegar à cozinha, já escuto o tintilar das louças batendo umas nas outras. Angélica certamente estava pondo a mesa do café da manhã. — Bom dia, Angélica! — O cheiro do café fresco vem até as minhas narinas. Feliz, eu o inspiro, satisfeito. — Bom dia, senhor! O café já está pronto, sente-se — cumprimenta-me cordialmente com um sorriso nos lábios. Seu olhar segue na direção das minhas costas, à procura de alguém. — Ela já está vindo, está no banho — informo, enquanto sigo para a mesa e começo a servir o café nas xícaras. — A propósito, ela quer ovos e bacon. Angélica já está servindo os ovos e o bacon, quando Innocence surge lindamente, com um vestido floral soltinho e um pouco acima dos joelhos. Observo-a atentamente, fico imaginando-a em um vestido de grife feito sob medida, sapatos altos e maquiada. Acho que o assassino que se esconde dentro de mim viria à tona, era melhor nem pensar nessa possibilidade. As roupas simples que eu comprei eram suficientes, eu serei o único a conhecer sua beleza estonteante. Possessivo. Você é um escroto, ciumento e possessivo, Dante Salazar. Cale-se, seu idiota. Sussurro para a voz interior. — Estou usando calcinha, senhor Dante. — Certamente foi a minha avaliação demorada do seu corpo que a fez suspender a saia do vestido e mostrar a calcinha preta. — Menina! Baixe essa saia. — Angélica larga o prato na mesa e corre em direção à Innocence, baixando a peça de roupa. — Você não pode levantar a saia desse jeito, Innocence. Isso é coisa de criança, e você é uma mulher... Senhor Dante, o senhor tem que fazer alguma coisa quanto a isso! Pego de surpresa com a reação de ambas, fico apenas pasmado, olhando as duas mulheres diante de mim. Angélica e Innocence me encaram, esperando uma resposta. Eu...Limpo a garganta. Estou completamente desconcertado diante do fato, tanto pela repreensão da Angélica quanto pela ousadia da Innocence.Eu tomarei uma providência.Lanço um olhar frio para Innocence, que entende o recado e baixa o olhar rapidamente.Desculpe, não tive a intenção de constranger vocês.Eu sei que preciso aprender muitas coisas, perdão..Culpado, sou culpado por tudo isso,admito.Conversaremos sobre isso depois do café.Agora venha, sente-se aqui,você deve estar faminta.Cabisbaixa, ela vem, senta-se ao meu lado e durante toda a refeição não diz uma só palavra.Come em silêncio, certamente está envergonhada.Eu não a culpo,ela tinha razão, sua inocência está fazendo com que se torne uma débil mental.Não podia deixá-la às cegas,eu precisava dar um jeito nisso.Innocence, não fique assim.Não é sua culpa...Bom dia! Shin entra na cozinha,cortando minha conversa.Shin! Innocence se levanta rapidamente e corre na direção dele,e de repente eu fico cego de raiva.In-Innocence, pare...Shin é surpreendido com os lábios dela sobre os seus,ela o beija na boca.Innocence, pelo amor de Deus!Ele tenta afastá-la, mas Innocence insiste em beijá-lo.

Capítulo 25

Dante
Levanto-me rapidamente e sigo na direção de Innocence e Shin, completamente cego de raiva. Minha vontade é partir para cima dele e socar o seu rosto, arrancar sua língua e fazê-lo comê-la. Chego a esquecer que somos amigos e que ele não tem culpa da curiosidade da Innocence.Innocence! esbravejo sonoramente, afastando-a do Shin bruscamente. Ela me encara, assustada com a minha brutalidade, e tenta mover os lábios para dizer algo, porém sou mais rápido e sonorizo a minha cólera.Que merda é essa?Deus do céu! Angélica solta um grito, alarmada com a cena. Fito-a friamente, como se dissesse, “saia daqui”. Ela entende o recado, baixa os olhos e sai às presas da cozinha.Dante, acalme-se. Eu não tive culpa, fui pego de surpresa.Shin mantém uma distância segura de Innocence, enquanto tenta segurar meus ombros, preparando-se para se defender, pois já estou de punhos cerrados.Não! Innocence grita, assustada, jogando-se na frente do Shin. Seus olhinhos medrosos me avaliam. Ela está apavorada, e quem não estaria diante de um homem grotesco como eu?Eu só queria saber se o beijo dele é igual ao seu. Ele não tem culpa, Dante. Diante da sua resposta, tanto eu quanto Shin somos pegos de surpresa e ambos a encaramos. Eu com um olhar sombrio e o Shin com um aterrorizado.O quê!?Ficou louca,Innocence?Eu poderia ser morto, você sabia?Shin segura a Innocence pelos ombros, fazendo-a encará-lo.E ele tinha razão. Sim, eu poderia matá-lo, a raiva que estou sentindo no momento faria com que matasse alguém usando só uma mão.Desculpa, eu só queria comparar o beijo murmura e logo depois olha para mim.Não é igual...sussurra. Como é!?Shin e eu exclamamos ao mesmo tempo, e ele me encara, estreitando os olhos. Dante, que história é essa de beijo na boca? O que você anda ensinando a Innocence?Aquele olhar arregalado e furioso encontra meu rosto perturbado pelo choque de ver Innocence nos braços de outro homem.Dante, acorde! Que porra é essa? Imediatamente, Shin percebe que falou merda e olha para Innocence.Sem perguntas, senhorita interrogação. Primeiro quero saber que história é essa de beijo. Ele volta a me encarar com seu olhar inquisidor. A culpa não é do Dante, eu que o beijei.Innocence volta a ficar entre nós dois, com uma mão no peito do Shin e a outra em meu peito. O beijo do Dante é melhor...Aqueles olhinhos brilhantes encontram os meus. Seu beijo faz rebuliço em minha barriga ela passa a mão na barriga, alisando-a e molha a minha vagina...O quê!?Shin solta um berro alarmado, olhando para o meu rosto. Eu quero tirar a Innocence da cozinha o mais rápido possível, antes que ela comece a fazer perguntas.Sim, eu fico molhada aqui embaixo.Ela leva a mão entre as coxas. É uma sensação boa e...Chega!esbravejo ferozmente, e antes que abra a boca para falar mais alguma coisa,pego-a pelo braço e a arrasto para o quarto.A senhorita vai para o quarto agora... Solte-me, Dante. Ela puxa o braço, livrando-se da minha mão.Não me trate como criança. Solte-me...Sou empurrado com brusquidão. Escute aqui, mocinha, se não quer ser tratada como criança se comporte como uma mulher. Agora vou levá-la para o quarto e você só sairá de lá quando eu mandar.Pego-a com força, circulando os dedos fortemente em volta do seu braço. Solte-me,Dante,você está me machucando... Solte-a, Dante. Ficou louco?Shin me empurra, perco o equilíbrio e solto-a. Dou um passo em direção ao Shin, pronto para atacá-lo. Shin esconde Innocence atrás de si e leva um braço à frente do corpo, parando-me.Meu amigo, controle-se! Controle-se... Sua mão segura o meu peito e os seus olhos viram para o lado, chamando minha atenção para a moça encolhida às suas costas. Eu sei que devo estar assustador, furioso, bufando de raiva, com olhos saltados e punhos cerrados. Já me vi centenas de vezes assim. Quando a fúria me toma, perco a noção de tudo que está ao meu redor. Só vejo o inimigo na minha frente e só volto ao normal quando sinto o cheiro forte do sangue nas mãos.Dante, acalme-se. Vá para o escritório, eu levo a Innocence para o quarto.Tomo consciência de mim mesmo e do que estava prestes a fazer. Respiro fundo e me viro, saindo a passos rápidos. Graças ao Shin, a Innocence não viu o meu verdadeiro eu. O monstro que sou. Espero alguns segundos e os deixo seguirem até o quarto. Sigo-os, espero a porta se fechar, e encosto meu ouvido na madeira. Concentro-me na conversa dos dois...Eu não entendo, Shin. Por que o Dante ficou tão furioso? O que eu fiz?Me beijou, foi o que você fez.Eu não posso beijar você? E por quê? Você pode me beijar, mas não na boca, esse tipo de beijo exige mais intimidade. O Dante explicou isso a você, não explicou?Explicou, mas eu só queria saber se os beijos eram iguais. E não são. Por que não são?Porque são emoções diferentes. Depende de quem você está beijando, com cada pessoa você sente uma reação diferente. Há beijos que provocam repulsa, medo...Como assim? Mas beijo é bom. O seu não foi igual ao do Dante, mas foi bom, senti a mesma sensação de quando você me abraçou. Eu... eu não entendo, acho que o Dante tem razão, eu sou uma criança no corpo de uma mulher, nunca aprenderei nada... Shin, eu quero voltar para o meu mundo, não quero ficar mais aqui...Tenha paciência, logo você conhecerá o mundo e aprenderá sobre ele. E você não é uma criança, é só uma pessoa não esclarecida, foi criada em um mundo imaginário, não é culpa sua. Não fique assim, vem cá.Shin... Oi. Eu gosto do seu abraço, mas eu gosto mais do abraço do Dante, por quê?Deve ser porque vocês têm sintonia.E o que é isso? E por que eu fico molhada lá embaixo quando ele me beija ou me abraça?Até quando ele me olha eu fico arrepiada. Por que eu não sinto isso com você?Isso você pergunta para ele. Agora vá tomar um banho, acho que precisa de água fria na cabeça. Pedirei a Angélica para lhe trazer um lanche, já que não terminou o seu café da manhã. Certo, moça bonita? Certo... Não foi uma boa ideia escutar a conversa, só fez com que eu me sentisse pior do que já estava me sentindo, afinal, ela não tinha culpa da bagunça em que sua vida se transformou. Antes não havia questionamentos, ela estava bem vivendo isolada, não tinha noção de como era o mundo aqui fora. Agora eu a tinha deixado ainda mais confusa do que antes. Ela tinha tantas interrogações, tantas dúvidas, e o culpado de tudo isso era eu, com a minha teimosia em protegê-la, em manter sua inocência imaculada. Só estava atrapalhando o seu conhecimento, eu não tinha o direito de deixá-la às cegas, ela precisava saciar a sua fome de saber, pelo menos por algumas coisas, não todas. Há certas coisas que ela não precisará saber, como sobre os prazeres obscuros do sexo. Dante, você precisa dar um jeito nessa bagunça. Respiro fundo, fechando os olhos, tentando esquecer o rosto da Innocence quando ela confessou ficar molhada quando a beijei. Merda! Encosto a testa na porta, e antes que o Shin saia do quarto, viro-me e sigo em direção ao escritório. Minutos depois, Shin surge na minha frente com uma cara de poucos amigos.Eu sei que você estava escutando atrás da porta.Ele fecha a porta do escritório, cruza os braços no peito e me encara. Melhor, assim não precisarei repetir minha conversa com a Innocence. Shin continua estagnado diante de mim, sua linguagem corporal indica impaciência.É sério, deixou a Innocence beijá-lo na boca? Qual será o próximo passo? Sexo? Diante do seu tom acusador, levanto-me da minha cadeira. Pronto para minha defesa, cerro os punhos e os deixo descansarem sobre a mesa, então encaro o Shin com um olhar hostil.Cale-se, Shin, não me acuse sem antes saber o que realmente aconteceu.Impaciente e perturbado com a situação em que me encontro, soco levemente o tampo de vidro da mesa.Não me confunda. Posso ser um monstro, mas não sou um devasso. Eu o conheço, sei da sua história, não estou o acusando de nada. No entanto, você deixou que ela o beijasse, mesmo sabendo que isso a deixaria muito mais confusa. Ele descruza os braços, e ante meu olhar confuso, continua:Dante, está na hora de contratar alguém para ajudá-la. Nós dois sabemos que a situação está fugindo do controle, a Innocence não é uma criança, ela é uma mulher, e os seus instintos de fêmea estão aflorando e...E o quê?interrompo-o. Eu sei o que ele ia dizer. Innocence está despertando sua sexualidade, e eu não sei se conseguirei ficar indiferente diante disso. Ela terá as respostas de todas as suas perguntas, mas precisa ser paciente.Do que tem medo, Dante?ele me interrompe.Porra! Aquela moça ele aponta para porta precisa da sua ajuda, e se você não pode ajudá-la,entregue-a à polícia.Enlouqueceu? esbravejo, fitando-o com um olhar horrorizado.Polícia! Nem sabemos quem são as pessoas que a querem morta, Shin.Eu me comprometi em protegê-la,e é isso que farei...Cruzo os braços para disfarçar o quanto estou incomodado com a conversa.E respondendo à sua pergunta, não tenho medo de porra alguma. Eu sou um homem que aprendeu que a paciência é a melhor arma contra o inimigo. Paciência, planejamento, coragem, astúcia e empenho são sinônimos de vitória. Reúna todos e vencerá uma guerra. Portanto, meu amigo, a Innocence não corre perigo. Ninguém tocará nela, nem os homens que estão atrás dela, nem eu. Descruzo os braços, relaxo os ombros, sigo para a mesinha de bebidas e sirvo-me de uma bebida. Quer?Mostro a garrafa de uísque quinze anos. Não, é cedo demais para me embriagar responde com ironia.Dos monstros que a perseguem você pode até protegê-la, só não sei se conseguirá ficar longe dela. Pelo caminhar da carruagem, começo a perguntar quem o protegerá de Innocence. Engraçadinho.Sorrio torto para ele, depois viro o copo de uma vez na boca, fazendo uma leve careta quando o líquido dourado desce queimando por minha garganta.Hoje foi um beijo na boca, e amanhã será o quê?Ele me encara com seu olhar peculiar, com as sobrancelhas arqueadas.Ela me pegou desprevenido. Angélica teve a infeliz ideia de lhe apresentar à TV. Ela viu um casal se beijando e...Quando penso naquele momento, nossos lábios atracados, sua língua doce e quente dentro da minha boca... Porra! Fico excitado.Caralho! Foi foda, fiquei sem reação. Ela subiu em meu colo, me agarrou, e quando dei por mim estava sendo beijado com desespero. Puta merda! Quase enlouqueço.Eu imagino. Um homem como você, acostumado a dominar, foi dominado por uma mulher pura e inocente. Já pensou que se em vez da cena do beijo ela visse uma cena de sexo? Você a foderia, hein? Responda, Dante. Sim, tenho certeza que sim. A esta hora ela já seria minha e estaria perdida.Claro que não!minto. Enlouqueceu? Eu sei os meus limites, controlo meus desejos e emoções.Francamente, Shin!Você me conhece, sabe que não sou homem de ser dominado.Sirvo-me de outra dose. Esta conversa estava me incomodando cada vez mais.Não é o que parece. Shin toma o copo de minha mão. Chega de álcool, acho melhor mudarmos de assunto. Só espero não ser mais pego de surpresa, ela beija bem e eu não sou de ferro. Shin mal fecha a boca e já dá de cara com meu rosto próximo ao seu. Segui em sua direção tão depressa que o Shin nem percebeu. Enquanto uma das minhas mãos o segura pela gola da camisa a outra circula sua garganta, apertando-a, eu bufo meu hálito em seu rosto, rosnando baixo como um animal pronto para devorá-lo.Fique longe dela, entendeu? Mantenha suas mãos, sua boca e seu pau bem longe da Innocence,caso contrário, eu acabo com você. Com nossas testas encostadas, meus olhos escurecidos pelo ódio fitando-o desafiadoramente, me esqueci completamente de que quem estava acuado diante de mim era o meu melhor amigo. Dante... Dante... Dante!Shin grita. Ele tenta se soltar do meu aperto. Estou cego de raiva, posso dizer que estou espumando.Dante!Começa a tossir, pois permaneço apertando seu pescoço. Dante! Sou eu, o Shin!Volto à razão e o solto. Cara, eu estava brincando, foi uma piada! Você sabe que jamais ficaria entre você e a Innocence. Porra... Ele massageia o pescoço, tossindo sem parar. Você me mataria mesmo?Encaro-o friamente.Sim, você me mataria.É só não fazer piadas idiotas respondo. Passo os dedos entre os fios dos cabelos. Nervoso, sigo em direção as bebidas e sirvo-me de outra dose de uísque, e desta vez o Shin aceita a bebida. É, realmente você precisa providenciar alguém especializado para responder todas as perguntas da Innocence, ou corpos serão espalhados por toda a propriedade. Esqueceu que estamos cercados de homens fazendo a segurança? Quando a Innocence ficar frente a frente com um deles, já imaginou a cena? Sim, eu imagino e nem quero pensar no que eu posso fazer se um deles sequer olhar para ela. Shin tem razão, eu preciso encontrar alguém para ajudá-la. Pelo menos para responder os seus questionamentos.Eu mesmo providenciarei um psicólogo, assim que resolvermos nossa análise de campo. E por falar nisso, onde está o motorista? É sério, você finalmente concordou comigo? Shin e sua ironia peculiar.Sim, é. Agora responda a minha pergunta respondo sem lhe dar chance de continuar sendo irônico.Estou aguardando o Antônio. Ele ficou de vir, já era para ter chegado. Shin olha para o relógio de pulso, parece preocupado.Preciso me preocupar também? Acho que o seu homem de total confiança está começando com o pé esquerdo.Dante Salazar, a ironia não lhe cai bem, deixe-a para mim. Antônio tem assuntos pendentes para resolver antes de se dedicar totalmente a você...A mim não interrompo-o, a Innocence. Eu não preciso de motorista, tampouco de segurança.Meu celular toca e o do Shin também. Atendemos.O que quer...? Antes que Joana responda, afasto o celular da orelha, Shin está falando comigo.É o Antônio, vou buscá-lo na portaria 1.Ok. Shin sai e volto para o celular.Joana, eu fui bem claro com você, a partir de hoje só a Francine falará comigo.Desculpe-me, senhor, mas sou a sua assistente e precisava confirmar sua presença no evento de amanhã à noite.Joana, não se faça de desentendida, fui muito claro no nosso último encontro. Francine está no seu lugar até segunda ordem.Senhor... por favor...Chega! vocifero, e ela se cala.Pode confirmar a minha presença e a da Francine.Passe bem!Desligo, contudo, ainda pude escutar um soluço de choro contido. Joana sabe que não admito desobediência entre minhas submissas. Se elas não conseguem obedecer, é melhor cancelar o contrato e cada um seguir o seu caminho. Quando ofereci o cargo de minha assistente particular, ela tinha duas opções: ser também uma das minhas submissas ou só a minha assistente. Quando ela entendeu que sendo só minha assistente os nossos encontros íntimos cessariam, pois não costumo me envolver com meus empregados, de pronto, aceitou os dois cargos e, junto com eles, as regras. Tanto ela como a Francine seriam submissas full time, mais conhecido como relação 24/7, ou seja, eu sou Dom e elas são subs 24 horas por dia, sete dias da semana. Elas me devem obediência total, fazem o que eu mando sem questionar. Se eu ordenar que as duas venham para a empresa sem calcinhas ou com plugs anais enfiados em seus rabos, elas têm que me obedecer. E, se por acaso o contrato for cancelado ou não renovado, o nosso vínculo acaba. Desde que cheguei ao Brasil e me estabeleci, já contratei várias submissas. Algumas ficaram bastante tempo, mas no momento só mantenho a Joana e a Francine, elas me satisfazem e eu a elas. Contudo, percebo que Joana anda confundindo algumas coisas. Só espero que ela não tenha se apaixonado, se este for o caso, serei obrigado a tomar uma atitude. Cancelar o contrato e demiti-la do cargo de assistente da empresa. A porta do escritório se abre e por ela entram Shin e um homem alto, negro e com tantos músculos quanto eu. Sua aparência imponente assustava. Terno preto, cabeça sem um fio de cabelo, olhar frio e penetrante, rosto sisudo.Aparentemente, ele é apropriado para o cargo.Antônio, este é o senhor Dante Albion Salazar, seu novo chefe.Antônio não sorri, apenas estende a mão grande em minha direção, olhando-me fixamente, como se me analisasse.Antônio Sanches, senhor.Aperto a mão dele firmemente, mantendo o olhar fixo. Parecemos dois animais estudando um ao outro. Não precisarei entrevistá-lo, visto que o Shin já deve ter feito isso. No entanto, preciso lhe fazer uma pergunta e peço que seja franco.Mantenho o aperto em sua mão.Você está pronto para matar e morrer?Solto a mão dele.Desde os meus vinte anos, senhor responde, sem desviar os olhos frios dos meus.Meu trabalho será protegê-lo, se for preciso com a minha própria vida. Mas não se preocupe, nem eu, nem o senhor perderemos a vida. Eu...Quem é você? Antônio nem tem tempo de terminar a frase. Innocence encontra a porta do escritório aberta e entra, seus olhos atentos foram direto para o homem enorme à sua frente. Quando menos esperamos, ela já está diante do Antônio, olhando-o admirada.Como você se pintou assim? É tatuagem? Ela fica nas pontas dos pés e a ponta dos seus dedos tocam no rosto dele, alisando a pele negra. Antônio, assustado, mal consegue piscar os olhos.

Capítulo 26

Dante
Shin e eu ficamos paralisados, com medo de que qualquer palavra que disséssemos a fizesse se prender ao Antônio.Essa tinta é diferente das tatuagens do Dante.Sua pequena mão massageia o rosto do Antônio e ela esfrega os dedos com um pouco de força, tentando retirar a suposta tinta.Por que você se pintou assim? Você não tem cicatrizes admira-se. Innocence examina o homem à sua frente com muita curiosidade no olhar.Seu pescoço também é pintado!Ela tenta retirar a gravata do Antônio, mas ele a impede, segurando-lhe a mão.Suas mãos... Innocence segura a mão dele.São pintadas também... Antônio está em choque, assim como nós. Ele, com toda certeza, nunca esteve em uma situação assim, tão constrangedora.Moça... Moça...Innocence tenta se livrar da mão dele, ela quer continuar a tocá-lo.Moça, eu não sou pintado, sou negro.Esta é a minha cor Antônio finalmente consegue articular mais do que duas palavras.Negro!Ela puxa a mão que está presa a dele.Como assim?Innocence segura o rosto do Antônio com as mãos, enquanto tenta se sustentar nas pontas dos pés e se aproximar mais dele. Innocence, não! eu grito, e o Shin dá alguns passos para frente. Innocence encosta o nariz na pele do Antônio,cheirando-o.Senhor... senhor, o que faço? Ela é louca?Antônio segura Innocence pelos ombros e tenta mantê-la a uma distância segura. — Não, Mujoe. Afaste-se.Shin finalmente consegue afastá-la do Antônio. Innocence não desvia os olhos admirados de Antônio, seu olhar curioso dança de cima abaixo pelo homem enorme diante de si, e ele a encara com constrangimento. Eu não o culpo, realmente era uma situação inusitada.Shin, existem outros com a mesma cor dele?Ela desvia os olhos do Antônio e eles se dirigem para o Shin, sua mão tocando o rosto do Shin enquanto questiona. Sim, Mujoe, existem homens e mulheres com a mesma cor que a dele. Assim como existem outros iguais a mim, com os olhos puxadinhos.Shin acaricia os cabelos dela enquanto explica, e eu sou comido pelo ciúme.Innocence, venha cá! ordeno com um olhar frio dirigido para ela. Innocence me encara e o seus olhos se fixam nos meus.Venha até aqui. Concentro-me, mantendo o olhar firme, mas a voz branda. Ela solta o rosto do Shin e caminha lentamente em minha direção. Cílios abaixados, braços estendidos na frente do corpo, mãos cruzadas, caminha obedientemente, e isso me deixa excitado com pensamentos libertinos, rondando a minha mente depravada e doentia. Bastava uma ordem minha para submetê-la, uma palavra para subjugá-la. Será que eu quero isso? Será que a quero submissa, sem vontades, sem escolhas? Vendo-a vir em minha direção, tão entregue, tão vulnerável, chego à conclusão de que não é isso que eu quero. Com toda certeza não quero uma boneca, quero uma mulher cheia de vida e dona das suas vontades... Que inferno, Dante! O que está pensando? Ela nunca será sua, homens como você não podem possuir anjos.Dante.Puxo o ar com força para meus pulmões e o cheiro dela espanta meus pensamentos. Encaro seus lindos olhos azuis profundamente e o choque dos meus sentimentos por essa moça me derrubam. As minhas vontades não eram mais minhas, e sim dela. Ela tem o controle sobre mim, e isso me perturba e ao mesmo tempo me causa uma euforia latente. Sentimentos controversos, sentimentos desconhecidos. O que está acontecendo comigo? Innocence, este é o Antônio.Limpo a garganta para desfazer o nó que se formou. Seguro-a pelos ombros e faço com que se vire para o Antônio. Antônio, é esta moça que irá proteger. Eu não preciso de proteção, é com ela que irá se preocupar e é para ela que irá toda a sua atenção, entendeu? Fito-o com os olhos semicerrados, juntando as sobrancelhas. Um olhar duro e dominador.Entendi, senhor Salazar.Olá, senhorita Innocence...Eu sei o que é senhorita!Quando menos espero,Innocence se solta das minhas mãos e chega perto do Antônio, segurando seu rosto com as mãos.Senhorita é uma moça que não é casada. Ela estica os lábios em um lindo sorriso, e como por milagre, o homem grande e sisudo não resiste, deixando à mostra uma carreira de dentes alvos pela força do sorriso involuntário.Você é bonito e fica muito mais quando sorri, não é, Shin? Shin, que assiste a tudo calado, só nos observando com seus olhos avaliadores, finalmente se expressa.Não costumo achar homem bonito, Innocence. Para mim é indiferente articula, inquieto com a observação da Innocence. Ela o fita com aquele olhar questionador, e antes que as perguntas venham, interfiro.Innocence, vá ficar com a Angélica, eu e o Shin precisamos conversar com o Antônio.Shin me encara, aliviado. Gostei de você, Antônio.Ela o beija no rosto, deixando-o completamente sem ação. Shin me encara, dando um passo à frente, como se quisesse impedir uma guerra.Afaste-se dela, agora digo com raiva contida na voz. Innocence se assusta e abraça o Antônio, apertando os olhos com força. Shin interrompe meus passos com a mão em meu peito.Dante, não.Estou pronto para começar uma guerra, mãos em punhos cerrados e cego de raiva.Olho para o Shin,meus olhos devem estar escuros pela ira.Acalme-se, meu amigo.Aperto tão forte meus punhos que escuto o estalar dos nós dos dedos. Fecho os olhos enquanto respiro profundamente. Shin me solta e se vira para Innocence. Antônio está sem ação, ele não sabe o que fazer diante da situação. Acho que, sabendo do perigo que corre, tem medo de tocá-la para afastá-la do próprio corpo, temendo ser morto por um monstro cruel. Monstros se reconhecem, e ele tinha razão, eu o mataria na frente dela. Shin segura Innocence pelos ombros. Está tudo bem,Mujoe.Venha.Ela abre os olhos e me encara.Shin a afasta do Antônio e eu volto a respirar com mais calma.Dante...Ela corre para mim e sou abraçado com força.Eu estou bem, Dante. O Antônio não vai me machucar, ele vai me proteger. Foi você quem disse, lembra? Sério, esta moça está fazendo uma revolução dentro de mim. A inocência dela me desarma, fico paralisado diante da sua argumentação e encaro a minha cruel realidade... Um anjo e um demônio, isso nunca dará certo. Ela era inacreditável. E diante da sua doçura meu rosto suaviza.Eu sei... eu sei...O ar fica pesado, fazendo meu estômago revirar. Engasgo diante da emoção do abraço apertado e do seu olhar meigo e acolhedor. Afasto-a um pouco, e fixando o olhar em seus olhos lindos, acaricio seu rosto em ambos os lados com as mãos.Agora, vá, nos deixe a sós.Vá,doce menina sussurro a última frase bem próximo a sua orelha,com a voz carregada de emoção. Esse meu gesto só piora a minha situação, pois ela fica na ponta dos pés e os seus lábios tocam os meus levemente, beijando-me com carinho. Ela tem o dom de me deixar completamente sem ação. Nem a vi ir embora, quando dei por mim, estava diante do Shin e do Antônio, e ambos me encaravam com um olhar incrédulo.Então limpo a garganta e volto para minha mesa, sento-me na cadeira e finjo procurar algo sobre ela. Eu sei que o Shin me observa, e se eu o encarar ele perceberá o quanto estou perturbado com o calor do simples beijo da Innocence.Antônio, você deve estar se perguntando sobre a Innocence, talvez esteja pensando que ela seja uma moça anormal Volto a meu estado costumeiro, bloqueio todos os sentimentos perturbadores da minha mente e encaro o homem de quase dois metros de altura na minha frente.De certo, senhor Salazar. Desculpe a minha observação, mas aquela moça tem algum problema mental? Diante da situação a qual presenciou, não o culpo por pensar assim. Em seu lugar, pensaria o mesmo.Antônio Shin aproxima-se. sente-se.Ele aponta para uma das poltronas em frente à minha mesa, e senta-se na outra, Antônio, reticente e um pouco apreensivo, obedece. De repente, o silêncio paira sobre nós. Agora você já conhece a sua protegida Shin corta o silêncio.Não se preocupe, pois vamos explicar toda a situação...Innocence corre perigo corto a explicação do Shin. Não sou homem de meias palavras, e certamente Shin faria um longo trajeto até chegar onde interessava ao Antônio.Eu a encontrei em um dos meus galpões, ela estava sendo perseguida por um homem que ela chama de “monstro”. Innocence foi criada em uma propriedade longe da civilização e o seu único modelo da raça humana foi o homem que a criou. Ela nunca viu outra pessoa, portanto, tudo para ela é novidade. É por isso que ela se impactou tanto com a sua cor.Ela ficou muito assustada quando me viu, também Shin completa.Innocence só conhece o básico. Ela sabe ler, escrever, conhece alguns eletrônicos, mas só os que não mostravam nada do que havia fora das cercas onde vivia. Ela é como uma criança que está descobrindo o mundo, apesar de ser uma mulher. Demos espaço para o Antônio respirar. Ele está com um olhar perdido, como se estivesse em um mundo totalmente fora da realidade.O que não deixa de ser o caso.Bem volto a articular,sua obrigação é cuidar da Innocence e mantê-la a salvo. A partir de hoje, começaremos as buscas pelo local onde ela viveu por dezenove anos. Quero descobrir quem são as pessoas que a mantiveram em cativeiro, bem como as que a perseguem. Eu e o Shin não precisamos de proteção, portanto, sua atenção estará voltada só para ela. Innocence é sua prioridade, ela será o ar que você respira. Você se manterá vivo para protegê-la e...Levanto-me. Dou a volta na mesa e fico de pé diante dele. Levante-se, Antônio ordeno com a voz dura. Ele se levanta e ficamos frente a frente. Sou um pouco maior do que ele, e ele é um pouco mais musculoso que eu. Seu olhar frio encontra o meu e nos encaramos fixamente. Fui claro com todos os homens que trabalham para mim. Se olharem mais do que devem para ela, eu os cego. Se tocarem nela sem uma justificativa plausível, eu os mato. Isso também serve para você, está claro?Mantenho meu pior olhar no rosto dele, buscando algum vestígio de insatisfação.Está responde, sem desviar os olhos do meu rosto. Seu olhar é tão frio quanto o meu. O senhor Shin já havia me alertado quanto a isso. Ele olha para o Shin. Shin continua sentado, nos observando com aquele olhar debochado de sempre.Não se preocupe, eu sei onde é o meu lugar.Se for preciso, eu a defenderei com a minha vida...Não o interrompo com altivez na voz.Morto você não poderá protegê-la. Mantenha-se vivo enquanto estiver com ela, faça o impossível para cuidar de si e dela. Aquela moça é o centro da minha atenção desde o dia em que a encontrei, e eu prometi protegê-la, mesmo que não esteja ao seu lado, por isso vocês serão a minha sombra. Desvio o olhar para o Shin e ele assente com a cabeça. Não permita que ninguém sequer olhe para ela, entendeu,Antônio?Entendi,senhor Salazar.Ele relaxa o maxilar.E quando começaremos as investigações? Olha para o Shin, e pelo o olhar que o Shin me deu, entendi que o Antônio já estava a par de muitas coisas. Imediatamente Shin responde, levanta-se e segue em nossa direção.Vou apresentá-lo ao resto do pessoal no QG.Ele enfia as mãos nos bolsos da calça e me encara. Já podemos ir, Dante? Ou falta mais alguma coisa?Podem ir. Eu vou conversar com a Innocence, prepará-la para o que está por vir, afinal ela não saiu desta casa desde que a encontrei. Não sei qual será a sua reação quando souber que a levaremos para fazer o mesmo trajeto que fez quando fugiu do seu cativeiro.Seja sutil.Não preciso nem explicar por que,não é?Se precisar,estarei no QG.Antes da minha resposta, Shin me dá as costas, Antônio o segue, e eu só escuto a porta se fechar atrás deles. Shin tem razão, eu preciso ser sutil. Apesar de nunca ter usado de sutileza, já que nunca precisei. Contudo, com a Innocence, além de sutil, eu preciso ser uma porção de outras coisas, principalmente indiferente... Indiferente às sensações que ela provoca em mim.Só de pensar nela, em sua beleza virginal,seu rosto angelical e corpo sedutor, no cheiro dos seus cabelos e naqueles lábios sobre os meus,beijando-me...Dante,você está completamente fodido.

Continua amanhã

 

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