Conto Erótico - Amante Secreto - Capítulos 31, 32 e 33

Capítulo 31
Magno
Lavínia entra correndo e some lá para dentro me deixando na sala com opequeno felino na mão.
O apartamento dela está nitidamente em reforma, quase concluído, mas aindahá caixas lacradas em um canto, luminárias ainda não instaladas e não há sofá,apenas um tapete com almofadas em frente a um belo e grande painel para atelevisão. O luxo é admirável, tem muito vidro com aparência de cristal. Umaprateleira ainda vazia de vidro, um lustre exuberante e janelas gigantescas do
outro lado onde pode ver a cidade lá fora. A vista é atraente.
“Miaauu!” — O gato escandaloso mia tentando descer do meu colo.
— Xiu. Silêncio! Quer que a onça expulse nós dois daqui?
Continuo olhando o ambiente. É uma sala grande que é dividida por umaparede de vidro. Do outro lado a sala de jantar e, mais à frente, posso ver a
cozinha atrás de um balcão, onde Lavínia está preparando alguma coisa.Há ainda muita coisa enrolada em jornal, e nada de enfeites ainda. No chão,entre as almofadas tem uma manta e um catálogo de uma lanchonete.
— Aqui. — Ela vem correndo com uma mini tigelinha de leite. — Dê o leite a
ele.
— Tome, dê você. Eu só dou leite a gatas, nunca a filhotes. — Pisco para elaprovocando uma revirada de olhos teatral.Com cuidado, Lavínia pega o gatinho das minhas mãos e se senta no chão
colocando ele perto da tigelinha.
— Tome, bebê. Tome leitinho.
— Essa frase ficou bem sugestiva.
— Ah, cala a boca.
Compartilhamos uma pequena tensão, olhando o gatinho dar alguns passos echeirar o leite. Em seguida dá uma lambidinha e gosta do jantar.
— Vou adotá-lo. — Lavínia cochicha, como se não quisesse assustá-lo.
— Negativo. Meu gato, minhas regras.
— Não é seu, estava em frente à minha...
— Ao prédio, que não te pertence.
Ela fica de pé e, de braços cruzados, me encara.
— O que quer?
— Guarda compartilhada? — Sugiro e ela acaba rindo.
— Certo. Como isso vai acontecer?
— Nosso bebê mora com você mas tem que deixar o papai aqui vir visitar
sempre.
— Magno, eu não te quero na minha casa, dá um tempo, se toca.
Seguro-a pelo braço e puxo-a com força.
— Você vai me tocar. Me mostre seu quarto.
— Não.
— Vamos foder aqui na frente do filhote?
— Não vamos transar. Eu estava pedindo comida e você chegou, precisa ir
embora.
— Peça para nós dois. — Solto-a e com rapidez tiro meus sapatos, o celular e
a carteira e coloco ao lado da televisão, desabotoo a camisa sem deixar de dar
um sorrisinho patife e, por fim, me sento entre as almofadas. — O que estava
assistindo?
Ela fica paralisada com cara de tacho, incrédula com minha naturalidade.
Pego o controle e aperto o play.
— Que porra é essa?
— RuPaul’s Drag Race. — Com destreza, tenta arrancar o controle de minha
mão, mas afasto.
— Que diabo é isso? — Vejo perplexo na TV um monte de marmanjo se
maquiando em frente a espelhos enormes.
— É um reality sobre drag queens.
— Reality de cu é rola. Assina Telecine?
— Magno, essa é minha casa, é meu momento da noite, meu tapete e minha
manta.
— E seu amante pronto te esperando. Quer vim, vem.
Ela bufa revoltada, esfrega as mãos nos olhos e sacode a cabeça desistindo. Eu
ajeito as almofadas e me deito escolhendo algo legal para ver. O gato ainda bebe
leite, um guloso filho da puta. Lavínia pega o catalogo do restaurante e, após
digitar o número, olha com revolta para mim, sabendo que é impossível lutar.
— Hambúrguer?
— O maior, por favor. Estou varado de fome. Coca e fritas. Vamos começar a
assistir uma série juntos?
— Não. Muita intimidade. Oi, boa noite. Vocês ainda estão entregando? —
Ela começa a falar no celular e sai de perto de mim para fazer os pedidos.
O gato termina o leite e começa a caminhar em passos trôpegos. Apanho-o.
— Tomou um porre guloso? — Levanto-o e, para minha surpresa, algo me
chama atenção. Examino suas partes íntimas e não me surpreendo ao ver que é
uma gata.
Rio e baixinho a chamo de Xana. Pensei em Xota, mas iria ficar muito
explícito. Xana é legal, remete a uma das melhores coisas que Deus já inventou,
a boceta, e é uma homenagem à forma que eu descobri sua sexualidade:
analisando as partes íntimas.
Deixo a gata no meu peito, ela puxa meus poucos pelos do peito com as unhas
novinhas, se espreguiça e deita na maior mansidão sobre meu abdômen.
Lavínia volta e se detém paralisada vendo a cena.
— É uma gatinha. — Eu digo, acariciando de leve o pelo. Os olhinhos da gata
fecham devagar mostrando o quanto está relaxada, gostando do carinho.
— Uma gata? — Ela ajoelha perto, sorrindo com encantamento.
— Sim. E se chama Xana.
— Xana? Que merda de nome é esse? — Ela gargalha e sou pego
desprevenido. Gosto de sua risada e foi minha vez de pegá-la desprevenida
quando puxo-a e beijo sem pressa seus lábios.
Ela afasta, olha para minha boca sem piscar, desce os olhos pelo meu corpo e,
em um rompante, pega a gatinha, coloca-a ajeitada em cima de uma almofada a
uma distância segura e puxa a blusa de moletom revelando os seios que são
minha perdição.
— Sabia que não iria resistir. — Vanglorio tirando a calça na velocidade da
luz.
— Calado, apenas faça seu trabalho. — Completamente nua, ela vem para
cima de mim e deita sobre meu corpo nos ajeitando pelados em uma posição
perfeita.
Ela está completamente no controle, buscando o que deseja e arrancando de
mim tudo que pode para lhe proporcionar prazer, como se eu fosse seu
empregado sexual, e isso me excita de um modo que nunca senti.
Sexo no tapete com Lavínia foi uma das coisas mais deliciosas que já
experimentei durante muitos anos. Por mim eu passarei a noite tendo ela
cavalgando meu pau de uma maneira única, sensual e provocante, capturando
para ela o melhor que eu tinha para dar.
— E seu amigo?... Paulo? — Questiono.
— Não. Pedro.
— Hum, Pedro. — Ela está na cozinha tirando os lanches das embalagens.
Vestiu minha camisa e me puni interiormente por ter gostado tanto de vê-la com
minha roupa. Jamais isso tinha acontecido e eu era o principal crítico de caras
que deixavam mulheres fazer isso.
Lavínia me entrega os refrigerantes e pega a bandeja com os sanduíches.
— Pedro está legal. Não foi mais à sessão de terapia, como eu havia te contado.
— Já deve ter caído no pau. Essa é a prova perfeita que você precisa para
entender que rola cura muita coisa. — Ela revira os olhos para cima e até ruge
levemente revoltada. — Será que se encontrou com Guilherme depois daquele
dia? Conheço o cara e ele é bem libertino, come geral.
— Ele ainda não me contou, e eu não vou perguntar, uma vez que ele não sabe
que eu já sei. — Ela me olha com pose investigativa. — Você é um machão todo
cheio de preconceito, mas tem amizade com esse tal de Guilherme.
— E quem disse que tenho preconceito? Só falo a verdade. — Nos sentamos
para assistir e comer. Lavínia não discute, fica calada comendo e assistindo.
Enquanto devoro com voracidade o X-tudo, ela se senta de lado, virada para
mim e não para a TV.
— Dei uma olhada sobre você na internet. — Ela fala.
— E...
— Achei seus irmãos lindos. Me conte sobre vocês.
O fato dela dizer que meus irmãos são lindos me incomoda levemente e me
faz dar uma resposta atravessada:
— Já não deu uma olhada na internet?
— Sim, mas não é a mesma coisa.
— Hum... — Espremo o pacotinho de ketchup em cima do sanduíche e dou
uma mordida. Lavínia me olha pacientemente enquanto mastigo e engulo tudo
com o gole de refrigerante. — Tem o Romeo, o mais velho. Vai se casar em
breve, mas já mora com a mulher e tem dois filhos. É CEO da nossa empresa.
— Lindo ele. — Ela comenta e eu ignoro isso.
— Lorenzo é o mais novo, se casou recentemente e acabou de ter um bebê;
trabalha com a gente na empresa e ajuda a esposa dele na Mademoiselle.
— Ah, é. Que legal. Eu vi mesmo que ele é casado com a Angelina Velasco.
Adoro as roupas da Madde. E aquele que estava com você no clube? Seu primo,
não é?
Mastigo e engulo antes de responder.
— Sim, Amadeo, meu primo. Tá morando aqui e está tentando uma vaga na
nossa empresa.
— Casado, enrolado...
— Meio enrolado. Está caidinho por uma garota. Ah! — Levanto um dedo e
sorrio ao lembrar de Kate. — A garota é louca por mim. Ou era, até tempos
atrás.
— O quê? Que garota? — A voz dela assume um tom mais alto, mostrando
alerta.
— A do meu primo.
— Sério?
— Aham. — Dou duas bocadas seguidas no sanduíche e mastigo com calma
apreciando os sabores. Ela não come, apenas me observa, em suspense.
— E aí? Comeu ela? — Coloca uma batata frita na boca, eu pego um punhado
com várias e enfio na minha boca.
— Não.
— Não comeu? — Agora ela se mostra mais interessada. — Por quê? Ela se
fez de difícil? Já pressinto que foi isso. E você, como não tem saco para essas
coisas, mandou ela passear.
— Não. Ao contrário. — Tomo todo o resto do refrigerante e abro outra
latinha. — Ela se jogou em cima de mim descaradamente o dia que me viu pela
primeira vez.
Lavínia bebe um gole da minha coca e franze o cenho para mim.
— Não entendi porque você não a pegou. Você gosta dela?
— Não. Quer dizer, gosto mas não no sentido de paixão. Ela é melhor amiga
da mulher do Romeo.
— Mas...
— Kate é especial. Eu vi no primeiro dia que ela é eufórica e se apega rápido
demais. Pra você ver, meu primo comeu ela durante uma semana e a garota já
gamou.
— Vixe, essa coloca o coração na foda. Grande erro.
— Por isso mesmo. Percebi justamente que ela é dessas. É gostosa, bonita, me
deu tesão mas vi que...
— É chave de cadeia.
— É. Sem falar que Romeo e Lorenzo gostam muito dela e seria meio
estranho eu comer, descartar e ficar encontrando-a sempre na casa dos meus
irmãos. Imagino o drama que mulheres como ela devem fazer se forem
rejeitadas logo depois da primeira transa.
— Boa escolha você fez. — Aponta uma batata para mim. — Mas será que
ela ainda gosta de você?
— Não sei se superou. — Ergo os ombros. — Nunca a tratei mal, sempre fui
muito gentil.
— Não quero saber de gentileza com uma garota que sonha em dar para você.
— E você por acaso é minha dona para mandar em alguma coisa?
— Cara, um mês, lembra? Então pode ir guardando o magnânimo bem
guardadinho na cueca.
Rindo, volto a morder o X-tudo.
Mais tarde, acordei assustado olhando em volta, me situando onde estava.
Senti que algo tinha mudado, e de alguma forma fiquei feliz de não estar no clube sozinho em meu quarto. Lavínia se agarrava ao meu corpo e sua pele
arrepiada indicava o quanto sentia frio. A sala estava gelada, além do mais
estávamos sem roupa sobre o tapete.
Desliguei a televisão e, sem que ela acordasse, peguei-a no colo e andei pela
casa até achar uma porta, entrar e me dar de cara com um belo e gigantesco
quarto feminino. Deitei-a na cama e, antes de qualquer outro movimento que eu
pudesse fazer, ela abriu os olhos.
— Você ferrou com a gente nesse exato momento. — Sussurrou.
— Eu sei. — Cochichei de volta e me enfiei no edredom com ela, abraçando-a
de conchinha. Eu estava ciente de que levá-la para a sua cama e dormirmos
abraçados era um patamar alto demais para fingir que tudo não passava de foda
de amantes.

Capítulo 32
Lavínia
Eu disse a mim mesma que não me importei quando acordei e Magno já tinha
ido.
Eu jurei para mim mesma que estava tranquila e achando a coisa mais natural
do mundo. Mas a quem eu queria enganar? Xana deitada ao meu lado? Não
mesmo.
Eu estava toda despedaçada por dentro, por diversos motivos e um deles era
sim por ter acordado sozinha com a gata ao lado que com certeza ele colocou.
Acabei de terminar um noivado e já sinto explosões de loucura por outro
homem e dessa vez é bem mais preocupante, porque com Felipe eu tinha minha
sanidade intocável e bem controlada, já agora com Magno eu não consigo pensar
em outra coisa que não seja ele por perto. Quero ficar conversando com ele,
poder tocar em qualquer parte do seu corpo enquanto come vorazmente, poder
rir de suas piadinhas ácidas e dormir juntos.
Eu até entendo completamente que ele precisou sair bem cedo, não por ter
algum compromisso, mas porque deve ter sido bem pesado para ele passar uma
noite na casa de uma mulher, fora de seu habitat, de seu território de domínio.
Magno não deve estar diferente de mim nessa manhã e posso até sentir, em uma
espécie de cumplicidade, essa fadiga que nos envolve.
— Olá, pequena. — Viro para o lado e caricio a gatinha. — Seu papai é um
idiota supremo que está fazendo a mamãe pirar.
“Miau.” — Ela se espreguiça.
— Isso aí. É justamente o que vou fazer. Ou seja, nada.
Não tenho nada para fazer a não ser deixar que o destino tome conta. Eu
poderia me proteger terminando tudo com ele, mas não conseguiria, em hipótese
alguma eu farei isso num momento que a única coisa que me interessa é transar
com ele.
Após tomar um banho e um café relaxante, me entrego ao ensaio. O concerto
será amanhã à noite e as músicas que escolhemos são mais para clássico, sem a
pegada pop que costumo apresentar. A música me domina e em um instante é
tudo que sinto: as notas formando a melodia. Todos os problemas e pensamentos
somem quando eu me uno ao violoncelo.
Almocei às duas da tarde, só quando eu tive certeza que eu e o violoncelo
estávamos falando a mesma língua Xana ainda é novinha e só come e dorme. Enquanto ela ocupava uma
almofada, eu cochilava ao lado até meu celular vibrar e eu dar um pulo. Era uma
mensagem, de Magno.
Mais que depressa apertei em abrir o aplicativo, nem passando pela minha
cabeça ignorar.
Sr. Tanque:
Como vai a Xana?
Rio percebendo o duplo sentido da pergunta dele.
Eu:
Está bem, descansando. Adora beber leite.
Sr. Tanque:
Disso eu já sabia. Essa Xana adora um leitinho.
Começo a digitar uma resposta:
Por que saiu tão cedo?
Digito, olho a mensagem e apago. Escrevo outra.
Não me chamou quando saiu.
Fico olhando o celular e apago a mensagem.
Vai voltar hoje?
Que merda, Lavínia. Deixa de ser tola. Chamando o cara para sua casa?
Apago.
Como está seu dia?
Reviro os olhos. Nenhuma mensagem que dê a entender que somos um casal.
Apago.
Como demoro a responder, ele manda outra.
Sr. Tanque:
Quer ir comigo a uma festa no sábado?
Eu:
Não. Nada de sairmos juntos.
Sr. Tanque:
O que tem a ver? É festa particular, você pode ir como minha amiga.
Eu:
Vou pensar.
Claro que quero ir. Só não vou falar isso.
Sr. Tanque:
Certo. Só me avise antes para eu confirmar presença.
Sr. Tanque:
Já comprei ingresso para seu concerto amanhã.
— Xana, vou para uma festa com o safado gostoso. Sou uma idiota mesmo, e
daí? Vai me julgar? — Falo com a gata e ela nem abre os olhos para me dar atenção.
Eu:
Nos vemos lá, então.
Sr. Tanque:
Sim. nos vemos. Um beijo na Xana.
Rio e envio um emoji de beijinho. Deixo o celular de lado e sem perceber
estou sorrindo para a televisão desligada. Como eu deixei que chegasse a esse
ponto?
À noite, dou uma passadinha na casa dos meus pais tendo que suportar o
drama sem fim do meu pai por eu ter tomado um caminho diferente do que ele
queria. Não estou com Felipe e muito menos na casa com eles. É triste não poder
fazer as vontades dele, mas sou adulta e preciso decidir o que é melhor para
mim.
Após me empanturrar com torta de maçã e imaginando que posso perder tudo
na academia, me dirijo para uma breve visita a Pedro. Conversamos rapidamente
pelo celular, mas preciso ver com meus próprios olhos se há alguma mudança
nele, após o encontro com o cara que Magno indicou.
Naquela noite na boate, ele chamou o homem, contou rapidamente tudo que
eu tinha lhe falado sobre Pedro e ele aceitou tentar interferir nos planos do meu
amigo para que não se mate nessas terapias ridículas.
Mas agora, estou com medo, porque não é certo eu agir dessa forma, tramando
pelas costas, mentindo para ele.
Pedro está sorridente quando abre a porta para mim. Isso me deixa aliviada.
Entro, olho ao redor e de volta para ele. Está de moletom, com os cabelos
bagunçados; no sofá um cobertor, um notebook e uma papelada. Ele corre para
juntar tudo.
— Sente-se, Lav. Estava trabalhando e assistindo.
— Não sei como você consegue fazer isso. — Me sento e ele pula ao meu
lado no sofá após tirar a papelada dali.
— Está serelepe, feliz. O que houve?
— Nada. Quer dizer... — Ele sorri se fazendo de tímido, colocando a mão no
rosto.
— O quê? Conte!
— Eu seria um mau amigo se não te contasse.
— Ai, meu Deus! — Exclamo. — Quero saber.
Ele faz um suspense mordendo o lábio, seu rosto fica mais vermelho que o
normal e então solta como um tiro à queima-roupa:
— Tive um encontro com um cara ontem.
Ai, que bom! Deu certo! — Comemoro em pensamento.
— Como é que é? Pedro! Sério?
— Calma. Não rolou nada, apenas amigos. Só amigos.
— Me conte mais, quem é?
Sou uma vaca. Eu já sei de quem se trata.
— Nos conhecemos semana passada naquela boate, e ontem ele me ligou. Na
verdade ele vem ligando a semana toda, e eu acabei aceitando tomar uma cerveja
juntos. Apenas isso.
— Mas e aí? Tem chance? Ele é gay?
— Sim. É bem bonitão, tem trinta e oito e é um empresário de sucesso.
— E vai deixá-lo apenas no âmbito da amizade?
— Ai, Lav... — Ele esfrega as mãos no rosto demonstrando o quanto está
mexido e confuso. Seguro sua mão e aperto-a.
— Pedro, não desperdice oportunidades. Pense em você, isso é o que você
quer?
— Não é sobre o que eu quero. Uma vez que eu fizer, não tem mais volta.
— E por que você teria que voltar? Quando a gente experimenta a felicidade,
não é necessário querer macha à ré.
Ele assente me encarando com tristeza.
— Me diga os prós e contras sobre esse cara. Vamos debater, isso sempre
ajuda.
— Sim. — Ele se anima, se senta sobre as pernas.
— Ele está interessado? Demonstrou interesse além da amizade?
— Sim. Muito. Ele me quer e deixou isso claro.
— Uau! Então o quarentão é direto. Isso é bom. O que mais?
— Gostoso nível ômega e se veste bem. Bem-sucedido, solteiro, não deve
explicações para ninguém, além de fazer dois tipos de luta para autodefesa e ter
quase um milhão de seguidores no Instagram.
— Por acaso você fez esse cara no The Sims? — Berro de verdade
impressionada. — Pedro, esse cara é o sonho de qualquer um.
Ele concorda com um tímido “sim”.
— Mas então, e você? O que sentiu por ele?
— Atração.
— Apenas?
— É difícil. Eu gostei de conversar com ele. Me contou muita coisa legal,
falamos sobre tudo e nem vimos o tempo passar.
— Faça uma coisa por mim, e por você principalmente.
— O quê?
— Continue sendo amigo dele. Apenas isso. Nem precisa ter mais nada, todavia, uma pessoa que possa te entender vai te ajudar muito. Pelo que contou,
ele é bem vivido, experiente e pode te dar conselhos.
— Tem razão. Pensei nisso. Nem fui na terapia por esses dias e o doutor que a
conduz já me ligou.
— Não vá mais. Que merda de terapia é essa que tocar em uma vagina vai lhe
fazer deixar de ser gay? Quer dizer que se um homem hétero tocar uma rola vai
passar a gostar? Isso é ridículo.
Pedro gargalha e em seguida fica de pé.
— Venha para a cozinha, vou preparar um chazinho para a gente. — Deixo
meus sapatos na sala e vou atrás dele. O apartamento de Pedro é modesto, mas
bem arrumado. A cozinha é toda planejada em vermelho e branco. Pedro sempre
teve bom gosto para tudo. Ele mesmo planeja e arruma.
Ele coloca água na cafeteira e eu sento no banquinho do balcão.
— Agora fale de você. Como está com o tal amante lá? — Pega as xícaras e
coloca diante de mim. — Aquele homem é um estrondo de tão gostoso, quase
me joguei em cima dele na boate.
— Você é um putinho safado. Fique longe do meu boy.
— Seu boy? Que vaca sem-vergonha! Já está nesse nível?
— Ele dormiu no meu apartamento essa noite. Transamos e comemos
hambúrguer.
Segurando um pote de biscoitinhos, ele se vira abruptamente.
— Valha-me, Deus! Lavínia, sua doida. Como deixou isso acontecer?
— Eu não sei, tá? Não sei mesmo como eu perdi o controle dessa forma. —
Deixo meu semblante cair em lamentação — Só não consigo dizer não. E ele é
muito insistente, vive na minha cola, como um cãozinho abandonado. E como eu
tenho coração mole...
— E boceta em brasas...
— Cala essa boca. Minha boceta não manda em mim.
— Quer dar para ele mais uma vez? Responda com sinceridade.
— Arrgh! — Rosno tampando o rosto e, quando volto a encarar Pedro, estou
com uma expressão sofrida. — Eu só penso em transar com ele.
— Faça o seguinte: mantenha o cara longe de qualquer aspecto íntimo. Longe
de sua casa, não deixe que ele faça amizade com seus amigos ou familiares e
nem converse muito. Apenas pá-pum. Chega, fode e sai. É a única maneira de se
manter intacta.
Entristecida, me vendo em um beco sem saída, confesso:
— Adotamos uma gatinha juntos, temos guarda compartilhada e vou a uma
festa com ele no sábado.
Pedro para com a jarra de água quente, me encarando perplexo.
— Uma gata? Sério? Já têm um pet juntos? Me chame para a cerimônia de
casamento, cadela libertina.
— O meu chá bem forte, estou precisando me acalmar.

Capítulo 33
Lavínia
Na noite de terça-feira, eu consegui apagar momentaneamente qualquer
preocupação da mente, porque eu tinha que me focar apenas no concerto daqui a
pouco.
No meu camarim, pronta para entrar, viro e encaro Pedro.
— Escolhi bem? — Giro exibindo meu vestido longo.
— Maravilhosa. Você sempre está poderosa nos concertos.
— Obrigada.
— Todos estão aí, seus pais, Isaac, Dante e Isa, Magno...
Suspiro quando ouço o nome dele. Não deixo transparecer no meu rosto e nem
digo nada que possa me comprometer.
— Vá e arrase.
— É o que sempre faço. — Pisco para Pedro e caminho para a porta.
Ao caminhar sobre o palco até o meu lugar, meu coração palpita de um modo
que não tinha sentido ainda todas as vezes que me levanto em um concerto.
Dessa vez tenho consciência da minha família e amigos aqui e dele... Magno.
Ele já esteve presente em outros concertos, mas em nenhum outro tínhamos essa
ligação feroz que nos impulsiona um para o outro.
Como sempre faço cumprimento a plateia e me sento com o violoncelo
apoiado na perna. Ele está na primeira fileira, como sempre em um local
privilegiado. Duas pessoas após estão meus pais e sei que não iriam gostar nem
um pouco de saber do meu envolvimento com outro homem em tão pouco tempo
de fim de noivado.
Fecho os olhos, acompanho mentalmente a introdução do piano e abro os
olhos no exato momento que passo a haste a primeira vez nas cordas do cello.
Me sinto viva. Tocar sempre vai me dar essa sensação divina de
arrebatamento. Meus poros se eriçam arrepiando como se fosse a primeira vez e,
sentindo essa saborosa plenitude, nada me dá medo.
Nada mesmo, nem meus sentimentos.
Após o concerto eu vou para meu camarim e visto uma segunda roupa, mais
confortável, e curta. Para receber alguns fãs. Aqui no Brasil não tenho tanto
assédio como lá fora em outros países, e eu devia esperar que o primeiro fã a vir
me ver seria Magno.
— Oi. — Ele sorri todo gatão em um terno preto delineando seu corpo grande, com as mãos para trás.
— Oi. — Meu coração acelera. Eu quero pular nesse cara toda vez que o vejo.
Ele vira as mãos para frente e exibe um enorme buquê com papel branco e
vermelho. — Para você. São coxinhas.
— Como é que é? — Berro rindo, chegando perto para conferir. — Magno! —
São coxinhas de verdade e ainda estão mornas. Coloco as mãos na boca.
— Você disse que se eu te desse coxinha eu a teria cinquenta por cento. O
resto eu posso conquistar com piroca e chantagem.
Fico sem reação ao ouvir isso. Não sou louca, eu entendi como uma
declaração de que vai tentar me conquistar. Eu poderia mandá-lo embora agora,
mas a única coisa que faço é receber o buquê de coxinhas.
— Obrigada! — Finjo que não escutei o que ele acabou de dizer. — Vou ter
que dobrar as horas na academia para perder toda essa caloria.
— Posso dar uma passadinha lá no apartamento, para te ajudar a comer ou a
perder caloria. — O canto do lábio sobe lascivamente, cheio de libertinagem.
— Não. — Rio e me viro, ainda me sentindo febril pelas palavras dele. Deixo
o presente na minha penteadeira.
Atrás de mim ele retruca: — Não posso ir?
— Não. Nosso trato é no clube e ponto final. E você vai dar o fora daqui agora
porque minha família está vindo e não quero que conheçam você.
— Por quê?
— Porque sim. — Viro para ele e Magno fica inacreditavelmente mais gato
quando sorri maliciosamente.
Ele se porta, quase sempre, como se não desse a mínima para nada, não
tivesse preocupação e sempre escolhe o lado pachorrento das situações. Seus
sorrisos de “foda-se” me cativam cada vez mais.
— Estou com saudade da Xana. Deixa eu ir visitá-la.
— Você colocou esse nome ridículo na gata para ficar fazendo essas piadinhas
infames. — Acuso-o sem conseguir esconder o sorriso. — Xana está ótima,
mandarei uma foto dela quando chegar em casa.
— Ótimo. Doido para ver o bigodinho da Xana.
— Ah, Magno, cala essa boca e saia daqui. — Empurro-o para a porta e ele se
deixa levar. Antes de sair me puxa e beija minha boca. Agarrando meu corpo,
pergunta: — Quer ir na festa comigo? Te garanto que não vai se arrepender.
— Sai. — Empurro-o. — Não me pressione. Vou pensar.
— Ingrata. Da próxima vez vou te foder tão forte que vai perder a fala. Mas
isso só vai acontecer quando você vier me procurar.
Meu corpo queima ao ouvir isso e dá até vontade de gritar para ele passar na
minha casa depois das onze, porque eu quero essa foda selvagem sim. Fecho a porta e rio para o buquê de coxinhas.
Essa peste desse homem é a tampa da minha panela. Desgraçado gostoso de
uma figa. Como vou poder me proteger desse veneno? Me sento de volta em
frente ao espelho e abaixo os ombros, cansada de lutar mostrando força, quando
tudo que quero é poder ter o sujeito por perto.
Minha família chega com meus amigos trazendo flores reais, me
parabenizando pelo excelente concerto. O buquê de coxinhas não passou
despercebido e eu apenas disse, sem querer dar importância, que era de um
admirador. Pedro logo soube a verdade vendo em meus olhos, já meus pais
garantiram que era de Felipe e isso fez a esperança deles aumentar.
Depois de dar uma rápida entrevista, fui para casa dos meus pais para um
jantar descontraído em família. Seria uma noite perfeita se acabasse em um
delicioso sexo com o rei de copas.
Magno não me deixou em paz nos três dias seguintes. Todavia achei estranho
que não forçou a barra para nos ver. Apenas me enchia de mensagens humoradas
e fim. Ele queria que eu cedesse e fosse atrás dele, isso era óbvio. Mas não ia
acontecer mesmo. O pingo de autocontrole que me restava não me deixou chegar
perto daquele clube. Era uma clara disputa de poderes, nós dois temos orgulho
de sobra e era o principal fator que atrapalhava o sexo.
Decidi ir na festa com ele no sábado e até lá fizemos jejum de três dias. Xana
era o único elo que nos ligava. E quando me dei conta, já estava apaixonada pela
gatinha preta dorminhoca.
— É festa de quê? — Isa pergunta ao telefone.
— Não sei. — Me olho no espelho. Um vestido tubinho na frente do corpo. —
Balada, na certa. Acha legal um tubinho provocante?
— Talvez. Como ele é?
Analiso o vestido que seguro.
— Tubinho, curto, tomara que caia, de renda azul.
— Fica bom com um dos seus milhares de saltos de marca.
Caminho até a cama, pego outro vestido e trago ao espelho.
— Ou um vestido nude, de alcinha e saia rodada na altura dos joelhos?
— Perfeito. Calce com um salto de cor.
Me sento na cama e olho desanimada para Xana ao lado.
— Nossa, amiga! — Digo à Isa. — Sou acostumada a me vestir para festas de
luxo em diferentes países, a escolher minhas roupas para os concertos, mas hoje,
que é apenas uma noite com um cara, estou sem saber o que vestir. — Lamento
me sentindo com treze anos.
— Vá de Lavínia Torres. Onde quer que ele vá te levar, você vai abafar. Quero
o relato completo na volta, você está me deixando de lado e se aliando só ao
Pedro.
— Claro. Você não pensa em outra coisa que não seja transar com seu marido.
Sua safada. Te ligo quando voltar, beijos.
Magno chegou às oito em ponto me fazendo admirar sua pontualidade. Pela
roupa que vestia, era mesmo uma balada. Estava de jeans escuro, botas pretas
estilo militar e camisa clara também jeans com as mangas arregaçadas até o
antebraço.
— Você está bonita.
— Obrigada. — Até sinto minhas bochechas corarem. Estou quase
acreditando que estou vivendo um casinho clichê.
— Mas... — ele passa por mim na porta — não se compara à gata mais linda
da noite. Eu seria injusto se não dissesse. — Abaixa, pega Xana e a beija. —
Xana, a gata das gatas.
— Idiota. — Volto correndo para o quarto, para terminar de arrumar. Amarro
meus cabelos em um coque alto e coloco brincos grandes de tema africano.
Minutos depois, saímos deixando a gatinha sozinha em casa. Como a adotamos
oficialmente, é hora de ajeitar serviços para ela, como veterinário, hotel de
bichos para quando formos sair...
Chegamos a um luxuoso condomínio e meu olhar de interrogação nem parece
preocupar Magno. O guarda da guarita o conhece, acena para ele e minha
confusão só aumenta a medida que vamos passando pelas belas ruas particulares,
bem iluminadas e com árvores bonitas.
— Que lugar é esse?
— A festa, ué. — Diz com a maior cara de pau.
— Que tipo de festa é, Magno?
— Festa com bebidas. — Tamborila os dedos no volante, despistando.
— Você disse que era uma festa particular, para eu vir com vestido de noite.
— Sim. E é. Você vai arrasar lá.
— Em um condomínio?
Como resposta, recebo apenas um sorriso amarelo de pessoa que está
aprontando e foi pega no flagra.
Eu abro a boca para berrar pedindo explicações, mas ele para o carro. Olho
para o lado e estamos diante de uma casa muito bonita. Há carros na frente e
pessoas entrando.
— Chegamos.
Aparentemente, é mesmo uma festa.
Será que é alguma daquelas festas de swing que passam nos realitys do Discovery? Estremeço só em pensar. Não quero transar com outro cara e muito
menos deixar que Magno transe com a esposa de alguém.
Desço do carro, ele dá a volta, abre a porta do fundo e quase me faz ter um
ataque ao tirar um dinossauro gigante roxo de pelúcia.
— Mas que porra é essa?! — Exclamo.
— Faz parte, venha.
Isso só pode ser loucura. Sigo-o e as surpresas da noite estavam apenas
começando. Do jardim todo iluminado, música infantil nos recebe, engulo seco
sentindo meu corpo gelar, Magno aperta minha mão e...
Puta que pariu. Eu vou matar esse filho da puta. Ele me trouxe em um
aniversario de criança!
Entro em pânico, mas é tarde demais para eu agir. Praticamente todos viram
nos encarando, reconheço os dois irmãos dele e Angelina Velasco.
O desgraçado me trouxe para conhecer sua família.
A sala está toda enfeitada de azul e vermelho, com a decoração do Homem-
Aranha. Letras grandes acima da mesa principal com o bolo com os dizeres:
“Parabéns Gael”.
— O que você fez? — Murmuro apenas para ele escutar. Com a maior cara de
pau do mundo, responde no mesmo timbre, só que em espanhol:
— Cumpleaños de mi sobrino.
Eu vou matar ele. Eu quero arrancar as bolas perfeitas desse imbecil.
Só me resta sorrir um tanto sem graça. As pessoas a minha frente parecem
estar vendo um fantasma e eu quase posso adivinhar que estão pasmos por
Magno ter vindo com uma mulher para um momento tão familiar e isso com
certeza é inédito.
— Lav, esses são Romeo e Lorenzo. Meus irmãos.
Lav? Esse cara deve estar bem chapado.
— Olá. — Cumprimento cordialmente. Os dois irmãos vão aos poucos se
refazendo do susto.
— Manos, essa é Lavínia Torres. — Ele chega mais perto dos dois homens e
cochicha: — Eu disse e vocês não quiseram acreditar.
— Olá, Lavínia. Seja bem-vinda. — Romeo tenta mostrar naturalidade. —
Magno falou de você.
— Falou, é?
— Sim, e muito bem.
— Na verdade ele fala de você desde uns dois anos atrás. — Lorenzo fala e
ganha um chute na canela acertado por Magno.
— Falando nisso, onde está o aniversariante?
— Ali. — Romeo acena e uma mulher mais velha se aproxima com um menino vestido numa roupinha do Homem-Aranha.
— Olha, o titio chegou. — A mulher fala e ele pula feliz no colo dela fazendo
festa por ver Magno.
— Olha o que trouxe para você. — Magno mostra o dinossauro gigante e o
sobrinho berra batendo palminhas:
— Dino!
— Por enquanto pelúcia, quando tiver dezoito, vai ter passe vitalício no clube
do titio.
— Só a mãe dele que não pode escutar isso. — Romeo ri e acena para uma
mulher, chamando-a para se aproximar.
— Vilma, essa é a Lavínia. — Lorenzo cutuca a mulher que estava com o
aniversariante. Agora ele já está no chão pulando no dinossauro de pelúcia. —
Está acompanhando o Magno.
— Oh, meu Deus! Minha querida. — Ela passa o olhar avaliador pelo meu
corpo me fazendo querer cobrir o decote de meu vestido. — Sou Vilma, a quase-
mãe.
Caramba! A quase-mãe. Magno me paga.
— Ah. Oi, Vilma.
— Se está aqui com ele é porque... é sério... entre vocês? — Ela tem um forte
sotaque espanhol. Mais do que Magno e Romeo.
— Não, Vilma. — Magno interrompe. — Lavínia é uma amiga.
— Xiu. Fique com os rapazes. — Ela manda Magno calar a boca e me segura.
— Venha, vamos conversar ali. Oly! — Grita para a mesma mulher que Romeo
chamou. — Venha aqui conhecer uma pessoa.
Magno faz um gesto de “não-posso-fazer-nada” e me deixa ser levada para um
grupo de mulheres. Não acredito que isso está acontecendo. A última coisa que
eu precisava é conhecer a família do cara e depois sair como a escrota que pisou
no coração do pobrezinho e o deixou. Porque eu sei que não há futuro além de
sexo para mim e ele.
E para piorar mais ainda, quase cuspo o refrigerante quando sou apresentada a
todas, inclusive a uma loira linda bem vestida, com um sorriso divertido: Kate. A
dita-cuja que arrastava um bonde por Magno.
Em que eu fui me meter, meu Deus?

Continua amanhã



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