Conto Erótico - Admirador Secreto - Capítulos 32, 33 e 34
🕴🏼🍷 Admirador Secreto 🕴🏼🍷
Série Anônimos Obscenos
CAPÍTULO 32
OLIVIA
Acordo espremida, bem apertada por braços e pernas. Faz calor, mas não um calor
insuportável. Um calor aconchegante. Romeo está pelado, quase todo em cima de mim. A
perna grande dele, cobrindo as minhas e os dois braços me prendendo, a cabeça abaixo dos
meus seios, como se eu fosse um urso de pelúcia que a gente abraça apertado.
Começo me mexer, tiro um braço dele da minha cintura e bem devagar, tento tirar a cabeça
dele de cima de mim. Puxo a parte do lençol que nos cobre, mas quando começo a me arrastar
para sair da cama, Romeo me puxa de volta.
— Nem pense nisso. — Ele murmura.
— Romeo...
— É sábado, vai dormir Oly. — Ele volta a me soterrar com seu corpo. Seguro forte os braços
dele e tento empurra-lo.
— Romeo, estou com fome... me deixe levantar. — Faço força para fugir, mas ele nem precisa
de muito para me segurar com os braços enormes em volta do meu tronco.
— Fecha os olhinhos e durma. Logo a fome passa.
Giro nos braços dele e ficamos de frente. Romeo entreabre os olhos, sorri muito sonolento, e
passa o nariz no meu.
— Durma amor, durma. — Ele beija minha testa e dá uns tapinhas de consolo nas minhas
costas.
— Não vai trabalhar hoje?
— Hum, hum.
— Hum, hum sim ou hum, hum não?
— Hum, hum vou te comer se não me deixar dormir.
— Besta. — Passo o nariz pelo peito dele, subindo para o pescoço sentindo o cheiro natural
dele mesmo, assim morninho, pela manhã. Está mesmo muito quentinho e aconchegante ficar
aqui deitada, mas meu estômago está roncando. Fico quieta, até sentir Romeo amolecer um
pouco mais.
Então minutos depois, com ele já ressonando, me afasto depressa e pulo para fora da cama.
Romeo acorda assustado, olha em volta e quando me vê já de pé, ele deita de novo a cabeça no
travesseiro, vencido.
— Ah não Olivia! — Ele bate o punho na cama, com raiva. — Volte aqui.
— Desculpa, eu prometi ficar até o último minuto na cama, mas estou faminta. — Dou as
costas para ele, visto minha camisola. Enquanto visto, Romeo pega o copo de água do lado,
bebe e torna a deitar de olhos fechados.
— Tá bem. Me dê meu celular aqui, tenho que ligar para Lorenzo. — Ele pede com o braço
nos olhos. Procuro em volta e vejo o celular em um móvel. Pego e levo até ele.
— Tome. — Estendo o celular, e em uma manobra muito rápida, Romeo puxa meu braço e eu
caio em cima dele.
— Romeo! — Dou um grito, mas já estou presa nos braços dele. — Você me enganou.
— E você também. Esperou eu dormir para fugir. Que feio Oly! — Ele rola e mais uma vez
estou por baixo. — O que eu disse que faria se não me deixasse dormir?
— Não sei... — dou uma de desentendida.
— Não sabe? — Romeo segura forte minhas mãos acima da minha cabeça, seu peito largo e
musculoso, espremendo meus seios, e começa a se esfregar contra mim, seu pênis já bem duro.
— Acordou a fera, agora vou te dar uma lição bem gostosa.
— Você fica tão sexy ameaçando com cara de sono. — Eu solto minha mão e passo pelas
costas dele, apalpando a bunda e a coxa que me prende contra o colchão. — Por isso que te
amo tanto.
— Ganho um tiro desse logo pela manhã. Você sabe fazer seu homem feliz Oly.
E lá formos nós dois em mais um delicioso e delirante sexo matinal. É viciante, a fome até
sumiu. Como sempre começamos na cama e terminamos no banheiro, debaixo do chuveiro,
gemendo agarrados com a água morna caindo sobre a gente.
Enquanto preparávamos o café, depois de Romeo aplicar a tal lição gostosa por eu ter tentado
levantar antes, acabei me lembrando de uma questão que não sai da minha mente desde ontem
quando encontrei Jaqueline no shopping e tivemos aquela catastrófica confusão. Lembrando
agora, eu fico envergonhada pelo que fiz, mas não me arrependo. Tentei ser civilizada até o
último momento. Mas quando ela perdeu totalmente o respeito por mim e ultrapassou todos os
limites, eu fiquei cega e devolvi o mesmo ataque. Ela está grávida, não pode ganhar uns tapas,
mas levar um copo de refrigerante gelado na cabeça é outra história.
— Hoje aquele pão com ovo seria bem vindo. Nunca senti tanta fome pela manhã. — Abraço a
cintura de Romeo, andando com ele para a cozinha.
— Então sente-se ali que vou alimentar minha gata faminta. —Ele aponta o banquinho do
balcão. — Está queimando muitas calorias antes de dormir e ao acordar.
Sinto minhas bochechas corarem com a insinuação dele.
Não me sento. Coloco água para ferver na cafeteira. Não gosto muito de fazer café nessas
coisas tecnológicas, prefiro a maneira tradicional, que envolve um coador de papel ou de pano.
Mas assim, na cafeteira, é bem mais rápido.
Romeo começa a pegar um monte de coisas na geladeira. No balcão há uma grelha embutida.
Ele já ligou e jogou um pouco de manteiga na grelha. Faz "shhhh" e o cheiro começa a tomar a
cozinha.
Abro a porta da cozinha para Pink entrar. Ela não consegue dormir dentro de casa, sente-se
claustrofóbica. E eu agradeço que a casa de Romeo tenha uma espaçosa área externa para ela
se divertir. Enquanto ela me deixa e vai fazer festa com Romeo, se esfregando nas pernas dele,
eu encho a vasilha dela com ração.
— Aqui Pink, sua puxa saco. — Eu grito, mas ela nem olha. Romeo está abaixado afagando-a,
deixando ela mais feliz.
— Vai comer, que a mamãe está com ciúmes. — Ele se levanta e vem com Pink para perto da
vasilha.
— Eu criei essa cachorra desde que nasceu, aí você chega com um sorrisão e seduz ela. — Vou
para a pia lavar minhas mãos. Romeo lava as dele também e me dá um beijo furtivo.
— Com o mesmo sorrisão que eu te seduzi. — Ele faz questão de me lembrar. E eu só posso
concordar com ele. É só ele sorri e eu já estou toda mole. Fico olhando ele desfilar com sua
calça- flanela-pecado, a bunda bem delineada e o andar másculo, um charme. Posso olhar ele
cozinhar vestido assim o dia todo.
Romeo é um homem multitarefas, ele cozinhando é um espetáculo. Acaba de jogar fatias de
bacon, salsicha e presunto na chapa. Com duas espátulas ele corta as salsichas rapidamente em
rodelas. O cheio toma toda a cozinha. Termino de fazer o café e me sento para assisti-lo. Foi
nesse instante que me recordei do acontecimento ontem no shopping.
— Jaqueline falou de Sônia com uma certeza... como se ela tivesse mesmo certeza que você
dois tiveram um caso. — Romeo está de costas para mim, pegando os pães, tipo baguete.
— Ela tem mesmo certeza. — confirma sem dar importância ao assunto.
— Romeo, se vocês tiveram alguma coisa, tudo bem, pode me contar. Não vou surtar. —
Então ele vira para mim, franze a testa como se duvidasse que eu acabei de falar isso. Traz o
café para o balcão e me encara.
— Não tive mesmo nada com Sônia. Mas Jaqueline prefere acreditar no pai. Foi a armação
conveniente para ele: colocou a esposa como uma vigarista e eu como um desgraçado traíra.
Fazer o quê? — Agora ele quebra dois ovos na chapa, tudo aquilo que ele jogou antes, já está
fritando misturado e picado, os ovos começam a fritar também e ele mistura tudo com as
espátulas, pega os pães e coloca esse recheio dentro.
— Hum... o cheiro está maravilhoso! — Exclamo quando pego o prato com os pães que ele me
estendeu. Romeo vem, se senta ao meu lado e coloca café nas canecas. Eu já tenho minha
própria caneca nessa casa. Na verdade me sinto em casa como nunca senti morando em outro
lugar. A cada hora de cada dia, Romeo procura fazer com que eu me sinta mais em casa. E não
tem como ser diferente, já tenho até um lado da cama. Entretanto quase nunca usamos os
lados, sempre dormimos agarrados, no meio, dividindo um travesseiro.
— Acha que Jaqueline teve alguma coisa a ver com o sumiço de Sônia? — Pergunto isso, pois
durante nosso encontro ontem, a raiva com que ela falava, é como se fosse, sei lá, uma
culpada.
— Não. Por mais que seja neurótica, ela não faria isso. Foi o pai dela. Falando nisso, eu
contratei seguranças para ficar aqui e te acompanhar em qualquer lugar que precisar ir. E amanhã mesmo atualizarei o sistema de segurança da casa. Kate decidiu sair do hotel e vai
ficar com os pais.
— Pra que tudo isso? Não preciso de segurança.
— Precisa sim. Se for ali levar Pink para ver a rua, vai precisar de segurança. Já que eu não
poderei ficar vinte e quatro horas te protegendo. — Ele olha o sanduiche e dá uma mordida.
Faço o mesmo com o meu. Apesar de achar desnecessário essa coisa de seguranças, eu não vou
me meter, afinal nem saio de casa mesmo.
— Acha que Ludovico pode tentar algo conta mim?
— Sim, Oly. Lembro como Sônia sumiu de repente sem deixar rastro.
— Mas ele pode ter feito aquilo com ela, por medo de ela tomar alguma coisa dele. Eu não
quero nada dele.
Romeo bebe um gole de café e me olha bem sério.
— Para ele não será mais só sobre dinheiro. Eu fodi com a vida dele, acabei com a empresa, fiz
os dois filhos se virarem contra ele e ainda roubei a esposa dele. É muito para um homem.
Toquei no ego dele.
— Nossa, então vou ter que ficar até quando sendo seguida por seguranças e vigiada vinte e
quatro horas?
— Não sei. Eu achava que você estaria livre após o divórcio, mas não quero arriscar. Vamos
esperar para ver. — Ele me dá um beijinho e voltamos a comer, calados.
{...}
Passei o resto do dia com isso na cabeça. Depois do almoço, Romeo me chamou para me
apresentar aos dois homens que serão os seguranças. Um branco mais velho, com cara de
sargento de polícia que se apresentou como Wagner e o outro, negro, bem mais novo, também
com cara desse pessoal militar, se apresentou como Odilon. Segundo Romeo, os dois são
amigos de Magno.
Ambos revezarão na parte da frente da casa. Se alguém, que não for Romeo ou Vilma, chegar, eles vão interfonar para eu ou Romeo liberar a entrada da pessoa.
Fiquei muito constrangida diante dos dois homens muito altos e fortes. Me deu algo como
medo, não deles, mas do que estava acontecendo comigo a ponto de precisar de homens na
minha cola para me defender.
Depois que eles saíram, fiquei mais a vontade e para relaxar um pouco liguei para Kate para
vir nos fazer uma visita. Ela sempre me anima e está doida para vir me ver para saber mais
sobre minha briga com Jaqueline. Eu liguei ontem para ela, contando tudo.
Quando ela chegou, Romeo nos deixou sozinhas e foi para o escritório.
Contei para Kate as novidades recentes, mas ela queria saber apenas duas coisas: sobre minha
briga com Jaqueline e sobre os dois seguranças que iriam fica na casa.
— Será que o Romeo não filmou você correndo atrás da vaca lá no shopping? Meu sonho era
ter visto.
— Não. Foi no impulso. Nem ele acreditou no que fiz.
— Eu que não acreditei quando você me ligou contando. O que posso dizer da égua que nem
conheço, mas já odeio pacas?
Dou uma risada e me levanto do sofá.
— Venha, vamos para a cozinha que eu vou preparar coisas pra gente comer.
— Seria muito pedir coisa doce? Minha glicose está baixa só em ficar olhando para essa foto
do Romeo e dos irmãos dele. — Reviro os olhos sem ela ver.
Ela me segue e eu me lembro de algo que não devia contar mas vou contar para mostrar que
não sou uma amiga egoísta que não ajuda ninguém.
— Kate, senta aí. Vou te contar uma coisa, mas você não me apareça aqui.
— O que é? Conta logo.
Olho para ela já ansiosa. Dou as costas e vou para a geladeira ver o que posso fazer.
— Olivia! Conta logo! — Começa a fazer birra. Coloco meu dedo na boca pedindo para ela
fazer silêncio. Corro para perto e falo: — Romeo vai fazer churrasco amanhã, disse que é especialidade dele e tal e adivinha quem vem? — Nem espero ela tentar adivinhar e já falo: —
Magno e Lorenzo.
Ela arregala os olhos e dá um sorriso medonho, puro psicótico.
— Ah, pode faltar carne nesse churrasco, mas eu não vou faltar.
— Kate, eu pedi para você não aparecer! — Protesto.
— Por quê? Quer os três só para você? Não né? Você já tem. Então deixa eu cuidar da minha
vida em paz.
— Não é isso sua louca. Lembra da Vilma? É a mulher que eles consideram uma mãe. E ela
estará aqui. Não quero você se jogando em cima de um dos dois na frente dela.
— Vilma é "sussa". Aquele dia eu me joguei para o Magno e ela ficou rindo.
— Sussa? —Questiono sem entender o que é isso.
— Tranquila, sossegada. — Kate joga os cabelos de lado. — Agora me conte tudo sobre esse
tal churrasco. Quero chegar Diva abafando.
— Kate, não vá fazer nada! Eu fico sem graça. Venha mas prometa se comportar.
— Prometo. — Ela beija os dedos e dá uma piscada bem maliciosa.
— Por que eu não acredito em você, Kate? — Viro as costas para ela desanimada e vou pegar
umas coisas para fazer um bolo de chocolate.
{...}
Magno apareceu bem cedo no domingo. Eu contei a Romeo que Kate viria e ele achou ótimo.
Pedi desculpas, disse que não queria causar mal estar e ele me tranquilizou dizendo que ela
seria sempre bem vinda. É um grande salto para mim, Ludovico proibia a ida de Kate em nossa
casa, já Romeo, como um homem normal e decente, aceita minha melhor amiga. Por que
Romeo é outro nível.
Magno chegou às nove, e pouco depois Vilma chegou com Lorenzo. Deixamos os três na casa
e fomos ao supermercado comprar algumas coisas. Foi mais que maravilhoso ir a um
supermercado depois de tanto tempo e não só por causa disso, mas por que foi com o Romeo.
Eu sei que não deveria sentir o ego nas nuvens, afinal é coisa de pessoas sem noção, mas eu
me senti um pinguinho arrogante por estar com um homem tão lindo e saber que ele é meu. E
só para deixar claro, eu ainda me pergunto até hoje o que fiz para merecer uma pessoa tão boa
para mim, como ele é.
Quando chegamos do supermercado, Magno e Lorenzo estavam seminus na beira da enorme
piscina. Os guarda-sóis estavam armados, as espreguiçadeiras abertas e Pink se espreguiçando
ali na grama. Fiquei tão sem graça de ver aqueles corpões bronzeados, malhados, com apenas
um short de banho cobrindo.
Magno se parece mais em corpo com o Romeo. Tem um pouco de pelos negros no peito, a cor
da pele é parecida e a altura deles também. Já Lorenzo é um pouco mais claro que os dois
irmãos mais velhos e tem tatuagens. Nunca tinha visto um homem tatuado, assim ao vivo, tão
perto. Quer dizer,eu nunca tinha visto mais de um homem seminu, assim, tão perto. Tento não
ficar muito enrubescida e dar na cara que estou sendo uma tonta. Se eu pudesse compartilhar
meus pensamentos com Pink, nesse momento, eu diria que agradeço por estar com o melhor
dos três. Meu Romeo, ganha disparado.
— Mas quem é ela? A primeira que você pega por mais de um dia. — De onde estou, ajudando
Romeo com as carnes, perto da moderníssima churrasqueira, posso ouvir o papo dos dois. Essa
é a voz de Lorenzo. Cada um já está com uma cerveja que trouxemos do supermercado.
— Pois é. É a primeira que pego mais de duas vezes. — Magno responde com sua costumeira
pose esnobe. — Mas já deixei de lado.
— Mais de duas? — Lorenzo berra com uma voz muito pasma. Até Romeo levanta os olhos e
presta atenção na conversa. Pelo olhar dos irmãos, parece que é mesmo uma coisa rara de se
acontecer. É melhor esse cara ficar longe da Kate.
— Ela é gata, estava necessitada, tinha acabado de se casar e não sabia nada de nada. Aí eu
resolvi ensinar, fazer uma caridade, sabe?
— Uma desconhecida?
— É.
— Nunca tinha visto? — Lorenzo insiste, sem acreditar na situação. Eu também não acredito
que alguém vai para a cama com outra pessoa assim, sendo desconhecidos.
— Não.
— Eu poderia imaginar. — Lorenzo abana a cabeça desdenhando — Você só pega
desconhecidas.
— Meu pequeno maninho caçulinha, ouça a voz da experiência: comer mulher desconhecida é
igual mijar na rua. Você sabe que não deve, mas a vontade prevalece.
— Ei vocês dois! — Romeo grita, num tom de bronca. Eles olham para trás, em direção da
gente.
— Oly, chega aqui cunhada. — Magno faz um gesto me chamando — venha beber um pouco,
prosear, colocar um biquíni... tá muito vestida.
— E sua cara tá precisando de um olho roxo. — Romeo esbraveja. — É Olivia para você. —
Os dois riem da cara de Romeo que mantém a cara de poucos amigos. — Vou escorraçar os
dois daqui.
— Desculpa chefe. Vamos Lorevaldo, dar um mergulho. — Magno se levanta, estica o corpo,
os braços acima da cabeça, joga os óculos na espreguiçadeira, tira o short e eu quase saio
correndo.
Sei diferenciar uma sunga de uma cueca. E aquilo não é sunga. Ele ajeita as pernas da cueca
boxer e pula na água num salto perfeito, seguido por Lorenzo que preferiu continuar com o
short.
— Quer dar um pulo agora ou vai me esperar? — Romeo pergunta, sua atenção toda na carne
que ele acabou de colocar na grelha da churrasqueira.
— Quando você for. — Não penso um segundo para responder. Lógico que não entro ali nem
morta.
— Está com vergonha deles? — Ele sorri meio de lado, decifrando meus pensamentos.
— Um pouco.
— Eles parecem otários, mas são legais. Sempre vem nadar aqui, por que eu sei cozinhar. Ai já
viu né? Carne, piscina e cerveja. Relaxando as minhas custas.
— Acho legal essa interação de vocês. Como irmãos, são bem unidos.
— É. Magno e eu somos mais vinculados. Isso tudo aí do Lorenzo, é fachada. Ele é mais
distante, coloca uma máscara de gente normal para viver em sociedade.
— Por quê? — Olho para Lorenzo lá na piscina e de volta para Romeo. Ele dá de ombros e
fica calado. Puxa uma cadeira, se senta e puxa outra ao lado para eu me sentar. Abre um
refrigerante, me entrega e pega uma latinha de cerveja para ele.
— Aconteceram coisas terríveis com ele. Coisas que nem me atrevo a falar. Me dói só em
pensar, por que eu poderia ter tentado impedir, mas não fiz nada.
— Sério?
— É... — Romeo suspira e me olha, depois volta a olhar fixamente para os irmãos
mergulhando na piscina — esse cara aí, tem tanta coisa dentro dele que acho forte pra caramba
ele continuar a vida, tentando disfarçar. A única pessoa que conhece as profundezas dele é
Vilma.
— Credo Romeo. Olha só me arrepiei. — Mostro meu braço arrepiado — Teve a ver com a
morte dos seus pais?
— Não. A vida dele começou a desandar aos trezes anos. Era criança ainda, ele teve uma
depressão tão desgraçada na época que achamos que ia morrer, o motivo da depressão? O
melhor amigo dele... ih, olha lá quem chegou. — Romeo para de falar e aponta para Vilma
vindo acompanhando Kate.
— Depois você me conta. — Bato na coxa dele e me levanto depressa. Vou receber Kate que
já entra com cara de obcecada.
— Oly amiga, me dê um chute, pois beliscão só não vai resolver. Estou vendo uma piscina
cheia de homens gostosos nadando e nem é olimpíadas.
— Kate, você prometeu se comportar. — Murmuro bem perto do ouvido dela.
— Claro. Vou ser educada. Agora me dá licença que eu vou cumprimentar as pessoas, como
minha boa criação manda. — Fico olhando ela desfilar muito elegante, na sua saia curta e
blusa bem fininha por cima do biquíni, em direção a Romeo. Vou correndo atrás dela.
— Oi Romeo. — Kate cantarola.
— Oi Kate. Sente-se, tome alguma coisa.
— Estou bem, obrigada.
Ela se vira para mim e cochicha: — Não acredito que estou num churrasco, em uma mansão
junto com os milionários. — Romeo escuta e ri balançando a cabeça, prestando atenção nas
carnes. Lá na piscina, os dois já estão cientes da presença de Kate. Lorenzo é o primeiro a sair.
Balança os cabelos, passa as mãos pelo corpo e olha intrigado em nossa direção.
Ai meu Deus! A cara dele não é boa. Será que não gostou da presença de Kate? Ele vem
andando e começa a sorrir, seu semblante se ilumina em segundos então lembro o que Romeo
me disse, que ele coloca máscara para viver em sociedade. Eu acho que os dois segundos que
vi, de semblante carregado, foi a verdadeira face dele.
— Oi. — Ele cumprimenta Kate. — Kate não é isso?
— Isso. — Ela responde tão feliz que é perigoso os lábios rasgarem com o sorriso.
— Me dê licença um instante. — Ele se afasta e pega uma das toalhas dobradas em uma
mesinha perto das espreguiçadeiras. Magno sai da piscina e noto os olhos de Romeo se
arregalando.
Acho que só agora ele percebeu o irmão de cueca. Magno vem todo molhado, galante, uma
sobrancelha sugestiva e um meio sorriso sensual nos lábios. Kate está quase evaporando.
— De cueca? — Romeo sussurra e Magno entende. Faz um gesto para Romeo de "e daí?" Em
seguida, foca na minha amiga que precisa de um babador.
— Oi. — Ele cumprimenta de mãos na cintura, se exibindo de propósito.
— Oi. Sou a Kate, lembra?
— Claro que lembro. A stalker que queria saber meu perfil na internet. Descobriu qual meu
arroba? — Eu ouço isso e fico dura, provavelmente sem um pingo de sangue. Romeo olha de
lado, para o irmão, com um aviso expressivo nos olhos.
— Já encontrei. — Kate murmura.
— Eu percebi.
E pronto. Os dois ficam calados, de sorrisinho se olhando. Se encarando por dois segundos
antes de ele se afastar e pegar uma toalha.
— Tenho sungas, vá pegar uma. — Romeo alerta Magno que parece aceitar a ordem e entra na
casa.
E graças a Deus, não tivemos maiores contratempos. Kate se comportou. Não ficou se jogando
em cima de ninguém, claro que também não deixou de ir puxar papo com os rapazes. Eu não
acreditei quando ela se despiu e pulou na piscina, na verdade entrou pela escada se fingindo de
elegante. De onde eu estava com Vilma, podia ver a cara de tarada dela, olhando para Magno,
para onde quer que ele fosse. E tenho que concordar com ela, o homem tem presença
marcante. As pernas, as costas os braços, é tudo bem firme e grande.
Eles dois quase não falaram de suas vidas. Mas Kate contou para todos da vida dela e da
minha. Sobre quando estávamos no colégio, sobre ela ter trancado a faculdade para tentar
salvar a livraria do pai, que estava doente e não podia mais conduzir e contou que amanhã,
segunda-feira, eu vou me libertar do Ludovico. Depois almoçamos e Romeo e os irmãos
explicaram como funciona a empresa deles. E eu toquei num assunto que deixou um clima
meio pesado entre os irmãos.
Não entendi por que. Eu apenas disse: — Kate, Romeo disse que pode conseguir um emprego
para mim na Madde. Nesse instante Lorenzo quase morre engasgado. Magno deu uns tapas nas
costas dele. Vilma, Kate e eu ficamos olhando alarmadas. Quando ele ficou bem, Kate gritou
histérica.
— Naquele luxo? Com aquela tal que você ama?
— É. A Angel, a diva da moda. Só vou precisar de dois segundos perto dela para falar o quanto
eu a admiro, pelo trabalho, pela força e por tudo. Melhor pessoa do mundo. — Notei na hora
que os irmãos se entreolharam e ficaram os três de cara fechada, e para meu espanto, Vilma
também ficou de cara amarrada. Pouco depois, Lorenzo cismou de ir embora, Magno se
despediu e foi logo depois, antes de sair disse que estava sem celular no momento, mas pediu o
número de Kate. Ela segurou a mão dele e escreveu o número ali. E ele nem deu o próprio
número para ela.
Mais tarde, quando todos foram embora, eu perguntei a Romeo o que houve no almoço. Mas
ele disse que não era nada, que Lorenzo gosta de dormir domingo depois do almoço e se
apressou a ir embora por isso.
E quando estávamos sozinhos, pulamos na piscina, só nós dois e Pink ali deitada olhando para
a gente.
— Foi bom? — Ele me abraçou e eu abracei o pescoço dele para eu não afundar.
— Foi ótimo! Seus irmãos são muito legais.
— Só meus irmãos?
— Só seus irmãos, pois você está num patamar bem maior que "ótimo".
— Te adoro muito. — Ele falou, me beijou e nos afundou na água. Eu nem fiquei apavorada,
continuei beijando-o até subirmos de novo.
Kate disse que amanhã eu terei minha liberdade, mas eu já me sinto livre agora. Amanhã será
apenas uma parte legal disso tudo, quando eu assinar e ficar legalmente solteira de novo. Na
verdade me sinto livre desde o dia que comecei a abrir a porta para Romeo entrar lá na casa do
Ludovico.
Não importa nada que ele tente fazer, jamais poderá tirar esse maravilhoso sentimento de mim.
CAPÍTULO 33
OLIVIA
Eu quase nem dormi direito a noite. E pelo visto Romeo também não. Ele levantou primeiro
que eu. Às seis da manhã eu abri os olhos e ele não estava ao meu lado. Como é dia da semana,
segunda-feira, achei que ele tivesse ido trabalhar, entretanto após ver as horas, notei que ainda
era muito cedo. Fiquei deitada, olhando para o teto, com o peito saltando de ansiedade. Hoje
provavelmente será um dia longo. Hoje verei Ludovico depois de todo esse tempo, também
tenho que encarar meu pai e Jaqueline que estarão lá possivelmente. Com vontade de ficar o
dia todo na cama, imóvel só esperando esse dia acabar, eu rolo para o lado, sinto o cheiro de
Romeo, abraço o travesseiro e de olhos fechados torço para que o otimismo seja maior que o
medo. Lembro-me de Kate dizendo que estará lá para me apoiar. Bom, na verdade ela disse
que está indo ser meu carro de guerra. Só ela para me fazer sorrir. Ela e Romeo.
Me levanto, visto a camisola, o robe e vou ao banheiro. Depois saio para verificar se estou
sozinha em casa, o dia ainda está meio escuro. Nem preciso procurar muito, quando desço as
escadas e passo na sala, já posso ver pelas vidraças, Romeo lá dentro da academia, como um
louco batendo num saco de pancadas. A música deve estar muito alta, pois está vindo aqui,
mesmo com tudo fechado.
De braços cruzados, no mesmo lugar, assisto daqui, de longe, ele enlouquecido atacando com
todas as suas forças o saco de pancadas. Abro a porta da sala, o ar frio da manhã me recebe,
aperto o robe, passo pela área da churrasqueira, pela piscina e abro a porta da academia. A
música é barulhenta e em inglês, fecho a porta e caminho até ele me ver pelo espelho a sua
frente. Na mesma hora Romeo para de socar e encosta a testa no saco suspenso. O corpo todo
dele se mexe por causa da respiração difícil. Está molhado de suor, usando apenas um calção
largo, tênis e nas mãos um tipo de faixa. Eu nem penso dois segundos, o abraço por trás.
Romeo tira algo do bolso, aponta para alguma coisa e a música para. Ele se vira e me abraça de
frente, encosto o rosto no peito quente e suado.
— Você precisa se acalmar para eu não surtar também. — Peço. Os músculos dele parecem
muito mais duros e estão tensionados, as veias saltadas.
— Eu só ficarei calmo quando a noite de hoje chegar e você ser minha sem impedimento algum.
— Vai dar tudo certo. — Levanto os olhos e acaricio o rosto dele. — Eu não vou a lugar
algum. Nem agora, nem a noite e nem amanhã.
Ele me beija de leve e volta a me abraçar forte. A testa grudada na minha. Romeo está abalado,
o coração dele bate depressa e eu sinto um medo palpável vindo dele. Me arrepio toda, sinto
um calafrio que vai certeiro na espinha. Sei do que ele tem medo, sei que ele não quer falar
isso e nem eu quero, pois se falarmos, a sensação é que parece mais real. Porém ele tem medo
de que Ludovico possa fazer algo contra mim... não alguma coisa qualquer, mas alguma coisa
como fez com Sônia, alguma coisa que cumpra o que a cigana viu: Sem futuro.
Saímos, tomamos banho juntos, sem sexo, apenas banho, carinhoso. Ele me ensaboou com
muito cuidado, com seus olhos meio vidrados fixos em meu corpo. Depois saímos, fizemos
café juntos e ele foi trabalhar.
Hoje os seguranças já estavam trabalhando e vi Romeo conversando com um deles antes de
entrar no carro. Nem fiz almoço.
Não tinha cabeça para fazer nada, apenas sentar e ficar esperando, como na sala de espera de
um consultório. Pink e eu caladas, ela entendeu meu receio e deitou no sofá com a cabeça no
meu colo.
Meio dia Romeo chegou. A audiência está marcada para às duas e meia da tarde, ele veio e
pareceu um pouquinho aliviado quando entrou na sala e me viu em frente a TV.
— Oi. — Ele sentou ao meu lado e se curvou para me beijar. Sinto meu peito subir e descer
por causa daquela respiração longa que todo mundo costuma dar. — Demorei?
— Não. Me distraí aqui, com a TV. — Minto. Estava contando os segundos para ele chegar.
Ele olha para a televisão, pega o controle e desliga.
— Tem minha atenção?
— Claro. — Me viro no sofá, ficando de frente para ele.
— Eu comprei comida, está ali na cozinha. Mas antes quero te mostrar uma coisa.
— O que?
Ele pega uma maleta alta, retangular, como uma caixa de maquiagens. É toda de veludo azul e tem um fecho muito bonito.
Romeo coloca a caixa entre a gente.
— Oly, eu já te dei roupas, sapatos e lingeries...
— Romeo... eu não...
— Não, espere. — Ele interrompe meu protesto. — Eu não dei essas coisas a você por que
quero te comprar com presentes, ou em troca de alguma outra coisa. Eu já tinha você antes de
dar qualquer sapato. Sabe disso não é?
— Sim, eu sei.
— Eu te dei todas aquelas coisas por que você entrou numa nova vida e eu queria que viesse
sem bagagens, material e emocional, uma nova vida, com novas coisas.
— Não precisa gastar comigo. Sou uma pessoa simples Romeo. Como eu já te disse: ter você
basta. — Ele dá um sorriso muito lindo que me derrete, como sempre. Ele sempre vai me
derreter com esse sorriso.
— Mas como eu também já te disse, não é uma tarefa fácil, pois o Romeo aqui, vem com todos
esses presentes, com essa casa, com um emprego para você na empresa que você mais ama.
Quero te dar tudo que perdeu nos seus outros anos Oly.
E eu abro a boca chorando. Não copiosamente. Inclino para frente e enfio o rosto no ombro
dele. Os braços dele me aninham num conforto que me faz derramar mais lágrimas.
— Ah, não faça isso — balbucio — eu nem lembro mais da minha outra vida. E nem quero me
lembrar.
Ele levanta o meu rosto e passa os dedos nas minhas bochechas limpando as lágrimas.
— Chorona. — Me brinda com o costumeiro belo sorriso, de dentes bonitos e lábios
apetitosos, me beija e me faz ficar de coração na mão. Amo esse homem!
— Hoje é o dia que marca o fim de um ciclo para você. E por isso quero te dar isso. — Ele
mostra a caixa. — Faz dias que eu encomendei e quero que você olhe para cada uma sabendo
que eu tive o prazer de escolher pessoalmente peça por peça, cada uma, por mais pequenina
que seja. — Ele abre o fecho e a caixa se abre em duas partes e em seguida em mais duas
partes. É uma caixa de Jóias repleta. Com as duas mãos na boca, eu olho para tudo aquilo milimetricamente ajeitado. Anéis, pulseiras, dois relógios e alguns brincos.
— Romeo... meu Deus, eu... não...
— Olivia, dessa vez será uma ameaça mesmo, se você não aceitar, eu te levo lá para a cama e
farei você aceitar cada uma dessas Jóias, aos gritos. — Ele promete numa voz macia, baixa,
mas cheia de imponência.
Ainda com as mãos na boca, meu susto dá lugar a alegria sem fim. Sinto minhas bochechas
forçarem pelo riso que vem vindo.
Quero me fazer de durona, mas sou tão fácil, quero matar ele de tanto abraçar e beijar. Não
pelas Jóias, mas por ser tão meu, quando mais preciso.
— Você me ameaçando assim, todo lindão de terno e gravata, não é menos sexy que me
ameaçar de manhã com cara de sono.
— Puxo a gravata dele para beijar, Romeo recebe o beijo por pouquinho tempo e me empurra
gentilmente.
— Sua resposta Oly. Preciso saber se vamos duelar lá na cama agora. Ver quem acaba com
quem primeiro.
— Eu poderia não aceitar essas Jóias só para ver esse tal duelo, mas sei que aceitando ou não,
vamos nos acabar na cama, então, eu vou aceitar.
— Ótimo. — Ele fecha a caixa, joga de lado e me empurra no sofá, caindo em cima de mim.
— Uma rapidinha antes do almoço, tudo bem?
— Acho que é o que precisamos para relaxar.
Dez minutos para as duas, saímos de casa. Calculando o tempo no trânsito, chegaríamos quase
na hora. Escolhi um vestido lindo, azul marinho quase preto, com mangas e sem decotes; bem
comportado para não terem o que falar de mim. Coloco um relógio e uma pulseira que Romeo
deu, deixei o cabelo solto por que Ludovico precisa ver, como eu sou nova, cheia de vida ainda
e como estou mais bela depois de ter saído das garras dele. Durante o percurso, Kate nos ligou
dizendo que tinha chegado. Romeo e eu não falamos muito.
Pelo nervo saltado no maxilar dele, dava para ver como estava nervoso.
Na verdade, nós poderíamos ter feito uma reunião, em algum lugar, sem precisar de juiz. Mas tenho uma ordem de restrição contra Ludovico, o caso envolve mais que apenas aperto de
mãos.
Entramos no local onde será realizada a audiência. De mãos dadas, Romeo e eu já encontramos
Kate em um sofá, logo na entrada. Ela se levanta e vem até a gente.
— Ludovico chegou com uma gangue. — Ela avisa para mim. Sinto meu coração palpitar. Só
tenho uma pergunta para fazer: — E meu pai?
— Não vi. Acho que não veio.
Graças a Deus! — agradeço interiormente.
— Tudo bem. — Olho para Romeo — Vamos?
— Vamos. — Romeo assente e nós três andamos rumo às escadas.
Romeo pediu informação e fomos conduzidos a uma sala grande, de fora eu já podia ver que
era uma sala de espera e lá já estavam todos eles sentados aguardando, prontos para um
combate que não teria. Eu já vou entrar de bandeira branca. Segundo Romeo, eu devo aceitar
qualquer acordo, ou melhor, não criar acordo algum. Entregar tudo, não exigir nada. E é
justamente isso que quero. Kate disse que eu deveria arrancar tudo de Ludovico para ele pagar
pelo que fez, mas ele já está pagando.
Romeo segurou forte minha mão, ergui minha cabeça, elaborei uma cara de poucos amigos e
entramos. Na mesma hora Ludovico se levantou. Ele sorriu raivoso, trincou os dentes, mordeu
a boca transtornado de raiva. Seus olhos passaram pelo meu corpo, me viu de salto altíssimo,
Jóias caras e vestido de marca. Estou maquiada e com um belo homem ao meu lado e claro
com Kate, que ele odeia muito. Jaqueline também fica de pé e eu penso que a raiva dela é
maior, depois de ter levado refrigerante e pipoca na cabeça.
— Mas é uma pouca vergonha mesmo. Devia se dar ao respeito, interesseira. — Ela fala isso
comigo, olho para Romeo ele dá uma piscadinha para mim, me confortando, então viro as
costas para ela e o pai e vou cumprimentar o advogado que Romeo contratou para mim.
— Olivia, a fulana falou com você. Não vai responder? — Essa é Kate que não leva desaforo
para casa.
— Está tudo bem, Kate. — Toco no ombro dela e me sento ao lado de Romeo. Ele pega minha
mão, beija e segura no colo dele.
Estamos de frente para Ludovico.
— Vejo que a galinha já está afiando as unhas na sua carteira não é Romeo?
— Gente! Ninguém vai dar na cara dela? — Kate berra descontente com nossa reação pacífica.
— Não vale a pena.— eu cochicho para Kate.
— Ao menos tenho uma carteira para ela afiar as unhas. — Romeo rebate. Acho que assim
como Kate, não ficou satisfeito com o que ouviu de Jaqueline. O silêncio reina até Ludovico
resolver quebrar.
— Foi quando? Lá no baile quando dançaram? — Ludovico pergunta. Está nos olhando sem
piscar, com um olhar mortífero.
Kate dá uma gargalhada meio baixa, cínica.
— Quando eles dançaram no baile, já estavam dançando em outro lugar, há muito tempo. —
ela estala os dedos sinalizando muito tempo. — Aquele celular que fui buscar, era do Romeo,
ele esqueceu lá.
— Kate! — Eu grito para ela ficar quieta. Tá parecendo criança do ensino fundamental.
— Mil desculpas, Romeo e Oly, mas eu estava com isso engasgado há tempos. — Ela se
explica, indiferente.
— Na minha casa? — Ludovico levanta. O advogado entra na frente dele. — Desde quando
Olivia?
— Não quer saber sobre isso Ludovico. — Romeo responde na mesma calma que respondeu
Jaqueline — Nunca ouviu dizer que um homem deve tratar a mulher como o mais delicado dos
vasos? Repense, era assim que tratava a Olivia?
— Eu posso não dar o divórcio. — Ele grita desafiando.
— Isso não vai mudar nada, Ludovico. — Agora eu respondo, em um sussurro. — Você nunca
me ouviu, nunca quis saber o que eu sentia, ou qualquer outra opinião minha. Eu estou enfim
amando uma pessoa. — Aperto a mão de Romeo e olho para ele. Sorrimos com os olhos, um
para o outro. Desvio os olhos dele e olho fixamente para Jaqueline. Ficamos nos encarando,
briga de olhares, fico trêmula, mas não cedo. Até que fomos chamados. Entrei com o advogado
e Ludovico com o dele. Sentamos um de frente para o outro, numa mesa retangular, a juíza na cabeceira.
A Juíza abre a sessão, lê o processo e antes do advogado de Ludovico, o meu advogado fala:
— Minha cliente quer apenas o divórcio. Ela abre mão de qualquer benefício, pensão ou lucro
vindo do senhor Ludovico Durval, o atual marido.
Antes de Ludovico abrir a boca, o advogado dele, de olhos saltados fala: — Meu cliente aceita.
— É. Eu aceito. — Ludovico concorda, de olho em mim. — Ela, essa vadiazinha já deu o
golpe num otário mais rico que eu.
— Senhor Durval, respeite esse tribunal. — A juíza ordena numa voz áspera. — E respeite
acima de tudo ela por ser sua esposa e ser uma mulher. Ambas as partes estão de comum
acordo? — Ela pergunta olhando para os dois lados.
— Sim. — Eu digo.
— Sim. — Ludovico responde.
Ludovico e eu assinamos os papeis e me sentindo liberta, eu me levanto. Meu sorriso vai de
orelha a orelha. Quero só chegar logo em casa e ficar com Romeo. Aproveitar minha vida de
agora para frente. Saímos da sala, Jaqueline sai na frente sem olhar para trás, sem dizer nada a
ninguém. Mas Ludovico dá uma última olhada para Romeo e ao passar para sair, para um
instante e sussurra para mim: — Cuidado ao atravessar a rua, senhorita Opinião Própria. — Eu
finjo não escutar e abraço Romeo dizendo: — Estou livre! O peso saiu das minhas costas.
— Nova vida, Oly. — Ele responde.
— É, nova vida! — Kate dá um gritinho, eu largo Romeo e a abraço. Saio de lá no meio deles
dois. Ludovico não tem mais poder de fazer nada contra mim.
{...}
Muita coisa pode acontecer em um dia, dois, ou dez dias. Um mês então? Muita coisa
acontece. Um mês são quatro semanas e trinta dias, dependendo do mês. Imagina então
cinquenta e cinco dias de pura liberdade? Claro que estou contando. Fico louca para que
chegue logo o segundo mês, o terceiro, o primeiro ano de divórcio. Bom, no momento só
passou cinquenta e cinco dias desde que rompi legalmente com Ludovico. Não ouvi mais falar nele, muito menos em Jaqueline e nem quero ouvir. Entretanto eu mantenho contato com
Núbia e Leandra. Elas estão radiantes, pois toda a verdade veio a tona e os dois filhos foram
até lá pedir perdão por todos os anos de afastamento. Essa era uma cena que eu pagaria para
ver.
Núbia ainda sente muito por que Jaqueline não quer saber de ouvir nada dela, preferiu acreditar
no pai. Ainda está muito debilitada, com o problema cardíaco e Ricardo, o filho mais velho de
Ludovico, viajou a São Paulo, com a mãe para acompanha-la em exames, num especialista.
Minha vida mudou drasticamente, já iniciamos o segundo semestre do ano e eu consegui uma
vaga num curso de moda e design numa faculdade aqui do Rio. Sim, estou estudando, sou uma
acadêmica de moda, não me aguento de felicidade e emoção. O meu primeiro dia de aula foi
eufórico para mim e tenebroso para Romeo. Minhas aulas são matutinas e naquele dia Romeo
acordou pirado.
Olhei do lado, ainda eram seis horas e estava sozinha na cama. Me levantei, vesti o robe e
desci só para constatar minhas suspeitas. Romeo estava acabando com seus punhos e o saco de
pancadas lá na academia. A última vez que ele tinha feito isso, foi no dia que eu estava indo
assinar o divórcio.
Como fiz o outro dia, saí, atravessei toda área externa e fui lá na academia e dessa vez ele me
viu mas não parou a chuva de golpes ferozes. Fiquei ao lado, de braços cruzados, olhando-o.
Ele me ignorando e eu analisando-o. Ficamos nessa por longos minutos até eu perder a
paciência, me aproximei dele, enfiei a mão no seu bolso e peguei o controle, desliguei a
música, mas Romeo não parou de socar. Está ensopado de suor.
— Está extravasando o que? Raiva ou medo? — Barulho de socos secos como resposta. —
Romeo, eu falei com você. — Tento maneirar o tom de voz.
— Os dois. — Ele responde.
Fico chocada com isso. Medo tudo bem, ele ainda está com medo de que eu saia por aí
sozinha, por causa da ameaça de Ludovico. Mas raiva? De quem?
— Está com raiva de mim?
Ele dá um último soco, se vira e vai andando em direção a uma mesa onde tem uma garrafinha
de água. Joga a água no rosto, bebe um pouco e joga mais na cabeça, começa a tirar as luvas e
seguida as faixas da mão. Eu o sigo.
— Está com raiva por que eu estou indo pra faculdade? Você que armou isso tudo para mim.
— Mas bem que poderia começar devagar né? Pra que estudar e trabalhar, Olivia?
— Por que eu quero ter meu próprio dinheiro? Já conversamos sobre isso Romeo.
Ele rosna, tipo “grrr” vira as costas para mim e sai. Eu corro atrás.
— Romeo. — Grito, mas ele não para de andar. Vai até o outro lado, tira o tênis e o short, fica
pelado e entra na ducha. Depois sob meu olhar atento, pula na piscina.
— Isso será debatido. Você não vai me ignorar o tempo todo. — Falo quando ele emerge na
água e começa as braçadas indo de um lado ao outro da piscina. Corro até a ducha, pego no
armário de madeira, uma toalha e vou para a beira da piscina.
— Saia e me encare Romeo.
Ele sai, mas no tempo dele. Me fez ficar uns cinco minutos plantada ali, enquanto ia e voltava
nadando rápido. Esse homem vai ter um ataque.
Toma a toalha da minha mão e fica na minha frente se enxugando, com os olhos parados em
mim.
— Quer me ver presa aqui na casa? Eu era presa lembra?
— Me recuso e discutir isso. — Responde totalmente gélido. Passa por mim secando a cabeça,
mas eu o seguro e faço me olhar de novo.
— Mas vai me dizer o que te faz levantar de madrugada para vir se acabar aqui por que está
com raiva.
Ele se enxuga mais e enrola a toalha na cintura.
— Você vai ficar o dia fora Olivia. Vai chegar meio dia da faculdade, almoçar e já sair
correndo para o outro lado da cidade pra trabalhar na livraria da Kate. Quero que comece uma
coisa de cada vez.
— Por quê?
— Olivia, pelo amor de Deus! — Bate as mãos ao lado do corpo, exaltado. — Você ainda está
em perigo, já vai sair de casa para ficar o dia todo fora? Como acha que vou trabalhar em paz?
— Romeo, não vai acontecer nada comigo. Tem os seguranças.
— Só isso não vai bastar, vou ficar ansioso. Você não precisa trabalhar poxa!
— Preciso! — Retruco falando mais alto que ele — Eu não quero depender de você para tudo.
Ele passa as duas mãos na cabeça, muito revoltado.
— Olivia, não fale isso, o que é meu é seu.
— Não é. Não é a mesma coisa. Me entenda.
— Então espere o emprego na Mademoiselle que eu vou arrumar.
— Meu amor, nós já falamos sobre isso. Só vou ajudar Kate pelas próximas semanas. A
reforma na livraria ficou pronta e vamos registrar na loja, todos os exemplares que vão chegar.
—Ele me puxa e me abraça muito apertado. Enlaço seu corpo úmido, apertando bem os braços
na cintura dele.
— Ah Oly! Estou cortando prego de medo. Se alguma coisa te acontecer, vai rolar um
genocídio nessa cidade. Não vou aceitar.
Levanto os olhos e seguro o rosto dele.
— Para de falar essas coisas. A vida está seguindo. Olha o tanto de tempo que já passou.
Ludovico não vai me fazer nada, ele não vai arriscar ser preso de novo.
— É... não vai. — Romeo começa a me dar vários beijos, na bochecha, na testa, nos lábios. —
Deixe para começar mês que vem... — pede com doçura, sem parar de me beijar. — Espere
mais um pouco. — Beija mais. — Nunca te pedi nada Oly. — E beija de novo, contornando a
língua nos meus lábios. Está tentando me amolecer.
— Não... Romeo.
— Duas vezes por semana então. Vá só duas vezes por semana...
— Romeo... — espalmo as mãos no peito dele e tento empurra-lo.
— Tá, três vezes. Segunda, quarta e sexta. Eu te levo e te busco.
— Não vou negociar Romeo.
— Olivia, dá um alívio para esse pobre homem.
— Vai ser assim? — Beijo o peito dele. — Só pedindo? Nada de me pegar de jeito na cama e
me fazer concordar?
— Quer que eu te pegue de jeito? — As mãos dele sobem, uma aperta gentilmente minha
garganta e a outra se enrosca nos meus cabelos.
— Talvez uma ajudinha para eu decidir não seja tão mal assim.
Ele me pega no colo e começa a andar.
— Gostosa! Vai perder feio. Eu manjo nesses assuntos.
Depois dessa pequena discussão, conseguimos chegar a um consenso para ajeitar minha rotina.
Fiquei duas semanas estudando sem trabalhar, não por minha vontade, mas por que Kate
viajou, foi visitar um tio dela no interior de Minas. Kate estava um pouco revoltada e magoada
por causa de Magno. Falta de aviso não foi. O homem não se apega nem com reza. Os
caminhos deles se desencontraram a todo instante e ela nunca conseguia fisga-lo. Ele tinha o
número dela, mas não ligou, não respondia as mensagens que ela deixava na internet para ele e
com isso tudo, Kate acabou conhecendo outra pessoa e esquecendo o irmão de Romeo. Hoje
ela o vê como o bonitão babaca com o rei na barriga e mal se falam, ou melhor, eles mal se
encontram. O mais importante é que ela está namorando um homem muito simpático. Ele
ajuda a gente lá na livraria, é um amor.
E quando ela voltou de viajem, meu horário mudou. Saio às sete com Romeo. Ele me leva, me
deixa na porta da faculdade e vai trabalhar. Como tem dias que saio em horários diferentes,
Romeo comprou um novo carro. Nem acreditei quando ele chegou em casa com esse carro
novinho em folha dizendo que era para ficar ao meu dispor. Eu não fiz birra, afinal ele não me
deu um carro, eu sabia que era para mim, ele sabia que era para mim, mas usou o jeito “Romeo
manipulador” de ser e disse que era um carro para ficar a minha disposição. O segurança vai
me buscar quando meu horário não é compatível com o do Romeo. A tarde depois do almoço,
Romeo me leva até a livraria de Kate e vai trabalhar. No final da tarde, ele passa e me pega.
Vilma vem dia sim, dia não, cozinhar para a gente e os dias que ela não está, compramos
comida. Ou seja: estamos adequando horários e costumes. O ruim de tudo é que chegamos
exaustos pelo dia. Há dias que preciso praticar coisas da faculdade, estudar e tal, mas a noite énossa. Sempre, nem que estejamos com o nariz arrastando no chão de cansaço. A noite ésempre para ficamos bem colados.
Romeo trouxe Titanic para eu assistir, como Kate diz: Fiquei passada na farofa, odiei, pois
Jack morreu. Depois optei por assistir Moulin Rouge, outro filme que me fez chorar mais
ainda, final desastroso e também assistimos Um amor para recordar, que é o filme do livro que
ele me deu quando eu ainda morava com Ludovico e que me fez chorar o dobro que chorei no
outro. Achei uma palhaçada da minha parte assistir esse monte de filme infeliz, nem fui ao
cinema com Kate assistir um que o cara fica de cadeira de rodas e também morre, já estava
cheia disso. E por causa disso, comecei a ver vários outros tipos de filmes, mesmo minha
paixão ainda sendo por romance. Romeo não curte romances, mas disse que gosta de ser meu
travesseiro enquanto assisto e fica rindo quando eu começo a me dissolver em lágrimas.
A sala dele é o melhor lugar do mundo para assistir qualquer coisa. O sofá é ótimo, grande e
espaçoso, a TV é gigante e sempre trazemos umas coisinhas para comer e beber. E para
completar podemos ficar um em cima do outro, no maior grude.
Juntos, estamos acompanhando séries ótimas. A série da professora de direito que ensina seus
alunos a escapar de uma acusação, é a que mais gosto. Não sei falar o nome em inglês, quando
Romeo me apresentou essa série, eu achei ridícula, pois Annalise, a protagonista, você ama ou
odeia. E eu não fui com a cara dela, mas ele foi me explicando com muita paciência e hoje eu
amo aquela diva.
Também assisto aquela dos zumbis (que também não sei falar o nome em inglês) pois Romeo
gosta e acabei gostando também.
Nunca achei na vida que iria assistir uma coisa como zumbis e não ficar com medo na hora de
dormir. Mas quem fica com medo dormindo muito bem abraçada?
Tudo está mudando mesmo e para melhor. Minha mãe ainda não veio aqui, mas me recebe
muito bem lá em casa. Eu sempre vou sozinha para não dar problema. Estou conversando com
elas, dizendo a minhas irmãs o que uma mulher independente faz, minha mãe não fica brava,
ela fica calada só escutando. Acho que no fundo, ela sempre teve vontade de fazer o que eu
estou fazendo: amar quem eu quero e fazer o que quero na minha vida.
Meu pai também não criou mais problema, não foi mais perturbar Romeo e nem eu. Mas isso
não importa, me sinto mais próxima da minha mãe e das minhas irmãs como nunca senti, nem
mesmo quando era solteira e morava lá.
Sabe, me sinto mais evoluída, mais moderna e animada a cada dia. Kate fala que estou
começando a entrar na alta cúpula.
Conheci pessoas novas, estou mais íntima de Magno e Lorenzo, eles me respeitam muito,
apesar das brincadeiras para provocar o Romeo. Conheci um pessoal, os amigos de Romeo.
São engraçados, executivos, lindos de morrer, mas são casados, os três. E as esposas são umas
doidas, como a Kate. Não resisti, convidei elas quatro e a Kate, para vir a minha casa num
sábado à tarde. Foi uma festa maravilhosa. Quase me urinei toda de tanto rir.
— Semana que vem é aniversário de quem? — Romeo fala, é noite e estamos na banheira. Eu
sentada entre as pernas dele, tomando um vinho, ouvindo um rock romântico antigo baixinho,
usando e abusando de um kit tombada.
— Nem me fale. Vou ficar mais velha.
— Farei um festão e a noite a festa será minha. — Romeo fala com um tom sério de garanhão.
— De manhã você assopra vinte e quatro velinhas e a noite, teremos vinte e quatro trepadas.
— Credo! — Olho para trás — Vamos bater o recorde de Magno?
— É. Vou te dar vinte e quatro orgasmos.
— Será meu aniversário de morte também né? Haja boceta.
Romeo dá um pulo dentro da banheira, que me assusta e puxa meu rosto para me olhar.
— O que disse?
— Que será meu aniversário de...
— Não. Você, Olivia Maria, falou boceta?
— Falei. — Mesmo querendo sorri, mantenho a boca fechada, controlando o sorriso. — Estou
me sentindo uma depravada.
— Isso é para ser comemorado. — Romeo me enche de beijos, está surpreso de uma maneira
eufórica. — Meu Deus! Minha namorada falou boceta. Sabe falar pau também Oly?
— Pau. — Digo já rindo muito.
— Pau de quem?
— Seu pau.
— Meu pau que é todo de quem?
— Meu.
— Então diga. — Ele pede e logo em seguida diz: — não, não. Espera. — Bate o braço do
lado, pega o celular dele que está tocando a música e mexe, depois aponta para mim. — Diga
Oly, quero sempre ver isso.
— Vai me filmar? — Já fico aterrorizada com a mão no peito.
— É. Será o primeiro de muitos filmes nosso.
— Ai que vergonha. — Tampo a cara.
— Só diga.
— Tá. — Me preparo, ajeito o cabelo, paro de sorrir e falo: — O pau do Romeo, é meu. Todo
meu.
Ele joga o celular ali e me puxa para um beijo daqueles, agarrados, molhados, pegando fogo,
como sempre. E eu me derreto em seus braços aconchegantes e fortes.
Depois do sexo gostoso no banheiro, fomos para a cozinha comer alguma coisa.
— Quero te ensinar a dirigir antes do seu aniversário. — Romeo fala ao meu lado, estou no
fogão mexendo o arroz e ele do lado olhando.
— Nossa senhora! Acho que não. Foi um desastre aquele dia. — Me recordo do dia que ele
cismou de me ensinar. Entrei em pânico, perdi o controle da direção, soltei e volante e
coloquei a mão na cabeça.
— Nunca me divertir tanto. — Romeo, parece relembrar de um modo diferente do meu.
— Você gosta de me ver pagando mico. A gente quase bateu.
— Como? Estávamos a dois quilômetros por hora. Você tirou a mão do volante e os pés dos
pedais. O carro morreu.
Termino de mexer a panela, tampo e olho para Romeo.
— Não me imagino dirigindo. Saindo com um carro, estacionando na faculdade, acho que
prefiro pegar ônibus.
— Faça-me rir. Imagina o que o povo vai dizer? Olha lá, a mulher do Romeo pega ônibus e
metrô. — Ele faz uma voz estranha, acho que imitando alguém aleatoriamente.
— Se importa com o que o povo diz?
— Nunca me importei. Mas colocar em dúvida o que sinto por você, já é outra coisa. Todo
mundo vai achar que eu não importo nem um pouquinho com você.
— Mas eu sabendo que você se importa, é o suficiente.
— Não é. Vou te mimar para todo mundo ver. Seu novo emprego já está quase resolvido. Será
uma garota de sucesso.
Coloco a mão na boca, surpresa, de olhos enormes. Meu coração bate a mil por hora.
— Sério Romeo? Você disse que eles estavam passando por uma crise e não estavam
contratando ninguém.
— Conseguiram se reerguer. Eu já conversei com o pessoal e eles vão marcar um horário para
você conversar diretamente com a tal lá que você adora.
— Ai meu Deus! — Tive uma palpitação forte. — Romeo, pelo amor de Deus, não brinque
comigo.
Ele dá uma risada aparentemente achando graça da minha cara de susto.
— Não estou brincando, Oly. Eu disse que ia te dar tudo o que não teve nos anos passados. —
Dou um pulo para cima dele e o abraço, ele quase cai para trás pois foi pego de surpresa, mas
se recupera logo e me abraça. Encho o rosto dele de beijos, um beijo para cada “obrigada” que
digo. Essa sem dúvidas é a realização mais alta que eu jamais me imaginaria alcançar. Não só
trabalhar na Madde, mas conhecer Angelina pessoalmente.
— Estou tão eufórica que essa noite não te deixo dormir.
— Nossinhora que delícia. Vamos comer a janta logo para adiantar essa noite mal dormida.
Agora eu gargalho e torno a encher ele de beijos. Ah! Como eu o amo, na verdade ele é minha
maior realização.
No dia seguinte, acordamos tarde, perdemos a hora. Nem deu tempo para fazer nada
preguiçosamente na cama. Romeo e eu corríamos como baratas tontas pelo quarto nos arrumando, saímos às oito de casa e ele não pode me levar pois já estava atrasado. Nos
despedimos e cada um foi para um lado. Senti uma coisa estranha quando vi o carro dele se
afastar. Meu coração pareceu falhar uma batida e eu queria correr atrás e dar mais um beijo em
Romeo.
Entrei no carro com o segurança e fui para a faculdade. Estava tudo normal, mandei uma
mensagem para Romeo, ele disse que estava em reunião e que iria fazer de tudo para poder ter
tempo de almoçar comigo.
Dez e meia da manhã a faculdade ficou sem energia e minha turma foi dispensada, pois
precisamos das máquinas, era aula prática. Saí com minhas colegas e como ainda era muito
cedo, andei com elas até o ponto de ônibus na esquina da faculdade.
— Vamos com a gente Olivia. — Uma das minhas colegas gritou quando o Ônibus vinha.
— Não posso. Vou ligar para virem me buscar.
— Seu namorado é muito sem noção. O que tem você vir de ônibus? Para perto da sua casa. —
Na verdade o ônibus para a um quarteirão do condomínio que Romeo mora. Fico em dúvida,
com o celular na mão, prestes a ligar para o segurança vir me buscar.
— Vamos Oly! — Outra colega grita. — O mundo todo pega ônibus! — Grita tentando me
convencer. Olho para os lados, ajeito a alça da bolsa e fico mordendo os lábios, elas já subiram
e quando a porta vai se fechar eu corro e bato a mão para o motorista me esperar. Entro
correndo no ônibus e elas me aplaudem aos gritos.
— Isso aí amiga. Não deixa homem dá as ordens não senão a coisa sai fora de controle.
— É. Por mais gato que ele seja, não pode dizer o que você tem que fazer. — Sentei com elas
duas e me diverti muito durante todo o trajeto. Elas desceram antes e eu segui sozinha. Antes
de sair, minha colega explicou onde eu devia dar o sinal para descer.
Fiquei prestando atenção e quando vi o ponto, dei o sinal e me levantei. Desci sem problema
algum e comecei a andar já reconhecendo a área. Um alívio me tomou, estava praticamente em
casa. Passo por essas ruas todos os dias.
De cabeça baixa, andando rápido na calçada, eu só quero chegar logo em casa, abraçar Pink e
esperar Romeo, vou contar para ele, vai ficar bravo, mas depois vamos rir.
E então, olho de lado e vejo um carro grande, branco, tipo Kombi ou daqueles que levam
alunos para escola, reduzindo a velocidade e encostando em mim. Desvio e continuo andando, o carro vem bem devagarzinho, emparelhado a calçada e eu sigo andando mais rápido, vou
para enfiar a mão na bolsa e pegar o celular, mas topo em alguma coisa. Levanto os olhos e
vejo um homem, muito alto e bem musculoso.
— Desculpa. — Peço e vou para desviar, mas ele me segura.
— Olivia?
— Sim. Conheço você?
— Não. — Ele fala, e segura meus ombros. Todos meus instintos entram em alerta. Um pânico
me consome.
— Me larga! — Tento me sacudir, mas em questão de segundos ele me empurra e eu já vejo o
carro atrás de mim, abrir a porta de correr e o fortão me empurra com muita força. Caio lá
dentro, ele entra logo em seguida e o carro arranca.
— Não! Socorro! — Me levanto e começo a bater nos vidros! — Socorro! —Grito em
desespero total, estou quase tento um enfarte de tanto terror. Mas em toda velocidade, as
pessoas não me ouvem. Há apenas um banco no carro e quando olho, há outro homem
desconhecido sentado, ele está de luvas e com um rolo de fita adesiva nas mãos.
— Por favor, eu não tenho dinheiro aqui, mas vocês podem levar o que quiser. — Mostro
minha bolsa.
— Já estamos levando o que queremos. — Ele retruca com um sorriso debochado e olha para o
grandão. — Segura ela.
— Não! Não toque em mim. Socorro! — Começo a me debater com todas as minhas forças,
dando chutes, batendo os braços, mesmo assim o grandão me segura, e o outro passa a fita na
minha boca. Mas não paro de lutar e acabo acertando um chute no meio das pernas dele.
— Vadia! — Ele rosna e me desfere um soco no estômago. Perco o ar na hora e caio de
joelhos, ainda estou sem ar quando recebo um chute perto das costelas, a dor é tanta que me
curvo para frente, ficando de quatro e depois recebo mais outro chute, nas costas. Caio de
barriga no chão. São golpes tão fortes que fico imóvel, sem respirar, com tudo dentro de mim
ardendo de uma dor terrível. Para completar, um dos homens puxa meu cabelo e passa o braço ao redor do meu pescoço, me debato, mas nada acontece, minhas forças são mínimas e vou parando de lutar conforme ele vai apertando e eu perdendo o fôlego.
{...}
Eu não achei mesmo que estava morrendo. Eu não me lembrei de nada, não vi nada passar
diante dos meus olhos e por isso fiquei feliz de respirar novamente e abrir os olhos.
Estou presa. Foi a primeira coisa que senti. Ainda tonta, olhei em volta e num relapso comecei
a reconhecer o ambiente. Abro e fecho os olhos várias vezes até me dar conta que estou presa
num tipo de poltrona ou cadeira, braços e pernas amarrados e que o lugar a minha frente é um
jardim que reconheço muito bem.
— Acordou, bela adormecida? — Reconheço a voz e desabo a chorar imediatamente. Choro
convulsivo, um choro de derrota, de sentir meu mundo desabar sem ter como apara-lo. E então
Ludovico entra na minha frente.
— Bem vinda de volta Oly. É assim que ele te chama, não é?
Não posso falar, pois estou com fita na boca. Soluço sentindo raiva e muito medo. O medo é
tanto que começo a tremer toda e sentir minhas pernas fraquejarem. Ele se afasta e vejo os
homens que me pegaram.
— Podem ir. Assim que estiver tudo pronto eu chamo vocês. —Eles assentem e saem. Estou
no jardim, dos fundos da casa de Ludovico. A terra do jardim está revirada e ali perto há um
caixão feito artesanalmente, parece um caixote de frutas grande, que cabe uma pessoa.
Também há várias coisas por perto: pás, litros e mais litros de alguma coisa que se parece
acido ou água sanitária, cordas e um saco de cimento.
Choro mais ainda balançando os braços tentando me soltar. Sem esperar, recebo um soco no rosto. Não foi um tapa, ele usou muita força como se batesse num homem. Choro desesperada.
— Agora vamos ter uma conversinha. — Ele levanta meu rosto e enxuga minhas lágrimas.
Está todo vestido de preto, de botas de borracha e luvas pretas. — E depois você vai para um lugar lindo, ficar ao lado da minha querida e bela e traidora Sônia. Ou melhor, vai para um
lugar terrível onde mulheres más vão quando batem as botas.
CAPÍTULO 34
ROMEO
11:25 – Olivia: Oi querido Romeo, Não precisa se preocupar estou indo almoçar na casa de
Kate. E depois das cinco eu vou embora.
No meu escritório, fico olhando a mensagem que acaba de chegar no meu celular. Acho que
Oly decidiu ir almoçar com Kate por que eu disse que talvez não poderia ir almoçar em casa.
Com um breve sorriso eu respondo.
11:26 – Romeo: Q historia é essa de querido Romeo? Pode ir, passo para te pegar assim que
terminar aqui. Mande um beijo para Kate.
Fico esperando a resposta, mas Magno abre a porta e me chama.
— Romeo, já estamos prontos.
— Ok. — Olho mais uma vez o celular, sem resposta. Me levanto, coloco o celular no bolso e
pego umas pastas em cima da mesa. — Lorenzo já está lá?
— Sim.
— Ótimo. Quero que eles saibam que nós três estamos interessados. — Saio rápido com
Magno, correndo para a sala de reunião. É uma negociação muito importante, precisamos fazer
de tudo para conseguir a parceria com essa empresa uruguaia. Na verdade, estamos querendo
arrendar toda a rede de espumante e outras bebidas. E agora que Oly não está me esperando,
posso tirar muito mais tempo para fazer uma bajulada de leve nesses caras. Vou leva-los a um
bom restaurante, comer uma comida boa, bem brasileira, beber um vinho caro e sair de lá com
a assinatura de cada um.
— Saulo, faça uma reserva para dez pessoas naquele restaurante de costume. — Pedi antes de
entrar na sala atrás de Magno. — Volte rápido para nos auxiliar na reunião.
— Claro. — ele assentiu e correu para sua mesa.
A reunião foi perfeita. Já saímos da empresa com a sensação de que tudo estava no papo.
Fomos nos carros da empresa, para o restaurante que sempre levo os clientes da Orfeu.
Enquanto estava no carro, peguei meu celular e mandei uma mensagem para o segurança.
12:37 - Romeo: Olivia já está na Kate?
12:38 – Odilon: A aula dela terminou mais cedo. Olivia me mandou uma msg dizendo que ela
ligou para Kate ir busca-la.
12:38 – Romeo: Ok. Está liberado por hoje.
E a tranquilidade me tomou. Consegui, com a ajuda dos meus irmãos, conduzir um almoço
maravilhoso. Fiz todos os uruguaios sair de sorriso largo e claro, assinaram o pré-contrato. Já
estava tudo no papo. Saímos do restaurante às duas da tarde e voltei para a empresa, já que não
tinha nada para fazer em casa. Pelos meus cálculos, nesse momento, Olivia e Kate já tinham
almoçado e estão de pernas para o ar assistindo ou tirando um cochilo.
— É um milagre você não ter corrido para casa. — Magno observa quando chegamos a
empresa.
— Oly foi almoçar na casa da amiga dela. Vou passar depois para busca-la.
— Que amiga? A Kate do Magno? — Lorenzo questiona dando um de desentendido, já
olhando cinicamente para Magno.
— Minha não. Sou solto no mundo. Por isso que abortei a missão a tempo. Um soldado sabe
onde é campo inimigo.
— Por quê? Ela é bonita. — Eu entro na conversa. Entramos no elevador.
— Muito gostosa, me deu vontade de comer, mas ela já estava em cima de mim, não iria
aceitar uma vez só e não posso dar mais que isso. Aí tem o fato de ser melhor amiga da Olivia
e iria ficar um clima estranho.
— Tem razão. Gostei da sua atitude.
— É, a primeira vez que ele pensa nos outros e não no próprio pau. — Lorenzo concorda.
Rimos e saímos do elevador cada um indo para seu lado. Trabalho até as quatro. Como não fui embora almoçar, sairei mais cedo. Aviso Saulo para encerrar qualquer compromisso e antes de
sair pego o celular para mandar uma mensagem para Olivia.
16:12 – Romeo: Estou saindo agora.
Ajeito minha mesa e antes de sair, meu celular vibra na mesa com uma nova mensagem que
chegou.
16:14 – Olivia: Vá direto para casa, estou saindo agora da casa de Kate. Te espero lá. Beijos.
16:14 – Romeo: Oh garota, quer parar de ficar Indo e vindo sozinha? Você não tem essa
regalia ainda não. Te amo.
E mais uma vez fico esperando e nada de receber uma resposta. Dou de ombros, guardo o
celular e saio da minha sala.
— Estou indo Saulo, até amanhã.
— Até amanhã Romeo.
{...}
Chegou em casa, e não há ninguém. Ela ainda não chegou, e o carro está na garagem. Vou dar
um bom sermão nela quando chegar aqui. Claro que o sermão será na cama ou no chuveiro,
estou numa saudade danada. Vejo se Pink está precisando de água ou comida, depois subo,
tomo um banho e desço em seguida vestindo apenas uma bermuda. E nada de Olivia chegar.
Olho no celular, nenhuma mensagem. Dá tempo preparar alguma coisa para quando ela chegar.
O tempo se arrasta, preparo sanduíches, guardo na geladeira e já está anoitecendo. No relógio
já é mais de seis da tarde.
Cheio de especulações, saio da cozinha, pego meu celular e ligo para Olivia. Ninguém atende.
Toca até cair na caixa de mensagem. Já perdendo a paciência, ligo para Kate.
— Oi Romeo.
— Vocês já estão chegando?
— Vocês quem?
Enrugo a testa, ando na sala, totalmente inquieto.
— Você e Olivia. Ela mandou uma mensagem que estava chegando e até agora nada.
— Como assim Romeo? — Agora a voz dela fica um pouco tensa — Não vi Olivia hoje. Ela
me mandou uma mensagem que não poderia vir na livraria hoje.
Dou uma risada incrédula, bem nervosa.
— Kate, para de brincadeira. Passe a celular para Olivia.
— Ai Meu Deus! Quando foi a última vez que a viu? — Agora, com esse tom, Kate já está me
deixando nervoso.
— Hoje de manhã. Mas ela me mandou várias mensagens dizendo que iria almoçar com você.
Me deixe logo falar com ela.
— Espera ai. — Kate fala e eu fico esperando. Depois chega uma mensagem. — Te mandei o
print da mensagem que ela me mandou. Eu juro, ela não está comigo.
Já aterrorizado, com o coração batendo no pescoço, eu leio o que Kate me mandou. Está lá,
quase no mesmo horário que mandou a primeira mensagem para mim.
“Kate, não vou poder ir hoje. Eu e Romeo temos um compromisso.” Fico imóvel, lendo a
mensagem várias vezes. Meu estomago revira e sinto minhas pernas fraquejarem, como
quando se recebe uma notícia ruim, ou melhor, quando sabemos que alguém vai dar uma
notícia ruim.
— Romeo, está me escutando?
— Kate...! Droga Kate... Oly está em... meu deus! Isso não.
— Fica calmo. Ligue para a polícia agora. Ah meu Deus! — do outro lado, Kate se lamenta
com voz de choro.
— Tudo bem. Vou rastrear o celular dela. Te ligo assim que tiver notícias. — Desligo a
chamada de Kate e com os dedos trêmulos, ligo para Magno.
— Fala. — Ele atende cheio de tédio.
— Cara, aconteceu alguma coisa com Olivia. Ela desapareceu. — Jogo tudo na lata, sem
rodeios.
— Caralho velho! Como isso aconteceu?
— Não sei. Mas pelo que entendi alguém está com o celular dela e enganou eu, a Kate e o
segurança.
— Como tu deu esse mole, porra?
— Apenas venha pra cá agora. — Esfrego a testa já lutando para não entrar em pane. Estou
quase saindo correndo de casa, sem direção.
— Estou indo. Me espere, não faça nenhuma loucura.
— Vamos a polícia.
— Ok. To saindo daqui.
Desligo e subo correndo as escadas, de dois em dois degraus, já com o celular no ouvido
ligando para a empresa de segurança para rastrear o celular de Olivia. Há certas coisas na vida
que a gente não pode pensar, parar para pensar no que está acontecendo, senão enlouquece.
Melhor acredita em tudo, menos que Ludovico tenha algo a ver com isso. Senão a raiva pode
impedir que eu tenha um raciocínio lógico. Me visto em dois tempos e ainda com a camiseta
enfiada em apenas um braço, já ligo para o segurança. Ele atende rápido.
— Odilon, você viu a Olivia e para onde ela foi?
— Não senhor. Eu só recebi a mensagem dela dizendo que tinha ido com a amiga.
— Mas que porra Odilon! — Sinto minhas veias do pescoço inflar quando grito — Você nem
foi constatar?
— Não... ela disse que não precisava...
— Mas que porra cara! Eu te pago pra que caralho?
— Romeo, eu...
— Cara, não venha me se explicar não, a merda já está grande, suas desculpas vai é aumentar mais meu ódio. — Desligo sem deixar ele falar. Kate me liga de novo e já está com uma voz
de pura aflição.
— Romeo, acabei de ligar na casa dos pais dela, Olivia não foi lá hoje. Por favor, me diga que
está fazendo alguma coisa. Vai logo na casa de Ludovico.
— Não estou parado Kate, é lógico que estou fazendo tudo que posso. Te ligo quando tiver
mais notícias. — Desligo para não ser mais bruto com ela. Nem ela e nem o segurança teve
culpa.
Olivia é culpada, eu pedi tanto para ela não ficar sozinha nem por dois segundos. O pior que eu
nem sei se ela de fato ficou sozinha. Enquanto não recebo a notícia do rastreador de celular,
ligo para a faculdade e acabo sendo informado que a turma dela foi liberada mais cedo. Meu
coração para de bater por segundos. Fico apático, sem vida, de pé no meio da sala na
penumbra.
— Olivia! — Exclamo para mim mesmo em um sussurro quase mudo, e nesse instante um
pânico terrível me toma. Morro mil vezes. A dor me consome e eu saio correndo de casa.
Inferno!
Ela ficou o dia desaparecida. Olivia precisou de mim, Olivia está precisando de ajuda. O
desespero é tanto que não consigo acerta a chave na direção do carro.
— Cacete! — Grito batendo muitas vezes no volante. Passo a mão no rosto, tento evitar um
desmaio por causa do grande excesso de sangue que deve estar sendo bombeado para minha
cabeça, sinto meu rosto queimar e tudo dentro de mim se revirando de terror. E para completar,
o celular toca, atendo parecendo bêbado e preciso de muita força para continuar firme ao
receber a notícia que o celular de Olivia está fora de alcance, impossível de rastrear, o chip e
todo o aparelho pode ter sido destruído.
Desestruturado, ligo o carro e mal espero a garagem abrir para sair em disparada, em toda
velocidade que consigo. Quase quebro a alavanca na entrada do condomínio.
— Magno, estou indo para a casa de Ludovico. Me encontre lá. — Praticamente berro, quando
ele atende minha ligação.
— Romeo, estou chegando, te pedi para me esperar. Deixa de ser um cusão!
— Cusão? Você tem noção do que pode estar acontecendo? Inclino para o painel do carro para
gritar muito alto. — Seu merda!
— E ficar de drama parecendo um boiola retardado vai dar jeito? Pensa com cabeça fria mano.
De peito retumbante, mais ofegante do que se estivesse jogando futebol, eu falo com mais
calma: — Apenas me encontre lá. — Desligo a chamada e acelero rumo a casa de Ludovico.
Juro, por esse céu que está sob minha cabeça, que se ele tocou num fio de cabelo dela, eu vou
responder por homicídio que teve sim intenção de matar.
Geralmente eu gastava de quinze a vinte minutos da minha casa até a casa de Ludovico. Hoje
gastei dez minutos. E para minha surpresa, quando parei em frente, estava tudo escuro.
Desço do carro, correndo e enfio o dedo na porra do interfone. Toca de cansar e ninguém
atende. Não há uma luz acesa, daqui posso ver parte do quintal, nada aceso. Nenhuma fresta.
Fico com ódio de mim nesse momento, por ter entregado a copia da chave que o jardineiro me
deu.
Continuo chamando, batendo palmas, espancando o interfone. Mas não há ninguém em casa.
Mas é lógico que se ele pegou a Olivia, aqui seria o último lugar para ele se esconder.
Começo a andar, como um doido, na calçada da casa de Ludovico. Ando de um lado para outro
várias vezes, medindo a calçada, a passos largos. Não sei quantas passadas dei, apenas sei que
foi o suficiente para dar o tempo de Magno chegar e vir correndo em minha direção.
— E ai?
— Não tem ninguém. — Dou um chute no portão. Ah Meu Deus! Proteja ela! Peço
interiormente, escondendo o rosto nas mãos. — Ele deve ter levando-a para outro lugar,
Magno. Vou matar o desgraçado.
— Será que foi ele mesmo?
— O que mais pode ter acontecido? Eu já estava pressentindo, pedi tanto para ela tomar
cuidado. Fico de costas me lamentando, começando a pensar no pior. A porra das palavras da
cigana brilha como neon na minha mente: “Sem futuro. ” Minhas pernas fraquejam na mesma
hora. — Oly já sofreu tanto cara, não é justo com ela...
— Romeo. — Ele coloca a mão no meu ombro. — Temos que pensar em todas as
possibilidades. Vamos a delegacia.
— Claro. — Passo a mão no olho e me viro para Magno. — Claro.
— Eles vão saber como conduzir investigações.
Antes de sair com Magno, olho uma última vez para a casa de Ludovico toda escura. Meu
peito pesa tanto. Olivia precisa de ajuda. Olho de relance para o céu e peço silenciosamente:
“proteja ela.
”
Magno chamou a polícia. Dois policiais e um investigador foram para minha casa, assim que
ficaram sabendo que Olivia já tinha sido agredida e ameaçada pelo ex-marido. Liguei para os
pais dela e o pai pareceu verdadeiramente pasmo com a notícia, então soube que ele não estava
envolvido. Policiais foram na casa dos pais dela pegar depoimento e fazer uma varredura,
depois foram a casa de cada um dos filhos de Ludovico e por fim, após não ter nenhuma pista,
começaram a procurar em outras delegacias, em necrotérios e hospitais. A noite se arrastou
devagar, enquanto eu ficava sentado sozinho no sofá, vendo um policial vir, conversa com
Magno e balançar a cabeça negativamente, a cada ligação que o policial recebia no rádio
comunicador, meu coração saltava no pescoço, depois ele olhava para Magno e fazia um gesto
negativo. Sem progresso.
E eu aos poucos me deixando vencer pelo desespero.
{...}
OLIVIA
NÃO MUITO LONGE DALI...
Estou imóvel, amarrada na cama. Pés e mãos amarrados. Com sede e com fome e amordaçada.
Já chorei tudo que tinha para chorar, agora o cansaço tenta me vencer, mas me mantenho
acordada, sob vigília.
Ludovico falou tudo que quis. Disse que passou todos esses dias arquitetando para me capturar.
Preparou tudo: comparsas, formas de encobrir um assassinato; colocou papel negro nas janela se as cortinas por cima, assim mesmo com a luz acesa, a casa parecia escura para quem visse de fora.
Os homens que me pegaram, estavam me seguindo a dias. Ele sabia que uma hora eu abriria uma brecha. Eu chorei tanto ao me lembrar de Romeo se preocupando e pedindo para eu tomar todo cuidado possível.
Depois de falar tudo, ele me desamarrou, me empurrou para o chão e começo a me chutar: nas pernas, nas costas, nas costelas me lembrei de uma aula de sobrevivência que tive na sexta
série e me encolhi em posição fetal, assim protegeria lugares letais. Conseguir me desviar de alguns golpes, me levantei correndo e fui para a cozinha, eu a conhecia muito bem, então abri a gaveta das facas, me armei com uma e mesmo assim ele me enfrentou, não o poupei, golpeei com toda força, cortando seu braço e por causa disso ele me jogou no chão e me aplicou um ainjeção, apaguei em segundos.
Acordei amarrada e sozinha no quarto de hospede. E aqui estou eu amarrada na cama, muito perto de onde meu celular clandestino está.
Já tentei tanto me desamarrar, pegar o celular e ligar para alguém. Os nós da corda estão muito fortes, não consigo mexer o corpo.
E depois de tanto tentar, acabo vencida pelo cansaço e gemendo de dor, acabo dormindo, ou desmaiando mesmo.
Continua amanhã
Série Anônimos Obscenos
CAPÍTULO 32
OLIVIA
Acordo espremida, bem apertada por braços e pernas. Faz calor, mas não um calor
insuportável. Um calor aconchegante. Romeo está pelado, quase todo em cima de mim. A
perna grande dele, cobrindo as minhas e os dois braços me prendendo, a cabeça abaixo dos
meus seios, como se eu fosse um urso de pelúcia que a gente abraça apertado.
Começo me mexer, tiro um braço dele da minha cintura e bem devagar, tento tirar a cabeça
dele de cima de mim. Puxo a parte do lençol que nos cobre, mas quando começo a me arrastar
para sair da cama, Romeo me puxa de volta.
— Nem pense nisso. — Ele murmura.
— Romeo...
— É sábado, vai dormir Oly. — Ele volta a me soterrar com seu corpo. Seguro forte os braços
dele e tento empurra-lo.
— Romeo, estou com fome... me deixe levantar. — Faço força para fugir, mas ele nem precisa
de muito para me segurar com os braços enormes em volta do meu tronco.
— Fecha os olhinhos e durma. Logo a fome passa.
Giro nos braços dele e ficamos de frente. Romeo entreabre os olhos, sorri muito sonolento, e
passa o nariz no meu.
— Durma amor, durma. — Ele beija minha testa e dá uns tapinhas de consolo nas minhas
costas.
— Não vai trabalhar hoje?
— Hum, hum.
— Hum, hum sim ou hum, hum não?
— Hum, hum vou te comer se não me deixar dormir.
— Besta. — Passo o nariz pelo peito dele, subindo para o pescoço sentindo o cheiro natural
dele mesmo, assim morninho, pela manhã. Está mesmo muito quentinho e aconchegante ficar
aqui deitada, mas meu estômago está roncando. Fico quieta, até sentir Romeo amolecer um
pouco mais.
Então minutos depois, com ele já ressonando, me afasto depressa e pulo para fora da cama.
Romeo acorda assustado, olha em volta e quando me vê já de pé, ele deita de novo a cabeça no
travesseiro, vencido.
— Ah não Olivia! — Ele bate o punho na cama, com raiva. — Volte aqui.
— Desculpa, eu prometi ficar até o último minuto na cama, mas estou faminta. — Dou as
costas para ele, visto minha camisola. Enquanto visto, Romeo pega o copo de água do lado,
bebe e torna a deitar de olhos fechados.
— Tá bem. Me dê meu celular aqui, tenho que ligar para Lorenzo. — Ele pede com o braço
nos olhos. Procuro em volta e vejo o celular em um móvel. Pego e levo até ele.
— Tome. — Estendo o celular, e em uma manobra muito rápida, Romeo puxa meu braço e eu
caio em cima dele.
— Romeo! — Dou um grito, mas já estou presa nos braços dele. — Você me enganou.
— E você também. Esperou eu dormir para fugir. Que feio Oly! — Ele rola e mais uma vez
estou por baixo. — O que eu disse que faria se não me deixasse dormir?
— Não sei... — dou uma de desentendida.
— Não sabe? — Romeo segura forte minhas mãos acima da minha cabeça, seu peito largo e
musculoso, espremendo meus seios, e começa a se esfregar contra mim, seu pênis já bem duro.
— Acordou a fera, agora vou te dar uma lição bem gostosa.
— Você fica tão sexy ameaçando com cara de sono. — Eu solto minha mão e passo pelas
costas dele, apalpando a bunda e a coxa que me prende contra o colchão. — Por isso que te
amo tanto.
— Ganho um tiro desse logo pela manhã. Você sabe fazer seu homem feliz Oly.
E lá formos nós dois em mais um delicioso e delirante sexo matinal. É viciante, a fome até
sumiu. Como sempre começamos na cama e terminamos no banheiro, debaixo do chuveiro,
gemendo agarrados com a água morna caindo sobre a gente.
Enquanto preparávamos o café, depois de Romeo aplicar a tal lição gostosa por eu ter tentado
levantar antes, acabei me lembrando de uma questão que não sai da minha mente desde ontem
quando encontrei Jaqueline no shopping e tivemos aquela catastrófica confusão. Lembrando
agora, eu fico envergonhada pelo que fiz, mas não me arrependo. Tentei ser civilizada até o
último momento. Mas quando ela perdeu totalmente o respeito por mim e ultrapassou todos os
limites, eu fiquei cega e devolvi o mesmo ataque. Ela está grávida, não pode ganhar uns tapas,
mas levar um copo de refrigerante gelado na cabeça é outra história.
— Hoje aquele pão com ovo seria bem vindo. Nunca senti tanta fome pela manhã. — Abraço a
cintura de Romeo, andando com ele para a cozinha.
— Então sente-se ali que vou alimentar minha gata faminta. —Ele aponta o banquinho do
balcão. — Está queimando muitas calorias antes de dormir e ao acordar.
Sinto minhas bochechas corarem com a insinuação dele.
Não me sento. Coloco água para ferver na cafeteira. Não gosto muito de fazer café nessas
coisas tecnológicas, prefiro a maneira tradicional, que envolve um coador de papel ou de pano.
Mas assim, na cafeteira, é bem mais rápido.
Romeo começa a pegar um monte de coisas na geladeira. No balcão há uma grelha embutida.
Ele já ligou e jogou um pouco de manteiga na grelha. Faz "shhhh" e o cheiro começa a tomar a
cozinha.
Abro a porta da cozinha para Pink entrar. Ela não consegue dormir dentro de casa, sente-se
claustrofóbica. E eu agradeço que a casa de Romeo tenha uma espaçosa área externa para ela
se divertir. Enquanto ela me deixa e vai fazer festa com Romeo, se esfregando nas pernas dele,
eu encho a vasilha dela com ração.
— Aqui Pink, sua puxa saco. — Eu grito, mas ela nem olha. Romeo está abaixado afagando-a,
deixando ela mais feliz.
— Vai comer, que a mamãe está com ciúmes. — Ele se levanta e vem com Pink para perto da
vasilha.
— Eu criei essa cachorra desde que nasceu, aí você chega com um sorrisão e seduz ela. — Vou
para a pia lavar minhas mãos. Romeo lava as dele também e me dá um beijo furtivo.
— Com o mesmo sorrisão que eu te seduzi. — Ele faz questão de me lembrar. E eu só posso
concordar com ele. É só ele sorri e eu já estou toda mole. Fico olhando ele desfilar com sua
calça- flanela-pecado, a bunda bem delineada e o andar másculo, um charme. Posso olhar ele
cozinhar vestido assim o dia todo.
Romeo é um homem multitarefas, ele cozinhando é um espetáculo. Acaba de jogar fatias de
bacon, salsicha e presunto na chapa. Com duas espátulas ele corta as salsichas rapidamente em
rodelas. O cheio toma toda a cozinha. Termino de fazer o café e me sento para assisti-lo. Foi
nesse instante que me recordei do acontecimento ontem no shopping.
— Jaqueline falou de Sônia com uma certeza... como se ela tivesse mesmo certeza que você
dois tiveram um caso. — Romeo está de costas para mim, pegando os pães, tipo baguete.
— Ela tem mesmo certeza. — confirma sem dar importância ao assunto.
— Romeo, se vocês tiveram alguma coisa, tudo bem, pode me contar. Não vou surtar. —
Então ele vira para mim, franze a testa como se duvidasse que eu acabei de falar isso. Traz o
café para o balcão e me encara.
— Não tive mesmo nada com Sônia. Mas Jaqueline prefere acreditar no pai. Foi a armação
conveniente para ele: colocou a esposa como uma vigarista e eu como um desgraçado traíra.
Fazer o quê? — Agora ele quebra dois ovos na chapa, tudo aquilo que ele jogou antes, já está
fritando misturado e picado, os ovos começam a fritar também e ele mistura tudo com as
espátulas, pega os pães e coloca esse recheio dentro.
— Hum... o cheiro está maravilhoso! — Exclamo quando pego o prato com os pães que ele me
estendeu. Romeo vem, se senta ao meu lado e coloca café nas canecas. Eu já tenho minha
própria caneca nessa casa. Na verdade me sinto em casa como nunca senti morando em outro
lugar. A cada hora de cada dia, Romeo procura fazer com que eu me sinta mais em casa. E não
tem como ser diferente, já tenho até um lado da cama. Entretanto quase nunca usamos os
lados, sempre dormimos agarrados, no meio, dividindo um travesseiro.
— Acha que Jaqueline teve alguma coisa a ver com o sumiço de Sônia? — Pergunto isso, pois
durante nosso encontro ontem, a raiva com que ela falava, é como se fosse, sei lá, uma
culpada.
— Não. Por mais que seja neurótica, ela não faria isso. Foi o pai dela. Falando nisso, eu
contratei seguranças para ficar aqui e te acompanhar em qualquer lugar que precisar ir. E amanhã mesmo atualizarei o sistema de segurança da casa. Kate decidiu sair do hotel e vai
ficar com os pais.
— Pra que tudo isso? Não preciso de segurança.
— Precisa sim. Se for ali levar Pink para ver a rua, vai precisar de segurança. Já que eu não
poderei ficar vinte e quatro horas te protegendo. — Ele olha o sanduiche e dá uma mordida.
Faço o mesmo com o meu. Apesar de achar desnecessário essa coisa de seguranças, eu não vou
me meter, afinal nem saio de casa mesmo.
— Acha que Ludovico pode tentar algo conta mim?
— Sim, Oly. Lembro como Sônia sumiu de repente sem deixar rastro.
— Mas ele pode ter feito aquilo com ela, por medo de ela tomar alguma coisa dele. Eu não
quero nada dele.
Romeo bebe um gole de café e me olha bem sério.
— Para ele não será mais só sobre dinheiro. Eu fodi com a vida dele, acabei com a empresa, fiz
os dois filhos se virarem contra ele e ainda roubei a esposa dele. É muito para um homem.
Toquei no ego dele.
— Nossa, então vou ter que ficar até quando sendo seguida por seguranças e vigiada vinte e
quatro horas?
— Não sei. Eu achava que você estaria livre após o divórcio, mas não quero arriscar. Vamos
esperar para ver. — Ele me dá um beijinho e voltamos a comer, calados.
{...}
Passei o resto do dia com isso na cabeça. Depois do almoço, Romeo me chamou para me
apresentar aos dois homens que serão os seguranças. Um branco mais velho, com cara de
sargento de polícia que se apresentou como Wagner e o outro, negro, bem mais novo, também
com cara desse pessoal militar, se apresentou como Odilon. Segundo Romeo, os dois são
amigos de Magno.
Ambos revezarão na parte da frente da casa. Se alguém, que não for Romeo ou Vilma, chegar, eles vão interfonar para eu ou Romeo liberar a entrada da pessoa.
Fiquei muito constrangida diante dos dois homens muito altos e fortes. Me deu algo como
medo, não deles, mas do que estava acontecendo comigo a ponto de precisar de homens na
minha cola para me defender.
Depois que eles saíram, fiquei mais a vontade e para relaxar um pouco liguei para Kate para
vir nos fazer uma visita. Ela sempre me anima e está doida para vir me ver para saber mais
sobre minha briga com Jaqueline. Eu liguei ontem para ela, contando tudo.
Quando ela chegou, Romeo nos deixou sozinhas e foi para o escritório.
Contei para Kate as novidades recentes, mas ela queria saber apenas duas coisas: sobre minha
briga com Jaqueline e sobre os dois seguranças que iriam fica na casa.
— Será que o Romeo não filmou você correndo atrás da vaca lá no shopping? Meu sonho era
ter visto.
— Não. Foi no impulso. Nem ele acreditou no que fiz.
— Eu que não acreditei quando você me ligou contando. O que posso dizer da égua que nem
conheço, mas já odeio pacas?
Dou uma risada e me levanto do sofá.
— Venha, vamos para a cozinha que eu vou preparar coisas pra gente comer.
— Seria muito pedir coisa doce? Minha glicose está baixa só em ficar olhando para essa foto
do Romeo e dos irmãos dele. — Reviro os olhos sem ela ver.
Ela me segue e eu me lembro de algo que não devia contar mas vou contar para mostrar que
não sou uma amiga egoísta que não ajuda ninguém.
— Kate, senta aí. Vou te contar uma coisa, mas você não me apareça aqui.
— O que é? Conta logo.
Olho para ela já ansiosa. Dou as costas e vou para a geladeira ver o que posso fazer.
— Olivia! Conta logo! — Começa a fazer birra. Coloco meu dedo na boca pedindo para ela
fazer silêncio. Corro para perto e falo: — Romeo vai fazer churrasco amanhã, disse que é especialidade dele e tal e adivinha quem vem? — Nem espero ela tentar adivinhar e já falo: —
Magno e Lorenzo.
Ela arregala os olhos e dá um sorriso medonho, puro psicótico.
— Ah, pode faltar carne nesse churrasco, mas eu não vou faltar.
— Kate, eu pedi para você não aparecer! — Protesto.
— Por quê? Quer os três só para você? Não né? Você já tem. Então deixa eu cuidar da minha
vida em paz.
— Não é isso sua louca. Lembra da Vilma? É a mulher que eles consideram uma mãe. E ela
estará aqui. Não quero você se jogando em cima de um dos dois na frente dela.
— Vilma é "sussa". Aquele dia eu me joguei para o Magno e ela ficou rindo.
— Sussa? —Questiono sem entender o que é isso.
— Tranquila, sossegada. — Kate joga os cabelos de lado. — Agora me conte tudo sobre esse
tal churrasco. Quero chegar Diva abafando.
— Kate, não vá fazer nada! Eu fico sem graça. Venha mas prometa se comportar.
— Prometo. — Ela beija os dedos e dá uma piscada bem maliciosa.
— Por que eu não acredito em você, Kate? — Viro as costas para ela desanimada e vou pegar
umas coisas para fazer um bolo de chocolate.
{...}
Magno apareceu bem cedo no domingo. Eu contei a Romeo que Kate viria e ele achou ótimo.
Pedi desculpas, disse que não queria causar mal estar e ele me tranquilizou dizendo que ela
seria sempre bem vinda. É um grande salto para mim, Ludovico proibia a ida de Kate em nossa
casa, já Romeo, como um homem normal e decente, aceita minha melhor amiga. Por que
Romeo é outro nível.
Magno chegou às nove, e pouco depois Vilma chegou com Lorenzo. Deixamos os três na casa
e fomos ao supermercado comprar algumas coisas. Foi mais que maravilhoso ir a um
supermercado depois de tanto tempo e não só por causa disso, mas por que foi com o Romeo.
Eu sei que não deveria sentir o ego nas nuvens, afinal é coisa de pessoas sem noção, mas eu
me senti um pinguinho arrogante por estar com um homem tão lindo e saber que ele é meu. E
só para deixar claro, eu ainda me pergunto até hoje o que fiz para merecer uma pessoa tão boa
para mim, como ele é.
Quando chegamos do supermercado, Magno e Lorenzo estavam seminus na beira da enorme
piscina. Os guarda-sóis estavam armados, as espreguiçadeiras abertas e Pink se espreguiçando
ali na grama. Fiquei tão sem graça de ver aqueles corpões bronzeados, malhados, com apenas
um short de banho cobrindo.
Magno se parece mais em corpo com o Romeo. Tem um pouco de pelos negros no peito, a cor
da pele é parecida e a altura deles também. Já Lorenzo é um pouco mais claro que os dois
irmãos mais velhos e tem tatuagens. Nunca tinha visto um homem tatuado, assim ao vivo, tão
perto. Quer dizer,eu nunca tinha visto mais de um homem seminu, assim, tão perto. Tento não
ficar muito enrubescida e dar na cara que estou sendo uma tonta. Se eu pudesse compartilhar
meus pensamentos com Pink, nesse momento, eu diria que agradeço por estar com o melhor
dos três. Meu Romeo, ganha disparado.
— Mas quem é ela? A primeira que você pega por mais de um dia. — De onde estou, ajudando
Romeo com as carnes, perto da moderníssima churrasqueira, posso ouvir o papo dos dois. Essa
é a voz de Lorenzo. Cada um já está com uma cerveja que trouxemos do supermercado.
— Pois é. É a primeira que pego mais de duas vezes. — Magno responde com sua costumeira
pose esnobe. — Mas já deixei de lado.
— Mais de duas? — Lorenzo berra com uma voz muito pasma. Até Romeo levanta os olhos e
presta atenção na conversa. Pelo olhar dos irmãos, parece que é mesmo uma coisa rara de se
acontecer. É melhor esse cara ficar longe da Kate.
— Ela é gata, estava necessitada, tinha acabado de se casar e não sabia nada de nada. Aí eu
resolvi ensinar, fazer uma caridade, sabe?
— Uma desconhecida?
— É.
— Nunca tinha visto? — Lorenzo insiste, sem acreditar na situação. Eu também não acredito
que alguém vai para a cama com outra pessoa assim, sendo desconhecidos.
— Não.
— Eu poderia imaginar. — Lorenzo abana a cabeça desdenhando — Você só pega
desconhecidas.
— Meu pequeno maninho caçulinha, ouça a voz da experiência: comer mulher desconhecida é
igual mijar na rua. Você sabe que não deve, mas a vontade prevalece.
— Ei vocês dois! — Romeo grita, num tom de bronca. Eles olham para trás, em direção da
gente.
— Oly, chega aqui cunhada. — Magno faz um gesto me chamando — venha beber um pouco,
prosear, colocar um biquíni... tá muito vestida.
— E sua cara tá precisando de um olho roxo. — Romeo esbraveja. — É Olivia para você. —
Os dois riem da cara de Romeo que mantém a cara de poucos amigos. — Vou escorraçar os
dois daqui.
— Desculpa chefe. Vamos Lorevaldo, dar um mergulho. — Magno se levanta, estica o corpo,
os braços acima da cabeça, joga os óculos na espreguiçadeira, tira o short e eu quase saio
correndo.
Sei diferenciar uma sunga de uma cueca. E aquilo não é sunga. Ele ajeita as pernas da cueca
boxer e pula na água num salto perfeito, seguido por Lorenzo que preferiu continuar com o
short.
— Quer dar um pulo agora ou vai me esperar? — Romeo pergunta, sua atenção toda na carne
que ele acabou de colocar na grelha da churrasqueira.
— Quando você for. — Não penso um segundo para responder. Lógico que não entro ali nem
morta.
— Está com vergonha deles? — Ele sorri meio de lado, decifrando meus pensamentos.
— Um pouco.
— Eles parecem otários, mas são legais. Sempre vem nadar aqui, por que eu sei cozinhar. Ai já
viu né? Carne, piscina e cerveja. Relaxando as minhas custas.
— Acho legal essa interação de vocês. Como irmãos, são bem unidos.
— É. Magno e eu somos mais vinculados. Isso tudo aí do Lorenzo, é fachada. Ele é mais
distante, coloca uma máscara de gente normal para viver em sociedade.
— Por quê? — Olho para Lorenzo lá na piscina e de volta para Romeo. Ele dá de ombros e
fica calado. Puxa uma cadeira, se senta e puxa outra ao lado para eu me sentar. Abre um
refrigerante, me entrega e pega uma latinha de cerveja para ele.
— Aconteceram coisas terríveis com ele. Coisas que nem me atrevo a falar. Me dói só em
pensar, por que eu poderia ter tentado impedir, mas não fiz nada.
— Sério?
— É... — Romeo suspira e me olha, depois volta a olhar fixamente para os irmãos
mergulhando na piscina — esse cara aí, tem tanta coisa dentro dele que acho forte pra caramba
ele continuar a vida, tentando disfarçar. A única pessoa que conhece as profundezas dele é
Vilma.
— Credo Romeo. Olha só me arrepiei. — Mostro meu braço arrepiado — Teve a ver com a
morte dos seus pais?
— Não. A vida dele começou a desandar aos trezes anos. Era criança ainda, ele teve uma
depressão tão desgraçada na época que achamos que ia morrer, o motivo da depressão? O
melhor amigo dele... ih, olha lá quem chegou. — Romeo para de falar e aponta para Vilma
vindo acompanhando Kate.
— Depois você me conta. — Bato na coxa dele e me levanto depressa. Vou receber Kate que
já entra com cara de obcecada.
— Oly amiga, me dê um chute, pois beliscão só não vai resolver. Estou vendo uma piscina
cheia de homens gostosos nadando e nem é olimpíadas.
— Kate, você prometeu se comportar. — Murmuro bem perto do ouvido dela.
— Claro. Vou ser educada. Agora me dá licença que eu vou cumprimentar as pessoas, como
minha boa criação manda. — Fico olhando ela desfilar muito elegante, na sua saia curta e
blusa bem fininha por cima do biquíni, em direção a Romeo. Vou correndo atrás dela.
— Oi Romeo. — Kate cantarola.
— Oi Kate. Sente-se, tome alguma coisa.
— Estou bem, obrigada.
Ela se vira para mim e cochicha: — Não acredito que estou num churrasco, em uma mansão
junto com os milionários. — Romeo escuta e ri balançando a cabeça, prestando atenção nas
carnes. Lá na piscina, os dois já estão cientes da presença de Kate. Lorenzo é o primeiro a sair.
Balança os cabelos, passa as mãos pelo corpo e olha intrigado em nossa direção.
Ai meu Deus! A cara dele não é boa. Será que não gostou da presença de Kate? Ele vem
andando e começa a sorrir, seu semblante se ilumina em segundos então lembro o que Romeo
me disse, que ele coloca máscara para viver em sociedade. Eu acho que os dois segundos que
vi, de semblante carregado, foi a verdadeira face dele.
— Oi. — Ele cumprimenta Kate. — Kate não é isso?
— Isso. — Ela responde tão feliz que é perigoso os lábios rasgarem com o sorriso.
— Me dê licença um instante. — Ele se afasta e pega uma das toalhas dobradas em uma
mesinha perto das espreguiçadeiras. Magno sai da piscina e noto os olhos de Romeo se
arregalando.
Acho que só agora ele percebeu o irmão de cueca. Magno vem todo molhado, galante, uma
sobrancelha sugestiva e um meio sorriso sensual nos lábios. Kate está quase evaporando.
— De cueca? — Romeo sussurra e Magno entende. Faz um gesto para Romeo de "e daí?" Em
seguida, foca na minha amiga que precisa de um babador.
— Oi. — Ele cumprimenta de mãos na cintura, se exibindo de propósito.
— Oi. Sou a Kate, lembra?
— Claro que lembro. A stalker que queria saber meu perfil na internet. Descobriu qual meu
arroba? — Eu ouço isso e fico dura, provavelmente sem um pingo de sangue. Romeo olha de
lado, para o irmão, com um aviso expressivo nos olhos.
— Já encontrei. — Kate murmura.
— Eu percebi.
E pronto. Os dois ficam calados, de sorrisinho se olhando. Se encarando por dois segundos
antes de ele se afastar e pegar uma toalha.
— Tenho sungas, vá pegar uma. — Romeo alerta Magno que parece aceitar a ordem e entra na
casa.
E graças a Deus, não tivemos maiores contratempos. Kate se comportou. Não ficou se jogando
em cima de ninguém, claro que também não deixou de ir puxar papo com os rapazes. Eu não
acreditei quando ela se despiu e pulou na piscina, na verdade entrou pela escada se fingindo de
elegante. De onde eu estava com Vilma, podia ver a cara de tarada dela, olhando para Magno,
para onde quer que ele fosse. E tenho que concordar com ela, o homem tem presença
marcante. As pernas, as costas os braços, é tudo bem firme e grande.
Eles dois quase não falaram de suas vidas. Mas Kate contou para todos da vida dela e da
minha. Sobre quando estávamos no colégio, sobre ela ter trancado a faculdade para tentar
salvar a livraria do pai, que estava doente e não podia mais conduzir e contou que amanhã,
segunda-feira, eu vou me libertar do Ludovico. Depois almoçamos e Romeo e os irmãos
explicaram como funciona a empresa deles. E eu toquei num assunto que deixou um clima
meio pesado entre os irmãos.
Não entendi por que. Eu apenas disse: — Kate, Romeo disse que pode conseguir um emprego
para mim na Madde. Nesse instante Lorenzo quase morre engasgado. Magno deu uns tapas nas
costas dele. Vilma, Kate e eu ficamos olhando alarmadas. Quando ele ficou bem, Kate gritou
histérica.
— Naquele luxo? Com aquela tal que você ama?
— É. A Angel, a diva da moda. Só vou precisar de dois segundos perto dela para falar o quanto
eu a admiro, pelo trabalho, pela força e por tudo. Melhor pessoa do mundo. — Notei na hora
que os irmãos se entreolharam e ficaram os três de cara fechada, e para meu espanto, Vilma
também ficou de cara amarrada. Pouco depois, Lorenzo cismou de ir embora, Magno se
despediu e foi logo depois, antes de sair disse que estava sem celular no momento, mas pediu o
número de Kate. Ela segurou a mão dele e escreveu o número ali. E ele nem deu o próprio
número para ela.
Mais tarde, quando todos foram embora, eu perguntei a Romeo o que houve no almoço. Mas
ele disse que não era nada, que Lorenzo gosta de dormir domingo depois do almoço e se
apressou a ir embora por isso.
E quando estávamos sozinhos, pulamos na piscina, só nós dois e Pink ali deitada olhando para
a gente.
— Foi bom? — Ele me abraçou e eu abracei o pescoço dele para eu não afundar.
— Foi ótimo! Seus irmãos são muito legais.
— Só meus irmãos?
— Só seus irmãos, pois você está num patamar bem maior que "ótimo".
— Te adoro muito. — Ele falou, me beijou e nos afundou na água. Eu nem fiquei apavorada,
continuei beijando-o até subirmos de novo.
Kate disse que amanhã eu terei minha liberdade, mas eu já me sinto livre agora. Amanhã será
apenas uma parte legal disso tudo, quando eu assinar e ficar legalmente solteira de novo. Na
verdade me sinto livre desde o dia que comecei a abrir a porta para Romeo entrar lá na casa do
Ludovico.
Não importa nada que ele tente fazer, jamais poderá tirar esse maravilhoso sentimento de mim.
CAPÍTULO 33
OLIVIA
Eu quase nem dormi direito a noite. E pelo visto Romeo também não. Ele levantou primeiro
que eu. Às seis da manhã eu abri os olhos e ele não estava ao meu lado. Como é dia da semana,
segunda-feira, achei que ele tivesse ido trabalhar, entretanto após ver as horas, notei que ainda
era muito cedo. Fiquei deitada, olhando para o teto, com o peito saltando de ansiedade. Hoje
provavelmente será um dia longo. Hoje verei Ludovico depois de todo esse tempo, também
tenho que encarar meu pai e Jaqueline que estarão lá possivelmente. Com vontade de ficar o
dia todo na cama, imóvel só esperando esse dia acabar, eu rolo para o lado, sinto o cheiro de
Romeo, abraço o travesseiro e de olhos fechados torço para que o otimismo seja maior que o
medo. Lembro-me de Kate dizendo que estará lá para me apoiar. Bom, na verdade ela disse
que está indo ser meu carro de guerra. Só ela para me fazer sorrir. Ela e Romeo.
Me levanto, visto a camisola, o robe e vou ao banheiro. Depois saio para verificar se estou
sozinha em casa, o dia ainda está meio escuro. Nem preciso procurar muito, quando desço as
escadas e passo na sala, já posso ver pelas vidraças, Romeo lá dentro da academia, como um
louco batendo num saco de pancadas. A música deve estar muito alta, pois está vindo aqui,
mesmo com tudo fechado.
De braços cruzados, no mesmo lugar, assisto daqui, de longe, ele enlouquecido atacando com
todas as suas forças o saco de pancadas. Abro a porta da sala, o ar frio da manhã me recebe,
aperto o robe, passo pela área da churrasqueira, pela piscina e abro a porta da academia. A
música é barulhenta e em inglês, fecho a porta e caminho até ele me ver pelo espelho a sua
frente. Na mesma hora Romeo para de socar e encosta a testa no saco suspenso. O corpo todo
dele se mexe por causa da respiração difícil. Está molhado de suor, usando apenas um calção
largo, tênis e nas mãos um tipo de faixa. Eu nem penso dois segundos, o abraço por trás.
Romeo tira algo do bolso, aponta para alguma coisa e a música para. Ele se vira e me abraça de
frente, encosto o rosto no peito quente e suado.
— Você precisa se acalmar para eu não surtar também. — Peço. Os músculos dele parecem
muito mais duros e estão tensionados, as veias saltadas.
— Eu só ficarei calmo quando a noite de hoje chegar e você ser minha sem impedimento algum.
— Vai dar tudo certo. — Levanto os olhos e acaricio o rosto dele. — Eu não vou a lugar
algum. Nem agora, nem a noite e nem amanhã.
Ele me beija de leve e volta a me abraçar forte. A testa grudada na minha. Romeo está abalado,
o coração dele bate depressa e eu sinto um medo palpável vindo dele. Me arrepio toda, sinto
um calafrio que vai certeiro na espinha. Sei do que ele tem medo, sei que ele não quer falar
isso e nem eu quero, pois se falarmos, a sensação é que parece mais real. Porém ele tem medo
de que Ludovico possa fazer algo contra mim... não alguma coisa qualquer, mas alguma coisa
como fez com Sônia, alguma coisa que cumpra o que a cigana viu: Sem futuro.
Saímos, tomamos banho juntos, sem sexo, apenas banho, carinhoso. Ele me ensaboou com
muito cuidado, com seus olhos meio vidrados fixos em meu corpo. Depois saímos, fizemos
café juntos e ele foi trabalhar.
Hoje os seguranças já estavam trabalhando e vi Romeo conversando com um deles antes de
entrar no carro. Nem fiz almoço.
Não tinha cabeça para fazer nada, apenas sentar e ficar esperando, como na sala de espera de
um consultório. Pink e eu caladas, ela entendeu meu receio e deitou no sofá com a cabeça no
meu colo.
Meio dia Romeo chegou. A audiência está marcada para às duas e meia da tarde, ele veio e
pareceu um pouquinho aliviado quando entrou na sala e me viu em frente a TV.
— Oi. — Ele sentou ao meu lado e se curvou para me beijar. Sinto meu peito subir e descer
por causa daquela respiração longa que todo mundo costuma dar. — Demorei?
— Não. Me distraí aqui, com a TV. — Minto. Estava contando os segundos para ele chegar.
Ele olha para a televisão, pega o controle e desliga.
— Tem minha atenção?
— Claro. — Me viro no sofá, ficando de frente para ele.
— Eu comprei comida, está ali na cozinha. Mas antes quero te mostrar uma coisa.
— O que?
Ele pega uma maleta alta, retangular, como uma caixa de maquiagens. É toda de veludo azul e tem um fecho muito bonito.
Romeo coloca a caixa entre a gente.
— Oly, eu já te dei roupas, sapatos e lingeries...
— Romeo... eu não...
— Não, espere. — Ele interrompe meu protesto. — Eu não dei essas coisas a você por que
quero te comprar com presentes, ou em troca de alguma outra coisa. Eu já tinha você antes de
dar qualquer sapato. Sabe disso não é?
— Sim, eu sei.
— Eu te dei todas aquelas coisas por que você entrou numa nova vida e eu queria que viesse
sem bagagens, material e emocional, uma nova vida, com novas coisas.
— Não precisa gastar comigo. Sou uma pessoa simples Romeo. Como eu já te disse: ter você
basta. — Ele dá um sorriso muito lindo que me derrete, como sempre. Ele sempre vai me
derreter com esse sorriso.
— Mas como eu também já te disse, não é uma tarefa fácil, pois o Romeo aqui, vem com todos
esses presentes, com essa casa, com um emprego para você na empresa que você mais ama.
Quero te dar tudo que perdeu nos seus outros anos Oly.
E eu abro a boca chorando. Não copiosamente. Inclino para frente e enfio o rosto no ombro
dele. Os braços dele me aninham num conforto que me faz derramar mais lágrimas.
— Ah, não faça isso — balbucio — eu nem lembro mais da minha outra vida. E nem quero me
lembrar.
Ele levanta o meu rosto e passa os dedos nas minhas bochechas limpando as lágrimas.
— Chorona. — Me brinda com o costumeiro belo sorriso, de dentes bonitos e lábios
apetitosos, me beija e me faz ficar de coração na mão. Amo esse homem!
— Hoje é o dia que marca o fim de um ciclo para você. E por isso quero te dar isso. — Ele
mostra a caixa. — Faz dias que eu encomendei e quero que você olhe para cada uma sabendo
que eu tive o prazer de escolher pessoalmente peça por peça, cada uma, por mais pequenina
que seja. — Ele abre o fecho e a caixa se abre em duas partes e em seguida em mais duas
partes. É uma caixa de Jóias repleta. Com as duas mãos na boca, eu olho para tudo aquilo milimetricamente ajeitado. Anéis, pulseiras, dois relógios e alguns brincos.
— Romeo... meu Deus, eu... não...
— Olivia, dessa vez será uma ameaça mesmo, se você não aceitar, eu te levo lá para a cama e
farei você aceitar cada uma dessas Jóias, aos gritos. — Ele promete numa voz macia, baixa,
mas cheia de imponência.
Ainda com as mãos na boca, meu susto dá lugar a alegria sem fim. Sinto minhas bochechas
forçarem pelo riso que vem vindo.
Quero me fazer de durona, mas sou tão fácil, quero matar ele de tanto abraçar e beijar. Não
pelas Jóias, mas por ser tão meu, quando mais preciso.
— Você me ameaçando assim, todo lindão de terno e gravata, não é menos sexy que me
ameaçar de manhã com cara de sono.
— Puxo a gravata dele para beijar, Romeo recebe o beijo por pouquinho tempo e me empurra
gentilmente.
— Sua resposta Oly. Preciso saber se vamos duelar lá na cama agora. Ver quem acaba com
quem primeiro.
— Eu poderia não aceitar essas Jóias só para ver esse tal duelo, mas sei que aceitando ou não,
vamos nos acabar na cama, então, eu vou aceitar.
— Ótimo. — Ele fecha a caixa, joga de lado e me empurra no sofá, caindo em cima de mim.
— Uma rapidinha antes do almoço, tudo bem?
— Acho que é o que precisamos para relaxar.
Dez minutos para as duas, saímos de casa. Calculando o tempo no trânsito, chegaríamos quase
na hora. Escolhi um vestido lindo, azul marinho quase preto, com mangas e sem decotes; bem
comportado para não terem o que falar de mim. Coloco um relógio e uma pulseira que Romeo
deu, deixei o cabelo solto por que Ludovico precisa ver, como eu sou nova, cheia de vida ainda
e como estou mais bela depois de ter saído das garras dele. Durante o percurso, Kate nos ligou
dizendo que tinha chegado. Romeo e eu não falamos muito.
Pelo nervo saltado no maxilar dele, dava para ver como estava nervoso.
Na verdade, nós poderíamos ter feito uma reunião, em algum lugar, sem precisar de juiz. Mas tenho uma ordem de restrição contra Ludovico, o caso envolve mais que apenas aperto de
mãos.
Entramos no local onde será realizada a audiência. De mãos dadas, Romeo e eu já encontramos
Kate em um sofá, logo na entrada. Ela se levanta e vem até a gente.
— Ludovico chegou com uma gangue. — Ela avisa para mim. Sinto meu coração palpitar. Só
tenho uma pergunta para fazer: — E meu pai?
— Não vi. Acho que não veio.
Graças a Deus! — agradeço interiormente.
— Tudo bem. — Olho para Romeo — Vamos?
— Vamos. — Romeo assente e nós três andamos rumo às escadas.
Romeo pediu informação e fomos conduzidos a uma sala grande, de fora eu já podia ver que
era uma sala de espera e lá já estavam todos eles sentados aguardando, prontos para um
combate que não teria. Eu já vou entrar de bandeira branca. Segundo Romeo, eu devo aceitar
qualquer acordo, ou melhor, não criar acordo algum. Entregar tudo, não exigir nada. E é
justamente isso que quero. Kate disse que eu deveria arrancar tudo de Ludovico para ele pagar
pelo que fez, mas ele já está pagando.
Romeo segurou forte minha mão, ergui minha cabeça, elaborei uma cara de poucos amigos e
entramos. Na mesma hora Ludovico se levantou. Ele sorriu raivoso, trincou os dentes, mordeu
a boca transtornado de raiva. Seus olhos passaram pelo meu corpo, me viu de salto altíssimo,
Jóias caras e vestido de marca. Estou maquiada e com um belo homem ao meu lado e claro
com Kate, que ele odeia muito. Jaqueline também fica de pé e eu penso que a raiva dela é
maior, depois de ter levado refrigerante e pipoca na cabeça.
— Mas é uma pouca vergonha mesmo. Devia se dar ao respeito, interesseira. — Ela fala isso
comigo, olho para Romeo ele dá uma piscadinha para mim, me confortando, então viro as
costas para ela e o pai e vou cumprimentar o advogado que Romeo contratou para mim.
— Olivia, a fulana falou com você. Não vai responder? — Essa é Kate que não leva desaforo
para casa.
— Está tudo bem, Kate. — Toco no ombro dela e me sento ao lado de Romeo. Ele pega minha
mão, beija e segura no colo dele.
Estamos de frente para Ludovico.
— Vejo que a galinha já está afiando as unhas na sua carteira não é Romeo?
— Gente! Ninguém vai dar na cara dela? — Kate berra descontente com nossa reação pacífica.
— Não vale a pena.— eu cochicho para Kate.
— Ao menos tenho uma carteira para ela afiar as unhas. — Romeo rebate. Acho que assim
como Kate, não ficou satisfeito com o que ouviu de Jaqueline. O silêncio reina até Ludovico
resolver quebrar.
— Foi quando? Lá no baile quando dançaram? — Ludovico pergunta. Está nos olhando sem
piscar, com um olhar mortífero.
Kate dá uma gargalhada meio baixa, cínica.
— Quando eles dançaram no baile, já estavam dançando em outro lugar, há muito tempo. —
ela estala os dedos sinalizando muito tempo. — Aquele celular que fui buscar, era do Romeo,
ele esqueceu lá.
— Kate! — Eu grito para ela ficar quieta. Tá parecendo criança do ensino fundamental.
— Mil desculpas, Romeo e Oly, mas eu estava com isso engasgado há tempos. — Ela se
explica, indiferente.
— Na minha casa? — Ludovico levanta. O advogado entra na frente dele. — Desde quando
Olivia?
— Não quer saber sobre isso Ludovico. — Romeo responde na mesma calma que respondeu
Jaqueline — Nunca ouviu dizer que um homem deve tratar a mulher como o mais delicado dos
vasos? Repense, era assim que tratava a Olivia?
— Eu posso não dar o divórcio. — Ele grita desafiando.
— Isso não vai mudar nada, Ludovico. — Agora eu respondo, em um sussurro. — Você nunca
me ouviu, nunca quis saber o que eu sentia, ou qualquer outra opinião minha. Eu estou enfim
amando uma pessoa. — Aperto a mão de Romeo e olho para ele. Sorrimos com os olhos, um
para o outro. Desvio os olhos dele e olho fixamente para Jaqueline. Ficamos nos encarando,
briga de olhares, fico trêmula, mas não cedo. Até que fomos chamados. Entrei com o advogado
e Ludovico com o dele. Sentamos um de frente para o outro, numa mesa retangular, a juíza na cabeceira.
A Juíza abre a sessão, lê o processo e antes do advogado de Ludovico, o meu advogado fala:
— Minha cliente quer apenas o divórcio. Ela abre mão de qualquer benefício, pensão ou lucro
vindo do senhor Ludovico Durval, o atual marido.
Antes de Ludovico abrir a boca, o advogado dele, de olhos saltados fala: — Meu cliente aceita.
— É. Eu aceito. — Ludovico concorda, de olho em mim. — Ela, essa vadiazinha já deu o
golpe num otário mais rico que eu.
— Senhor Durval, respeite esse tribunal. — A juíza ordena numa voz áspera. — E respeite
acima de tudo ela por ser sua esposa e ser uma mulher. Ambas as partes estão de comum
acordo? — Ela pergunta olhando para os dois lados.
— Sim. — Eu digo.
— Sim. — Ludovico responde.
Ludovico e eu assinamos os papeis e me sentindo liberta, eu me levanto. Meu sorriso vai de
orelha a orelha. Quero só chegar logo em casa e ficar com Romeo. Aproveitar minha vida de
agora para frente. Saímos da sala, Jaqueline sai na frente sem olhar para trás, sem dizer nada a
ninguém. Mas Ludovico dá uma última olhada para Romeo e ao passar para sair, para um
instante e sussurra para mim: — Cuidado ao atravessar a rua, senhorita Opinião Própria. — Eu
finjo não escutar e abraço Romeo dizendo: — Estou livre! O peso saiu das minhas costas.
— Nova vida, Oly. — Ele responde.
— É, nova vida! — Kate dá um gritinho, eu largo Romeo e a abraço. Saio de lá no meio deles
dois. Ludovico não tem mais poder de fazer nada contra mim.
{...}
Muita coisa pode acontecer em um dia, dois, ou dez dias. Um mês então? Muita coisa
acontece. Um mês são quatro semanas e trinta dias, dependendo do mês. Imagina então
cinquenta e cinco dias de pura liberdade? Claro que estou contando. Fico louca para que
chegue logo o segundo mês, o terceiro, o primeiro ano de divórcio. Bom, no momento só
passou cinquenta e cinco dias desde que rompi legalmente com Ludovico. Não ouvi mais falar nele, muito menos em Jaqueline e nem quero ouvir. Entretanto eu mantenho contato com
Núbia e Leandra. Elas estão radiantes, pois toda a verdade veio a tona e os dois filhos foram
até lá pedir perdão por todos os anos de afastamento. Essa era uma cena que eu pagaria para
ver.
Núbia ainda sente muito por que Jaqueline não quer saber de ouvir nada dela, preferiu acreditar
no pai. Ainda está muito debilitada, com o problema cardíaco e Ricardo, o filho mais velho de
Ludovico, viajou a São Paulo, com a mãe para acompanha-la em exames, num especialista.
Minha vida mudou drasticamente, já iniciamos o segundo semestre do ano e eu consegui uma
vaga num curso de moda e design numa faculdade aqui do Rio. Sim, estou estudando, sou uma
acadêmica de moda, não me aguento de felicidade e emoção. O meu primeiro dia de aula foi
eufórico para mim e tenebroso para Romeo. Minhas aulas são matutinas e naquele dia Romeo
acordou pirado.
Olhei do lado, ainda eram seis horas e estava sozinha na cama. Me levantei, vesti o robe e
desci só para constatar minhas suspeitas. Romeo estava acabando com seus punhos e o saco de
pancadas lá na academia. A última vez que ele tinha feito isso, foi no dia que eu estava indo
assinar o divórcio.
Como fiz o outro dia, saí, atravessei toda área externa e fui lá na academia e dessa vez ele me
viu mas não parou a chuva de golpes ferozes. Fiquei ao lado, de braços cruzados, olhando-o.
Ele me ignorando e eu analisando-o. Ficamos nessa por longos minutos até eu perder a
paciência, me aproximei dele, enfiei a mão no seu bolso e peguei o controle, desliguei a
música, mas Romeo não parou de socar. Está ensopado de suor.
— Está extravasando o que? Raiva ou medo? — Barulho de socos secos como resposta. —
Romeo, eu falei com você. — Tento maneirar o tom de voz.
— Os dois. — Ele responde.
Fico chocada com isso. Medo tudo bem, ele ainda está com medo de que eu saia por aí
sozinha, por causa da ameaça de Ludovico. Mas raiva? De quem?
— Está com raiva de mim?
Ele dá um último soco, se vira e vai andando em direção a uma mesa onde tem uma garrafinha
de água. Joga a água no rosto, bebe um pouco e joga mais na cabeça, começa a tirar as luvas e
seguida as faixas da mão. Eu o sigo.
— Está com raiva por que eu estou indo pra faculdade? Você que armou isso tudo para mim.
— Mas bem que poderia começar devagar né? Pra que estudar e trabalhar, Olivia?
— Por que eu quero ter meu próprio dinheiro? Já conversamos sobre isso Romeo.
Ele rosna, tipo “grrr” vira as costas para mim e sai. Eu corro atrás.
— Romeo. — Grito, mas ele não para de andar. Vai até o outro lado, tira o tênis e o short, fica
pelado e entra na ducha. Depois sob meu olhar atento, pula na piscina.
— Isso será debatido. Você não vai me ignorar o tempo todo. — Falo quando ele emerge na
água e começa as braçadas indo de um lado ao outro da piscina. Corro até a ducha, pego no
armário de madeira, uma toalha e vou para a beira da piscina.
— Saia e me encare Romeo.
Ele sai, mas no tempo dele. Me fez ficar uns cinco minutos plantada ali, enquanto ia e voltava
nadando rápido. Esse homem vai ter um ataque.
Toma a toalha da minha mão e fica na minha frente se enxugando, com os olhos parados em
mim.
— Quer me ver presa aqui na casa? Eu era presa lembra?
— Me recuso e discutir isso. — Responde totalmente gélido. Passa por mim secando a cabeça,
mas eu o seguro e faço me olhar de novo.
— Mas vai me dizer o que te faz levantar de madrugada para vir se acabar aqui por que está
com raiva.
Ele se enxuga mais e enrola a toalha na cintura.
— Você vai ficar o dia fora Olivia. Vai chegar meio dia da faculdade, almoçar e já sair
correndo para o outro lado da cidade pra trabalhar na livraria da Kate. Quero que comece uma
coisa de cada vez.
— Por quê?
— Olivia, pelo amor de Deus! — Bate as mãos ao lado do corpo, exaltado. — Você ainda está
em perigo, já vai sair de casa para ficar o dia todo fora? Como acha que vou trabalhar em paz?
— Romeo, não vai acontecer nada comigo. Tem os seguranças.
— Só isso não vai bastar, vou ficar ansioso. Você não precisa trabalhar poxa!
— Preciso! — Retruco falando mais alto que ele — Eu não quero depender de você para tudo.
Ele passa as duas mãos na cabeça, muito revoltado.
— Olivia, não fale isso, o que é meu é seu.
— Não é. Não é a mesma coisa. Me entenda.
— Então espere o emprego na Mademoiselle que eu vou arrumar.
— Meu amor, nós já falamos sobre isso. Só vou ajudar Kate pelas próximas semanas. A
reforma na livraria ficou pronta e vamos registrar na loja, todos os exemplares que vão chegar.
—Ele me puxa e me abraça muito apertado. Enlaço seu corpo úmido, apertando bem os braços
na cintura dele.
— Ah Oly! Estou cortando prego de medo. Se alguma coisa te acontecer, vai rolar um
genocídio nessa cidade. Não vou aceitar.
Levanto os olhos e seguro o rosto dele.
— Para de falar essas coisas. A vida está seguindo. Olha o tanto de tempo que já passou.
Ludovico não vai me fazer nada, ele não vai arriscar ser preso de novo.
— É... não vai. — Romeo começa a me dar vários beijos, na bochecha, na testa, nos lábios. —
Deixe para começar mês que vem... — pede com doçura, sem parar de me beijar. — Espere
mais um pouco. — Beija mais. — Nunca te pedi nada Oly. — E beija de novo, contornando a
língua nos meus lábios. Está tentando me amolecer.
— Não... Romeo.
— Duas vezes por semana então. Vá só duas vezes por semana...
— Romeo... — espalmo as mãos no peito dele e tento empurra-lo.
— Tá, três vezes. Segunda, quarta e sexta. Eu te levo e te busco.
— Não vou negociar Romeo.
— Olivia, dá um alívio para esse pobre homem.
— Vai ser assim? — Beijo o peito dele. — Só pedindo? Nada de me pegar de jeito na cama e
me fazer concordar?
— Quer que eu te pegue de jeito? — As mãos dele sobem, uma aperta gentilmente minha
garganta e a outra se enrosca nos meus cabelos.
— Talvez uma ajudinha para eu decidir não seja tão mal assim.
Ele me pega no colo e começa a andar.
— Gostosa! Vai perder feio. Eu manjo nesses assuntos.
Depois dessa pequena discussão, conseguimos chegar a um consenso para ajeitar minha rotina.
Fiquei duas semanas estudando sem trabalhar, não por minha vontade, mas por que Kate
viajou, foi visitar um tio dela no interior de Minas. Kate estava um pouco revoltada e magoada
por causa de Magno. Falta de aviso não foi. O homem não se apega nem com reza. Os
caminhos deles se desencontraram a todo instante e ela nunca conseguia fisga-lo. Ele tinha o
número dela, mas não ligou, não respondia as mensagens que ela deixava na internet para ele e
com isso tudo, Kate acabou conhecendo outra pessoa e esquecendo o irmão de Romeo. Hoje
ela o vê como o bonitão babaca com o rei na barriga e mal se falam, ou melhor, eles mal se
encontram. O mais importante é que ela está namorando um homem muito simpático. Ele
ajuda a gente lá na livraria, é um amor.
E quando ela voltou de viajem, meu horário mudou. Saio às sete com Romeo. Ele me leva, me
deixa na porta da faculdade e vai trabalhar. Como tem dias que saio em horários diferentes,
Romeo comprou um novo carro. Nem acreditei quando ele chegou em casa com esse carro
novinho em folha dizendo que era para ficar ao meu dispor. Eu não fiz birra, afinal ele não me
deu um carro, eu sabia que era para mim, ele sabia que era para mim, mas usou o jeito “Romeo
manipulador” de ser e disse que era um carro para ficar a minha disposição. O segurança vai
me buscar quando meu horário não é compatível com o do Romeo. A tarde depois do almoço,
Romeo me leva até a livraria de Kate e vai trabalhar. No final da tarde, ele passa e me pega.
Vilma vem dia sim, dia não, cozinhar para a gente e os dias que ela não está, compramos
comida. Ou seja: estamos adequando horários e costumes. O ruim de tudo é que chegamos
exaustos pelo dia. Há dias que preciso praticar coisas da faculdade, estudar e tal, mas a noite énossa. Sempre, nem que estejamos com o nariz arrastando no chão de cansaço. A noite ésempre para ficamos bem colados.
Romeo trouxe Titanic para eu assistir, como Kate diz: Fiquei passada na farofa, odiei, pois
Jack morreu. Depois optei por assistir Moulin Rouge, outro filme que me fez chorar mais
ainda, final desastroso e também assistimos Um amor para recordar, que é o filme do livro que
ele me deu quando eu ainda morava com Ludovico e que me fez chorar o dobro que chorei no
outro. Achei uma palhaçada da minha parte assistir esse monte de filme infeliz, nem fui ao
cinema com Kate assistir um que o cara fica de cadeira de rodas e também morre, já estava
cheia disso. E por causa disso, comecei a ver vários outros tipos de filmes, mesmo minha
paixão ainda sendo por romance. Romeo não curte romances, mas disse que gosta de ser meu
travesseiro enquanto assisto e fica rindo quando eu começo a me dissolver em lágrimas.
A sala dele é o melhor lugar do mundo para assistir qualquer coisa. O sofá é ótimo, grande e
espaçoso, a TV é gigante e sempre trazemos umas coisinhas para comer e beber. E para
completar podemos ficar um em cima do outro, no maior grude.
Juntos, estamos acompanhando séries ótimas. A série da professora de direito que ensina seus
alunos a escapar de uma acusação, é a que mais gosto. Não sei falar o nome em inglês, quando
Romeo me apresentou essa série, eu achei ridícula, pois Annalise, a protagonista, você ama ou
odeia. E eu não fui com a cara dela, mas ele foi me explicando com muita paciência e hoje eu
amo aquela diva.
Também assisto aquela dos zumbis (que também não sei falar o nome em inglês) pois Romeo
gosta e acabei gostando também.
Nunca achei na vida que iria assistir uma coisa como zumbis e não ficar com medo na hora de
dormir. Mas quem fica com medo dormindo muito bem abraçada?
Tudo está mudando mesmo e para melhor. Minha mãe ainda não veio aqui, mas me recebe
muito bem lá em casa. Eu sempre vou sozinha para não dar problema. Estou conversando com
elas, dizendo a minhas irmãs o que uma mulher independente faz, minha mãe não fica brava,
ela fica calada só escutando. Acho que no fundo, ela sempre teve vontade de fazer o que eu
estou fazendo: amar quem eu quero e fazer o que quero na minha vida.
Meu pai também não criou mais problema, não foi mais perturbar Romeo e nem eu. Mas isso
não importa, me sinto mais próxima da minha mãe e das minhas irmãs como nunca senti, nem
mesmo quando era solteira e morava lá.
Sabe, me sinto mais evoluída, mais moderna e animada a cada dia. Kate fala que estou
começando a entrar na alta cúpula.
Conheci pessoas novas, estou mais íntima de Magno e Lorenzo, eles me respeitam muito,
apesar das brincadeiras para provocar o Romeo. Conheci um pessoal, os amigos de Romeo.
São engraçados, executivos, lindos de morrer, mas são casados, os três. E as esposas são umas
doidas, como a Kate. Não resisti, convidei elas quatro e a Kate, para vir a minha casa num
sábado à tarde. Foi uma festa maravilhosa. Quase me urinei toda de tanto rir.
— Semana que vem é aniversário de quem? — Romeo fala, é noite e estamos na banheira. Eu
sentada entre as pernas dele, tomando um vinho, ouvindo um rock romântico antigo baixinho,
usando e abusando de um kit tombada.
— Nem me fale. Vou ficar mais velha.
— Farei um festão e a noite a festa será minha. — Romeo fala com um tom sério de garanhão.
— De manhã você assopra vinte e quatro velinhas e a noite, teremos vinte e quatro trepadas.
— Credo! — Olho para trás — Vamos bater o recorde de Magno?
— É. Vou te dar vinte e quatro orgasmos.
— Será meu aniversário de morte também né? Haja boceta.
Romeo dá um pulo dentro da banheira, que me assusta e puxa meu rosto para me olhar.
— O que disse?
— Que será meu aniversário de...
— Não. Você, Olivia Maria, falou boceta?
— Falei. — Mesmo querendo sorri, mantenho a boca fechada, controlando o sorriso. — Estou
me sentindo uma depravada.
— Isso é para ser comemorado. — Romeo me enche de beijos, está surpreso de uma maneira
eufórica. — Meu Deus! Minha namorada falou boceta. Sabe falar pau também Oly?
— Pau. — Digo já rindo muito.
— Pau de quem?
— Seu pau.
— Meu pau que é todo de quem?
— Meu.
— Então diga. — Ele pede e logo em seguida diz: — não, não. Espera. — Bate o braço do
lado, pega o celular dele que está tocando a música e mexe, depois aponta para mim. — Diga
Oly, quero sempre ver isso.
— Vai me filmar? — Já fico aterrorizada com a mão no peito.
— É. Será o primeiro de muitos filmes nosso.
— Ai que vergonha. — Tampo a cara.
— Só diga.
— Tá. — Me preparo, ajeito o cabelo, paro de sorrir e falo: — O pau do Romeo, é meu. Todo
meu.
Ele joga o celular ali e me puxa para um beijo daqueles, agarrados, molhados, pegando fogo,
como sempre. E eu me derreto em seus braços aconchegantes e fortes.
Depois do sexo gostoso no banheiro, fomos para a cozinha comer alguma coisa.
— Quero te ensinar a dirigir antes do seu aniversário. — Romeo fala ao meu lado, estou no
fogão mexendo o arroz e ele do lado olhando.
— Nossa senhora! Acho que não. Foi um desastre aquele dia. — Me recordo do dia que ele
cismou de me ensinar. Entrei em pânico, perdi o controle da direção, soltei e volante e
coloquei a mão na cabeça.
— Nunca me divertir tanto. — Romeo, parece relembrar de um modo diferente do meu.
— Você gosta de me ver pagando mico. A gente quase bateu.
— Como? Estávamos a dois quilômetros por hora. Você tirou a mão do volante e os pés dos
pedais. O carro morreu.
Termino de mexer a panela, tampo e olho para Romeo.
— Não me imagino dirigindo. Saindo com um carro, estacionando na faculdade, acho que
prefiro pegar ônibus.
— Faça-me rir. Imagina o que o povo vai dizer? Olha lá, a mulher do Romeo pega ônibus e
metrô. — Ele faz uma voz estranha, acho que imitando alguém aleatoriamente.
— Se importa com o que o povo diz?
— Nunca me importei. Mas colocar em dúvida o que sinto por você, já é outra coisa. Todo
mundo vai achar que eu não importo nem um pouquinho com você.
— Mas eu sabendo que você se importa, é o suficiente.
— Não é. Vou te mimar para todo mundo ver. Seu novo emprego já está quase resolvido. Será
uma garota de sucesso.
Coloco a mão na boca, surpresa, de olhos enormes. Meu coração bate a mil por hora.
— Sério Romeo? Você disse que eles estavam passando por uma crise e não estavam
contratando ninguém.
— Conseguiram se reerguer. Eu já conversei com o pessoal e eles vão marcar um horário para
você conversar diretamente com a tal lá que você adora.
— Ai meu Deus! — Tive uma palpitação forte. — Romeo, pelo amor de Deus, não brinque
comigo.
Ele dá uma risada aparentemente achando graça da minha cara de susto.
— Não estou brincando, Oly. Eu disse que ia te dar tudo o que não teve nos anos passados. —
Dou um pulo para cima dele e o abraço, ele quase cai para trás pois foi pego de surpresa, mas
se recupera logo e me abraça. Encho o rosto dele de beijos, um beijo para cada “obrigada” que
digo. Essa sem dúvidas é a realização mais alta que eu jamais me imaginaria alcançar. Não só
trabalhar na Madde, mas conhecer Angelina pessoalmente.
— Estou tão eufórica que essa noite não te deixo dormir.
— Nossinhora que delícia. Vamos comer a janta logo para adiantar essa noite mal dormida.
Agora eu gargalho e torno a encher ele de beijos. Ah! Como eu o amo, na verdade ele é minha
maior realização.
No dia seguinte, acordamos tarde, perdemos a hora. Nem deu tempo para fazer nada
preguiçosamente na cama. Romeo e eu corríamos como baratas tontas pelo quarto nos arrumando, saímos às oito de casa e ele não pode me levar pois já estava atrasado. Nos
despedimos e cada um foi para um lado. Senti uma coisa estranha quando vi o carro dele se
afastar. Meu coração pareceu falhar uma batida e eu queria correr atrás e dar mais um beijo em
Romeo.
Entrei no carro com o segurança e fui para a faculdade. Estava tudo normal, mandei uma
mensagem para Romeo, ele disse que estava em reunião e que iria fazer de tudo para poder ter
tempo de almoçar comigo.
Dez e meia da manhã a faculdade ficou sem energia e minha turma foi dispensada, pois
precisamos das máquinas, era aula prática. Saí com minhas colegas e como ainda era muito
cedo, andei com elas até o ponto de ônibus na esquina da faculdade.
— Vamos com a gente Olivia. — Uma das minhas colegas gritou quando o Ônibus vinha.
— Não posso. Vou ligar para virem me buscar.
— Seu namorado é muito sem noção. O que tem você vir de ônibus? Para perto da sua casa. —
Na verdade o ônibus para a um quarteirão do condomínio que Romeo mora. Fico em dúvida,
com o celular na mão, prestes a ligar para o segurança vir me buscar.
— Vamos Oly! — Outra colega grita. — O mundo todo pega ônibus! — Grita tentando me
convencer. Olho para os lados, ajeito a alça da bolsa e fico mordendo os lábios, elas já subiram
e quando a porta vai se fechar eu corro e bato a mão para o motorista me esperar. Entro
correndo no ônibus e elas me aplaudem aos gritos.
— Isso aí amiga. Não deixa homem dá as ordens não senão a coisa sai fora de controle.
— É. Por mais gato que ele seja, não pode dizer o que você tem que fazer. — Sentei com elas
duas e me diverti muito durante todo o trajeto. Elas desceram antes e eu segui sozinha. Antes
de sair, minha colega explicou onde eu devia dar o sinal para descer.
Fiquei prestando atenção e quando vi o ponto, dei o sinal e me levantei. Desci sem problema
algum e comecei a andar já reconhecendo a área. Um alívio me tomou, estava praticamente em
casa. Passo por essas ruas todos os dias.
De cabeça baixa, andando rápido na calçada, eu só quero chegar logo em casa, abraçar Pink e
esperar Romeo, vou contar para ele, vai ficar bravo, mas depois vamos rir.
E então, olho de lado e vejo um carro grande, branco, tipo Kombi ou daqueles que levam
alunos para escola, reduzindo a velocidade e encostando em mim. Desvio e continuo andando, o carro vem bem devagarzinho, emparelhado a calçada e eu sigo andando mais rápido, vou
para enfiar a mão na bolsa e pegar o celular, mas topo em alguma coisa. Levanto os olhos e
vejo um homem, muito alto e bem musculoso.
— Desculpa. — Peço e vou para desviar, mas ele me segura.
— Olivia?
— Sim. Conheço você?
— Não. — Ele fala, e segura meus ombros. Todos meus instintos entram em alerta. Um pânico
me consome.
— Me larga! — Tento me sacudir, mas em questão de segundos ele me empurra e eu já vejo o
carro atrás de mim, abrir a porta de correr e o fortão me empurra com muita força. Caio lá
dentro, ele entra logo em seguida e o carro arranca.
— Não! Socorro! — Me levanto e começo a bater nos vidros! — Socorro! —Grito em
desespero total, estou quase tento um enfarte de tanto terror. Mas em toda velocidade, as
pessoas não me ouvem. Há apenas um banco no carro e quando olho, há outro homem
desconhecido sentado, ele está de luvas e com um rolo de fita adesiva nas mãos.
— Por favor, eu não tenho dinheiro aqui, mas vocês podem levar o que quiser. — Mostro
minha bolsa.
— Já estamos levando o que queremos. — Ele retruca com um sorriso debochado e olha para o
grandão. — Segura ela.
— Não! Não toque em mim. Socorro! — Começo a me debater com todas as minhas forças,
dando chutes, batendo os braços, mesmo assim o grandão me segura, e o outro passa a fita na
minha boca. Mas não paro de lutar e acabo acertando um chute no meio das pernas dele.
— Vadia! — Ele rosna e me desfere um soco no estômago. Perco o ar na hora e caio de
joelhos, ainda estou sem ar quando recebo um chute perto das costelas, a dor é tanta que me
curvo para frente, ficando de quatro e depois recebo mais outro chute, nas costas. Caio de
barriga no chão. São golpes tão fortes que fico imóvel, sem respirar, com tudo dentro de mim
ardendo de uma dor terrível. Para completar, um dos homens puxa meu cabelo e passa o braço ao redor do meu pescoço, me debato, mas nada acontece, minhas forças são mínimas e vou parando de lutar conforme ele vai apertando e eu perdendo o fôlego.
{...}
Eu não achei mesmo que estava morrendo. Eu não me lembrei de nada, não vi nada passar
diante dos meus olhos e por isso fiquei feliz de respirar novamente e abrir os olhos.
Estou presa. Foi a primeira coisa que senti. Ainda tonta, olhei em volta e num relapso comecei
a reconhecer o ambiente. Abro e fecho os olhos várias vezes até me dar conta que estou presa
num tipo de poltrona ou cadeira, braços e pernas amarrados e que o lugar a minha frente é um
jardim que reconheço muito bem.
— Acordou, bela adormecida? — Reconheço a voz e desabo a chorar imediatamente. Choro
convulsivo, um choro de derrota, de sentir meu mundo desabar sem ter como apara-lo. E então
Ludovico entra na minha frente.
— Bem vinda de volta Oly. É assim que ele te chama, não é?
Não posso falar, pois estou com fita na boca. Soluço sentindo raiva e muito medo. O medo é
tanto que começo a tremer toda e sentir minhas pernas fraquejarem. Ele se afasta e vejo os
homens que me pegaram.
— Podem ir. Assim que estiver tudo pronto eu chamo vocês. —Eles assentem e saem. Estou
no jardim, dos fundos da casa de Ludovico. A terra do jardim está revirada e ali perto há um
caixão feito artesanalmente, parece um caixote de frutas grande, que cabe uma pessoa.
Também há várias coisas por perto: pás, litros e mais litros de alguma coisa que se parece
acido ou água sanitária, cordas e um saco de cimento.
Choro mais ainda balançando os braços tentando me soltar. Sem esperar, recebo um soco no rosto. Não foi um tapa, ele usou muita força como se batesse num homem. Choro desesperada.
— Agora vamos ter uma conversinha. — Ele levanta meu rosto e enxuga minhas lágrimas.
Está todo vestido de preto, de botas de borracha e luvas pretas. — E depois você vai para um lugar lindo, ficar ao lado da minha querida e bela e traidora Sônia. Ou melhor, vai para um
lugar terrível onde mulheres más vão quando batem as botas.
CAPÍTULO 34
ROMEO
11:25 – Olivia: Oi querido Romeo, Não precisa se preocupar estou indo almoçar na casa de
Kate. E depois das cinco eu vou embora.
No meu escritório, fico olhando a mensagem que acaba de chegar no meu celular. Acho que
Oly decidiu ir almoçar com Kate por que eu disse que talvez não poderia ir almoçar em casa.
Com um breve sorriso eu respondo.
11:26 – Romeo: Q historia é essa de querido Romeo? Pode ir, passo para te pegar assim que
terminar aqui. Mande um beijo para Kate.
Fico esperando a resposta, mas Magno abre a porta e me chama.
— Romeo, já estamos prontos.
— Ok. — Olho mais uma vez o celular, sem resposta. Me levanto, coloco o celular no bolso e
pego umas pastas em cima da mesa. — Lorenzo já está lá?
— Sim.
— Ótimo. Quero que eles saibam que nós três estamos interessados. — Saio rápido com
Magno, correndo para a sala de reunião. É uma negociação muito importante, precisamos fazer
de tudo para conseguir a parceria com essa empresa uruguaia. Na verdade, estamos querendo
arrendar toda a rede de espumante e outras bebidas. E agora que Oly não está me esperando,
posso tirar muito mais tempo para fazer uma bajulada de leve nesses caras. Vou leva-los a um
bom restaurante, comer uma comida boa, bem brasileira, beber um vinho caro e sair de lá com
a assinatura de cada um.
— Saulo, faça uma reserva para dez pessoas naquele restaurante de costume. — Pedi antes de
entrar na sala atrás de Magno. — Volte rápido para nos auxiliar na reunião.
— Claro. — ele assentiu e correu para sua mesa.
A reunião foi perfeita. Já saímos da empresa com a sensação de que tudo estava no papo.
Fomos nos carros da empresa, para o restaurante que sempre levo os clientes da Orfeu.
Enquanto estava no carro, peguei meu celular e mandei uma mensagem para o segurança.
12:37 - Romeo: Olivia já está na Kate?
12:38 – Odilon: A aula dela terminou mais cedo. Olivia me mandou uma msg dizendo que ela
ligou para Kate ir busca-la.
12:38 – Romeo: Ok. Está liberado por hoje.
E a tranquilidade me tomou. Consegui, com a ajuda dos meus irmãos, conduzir um almoço
maravilhoso. Fiz todos os uruguaios sair de sorriso largo e claro, assinaram o pré-contrato. Já
estava tudo no papo. Saímos do restaurante às duas da tarde e voltei para a empresa, já que não
tinha nada para fazer em casa. Pelos meus cálculos, nesse momento, Olivia e Kate já tinham
almoçado e estão de pernas para o ar assistindo ou tirando um cochilo.
— É um milagre você não ter corrido para casa. — Magno observa quando chegamos a
empresa.
— Oly foi almoçar na casa da amiga dela. Vou passar depois para busca-la.
— Que amiga? A Kate do Magno? — Lorenzo questiona dando um de desentendido, já
olhando cinicamente para Magno.
— Minha não. Sou solto no mundo. Por isso que abortei a missão a tempo. Um soldado sabe
onde é campo inimigo.
— Por quê? Ela é bonita. — Eu entro na conversa. Entramos no elevador.
— Muito gostosa, me deu vontade de comer, mas ela já estava em cima de mim, não iria
aceitar uma vez só e não posso dar mais que isso. Aí tem o fato de ser melhor amiga da Olivia
e iria ficar um clima estranho.
— Tem razão. Gostei da sua atitude.
— É, a primeira vez que ele pensa nos outros e não no próprio pau. — Lorenzo concorda.
Rimos e saímos do elevador cada um indo para seu lado. Trabalho até as quatro. Como não fui embora almoçar, sairei mais cedo. Aviso Saulo para encerrar qualquer compromisso e antes de
sair pego o celular para mandar uma mensagem para Olivia.
16:12 – Romeo: Estou saindo agora.
Ajeito minha mesa e antes de sair, meu celular vibra na mesa com uma nova mensagem que
chegou.
16:14 – Olivia: Vá direto para casa, estou saindo agora da casa de Kate. Te espero lá. Beijos.
16:14 – Romeo: Oh garota, quer parar de ficar Indo e vindo sozinha? Você não tem essa
regalia ainda não. Te amo.
E mais uma vez fico esperando e nada de receber uma resposta. Dou de ombros, guardo o
celular e saio da minha sala.
— Estou indo Saulo, até amanhã.
— Até amanhã Romeo.
{...}
Chegou em casa, e não há ninguém. Ela ainda não chegou, e o carro está na garagem. Vou dar
um bom sermão nela quando chegar aqui. Claro que o sermão será na cama ou no chuveiro,
estou numa saudade danada. Vejo se Pink está precisando de água ou comida, depois subo,
tomo um banho e desço em seguida vestindo apenas uma bermuda. E nada de Olivia chegar.
Olho no celular, nenhuma mensagem. Dá tempo preparar alguma coisa para quando ela chegar.
O tempo se arrasta, preparo sanduíches, guardo na geladeira e já está anoitecendo. No relógio
já é mais de seis da tarde.
Cheio de especulações, saio da cozinha, pego meu celular e ligo para Olivia. Ninguém atende.
Toca até cair na caixa de mensagem. Já perdendo a paciência, ligo para Kate.
— Oi Romeo.
— Vocês já estão chegando?
— Vocês quem?
Enrugo a testa, ando na sala, totalmente inquieto.
— Você e Olivia. Ela mandou uma mensagem que estava chegando e até agora nada.
— Como assim Romeo? — Agora a voz dela fica um pouco tensa — Não vi Olivia hoje. Ela
me mandou uma mensagem que não poderia vir na livraria hoje.
Dou uma risada incrédula, bem nervosa.
— Kate, para de brincadeira. Passe a celular para Olivia.
— Ai Meu Deus! Quando foi a última vez que a viu? — Agora, com esse tom, Kate já está me
deixando nervoso.
— Hoje de manhã. Mas ela me mandou várias mensagens dizendo que iria almoçar com você.
Me deixe logo falar com ela.
— Espera ai. — Kate fala e eu fico esperando. Depois chega uma mensagem. — Te mandei o
print da mensagem que ela me mandou. Eu juro, ela não está comigo.
Já aterrorizado, com o coração batendo no pescoço, eu leio o que Kate me mandou. Está lá,
quase no mesmo horário que mandou a primeira mensagem para mim.
“Kate, não vou poder ir hoje. Eu e Romeo temos um compromisso.” Fico imóvel, lendo a
mensagem várias vezes. Meu estomago revira e sinto minhas pernas fraquejarem, como
quando se recebe uma notícia ruim, ou melhor, quando sabemos que alguém vai dar uma
notícia ruim.
— Romeo, está me escutando?
— Kate...! Droga Kate... Oly está em... meu deus! Isso não.
— Fica calmo. Ligue para a polícia agora. Ah meu Deus! — do outro lado, Kate se lamenta
com voz de choro.
— Tudo bem. Vou rastrear o celular dela. Te ligo assim que tiver notícias. — Desligo a
chamada de Kate e com os dedos trêmulos, ligo para Magno.
— Fala. — Ele atende cheio de tédio.
— Cara, aconteceu alguma coisa com Olivia. Ela desapareceu. — Jogo tudo na lata, sem
rodeios.
— Caralho velho! Como isso aconteceu?
— Não sei. Mas pelo que entendi alguém está com o celular dela e enganou eu, a Kate e o
segurança.
— Como tu deu esse mole, porra?
— Apenas venha pra cá agora. — Esfrego a testa já lutando para não entrar em pane. Estou
quase saindo correndo de casa, sem direção.
— Estou indo. Me espere, não faça nenhuma loucura.
— Vamos a polícia.
— Ok. To saindo daqui.
Desligo e subo correndo as escadas, de dois em dois degraus, já com o celular no ouvido
ligando para a empresa de segurança para rastrear o celular de Olivia. Há certas coisas na vida
que a gente não pode pensar, parar para pensar no que está acontecendo, senão enlouquece.
Melhor acredita em tudo, menos que Ludovico tenha algo a ver com isso. Senão a raiva pode
impedir que eu tenha um raciocínio lógico. Me visto em dois tempos e ainda com a camiseta
enfiada em apenas um braço, já ligo para o segurança. Ele atende rápido.
— Odilon, você viu a Olivia e para onde ela foi?
— Não senhor. Eu só recebi a mensagem dela dizendo que tinha ido com a amiga.
— Mas que porra Odilon! — Sinto minhas veias do pescoço inflar quando grito — Você nem
foi constatar?
— Não... ela disse que não precisava...
— Mas que porra cara! Eu te pago pra que caralho?
— Romeo, eu...
— Cara, não venha me se explicar não, a merda já está grande, suas desculpas vai é aumentar mais meu ódio. — Desligo sem deixar ele falar. Kate me liga de novo e já está com uma voz
de pura aflição.
— Romeo, acabei de ligar na casa dos pais dela, Olivia não foi lá hoje. Por favor, me diga que
está fazendo alguma coisa. Vai logo na casa de Ludovico.
— Não estou parado Kate, é lógico que estou fazendo tudo que posso. Te ligo quando tiver
mais notícias. — Desligo para não ser mais bruto com ela. Nem ela e nem o segurança teve
culpa.
Olivia é culpada, eu pedi tanto para ela não ficar sozinha nem por dois segundos. O pior que eu
nem sei se ela de fato ficou sozinha. Enquanto não recebo a notícia do rastreador de celular,
ligo para a faculdade e acabo sendo informado que a turma dela foi liberada mais cedo. Meu
coração para de bater por segundos. Fico apático, sem vida, de pé no meio da sala na
penumbra.
— Olivia! — Exclamo para mim mesmo em um sussurro quase mudo, e nesse instante um
pânico terrível me toma. Morro mil vezes. A dor me consome e eu saio correndo de casa.
Inferno!
Ela ficou o dia desaparecida. Olivia precisou de mim, Olivia está precisando de ajuda. O
desespero é tanto que não consigo acerta a chave na direção do carro.
— Cacete! — Grito batendo muitas vezes no volante. Passo a mão no rosto, tento evitar um
desmaio por causa do grande excesso de sangue que deve estar sendo bombeado para minha
cabeça, sinto meu rosto queimar e tudo dentro de mim se revirando de terror. E para completar,
o celular toca, atendo parecendo bêbado e preciso de muita força para continuar firme ao
receber a notícia que o celular de Olivia está fora de alcance, impossível de rastrear, o chip e
todo o aparelho pode ter sido destruído.
Desestruturado, ligo o carro e mal espero a garagem abrir para sair em disparada, em toda
velocidade que consigo. Quase quebro a alavanca na entrada do condomínio.
— Magno, estou indo para a casa de Ludovico. Me encontre lá. — Praticamente berro, quando
ele atende minha ligação.
— Romeo, estou chegando, te pedi para me esperar. Deixa de ser um cusão!
— Cusão? Você tem noção do que pode estar acontecendo? Inclino para o painel do carro para
gritar muito alto. — Seu merda!
— E ficar de drama parecendo um boiola retardado vai dar jeito? Pensa com cabeça fria mano.
De peito retumbante, mais ofegante do que se estivesse jogando futebol, eu falo com mais
calma: — Apenas me encontre lá. — Desligo a chamada e acelero rumo a casa de Ludovico.
Juro, por esse céu que está sob minha cabeça, que se ele tocou num fio de cabelo dela, eu vou
responder por homicídio que teve sim intenção de matar.
Geralmente eu gastava de quinze a vinte minutos da minha casa até a casa de Ludovico. Hoje
gastei dez minutos. E para minha surpresa, quando parei em frente, estava tudo escuro.
Desço do carro, correndo e enfio o dedo na porra do interfone. Toca de cansar e ninguém
atende. Não há uma luz acesa, daqui posso ver parte do quintal, nada aceso. Nenhuma fresta.
Fico com ódio de mim nesse momento, por ter entregado a copia da chave que o jardineiro me
deu.
Continuo chamando, batendo palmas, espancando o interfone. Mas não há ninguém em casa.
Mas é lógico que se ele pegou a Olivia, aqui seria o último lugar para ele se esconder.
Começo a andar, como um doido, na calçada da casa de Ludovico. Ando de um lado para outro
várias vezes, medindo a calçada, a passos largos. Não sei quantas passadas dei, apenas sei que
foi o suficiente para dar o tempo de Magno chegar e vir correndo em minha direção.
— E ai?
— Não tem ninguém. — Dou um chute no portão. Ah Meu Deus! Proteja ela! Peço
interiormente, escondendo o rosto nas mãos. — Ele deve ter levando-a para outro lugar,
Magno. Vou matar o desgraçado.
— Será que foi ele mesmo?
— O que mais pode ter acontecido? Eu já estava pressentindo, pedi tanto para ela tomar
cuidado. Fico de costas me lamentando, começando a pensar no pior. A porra das palavras da
cigana brilha como neon na minha mente: “Sem futuro. ” Minhas pernas fraquejam na mesma
hora. — Oly já sofreu tanto cara, não é justo com ela...
— Romeo. — Ele coloca a mão no meu ombro. — Temos que pensar em todas as
possibilidades. Vamos a delegacia.
— Claro. — Passo a mão no olho e me viro para Magno. — Claro.
— Eles vão saber como conduzir investigações.
Antes de sair com Magno, olho uma última vez para a casa de Ludovico toda escura. Meu
peito pesa tanto. Olivia precisa de ajuda. Olho de relance para o céu e peço silenciosamente:
“proteja ela.
”
Magno chamou a polícia. Dois policiais e um investigador foram para minha casa, assim que
ficaram sabendo que Olivia já tinha sido agredida e ameaçada pelo ex-marido. Liguei para os
pais dela e o pai pareceu verdadeiramente pasmo com a notícia, então soube que ele não estava
envolvido. Policiais foram na casa dos pais dela pegar depoimento e fazer uma varredura,
depois foram a casa de cada um dos filhos de Ludovico e por fim, após não ter nenhuma pista,
começaram a procurar em outras delegacias, em necrotérios e hospitais. A noite se arrastou
devagar, enquanto eu ficava sentado sozinho no sofá, vendo um policial vir, conversa com
Magno e balançar a cabeça negativamente, a cada ligação que o policial recebia no rádio
comunicador, meu coração saltava no pescoço, depois ele olhava para Magno e fazia um gesto
negativo. Sem progresso.
E eu aos poucos me deixando vencer pelo desespero.
{...}
OLIVIA
NÃO MUITO LONGE DALI...
Estou imóvel, amarrada na cama. Pés e mãos amarrados. Com sede e com fome e amordaçada.
Já chorei tudo que tinha para chorar, agora o cansaço tenta me vencer, mas me mantenho
acordada, sob vigília.
Ludovico falou tudo que quis. Disse que passou todos esses dias arquitetando para me capturar.
Preparou tudo: comparsas, formas de encobrir um assassinato; colocou papel negro nas janela se as cortinas por cima, assim mesmo com a luz acesa, a casa parecia escura para quem visse de fora.
Os homens que me pegaram, estavam me seguindo a dias. Ele sabia que uma hora eu abriria uma brecha. Eu chorei tanto ao me lembrar de Romeo se preocupando e pedindo para eu tomar todo cuidado possível.
Depois de falar tudo, ele me desamarrou, me empurrou para o chão e começo a me chutar: nas pernas, nas costas, nas costelas me lembrei de uma aula de sobrevivência que tive na sexta
série e me encolhi em posição fetal, assim protegeria lugares letais. Conseguir me desviar de alguns golpes, me levantei correndo e fui para a cozinha, eu a conhecia muito bem, então abri a gaveta das facas, me armei com uma e mesmo assim ele me enfrentou, não o poupei, golpeei com toda força, cortando seu braço e por causa disso ele me jogou no chão e me aplicou um ainjeção, apaguei em segundos.
Acordei amarrada e sozinha no quarto de hospede. E aqui estou eu amarrada na cama, muito perto de onde meu celular clandestino está.
Já tentei tanto me desamarrar, pegar o celular e ligar para alguém. Os nós da corda estão muito fortes, não consigo mexer o corpo.
E depois de tanto tentar, acabo vencida pelo cansaço e gemendo de dor, acabo dormindo, ou desmaiando mesmo.
Continua amanhã
Desgraçado do Ludovico
ResponderExcluirMds... Esse maldito tem q pagar
ResponderExcluirUp
ResponderExcluirNossa triste será q ela vai ter um final infeliz
ResponderExcluirPobre oly🥺
ResponderExcluirA espera valeu a pena!!!! Agora estou super hiper mega ultra ansiosa pelo próximos capítulos.
ResponderExcluirAguenta firme Oly! 😱
Desgraçado 🤬que ódio desse ludobabaca
ResponderExcluirMeu Deus espero que a Olivia consiga pegar o celular escondido e ligue pro Romeo.
ResponderExcluirAi velho nojento
ResponderExcluir😱😱😱muito ansiosa
ResponderExcluirTomara que ela consiga pega o celular a tempo 😥😥
Meu deus 😧
ResponderExcluirAí meu Deus. .....
ResponderExcluirup mas
ResponderExcluirTomara que encontrem logo ela e esse lixo vá morrer na cadeia por todos os seus crimes, coitada da tal Sônia
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