Conto Erótico - A Sombra da Luz - Capítulos 31 e 32

🔥✨A SOMBRA DA LUZ 🔥✨

Autora :  Nana Pauvolih

CAPÍTULO 31

DANIELA PRADO

No dia seguinte acordei e nem ao menos tomei o café da manhã, pensando em ligar para Margarida, contar as últimas novidades, tomar algumas decisões. Como por encanto meu celular começou a tocar e era justamente ela.
— Oi, Margarida. Eu já ia ...
— Dani... – A senhora arquejou, sua voz rouca, arrasada, pesada. Fiquei preocupada na hora.
— O que houve?
— Acabei de saber. – Ela respirou fundo. Se não a conhecesse e soubesse o quanto era durona, diria que tinha chorado. A voz estava trêmula: — Um pescador estava perto do rio com seu cachorro, preparando iscas para sair de barco e o cão sumiu. Se meteu no mato e foi encontrá-lo cavando num canto, desesperado. Tinha chovido e a terra estava molhada. O animal achou um corpo, Dani.
— Ah, meu Deus! – Senti-me gelar.
— No final de semana retrasado, quando esteve aqui e aqueles malditos também, um rapaz turista sumiu. Seus pais e avós vieram para a cidade atrás dele. Não te falei nada, pois achei que não tinha a ver com esses dois. Afinal, ele pega e mata mulheres, não é?
— É, acho que é... Mas... Quando esse corpo foi achado?
— Ontem. A polícia encontrou os documentos no bolso, é mesmo do rapaz desaparecido. No mesmo dia em que vieram aqui em Conservatória e você os viu. – Parecia cansada. – Mesmo assim, achei que podia ser outro caso. Mas...
— O quê? – Meu coração batia descompassado, eu apertava o celular com força.
— O cachorro do pescador continuou cavando perto e a polícia resolver trazer cães treinados e olhar em volta. Você não vai acreditar, Dani. Foram encontrados mais três corpos. E não estão em decomposição como do rapaz. São só esqueletos. – Ela se descontrolou e começou a chorar. – Um deles pode ser de Fabiana! Pode ser da minha filha, Dani!
— Margarida, eu... Ah, amiga! Por favor, se acalme! – Supliquei, com lágrimas nos olhos, nervosa. – Escuta, estou indo agora para aí! Vou pegar meu carro e chego logo. Promete para mim que vai tentar se acalmar, que vai me esperar chegar.
— Eu já fui na delegacia, exigi saber se é de Fabiana, mas me disseram que vai demorar um pouco, os corpos vão para a perícia... – Tentou se acalmar, se equilibrar. – Esse cara é um monstro! Quatro corpos em um só lugar! E não apenas mulheres, Dani. Pode ter matado muito mais do que pensamos.
Eu me sentia sufocar, nervosa, tremendo.
— Sim, ele é um monstro. – Pensei em Gabriel, Davi e Rômulo, os três no local em que o rapaz sumiu, os três daquela cidade. Respirei fundo, disse ao telefone. – Espere por mim. Estou indo.
— Não demore... – Sua voz saiu num fio.
— Não vou demorar.
Não fui para a agência naquele dia. Liguei para lá e deixei um recado de que estava passando mal e faltaria. Tomei um banho rápido, peguei meu carro e parti para Conservatória, minha cabeça cheia, meu coração apertado. Nem sei como cheguei lá, mas fui direto para a casa de Margarida, preocupada.
Ela abriu o portão automático de dentro de casa e deixei o carro na garagem. Entrei rápido e a vi em sua cadeira de rodas, na sala, mais pálida e acabada do que o normal. Cada ruga de seu rosto estava pronunciada, a dor visível em seus olhos, o desespero em sua expressão. Toda força e determinação inerentes à sua personalidade estavam esquecidas. Era uma senhora arrasada, destruída, sem poder conter o próprio sofrimento.
Fui invadida pela pena e pela raiva do que aquele desgraçado tinha feito. Não apenas matara Fabiana, Monalisa e outras pessoas. Destruíra famílias, trouxera dor e saudade, desespero. Com o peito apertado e um bolo na garganta, corri até Margarida e me ajoelhei à sua frente, abraçando-a forte, sabendo que palavras seriam em vão naquele momento.
A senhora me apertou forte e desabou, chorando pesadamente, estremecendo, se entregando ao pranto e à dor terrível de passar anos buscando a única filha e naquele momento ter a chance de encontrá-la. Nunca tinha havido esperança, sabia que estava morta. Mas aqueles corpos apenas comprovavam que o assassino agira mesmo ali e que Fabiana poderia ter estado todo o tempo enterrada tão perto.
Deixei-a extravasar, se entregar, soluçar. Eu mesma senti as lágrimas escorrendo por meu rosto e aquele sofrimento abissal. Mas ao menos sabia parte do que acontecera com Monalisa e a enterrara. Margarida não tivera a oportunidade de nada daquilo. E sua força habitual não a deixava se lamentar. Mas ali se entregava ao sofrimento maior do que ela.
Eu a confortei, acariciando seu cabelo curto e fino, até que só sobrassem tremores. Margarida então se afastou um pouco, enxugando o rosto com os dedos, sem poder me encarar. Levantei, fui pegar papel toalha na cozinha e estendi a ela. Assoou o nariz vermelho, limpou os olhos inchados.
— Quer uma água? – Perguntei, preocupada.
— Não. Eu... Eu estou bem. – Embolou o papel nas mãos. Fiquei parada perto e apertei seu ombro com carinho. Senti os ossos ali e me dei conta de como estava magrinha.
Passei os olhos por seu corpo, suas pernas finas e inertes, os anos que pesavam em seus ombros e a doença que a castigava. Era como uma árvore, forte, enraizada, mas que se curvava com o tempo e as intempéries. Tinha sido muita coisa em sua vida. A doença e morte do marido que amava, o sumiço da filha, a desconfiança quase certa de que tinha sido assassinada, os anos de busca, a doença que a deixara naquela cadeira.
Por isso era tão seca, não tinha paciência com ninguém e vivia isolada. Até isso aquele assassino tirara dela, a vontade de viver. E isso se percebia em cada linha dolorida e envelhecida de seu corpo. Só o que a motivava era saber o que realmente tinha acontecido.
— Está com dor?
— Já tomei um remédio. – Finalmente me fitou. Senti seu sofrimento por dentro. Mesmo sabendo que não gostava muito de contato físico, acariciei seu rosto com carinho. Ficou quieta, talvez ainda arrasada demais para reclamar.
— Conte tudo com calma agora. – Pedi.
— Sente-se aí no sofá.
Eu sentei e virou sua cadeira para ficar à minha frente. Mais controlada, explicou:
— No final de semana retrasado, quando veio aqui e aqueles desgraçados também, um rapaz sumiu. Turista de vinte anos. A família veio procurá-lo. No hotel em que estava hospedado informaram que saiu com sua mochila no sábado à noite, mas deixou roupas e outros objetos no quarto. Não voltou mais. Fizeram uma busca pela cidade e nada.
— Devia ter me falado.
— Não pensei que tivesse relação, Dani. – Estava cansada. – É um homem. Até então pensávamos que ele só matava mulheres. Bem, a família e a polícia não encontraram pistas. Até ontem, como te falei. O cachorro do pescador cavou e descobriu parte do corpo. Estava lá, com documentos e coisas dele. Os pais e avós estão arrasados, não se fala de outra coisa por aqui. Tinha só vinte anos, estudava arquitetura. Precisava ver a foto! Loiro, bonitinho...
Calou-se, ainda abalada, mas enchendo-se de fúria. Fitou-me direto nos olhos.
— E acharam mais três corpos perto. Só ossos. Coisa antiga. Talvez a minha Fabiana.
— Pode não ser ela, Margarida. Temos que esperar. – Tentei acalmá-la.
— Mas pode ser. Esse cara é um desgraçado! São anos e anos matando e nunca foi pego. Só de imaginar que é um daqueles dois, tenho vontade de pegar uma arma e matá-los!
— É apenas um deles.
— Dane-se! Foda-se! – Gritou, revoltada, me olhando com raiva. – O que é, quer defender agora seus amantes?
— Margarida, não desconte em mim. – Pedi, me controlando, entendendo-a.
— Mas tem que descobrir logo qual deles é esse filho da puta! Chega, Dani! O que você quer? Ser mais uma vítima dele? Não é possível que não tenha uma desconfiança! Um louco desse não pode enganar todo mundo!
Fiquei imóvel, bombardeada por suas palavras, sentindo sua dor e seu ódio, envergonhando-me por ter tido prazer com eles, por continuar mais confusa do que nunca, sem nada definitivo.
— Qual deles? Qual? – Exigiu, ficando ainda mais pálida, seus olhos brilhando com seu descontrole emocional.
— As coisas não são tão simples, Margarida. Preciso contar o que aconteceu, que me deixaram mais confusa.
— Fale.
E eu contei tudo. Da gringa desaparecida em Ilha Grande quando Davi, Gabriel e a família dele estavam lá, do encontro com Rômulo e acusações dele a Davi, do que este me contou sobre Rômulo ter namorado Monalisa e não gostado nada quando ela se envolveu com os dois. Parei ali para respirar, quando ela se mostrou surpresa:
— Quer dizer que tem outro suspeito? Mas você não tinha certeza que foi um dos dois? Sua irmã não deixou isso bem claro?
— Eu tinha, mas ela não citou nome, só disse que ele queria matá-la com ciúme por ter escolhido o outro. Óbvio que falava deles, mas na verdade, pensando bem, se o que Davi falou de Rômulo é verdade, ele também poderia ser o culpado. Nem sei mais o que pensar!
— Que merda! E não chegou a mais nada? Só recebi pela webcam o vídeo que fez da casa de Davi. Cadê o do outro?
— Não consegui filmar a casa de Gabriel ainda.
— Por que não?
— Com ele é mais difícil. Só agora me levou em sua casa, mas...
— O quê?
— Ainda não deu, Margarida.
Ela me avaliou e respirou fundo.
— O que está escondendo de mim?
— Nada!
— Não acredito, Dani! Você está a fim desse Gabriel! – Acusou. – O que foi, bastou um fim de semana na praia se esbaldando com ele para ficar apaixonada? Pelo assassino da minha filha?!
— Pare de falar besteira! Não estou apaixonada por ninguém! Na verdade, ainda não contei tudo! – Exclamei, nervosa, tremendo, tentando me defender das acusações loucas. — Nunca neguei que me senti atraída por eles e que nenhum parece assassino, mas ...
— Agora quer colocar a culpa no Rômulo para salvar a pele deles! Se não está a fim desse Gabriel, deve ser apaixonada por Davi! Ninguém demora tanto para ter provas!
— Tanto? Semanas? O que quer que eu faça, me dedure? Invente alguma coisa?
— Nunca vamos saber, se continuar cega! – Berrou, fora de si.
Respirei fundo, revoltada com ela e comigo mesma, sentindo-me culpada por mais uma pessoa ter morrido sem que eu tivesse algo definitivo contra o assassino. No fundo talvez eu fosse a errada, pois no fundo me envolvi com eles sim, até desejei que fossem inocentes. Pensei em Gabriel e murmurei:
— Gabriel foi ao local onde Monalisa morreu.
— O quê?
— Eu o vi na praia. Indo ao lugar onde ela foi encontrada.
— Puta que pariu! É ele! Não estou dizendo? Para recordar seu crime. E aquele outro, escrevendo no diário, guardando no cofre... Também foi suspeito. Mas ainda é pouco! Nada disso coloca o monstro na prisão!
Quase desabei, cansada, arrasada, sentindo-me uma inútil. Esfreguei o rosto, sem conseguir pensar em mais nada. Margarida se acalmou um pouco, observando-me. Por fim me surpreendeu:
— Saia de cena, Daniela. Desista.
— Nunca! — Nem acreditei. — Você quer saber o que aconteceu com Fabiana! E eu com Monalisa! Não posso me afastar. Não agora, que estou tão perto, que... que já me envolvi com eles! Droga, Margarida, eu os tinha aqui sob as minhas vistas naquele sábado! Mas aí Gabriel sumiu com a morena e Davi foi embora com a irmã dele e com Rômulo. Um dos três deve ter voltado depois e pego o rapaz. Mas como o levou para o meio do mato?
— Eu soube que o menino era homossexual. – Margarida falou baixo e a olhei na hora. – Pode ter sido seduzido, como as mulheres, como sua irmã.
— Homossexual?
Pensei em Gabriel e Davi, ambos apaixonados e quentes na cama. Não tinha percebido nenhum traço neles de homossexualidade ou bissexualidade. Seria possível? Afinal, eu os conhecia ainda muito pouco. Fiquei surpresa. Rômulo parecia um típico machão.
O assassino também poderia só fingir ser homossexual. Talvez atraiu o rapaz para matá-lo. Mas por quê? Quanto à Monalisa, eu sabia que tinha havido ciúme. No entanto, ele já era um assassino antes. A prova era o sumiço de Fabiana, como de tantas outras mulheres. E talvez homens.
Margarida e eu ficamos em silêncio um momento, imersas em nossos pensamentos, cheias de agonia e dor. Tantas vidas desperdiçadas, tantas vidas afetadas por causa de um louco! Um louco que vivia tranquilamente entre nós, que era lindo, que seduzia e depois matava.
— Estou muito cansada. – Murmurou Margarida, o que me fez olhá-la, reparar nas olheiras escuras sob seus olhos opacos, inchados. – Quase não dormi essa noite.
— Vá se deitar. Vou fazer uma sopa para você.
— Preciso ir de novo na delegacia.
— De que vai adiantar? Demora para ter resultados. De qualquer forma, saio por aí em busca de informações. Vamos, vou te ajudar a ir para a cama. – Eu me levantei.
— Já sou grandinha.
— Sei disso. Como vejo que também está com dor. – Fui para perto de sua cadeira, preocupada.
— Só preciso mesmo me deitar um pouco.
Reclamou quando insisti em ajudar, mas não liguei. Empurrei sua cadeira para o quarto e praticamente a peguei no colo, colocando-a na cama. Era tão magra que não pesava nada. Continuou a falar que não precisava, mas ignorei seus protestos. Só parei depois de vê-la deitada de lado, com uma coberta por cima. Beijei seu rosto, com pena e dó de seu sofrimento tão perceptível, abalada por dentro.
Saí do quarto de fininho e fui para a cozinha fazer um chá e preparar uma sopa. Mas o tempo todo sentia meu peito apertado, uma agonia me remoendo, um desespero por dentro. E ali, revoltada em ver o estado da minha amiga, eu mesma sofrendo, disse a mim mesma que não me deixaria enganar. O assassino não podia escapar impune.


CAPÍTULO 32

DAVI TABASCO

Eu não acreditei quando a recepcionista me disse que Daniela deixara um recado dizendo que não iria trabalhar naquele dia. Entrei em meu escritório preocupado, minha mente preenchida por conjecturas, ainda mais depois de ter percebido como ela parecia estranha no dia anterior.
Sentei em minha cadeira e liguei para o celular dela. Chamava, mas ninguém atendia. Continuei tentando, mas em vão. Naquele momento, Gabriel entrou em minha sala e seu semblante estava carregado. Na mesma hora indaguei:
— É sério que a Dani faltou hoje?
— É.
Ele se sentou na cadeira em frente à minha e nos encaramos. Uma tensão esquisita pesava o ar, provando que as coisas por ali não estavam nada boas nos últimos dias.
— Será que ela está passando mal? Ou chateada, depois do que rolou no seu apartamento? — Observei Gabriel se fechar ainda mais, sem responder. Insisti: — Que cara é essa? Por que não me diz o que está acontecendo?
— Se refere à discussão com Rômulo?
— Não, Alemão. Falo de você, todo esquisito. Parece que está com ciúmes. É isso? Está apaixonado pela Daniela?
— Claro que não. — Seus olhos escureceram, os maxilares apertaram. Não consegui identificar se de raiva ou de ciúmes mesmo.
Recostei na cadeira, perturbado. Então me avaliou um tempo e indagou:
— E você? Está apaixonado por ela?
— Talvez.
A tensão piorou. Eu nunca o magoaria de propósito, por isso tentei conversar:
— Cara, somos como irmãos. Se essa coisa que rolou com a Dani está dando errado, a gente pode dar um tempo. Ver qual é a dela, se está a fim de um de nós. Só não quero que fique puto comigo ou me veja como inimigo.
— Isso nunca, Davi.
Falou com firmeza e o alívio me envolveu. Consegui sorrir.
— Então tudo vai se ajeitar. Já tentou ligar para ela, saber se está bem?
— Dá fora de área.
— Comigo também.
— Deve ter tirado uma folga de nós dois.
Dei uma risada, mas Gabriel não relaxou. Ao contrário, algo o deixava mais rígido, sério. Observei-o e por fim falou o que o perturbava:
— Daniela não veio parar aqui por acaso, Cigano. Ela é irmã da Monalisa.
— O quê? — Encarei-o, chocado. — Que merda é essa?
— O que acabei de dizer. Ela é a Pequerrucha que a Lisa falava.
— A irmã de 15 anos. Porra! Por essa eu não esperava! Ela te falou isso?
— Não, descobri sozinho.
Acenei, minha mente em busca de mais respostas. Avaliei o que aquilo significava, mas foi ele quem emendou:
— Daniela se envolveu conosco por achar que um de nós é o assassino da sua irmã. Não sei como chegou a essa conclusão.
— Mas isso é uma loucura!
Levantei e passei a mão pelo cabelo. Gabriel estava quieto, quase que imobilizado. Virei, apertando os olhos:
— Lembra que a polícia ficou em cima da gente, por uma denúncia anônima? Acha que foi ela?
— Acho.
— Nem morava aqui! Não dá para entender. E agora veio se meter comigo e com você ... fingindo? Eu achei que ela gostava, que ... — Sacudi a cabeça.
Naquele momento o celular de Gabriel começou a tocar e pensei que fosse Daniela. Ele atendeu:
— Oi, mãe. Tudo bem. Como estão as coisas por aí?
Ouviu concentrado. Voltei a me sentar, ainda com Daniela na cabeça, pensando o que tinha levado Gabriel a descobrir aquilo. Mandado investigar? Por qual motivo?
— Se sabemos o quê? — A voz dele interrompeu minhas dúvidas e seu rosto ficou carregado, preocupado. — Como assim? Um serial killer?
Imóvel, esperei por mais, enquanto Gabriel ouvia. Então olhou para mim, sobrancelhas apertadas, corpo retesado. Fiz uma indagação com a cabeça, curioso.
— É sério? Mas se são esqueletos já estão aí há um bom tempo. Corpo de um rapaz? Recente?
— Como assim? — Inclinei para frente e ele fez um gesto para que esperasse.
— Mas sabem de quem é o corpo do rapaz? Entendi. Se tinha outros corpos em volta, deve ter sido o mesmo assassino. Fique calma, mãe.
Mantive-me imóvel, só escutando, observando as expressões dele. Então garantiu que estávamos bem, que apareceria por lá e desligou. Perguntei logo:
— Que merda é essa?
— Foi encontrado o corpo de um rapaz em Conservatória. Parece que sumiu um dia desses. E perto do corpo, acharam também uns esqueletos mais antigos.
— Que loucura! A cidade sempre foi tranquila. Mas pegaram o assassino?
— Acho que não. Pelo que entendi, vai demorar com perícia e a investigação.
Ficamos ambos preocupados, pensativos. Sacudi a cabeça:
— Esse mundo está perdido mesmo. Imagino como seus pais estão nervosos. Rômulo já voltou para lá?
— Já.
— Menos mal. Pelo menos vai cuidar deles. Você pretende ir para a cidade quando?
— Logo. O assassino ainda pode estar por lá e estou preocupado.
— Vou também. Cara, estou pensando agora: Você acabou de me contar que a Daniela é irmã da Monalisa, que está atrás de quem a matou e provavelmente acha que foi um de nós dois. Agora aparecem corpos na cidade em que nascemos. — Eu me sentia alterado, sem conseguir entender aquilo tudo. — Será que a Dani acredita que há algo nos ligando a isso? Porra, Gabriel, como pode uma coisa dessas?
— Não sei. — Pareceu nervoso também, pensativo. — Não fomos nós. Então só me resta crer que pode ser alguém conhecido.
— Ou tudo foi coincidência. Para a polícia, Monalisa estava no lugar errado e um doido a pegou. Acho que temos que encontrar Daniela e conversar com ela.
Gabriel concordou. O problema seria achá-la.

🔥✨A SOMBRA DA LUZ 🔥✨

Autota :  Nana Pauvolih

CAPÍTULO 33

A SOMBRA

Não podia acreditar que o corpo daquele viadinho tinha sido encontrado e dos outros, mais antigos, também. Não era possível! Aquilo nunca acontecera e por um momento pensei se tinha sido uma denúncia. E juntei algumas coisas.
Poderia ter sido Daniela? Mas se sabia onde estavam os corpos era porque tinha me seguido e isso não ocorreu. Eu prestei muita atenção. Além do mais, caso tivesse provas, a polícia já teria vindo atrás de mim.
Nervoso, pensei o que poderia acontecer com aqueles novos fatos. Eu tinha sido muito burro! Acostumado como estava a fazer o que eu queria e enterrar os corpos, sem nunca ter sido descoberto, não me preocupei muito com detalhes. E se achassem minha impressão digital naquele rapaz, em sua roupa ou mochila, já que o enterrei com tudo? Ou algo meu que não percebi?
Fechei os olhos, procurando me acalmar. Tinha ficado assim também quando matei pela primeira vez aquela garota no lago, aos dezesseis anos e joguei o corpo no rio, de improviso. Lembro bem daquela menina impertinente que estudava na mesma escola que eu. Ficou provocando e, quando a levei para lá e transamos, entrou em uma de debochar de mim.
Nunca esqueci como aquela piranha mexeu tão fundo. Quando viu que eu só trepava com ela e depois a desprezava, entrou em uma de me comparar com ele, dizer que eu o invejava e que não chegaria aos seus pés. Teve o que mereceu. Como era mesmo o nome dela? Fabiana. A putinha da escola. Há doze anos se encontrava no fundo do rio. Ninguém tinha mandado se meter comigo.
Depois, só me descontrolei assim com Monalisa. Todos os outros estavam esquecidos e, por um momento, pensei que nunca seriam descobertos. Agora quatro deles apareciam assim, sem ao menos eu esperar. E eu nem imaginava o que aquilo poderia ocasionar.
Péssimo momento para aqueles corpos aparecerem. Eu tinha que sumir com Daniela. E se levantassem suspeitas sobre mim? Até então, eu estava longe de tudo. Mas desaparecer com a putinha poderia ser demais.
Enchi-me de ódio ao imaginar que estava entre a cruz e a espada. Se não fizesse nada, Daniela poderia continuar com as investigações e descobrir alguma coisa. Podia conquistá-lo e até voltá-lo contra mim. Se eu sumisse com ela, quem sabe isso atraísse investigações para a minha pessoa. Tudo era um risco.
O meu lado mais agressivo e animalesco gritou mais alto. Eu sabia que minha fúria suplantaria todo o resto em algum momento e perderia a cabeça. Eu a mataria em um momento de raiva, como foi com Monalisa. Então era melhor agir rápido. Destruir Daniela acabava sendo a única opção. Só precisava ser logo, enquanto os holofotes estavam nos corpos.
Só então me acalmei e consegui respirar aliviado. Fui até a janela, minha mente girando com planos, mas tudo atrapalhado pelas minhas emoções. Momentos turbulentos se anunciavam, mas também necessários. No final das contas, ninguém tinha mandado aquela mulher se meter e atrapalhar a minha vida.
Se ela tinha algo a ver com os corpos encontrados, devia estar em Conservatória. Precisava atraí-la, criar uma armadilha. E descobrir realmente o seu paradeiro.

Continua amanhã

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