Conto Erótico - A luz do seu olhar - Capitulos 39 e 40

A Luz do Seu Olhar ( Parte 2 )

Autora: Lara Smithe

Capítulo 39

Alejandro

19 de outubro de 2016
 Acordo com o toque do meu celular. Procuro desesperado pelo aparelho. Olho para o meu peito, e lá está ela ‒ a pequena mão espalmada bem em cima do meu coração, pernas entrelaçadas nas minhas, e uma cabeleira loira espalhada nos travesseiros, bem próximo ao meu rosto. Como o toque está baixo, o deixo tocar. O sono é maior que minha curiosidade, fui dormir quase às duas da manhã, fazendo amor com ela. Já estamos casados há mais de um mês, continuamos em lua de mel. Como ainda estou trabalhando em home-office, não consigo manter minhas mãos longe dela, meu desejo por essa pequena petulante é enlouquecedor, e às vezes vamos dormir após as duas horas da manhã. O celular para de tocar. Viro-me um pouco para o lado dela e a abraço. Já estou quase voltando a dormir, quando o celular volta a tocar. Ainda está escuro, então ainda é de madrugada. Seja quem for é importante, ninguém liga para alguém na madrugada se não for urgente. Atendo. — Alô! — Minha voz soa sonolenta. — Senhor Alejandro? — Confirmo com um sim — Aqui é do hospital central de Lagoas. Houve um grave acidente com o senhor Alfonso, precisamos da sua presença imediatamente.... — Ele está bem? — Nem deixo a pessoa terminar de falar, sento-me na cama imediatamente, ligo o abajur já me levantando. — Responda-me, o Alfonso está bem?
— Ele está inconsciente, os médicos estão fazendo o possível para estabilizá-lo... — Estou a caminho. — Desligo. Alfonso não é só o meu motorista e segurança, ele é o meu melhor amigo, posso dizer até meu irmão mais velho. Nos conhecemos na Inglaterra, ele era sócio de uma empresa de segurança muito bemconceituada, nos tornamos amigos e começamos a sair. Quando resolvi voltar para o Brasil, nossa amizade ficou a base de e-mails e telefonemas. Um belo dia, ele me ligou perguntando se eu não estava precisando de um segurança. Não entendi a pergunta na época, mas não quis entrar em detalhes, se ele não queria me dizer os motivos que o fizeram deixar a Inglaterra e desfazer uma sociedade tão promissora. Não seria eu a perguntar, e a bem da verdade, estava precisando de um motorista. Dois meses depois, o Alfonso chegou a Lagoas com apenas uma mala de mão e o silêncio. Nunca me contou o porquê de ter largado tudo e resolvido vir para o Brasil trabalhar para outra pessoa e viver tão modestamente. Não me importei em perguntar. Ele é meu amigo, e assim como ele cuida de mim, eu cuido dele e não deixarei que nada lhe falte. — Estrela, acorde. — Beijo o rosto lindo dela — Estrela, meu amor, acorde. Precisamos sair. — Para onde, a essa hora? — Ela se vira para o outro lado, cobrindo a cabeça com a coberta. — O Alfonso sofreu um acidente, ele está no hospital.
Estrela levanta, ficando sentada na cama. Pisca os olhos rapidamente e me fita. — Ele está bem, não está? — Fita-me com olhar preocupado. — Não sei, só sei que ele está inconsciente. — Não quero preocupá-la, mas meu coração bate tão rápido que tenho medo de ter uma síncope. Meu amigo ficaria bem, sim, ele vai aguentar firme. — Vamos, amor. Vá se trocando enquanto eu mando um dos seguranças preparar o outro carro. Chegamos no hospital três horas depois. Puxo a Estrela para mais perto, abraçando-a com força. Ela parece muito preocupada, não quero vê-la passar por isso, se eu pudesse a protegeria de todas as tristezas existentes no mundo. — Bom dia! — Olho para a recepcionista, ela parece nem prestar atenção no que eu digo. — Bom dia! Você pode pelo menos olhar para mim? — Ela ergue a cabeça e me fita, e assim que seus olhos encontram o meu rosto, sorri. — Ai, meu Deus! Senhor Alejandro, há quanto tempo. — Não sei de onde ela me conhece, só sei que eu nunca a vi antes. — Em que posso ajudá-lo? Ela olha para Estrela, depois para mim. — Você é a recepcionista que me ligou logo cedo? — Sinto muito, eu não sou recepcionista, sou a enfermeira chefe do setor de transplante, só estou aqui fazendo um favor para a Carmem, a recepcionista, ela foi ao toalete. — Ela não tira os olhos de Estrela. — Oi, tudo bem, Estrela, lembra-se da minha voz? Estrela olha para ela e sorri, leva as mãos ao rosto da moça e o tateia. — Tamires, nossa! Você é tão bonita. A moça sai de trás do balcão e vem até a Estrela, ela me afasta e a abraça. — A última vez que nos vimos foi quando você veio fazer o transplante. Faz tanto tempo! — Ela me olha por longos segundos. — Isso aqui estava um inferno. Como a vida é engraçada, não é? Tristeza para uns, alegria para outros. E quem diria, hein, você dois estão juntos! O destino realmente existe. Agora não entendo nada. — Como assim? — Estrela olha para mim, surpresa. — O senhor não lembra? — Ela me olha — Quase passa por cima dela, bem ali — Aponta para a entrada do hospital —, no dia do acidente do seu pai e da sua noi.... — engole a última sílaba. — E agora vocês estão juntos, é ou não é o destino? Faço uma retrospectiva e volto a alguns anos atrás. Estava furioso, indignado com meu sogro, pois ele tinha autorizado a remoção dos órgãos da Isabelle para serem doados. Eu não fui a favor disso, e meu desespero foi tanto que discuti com ele, fiquei tão cego de raiva que nem via as pessoas à minha frente. Lembro de ter me chocado com alguém no caminho, só não me lembro do rosto da pessoa. — Foi você, foi em você que eu esbarrei naquele dia? Inferno! Meu amor, me perdoe. Não lembro o que eu disse, nem se você se machucou — Viro-a para mim e a fito com amor — Eu machuquei você? Estava tão perdido, tão desorientado naquele maldito dia, que nem percebia um palmo diante do meu nariz... e justamente esbarrei com a minha Estrela, sem saber que anos depois ela seria a minha razão de viver. — Estrela, você está bem? — Sacudo os seus ombros, minha pequena está apática. — Estou — Ela me abraça e começa a chorar. Acaricio os seus cabelos. — Isso é coisa de Deus, Alejandro, como você não pode acreditar nele, como? — E quem lhe disse que eu não acredito? Eu só estava com raiva dele, mas agora não estou mais. A aperto contra o meu corpo, fechando os olhos e agradecendo mentalmente. Obrigado, Cara! Eu sei que não sou uma grande pessoa, mas você foi legal comigo... agora. Porque antes você judiou de mim. A recepcionista retorna e me faz lembrar o verdadeiro motivo pelo qual eu estou ali. Deixo a Estrela conversando com a Tamires enquanto me dirijo para a recepcionista. — Carmem... é o seu nome, não é? — Olho em sua identificação, ela me encara e sorrio — Meu amigo Alfonso sofreu um acidente. Por favor, você poderia me dizer em que andar ele está? Volto meus olhos em direção à Estrela, ela e a amiga conversam. A Carmem baixa os olhos para o teclado do computador. — Alfonso de quê? — Pergunta. — Alfonso Santiago. Ligaram para mim, acho que às três da manhã.
Inclino o corpo para ver se a ajudo a encontrar o nome com mais rapidez. — Achei, ele está no terceiro andar, na unidade de terapia intensiva, é só pegar o elevador no final do corredor, aqui estão suas identificações. Agradeço. Pego a Estrela pela mão e vamos para o elevador. Vamos direto para a recepção do andar. Peço mentalmente para que o Alfonso esteja bem. Por sorte, encontro um médico no balcão de enfermagem do andar, ele está anotando algo em uma prancheta. Dou o nome do Alfonso e peço informações sobre o estado de saúde dele. — Senhor Alejandro, é isso? — o homem me encara, fecha a prancheta e estende a mão. — Meu nome é Luiz, doutor Luiz Soares.
Aperto sua mão, após o cumprimento, ele põe a mão em meu ombro e me encaminha até a sala de espera. — Como o Alfonso está, o que aconteceu? — Segundo a polícia, o carro do seu amigo capotou várias vezes até cair no desfiladeiro e explodir, por sorte ele conseguiu sair do carro antes. Foi como se eu estivesse vendo a cena toda bem diante dos meus olhos. Custo a acreditar em cada palavra que o médico diz, pois o Alfonso é um excelente motorista, conhece a rodovia como a palma da mão e de olhos fechados. — Ele ficará com alguma sequela? Vai precisar ser transferido para outro hospital? — Esforço-me para não demonstrar aflição, pois a Estrela me observa atentamente.
— Ele conseguiu se salvar por milagre, mas sofreu um trauma durante a queda, já chegou desacordado, só saberemos o seu real estado clínico quando acordar. Deixo escapar um suspiro de alívio, pelo menos ele está fora de perigo. — Posso vê-lo? — Olho com apreensão para o médico. — Claro que sim, mas não poderá demorar. Pego a mão de Estrela e a puxo. O médico segura meu braço. — Só pode entrar um de cada vez. — Ele diz, olhando para mim e para Estrela. Ela se vira para mim e diz, olhando em meus olhos: — Vá você, meu amor. Vá ver o seu amigo, eu fico aqui o esperando.
Olho de volta para o médico e peço licença. Afasto-me um pouco, guiando a Estela pelo cotovelo, até ficarmos bem perto das poltronas da sala de espera. — OK, eu vou, mas você vai ficar aqui, bem quietinha — aponto para a poltrona atrás dela — e vai me esperar. Não se levante daí, nem se o hospital pegar fogo, entendeu? — Ela me olha contrariada. — Estrela, você entendeu? Eu não estou para brincadeiras. Ela respira fundo e fecha a cara. — Alejandro, não me trate feito criança, não sou nenhuma imbecil, o médico está nos olhando. — Que se foda! Eu estou falando sério, não saia daqui, entendeu? — Tá, tá, eu entendi. — Senta-se e cruza os braços.
— Tome — pego uma porção de revistas que está ao lado da poltrona e entrego para ela — Terá alguma diversão até quando eu voltar. Seguro o seu queixo e a forço a olhar para mim. Beijo-a com amor e vou ver o Alfonso. Foram apenas dez minutos dentro da unidade de terapia intensiva; bastou só esse tempo para minha vida se transformar em uma profunda escuridão.
Quando saio da UTI, vou correndo para a sala de espera. Quando olho para a poltrona onde havia deixado a Estrela, meu sangue gela. Ela não está lá. Fico todo arrepiado, minha boca fica seca, meu coração acelera. Volto para o corredor e faço um longo estudo no ambiente, procurando vestígios de Estrela. Ela não está em nenhum local. Corro para o balcão do posto de enfermagem. — Ei — puxo o jaleco de uma moça loira, ela se vira e sorri — você viu uma moça loirinha, mais ou menos um metro e sessenta e cinco de altura, olhos azuis, vestida com um vestido azul, com botões na frente? — Não, senhor, cheguei aqui agora. — Responde, e se vira para entrar na sala. A puxo de volta. — Você poderia perguntar aos seus colegas? — Não tinha ninguém aqui, surgiu uma emergência no quarto 305, um paciente desligou a máquina de oxigênio e todos correram para lá, para reanimá-lo. Pelo menos, nos treze minutos anteriores não havia ninguém aqui. — Ela me fita. — A moça não está no banheiro? Fico olhando para a porta que foi apontada.
— Você poderia ir até lá, já que é um banheiro feminino? — Sinto muito, mas não posso sair do meu posto. De toda forma, se estiver lá, vai ter que sair. — Ok, se você não vai, eu irei, se tiver alguém lá a responsabilidade é sua. — Deixo-a me olhando e dou dois passos em direção ao banheiro feminino. — Espere, eu vou. — paro. Ela entra no banheiro e fica uns dois minutos. — Não tem ninguém, está vazio. O senhor já tentou no outro banheiro? Na certa ela foi no de lá. Deixo-a falando sozinha e vou até o final do corredor. Desta vez eu entro. Não há ninguém.
Começo a ficar desesperado. A procuro em todos os lugares no andar, mas nem sinal de Estrela. Averiguo todos os oito andares do hospital, inclusive o térreo, a lanchonete, o restaurante, o jardim, a capela, o estacionamento, vou até atrás de Tamires, e nada de Estrela. Passo do desespero para aterrorizado. Vou até a sala de segurança, já entro bradando com todos. — Quem é o chefe de segurança daqui? — Olho para todos os lados à procura de alguém que se destaque. Um rapaz alto, moreno, aparentando uns 35 anos, se apresenta. — Minha esposa desapareceu, eu preciso que façam uma busca em todo hospital. Ele fica me olhando ‒ não gosto do olhar dele ‒ minha vontade é de agarrá-lo pelo
colarinho da camisa e enfiar um soco em sua cara. — Como assim, sua esposa desapareceu? — Fecha o cenho e me encara — O que o faz pensar que ela desapareceu? — Escute aqui, senhor... — esbravejo, olhando para a sua identificação — senhor Thomas, se estou dizendo que minha esposa desapareceu, ela desapareceu. Eu a conheço, a deixei na sala de espera, sentada na poltrona, pedi para que me esperasse lá. Ela não sairia dali nem se o prédio estivesse pegando fogo. Quase o soco na cara. Ele pede para me acalmar, puxa uma cadeira e a aponta para que eu me sente. Sento-me. — Já ligou para o celular dela? — Já, e ela não atende, é o que me deixa mais assustado. Minha esposa atende no primeiro toque, por isso estou afirmando, ela desapareceu! — Qual o seu nome, senhor? — Aquela aparente calma dele está me deixando com raiva. — Alejandro Ortega, minha esposa se chama Estrela Ortega, moro... — Dou a ficha completa. — Ligue agora para o delegado Murilo, ele é meu amigo, já que você não resolve nada, mas tenha uma certeza: vou arrancar todos os centavos desse hospital se acontecer alguma coisa com minha esposa! O homem se levanta imediatamente e começa a olhar as câmeras de segurança. — Sua esposa não saiu do hospital, pelo menos andando, não. Veja o senhor mesmo — Ele me mostra todos os detalhes. — Ela entrando com o senhor, veja o horário.
Realmente ela não saiu. Todas as câmeras estão ligadas, e no horário em que eu entrei e saí da UTI não havia nem sinal de Estrela saindo do hospital. — E onde ela está? Ela tem que estar em algum lugar desse bendito hospital! Passo as mãos pelos cabelos, depois soco a mesa com força. Todos se assustam. Thomas me pede calma. — O celular tem localizador? — Assinto — Ótimo, então temos como rastreá-lo. Minutos depois, já estávamos rastreando o celular de Estrela. Por que eles — principalmente eu — não pensaram nisso antes? Não estaria sofrendo tanto. — Encontramos. Ela está na lavanderia. Na lavanderia? Mas que diabos a Estrela foi fazer na lavanderia? Seguimos até lá. Só que não havia ninguém, só as máquinas trabalhando. Thomas olha para o aparelho e começa a andar em direção a um contêiner. Ele abre a tampa e, para meu espanto, a bolsa dela está dentro, mas nem sinal da Estrela. Minha visão escurece e eu não vejo mais nada. Acordo em um quarto todo branco, em uma cama muito desconfortável, com algo enfiado em meu braço. Olho para ele. Estou sendo medicado com algo na veia. Puxo o esparadrapo, sentando-me na cama, minha cabeça gira e o meu estômago revira. Escuto uma voz, e logo reconheço a pessoa: meu amigo Murilo. Ele dá um passo em minha direção e senta ao meu lado. Olho para o meu relógio e depois viro meus olhos para a janela; está tudo escuro. — Há quanto tempo estou aqui? — Muitas horas. — Murilo responde. — Encontraram minha esposa? — Sinto uma dor no peito ao perceber sua expressão. — Não, já faz mais de doze horas. Eu sinto muito, Alejandro. Já mandei todos os meus homens à procura dela, nós vamos encontrá-la. Eu prometo. Ele começa a me perguntar se existe alguém que quisesse me fazer algum mal. Não me passa ninguém por minha cabeça, eu conheço algumas pessoas as quais não gostam de mim, mas sequestrar a Estrela para me atingir é demais, eles não fariam isso. — Murilo, desconheço se tenho algum inimigo que poderia fazer tamanha maldade.
Será que fiz algum inimigo nesses últimos anos? — É isso que estamos tentando descobrir. Está tudo tão confuso, é como se estivesse dentro de um pesadelo, onde sou levado para um lugar sombrio e frio, onde mãos tentassem me agarrar. Consigo me levantar e ligo para o Lourenço. Quando é informado sobre a situação, nem me deixa terminar, desliga o telefone. Eu já sabia que ele viria. Entro no banheiro para lavar o rosto, quando escuto a voz do médico do Alfonso, ele parece nervoso. — Senhor Alejandro, o Alfonso acordou e quer lhe falar com urgência, ele está muito agitado, se o senhor não for até lá, temo que algo muito ruim vá acontecer a ele.
Não espero pelo médico, saio apressado pelo corredor. Mesmo vivendo a dor do sumiço de Estrela, continuo preocupado com o meu amigo. Quando a Isabelle morreu, ele tomou para si a culpa pela morte dela. Alfonso ficou muito ferido, o automóvel no qual ele estava capotou na perseguição com os bandidos, e mesmo após receber alta médica, ficou meses afastado de mim, e quando nos encontramos, ajoelhouse aos meus pés, pedindo-me perdão. Chorava muito, eu sabia que a culpa não era dele, mas mesmo assim, ele se culpava, e eu acredito que ele ainda pensa ser o culpado. Duas enfermeiras tentam mantê-lo quieto na cama, ele balbucia o meu nome, e quando me vê, estende a mão. — Senhor... Senhor... o... o acidente, o acidente não foi um acidente... o senhor tem que chamar a polícia, a polícia... Ele fala tudo pausadamente, mal consegue completar uma palavra. Tento acalmá-lo, mas ele me pega pelo colarinho, olhando-me nos olhos. — Meu irmão, ouça-me — engole a saliva e respira fundo — o carro tinha acabado de sair da revisão, eu o retirei da oficina no final da tarde, e como sempre faço, fui até a empresa pegar os documentos. Quando já estava na rodovia, escutei um barulho estranho no motor do carro, mas não deu tempo de parar, estava na descida, e os freios falharam, a direção travou e só ia para o lado do precipício... eu... eu precisei pular do carro em alta velocidade... — sua voz torna-se mais fraca, e ele me puxa para perto. — Eu descobri que aquele repórter que chamou o nome da Estrela não é repórter, Alejandro, ele... ele trabalha para o Frank Mendonza, é o chefe da segurança dele... eu sabia que já tinha o visto antes... Alejandro, ele quer vingança... A Estrela, onde está a Estrela, você... você... não... pode... deixá-la... deixála... sozinha... — Ele desmaia. A enfermeira me empurra. E eu corro para falar com o Murilo. Ele está com alguém ao telefone. Puxo o celular da mão dele, chamando toda a sua atenção para mim. — O nome dele é Frank Mendonza, ele é o filho do dono do maior cartel da Colômbia, Alencar Mendonza. O Frank está preso, mas é óbvio que continua comandando o Cartel mesmo assim. Eu fui o responsável por sua prisão, ele deve estar por trás de tudo isso.
Murilo me puxa e vamos nos sentar. Contolhe tudo: desde a morte do meu pai e a da Isabelle, até a prisão dos Mendonza. Ainda estou contando minha versão, quando Murilo pega o celular e disca para alguém. Pede licença e sai. Quando volta, me diz que a polícia Federal está entrando em contato com a polícia da Colômbia e já estavam caminho. A partir desse dia, minha vida transformouse em um pandemônio. Os dias se passaram e nenhuma notícia da Estrela. Já faz cinco dias que ela está desaparecida. A polícia especial da Colômbia já está em Lagoas, e todos os dias eles me dizem que estão prestes a pegar o Frank, era só questão de um vacilo. Fui informando que o Frank já planejava essa fuga há algum tempo. Ele subornou alguns policias da prisão, fingindo que estava doente, até o médico foi comprado, foi ele quem atestou que ele estava com algo grave que só poderia ser tratado em um hospital, e assim assinou a transferência do Frank para um hospital da capital. Só que no caminho, os homens sob seu comando armaram uma emboscada e renderam os policiais que o acompanhavam, libertando-o. A polícia da Colômbia só não imaginou que ele viria para o Brasil atrás de mim, eles achavam que ele estaria planejando ir para a Europa ou algum país africano. Essa informação só me fez sentir pior do que eu já estava. Eu virei um morto-vivo. Desta vez não me enclausurei em minha casa de campo. Pelo contrário, o trabalho foi a minha válvula de escape, só conseguia me manter de pé por causa dele. Lourenço, sempre ao meu lado, não saiu de perto de mim por nenhum momento. Estávamos dormindo em sua antiga casa. Já o meu amigo Alfonso, está bem melhor, mas continua internado. No dia 25 de outubro, estou no escritório de Murilo, quando o delegado da polícia especial da Colômbia entra na sala, eufórico. — Acabamos de achar a localização do Frank. — Quase derrubo a cadeira quando me levanto. — Não quis contar antes, porque era confidencial, mas o Frank recebeu um chip de localização, foi implantado sem ele saber, é um novo teste que estamos fazendo para prisioneiros de alta periculosidade. Ele está em uma casa no alto das montanhas, a vegetação densa e as montanhas prejudicaram a localização. Como eu disse, o chip de rastreamento ainda está em fase de teste, mas felizmente conseguimos o sinal e o encontramos, estamos indo para lá agora. — Eu vou também — Digo, já tomando a dianteira. — Não, senhor Alejandro, se o senhor for e o Frank o vir, ele certamente vai matar a sua esposa. É melhor o senhor ficar aqui, não se preocupe, sua esposa sairá ilesa, ela será resgatada sem nenhum arranhão. Murilo me diz a mesma coisa. Mesmo morrendo de medo de que algo acontecesse a Estrela, tinha que dar razão ao delegado, seria melhor para a segurança dela eu ficar na cidade a esperando.


Capítulo 40

Estrela

Dias sombrios
Alejandro é assim. Estúpido quando quer ser, principalmente quando o assunto é minha segurança. Ainda estou tentando me acostumar a isso, e confesso, às vezes, é difícil aceitar o autoritarismo dele. Principalmente hoje. — Alejandro, não me trate feito criança, não sou nenhuma imbecil, o médico está nos olhando. Olho para o médico que o espera impaciente e certamente está se perguntando como eu aguento um homem tão mandão assim. Alejandro desvia o olhar para longe, para onde exatamente o médico está. — Que se foda! Você é a minha prioridade, preciso ter a certeza que ficará bem e protegida. Entendeu? — Tá, tá, eu entendi! — Olho para ele, furiosa, sento e cruzo os braços. — Tome — ele me entrega uma porção de revistas que está ao lado da poltrona— Tenha alguma diversão até quando eu voltar. Depois de me beijar, ele respira fundo, em seguida sai em direção à UTI. Antes de entrar na sala, vira e ficamos nos olhando por uma porção de segundos. Ele sorri... e se vai. Estou folheando uma revista, quando um homem senta em uma poltrona bem próximo da minha. — Está frio aqui. — Ele esfrega as pernas com as mãos. Levanto rapidamente os meus olhos em sua direção e assinto. — É seu familiar, a pessoa que está na UTI? — O que disse? — Olho para ele interrogativamente. — Desculpe-me, é que meu irmão sofreu um AVC, então eu estou supondo que você está aqui porque espera notícia de alguém. — Sim, claro. — Me desarmo — Um amigo, ele sofreu um acidente e o meu marido está lá dentro com ele. O homem passa para outra poltrona, ao meu lado. — Então... — ele limpa a garganta e esfrega as mãos novamente nas pernas. — Eu suponho que a senhora ama muito o seu marido, não ama? — Como? — Tento me levantar, mas ele segura minha mão. — Sente-se, e não faça escândalo. Daqui a três minutos uma sirene vai disparar, e você irá se levantar e sairá caminhando ao meu lado, bem calminha — tento me soltar da força da mão dele, mas o homem pressiona os dedos mais forte em torno do meu pulso. — Se ama o seu marido e não quer vê-lo morto, virá comigo. Você já viu o que podemos fazer, afinal, o Alfonso está vivo porque permitimos, mas podemos mudar de ideia. Quer arriscar? Uma sirene soa, enfermeiros e médicos saem correndo em direção ao final do corredor. O homem levanta e me puxa pela mão. Reticente, caminho cambaleando. Saímos pela porta de incêndio. Ninguém nos vê, ninguém surge para que assim eu possa gritar por socorro. As lágrimas nublam os meus olhos, meu corpo treme, em meu pensamento só uma pessoa. Alejandro.
Sou puxada por corredores. Eu não ando, sou arrastada. Minha bolsa é arrancada de mim e jogada em um contêiner. Quero gritar nessa hora, mas uma mão pesada cerca o meu rosto, pressionando um pano molhado sobre a minha boca. Tento lutar, mas ao invés disso respiro um cheiro adocicado. Tudo começa a girar a ficar confuso, escuto o homem dizer “respire e feche os olhos”.  Minhas pernas cedem, e em poucos segundos não vejo mais nada. Quando acordo, já estou em um quarto enorme sob qualquer ponto de vista. A cama é tão grande que eu me sinto um dos anões da Branca de Neve. Levanto-me, e ao ficar de pé me sinto tonta, preciso de equilíbrio para permanecer de pé. Vejo à minha direita uma porta, vou até lá. É o banheiro, ele é completo, não posso deixar de notar a enorme banheira e, ao lado dela, um pequeno canteiro de flores. Vou até a pia e lavo o meu rosto. Saio do banheiro e dou uma rápida olhada em volta de todo o ambiente. O sol está brilhando, seus raios entram através do vidro da janela mais próxima. Pelo o calor, já é bem tarde. E isso quer dizer que, a esta altura, o Alejandro está a ponto de ficar louco ‒ se já não estiver. Creio que assim que ele percebeu que eu não estava onde me deixou, se desesperou. Olho novamente em direção à cama, e em cima dela, no cantinho esquerdo, há um conjunto de toalhas, um vestido dobrado cuidadosamente e um embrulho pequeno, que eu presumo ser roupas íntimas. Meu estômago embrulha, sinto-me enjoada. Volto para o banheiro e ponho minha comida do jantar toda para fora. É melhor eu voltar para a cama, pois não me sinto bem. Mas eu sei o motivo por estar passando mal. Deito-me e me encolho em concha, rezando para que o Alejandro me encontre logo. Eu sei que ele me encontrará. A porta se abre. — Bom dia. Um homem moreno, alto, cabelos muito bem cortados, barba aparada perfeitamente e muito bem vestido se aproxima da cama. — Bom dia, Estrela. Não lhe ensinaram bons modos? — Bom dia — respondo cautelosamente. Eu não sei direito o que devo fazer, estou na dúvida se o encaro ou se baixo os meus olhos. Ele olha para o relógio no pulso.
— Você dormiu bastante, pensei que o meu homem de confiança havia exagerado na quantidade de clorofórmio. — Senta na cama e me encara. — Você está bem? — Quem é você, e por que me sequestrou? O que pretende fazer comigo? O Alejandro está bem? Ele faz sinal de silêncio com o dedo. — Calma, uma pergunta de cada vez. — Aquele riso morno faz meus pelos se eriçarem. — O seu marido Alejandro vai ficar bem, enquanto você fizer tudo o que eu mandar. Bem, quanto às outras perguntas... antes de respondê-las, vou contar uma história para você. Fico com vontade de o mandar à merda, de gritar. Quem é ele? E por que está me mantendo prisioneira? — Pronta para escutar a minha história? Baixo meus cílios. Se dissesse não, acho que não adiantaria muito. — Não sou brasileiro, fui criado no Brasil, mas nasci em outro país. Meu pai era um homem muito poderoso no meu país de origem, ele, juntamente com o seu sócio e melhor amigo, comandavam um império — faz uma pausa, mas seus olhos permanecem em mim — Um dia, o seu sócio se apaixonou, e assim resolveu desfazer a sociedade, deixando o meu pai na mão. O tal sócio, não se dando por satisfeito, começou a sabotar os nossos negócios, e foi assim que se tornou nosso inimigo. Os anos se passaram, eu nasci, o exsócio do meu pai casou-se, dois anos depois ele também se tornou pai.
Ele parece perturbado ao lembrar esses fatos. Levanta-se, vai até uma mesa, pega uma das cadeiras e a traz consigo, colocando-a ao lado da cama e sentando nela. Aqueles olhos escuros me avaliam com atenção, seu riso perigoso de canto de boca me lembra o Alejandro. Ele sorria assim. Torto. — Cresci — continua — sabendo que meu pai tinha um ardiloso inimigo, e eu sabia que um dia ele seria meu inimigo também. O tempo passou, virei um homem e comecei a comandar, juntamente com meu pai, todos os negócios da família, mas o nosso velho inimigo não nos deixava em paz, então resolvemos mandar-lhe um aviso. Fizemos com que soubesse que estávamos de olho nele e no filho dele, e se ele não nos deixasse em paz, um dos dois sofreria as consequências.
— Desculpe, senhor — o interrompo — Será que o senhor pode logo me responder às minhas perguntas, pois eu não sei o que essa história tem a ver comigo. Ele sorri, inclina o corpo para frente e me encara com um olhar que gela a minha alma. — Se você tiver paciência, chegarei lá. — Responde, estreitando os olhos. — Bem, o exsócio do meu pai não deu ouvidos ao nosso aviso, e continuou nos perseguindo, então não restou outra alternativa senão cortar o mal pela raiz: fechamos o cerco ao redor dele, e um belo dia, ele nos deu a oportunidade de tangêlo para um lugar de onde ele não voltaria nunca mais. Emboscamos o carro dele e tudo foi resolvido. Ele se levanta, vem até próximo à cama, põe as mãos nos bolsos e fica me fitando.
— Infelizmente, ele não estava sozinho, a noiva do filho dele estava no carro, e ela não sobreviveu. Descobrimos, horas depois, que o filho dele iria se casar no dia seguinte. Alejandro Ortega Martinez... Paro meu olhar em seu rosto de expressão fria, ele está se divertindo com a minha surpresa. Não, eu não posso acreditar que este homem foi o causador da dor de Alejandro. Escondo o meu medo, ele não precisa saber que eu estou apavorada. — Agora você está começando a entender, não é? Sabe, Estrela, o Alejandro é um homem de muito bom gosto, porque as duas mulheres que ele escolheu para compartilhar a vida são de uma beleza extraordinária. Primeiro a bela Isabelle, morena, olhos azuis, parecia uma boneca húngara de porcelana; e agora você, loira, olhos azuis... devo parabenizá-lo, pena que ele irá perdê-la também. — Você vai me matar! — Não sei como encontro coragem, mas me levanto da cama e vou até ele. — Nem eu nem o Alejandro temos nada a ver com as brigas do seu pai com o pai dele! Você já tem algumas mortes nas mãos, vai querer mais uma? Sua risada medonha faz meu coração palpitar. — Se acalme, linda Estrela. Não pretendo matar você, mas posso mandar matar o seu marido, se você não fizer o que eu mando. — Sua mão se levanta e vem em direção ao meu rosto. Ele me toca, e sinto uma vontade louca de correr, mas me mantenho parada. — Você agora é minha. Ele me tirou meu pai, minha mãe, minha noiva e meu filho... — Afasto a mão dele do meu rosto e corro para o outro lado da cama. — Eu já sou casada, nunca serei sua, seu idiota. Eu prefiro morrer a ceder à sua chantagem. A gargalhada que ele solta ecoa em todo o quarto. — Bobinha, se você atentar contra a própria vida, o Alejandro sofrerá as consequências. Você não tem alternativa, será minha por bem ou por mal, a vida do seu marido está em suas mãos. Perdi os meus pais, minha noiva me deixou e perdeu o nosso filho. Foi culpa dele, ele resolveu bancar o detetive, o policial, fazendo investigações em busca dos assassinos da sua noivinha e do seu pai. Se ele não tivesse feito isso, hoje estaria tudo bem, eu estaria casado e feliz. Portanto, agora você é minha.
— Nunca! O Alejandro não vai desistir de mim. Ele irá me encontrar, ele me ama e nunca vai me abandonar. Aquele homem terrível dá meia-volta e sai do quarto, penso que ele não voltará mais, mas volta com uma pasta na mão e a joga sobre a cama. — Você acha mesmo que o Alejandro a ama, acredita mesmo nisso? Em tão pouco tempo, um homem como ele iria se apaixonar por uma moça como você? Não é por você, é pelo o que você representa que ele está apaixonado. Abra a pasta — Ele aponta para a pasta branca em cima da cama — Quando ele olha para você, é ela quem ele vê, o grande amor da vida dele. Reticente, me inclino sobre o colchão, meus dedos indecisos dedilham na colcha até encontrarem o documento; eu o pego. Sento me e o abro. Meus olhos examinam letra por letra, e a cada palavra lida, fico com vontade de morrer. As lágrimas descem soltas por minha face, meu cérebro não quer acreditar no que estou lendo. Deixo o documento cair ao chão e cubro o meu rosto com as mãos. — Você é só a substituta, você carrega um pedacinho da mulher que ele mais amou na vida. Agora entende o amor repentino dele por você? Sua tola, ele jamais se envolveria com uma mulher se não investigasse a vida dela antes, e é claro que ele descobriu que você recebeu as córneas da Isabelle. Ele não a ama, ele ama o que você representa. Jogo-me na cama soluçando, enterro meu rosto no travesseiro para abafar os meus soluços. — A propósito, meu nome é Frank Mendonza. A partir de hoje você é minha mulher, e assim que chegarmos à Colômbia providencio um novo nome para você. Escuto a porta se fechar, e logo depois ouço o som da fechadura. Fico ali deitada, aos prantos. Acabo de descobrir que o homem que eu amo não está comigo por mim mesma, está porque quando ele me olha, vê outra mulher. Nesse exato momento, desejo ardentemente voltar a ser cega.
Depois de dois dias presa dentro desse quarto, começo a ficar doente. Perco a vontade de comer, só consigo dormir. Frank, o meu sequestrador, sempre está ao meu lado, e eu finjo dormir todas as vezes. No dia seguinte, após o meu rapto, escuto o barulho de um helicóptero. Nossa! O meu coração dispara. Levanto-me apressadamente e corro em direção à janela. Minha mente diz que é o Alejandro vindo me resgatar, mesmo eu sabendo que não é a mim que ele está resgatando, é a ela, Isabelle. Contudo, eu me alegro só com a hipótese de sentir o seu abraço e os seus beijos. Mas, para meu desespero, não é o Alejandro, é um homem de cabelos brancos, e, minutos depois, eu descubro o que ele está fazendo aqui. — Doutor, ela não come e só faz dormir. Já percebi que perdeu peso, estou preocupado, não quero que ela fique doente. Frank conversa com o homem sobre mim, ele mal me olha, é como se eu não existisse. O senhor de cabelos brancos vem até mim. Abre os meus olhos, manda que eu abra a boca, ausculta o meu peito e minhas costas. — Ela está anêmica, precisa comer alimentos ricos em ferro. E — Ele olha para mim — se ela recusar a se alimentar, posso prescrever alimentação através de sonda. Meu coração palpita. Olho desesperada para Frank, e ele vê o pavor em meus olhos. — Eu acho que não será preciso. Tenho certeza disso, não é mesmo, meu amor? — Sim — Cínico, cretino. Fico com vontade de avançar sobre ele com minhas unhas, mas me contenho. A partir daí tento me manter ocupada o máximo que me permitem. Eu sei, tenho consciência de todas as coisas que estão acontecendo, e conhecendo o Alejandro como conheço, ele logo irá descobrir onde estou e encontraria um jeito de me resgatar. Por todos os lados que eu olho, vejo seguranças armados até os dentes. Quando comecei a ir para fora da casa, não deu para ver muito bem onde começa e termina o muro alto e eletrificado da propriedade, mas escutei latidos de cães, então eu tive a certeza que jamais poderia escapar dali sem antes levar um tiro ou ser comida por um dos cães. Meu quarto dia de cativeiro foi uma mistura de terror e esperança, sempre mantendo a fé que a qualquer hora o Alejandro entraria por alguma daquelas portas que existiam na mansão. Estou passando por uma porta imensa e grossa de madeira, quando escuto vozes alteradas. Determinada a saber o que está acontecendo, olho à minha volta para me certificar de que não há nenhum dos capangas do Frank me vigiando, aproximo-me da porta e encosto o meu ouvido. — Quem é a porra do delegado? A voz de Frank é cortante, autoritária, ele não está satisfeito com a notícia. — Não sei o nome, senhor Frank. Só sei que eles estão investigando o desaparecimento da moça. Então a polícia está me procurando. Será que eles conseguiriam me encontrar a tempo, antes que esse louco me levasse para a Colômbia? — Trate de descobrir o quanto eles sabem. Estou cercado de idiotas, a polícia especial da Colômbia aqui e só agora vocês sabem disso. — Eles ficam em silêncio, escuto o som de algo se quebrando. — Preparem o jatinho para daqui a dois dias, não podemos ficar aqui por muito tempo, e reforcem a segurança. Escuto passos em direção à porta. Corro para um canto e me escondo atrás das cortinas pesadas de veludo vinho. São cinco homens com o Frank. Deixo-os sumirem pela porta dos fundos, depois subo as escadas e corro para o meu quarto, trancando-me nele, e termino adormecendo. Quando acordo, já estou me sentindo mal. O café da manhã quando chegou ao meu estômago, voltou pelo mesmo caminho e foi parar no vaso sanitário. Já estou me sentindo assim há alguns dias, e se já estava desconfiada, agora tenho certeza: estou grávida. Não sei ao certo se isso é uma notícia boa ou ruim, acho que é boa, pelo menos para mim, pois terei um pedacinho do homem que eu amo dentro de mim por nove meses, depois veremos o que vai acontecer. Espero que o Alejandro não queira pedir a guarda da criança. Nesses dias, em que fiquei em prisão domiciliar, pude pensar sobre o que eu poderia fazer com a minha vida. E mesmo não querendo deixar o Alejandro, seria o certo a fazer. Hoje, eu sei que ele não está comigo porque sente alguma atração ou amor por mim, ele está comigo porque carrego em meus olhos um pedaço da mulher que ele tanto amou, e eu não posso concorrer com isso, não posso rivalizar com a lembrança de uma mulher morta, isso está além da minha compreensão.
Estou me sentindo frustrada, e isso me incomoda. Eu o amo e poderia aceitar o fato de que ele não me ama na mesma proporção, desde que ele fosse só meu, sem precisar dividi-lo em pensamentos com outra mulher. A raiva é dominadora e constituía não só o fato de me sentir excluída, mas tudo o que vivi com ele nesses meses ter sido uma ilusão, um sonho. Estou tão presa em meus devaneios que nem percebo o que está acontecendo. Escuto estalos, como se fossem fogos de artifício. Vou até a janela e vejo os homens de Frank correndo de um lado a outro, atiravam e gritavam. A polícia está vindo ao meu resgate. Corro para fora do quarto, desço as escadas com tanta pressa que nem percebo uma sombra atrás de mim. Já estou perto da porta de saída quando sou pega, agarrada pela cintura e carregada para os fundos da casa. — Você vem comigo. Não vou deixá-la ir, você é minha. Frank tenta beijar o meu pescoço. Chuto suas pernas, contorcendo o meu corpo. Os tiros começam a ser disparados com mais rapidez e cada vez mais perto. Escuto um estalo bem próximo a mim. Sou jogada ao chão e pressionada por um corpo pesado. Algo assobia passando perto da minha cabeça, em seguida um estalo, e logo percebo o que foi: um vaso de barro foi estilhaçado com a bala que o atingiu. Não consigo esconder o grito de susto. — Socorro, eu estou aqui, aqui nos fundos... Uma mão se fecha em minha boca, apertando-a sobre os meus lábios, fico sem conseguir respirar.
— Quieta, ou você pensa que não tenho homens vigiando o seu marido? Oh, Deus! Meu corpo treme. Frank se levanta e me arrasta junto com ele. Saio cambaleando, um dos seguranças fica bem atrás de nós dois, servindo de escudo, ele caminha de costas com a arma em punho, gritando para os outros o cobrir. Escuto um estalo e um assobio, o segurança gira, desabando pesadamente de costas no chão. Olho para trás e fico estática com os olhos dele, parados, perdendo o brilho da vida. — Meu Deus, ele está morto, ele está morto. — Grito assustada, o pânico crescendo dentro de mim. Olho para aquele homem estirado no chão sem vida. Fico em choque, completamente paralisada. — Vamos, vamos... — Frank me puxa, mas minhas pernas não me obedecem — Estrela, respire... Os tiros se tornam fortes, são como bombas. Duas balas estouram os vidros das janelas perto de mim. Consigo gritar. Frank me põe nos ombros e sai correndo. — Parado, Frank Mendonza, nem mais um passo ou eu atiro! Escuto uma voz grave. Engulo em seco; finalmente estou sendo resgatada. — Devagar, coloque a moça no chão e deite com as mãos na cabeça. — Eu não voltarei para a prisão, meus homens vão acabar com vocês! — Seus homens estão mortos e os que sobraram estão sendo levados presos. Vamos, Frank, não me faça desperdiçar uma bala.
Sou colocada lentamente no chão, quando sinto os meus pés sobre ele, corro para bem longe de Frank. Uma policial feminina me abraça, depois cobre os meus ombros com um cobertor. Minutos depois, estou sendo levada de carro para o hospital.

Amanhã tem os penultimos capítulos

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